Coluna Vitor Vogas
Surpresa: Arnaldinho abre diálogo eleitoral com grupo de Pazolini
Foto com legenda eloquente vem num momento em que candidatura de Ricardo Ferraço ganha força, enquanto a de Pazolini é asfixiada em várias frentes pelo Palácio Anchieta e Arnaldinho procura se manter mais vivo a cada dia no jogo sucessório. Interpretamos aqui os muitos recados contidos nesse inesperado encontro

No sentido da leitura: Erick Musso, Arnaldinho Borgo e Victor Linhalis
Um encontro. Uma foto inesperada. Um mundo de especulações. O prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), recebeu, na manhã desta terça-feira (15), o secretário de Governo de Vitória, Erick Musso. Braço direito de Lorenzo Pazolini nas articulações políticas, Erick é também o presidente estadual do Republicanos, partido do prefeito de Vitória. Do encontro, na Prefeitura de Vila Velha, também participou o deputado federal Victor Linhalis (Podemos), aliado de Arnaldinho.
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O próprio Arnaldinho postou a foto do encontro, respostada por Erick e Linhalis, com a seguinte legenda: “Conversamos sobre os desafios das grandes cidades e o futuro do Espírito Santo”. Por “futuro do Espírito Santo”, você pode entender que a pauta foram as eleições para o Governo do Estado em 2026. Aliás, toda vez que um político disser que discutiu com alguém “o futuro do ES”, pode ter certeza de que o assunto na mesa foi a sucessão do governador Renato Casagrande (PSB).
Pessoalmente uma esfinge sobre o tema, Pazolini é tratado sem rodeios pelo Republicanos como pré-candidato a governador do Estado, em palanque de oposição ao do grupo político liderado por Renato Casagrande. Por sua vez, Arnaldinho é aliadíssimo do atual governador e não se cansa de reiterar seu compromisso com a manutenção dessa aliança. À imprensa e a aliados, repete que estará no movimento eleitoral capitaneado por Casagrande em 2026, apoiando o candidato desse grupo.
Hoje, esse pré-candidato governista responde pelo nome de Ricardo Ferraço (MDB). O vice-governador é a principal aposta do governo Casagrande, que não tem medido esforços para que ele se viabilize.
Mas Arnaldinho, por seu turno, também trabalha para se viabilizar. No fundo, o prefeito de Vila Velha também alenta o desejo de se candidatar à sucessão de Casagrande.
Em março, ele se desfiliou do Podemos. Além do péssimo relacionamento com o deputado federal Gilson Daniel, controlador do partido no Espírito Santo, Arnaldinho saiu justamente para aumentar as próprias chances de conseguir ser candidato ao governo já em 2026. No Podemos, seria muito difícil. Agora, ele está desimpedido para buscar outra agremiação que possa lhe dar a legenda.
Nas últimas semanas, Arnaldinho também tem aumentado o ritmo de articulações políticas “para fora de Vila Velha”. O prefeito tem recebido líderes políticos de municípios do interior.
Agora, recebe ninguém menos que Erick Musso, porta-voz político de Pazolini, adversário do seu maior aliado: Renato Casagrande.
Ao abrir as portas do seu gabinete para Erick, Arnaldinho também abre o diálogo político-eleitoral com o grupo de Pazolini, isto é, com a principal força de oposição ao governo Casagrande atualmente no Estado. Mostra que não tem restrição: está disposto a dialogar com qualquer um sobre o processo eleitoral.
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Foi a primeira vez que Arnaldinho e Erick trataram especificamente das eleições de 2026. É um diálogo ainda embrionário, mas inaugurado de maneira pública.
Do ponto de vista de Erick e do Republicanos, o grande sonho de consumo é ter Arnaldinho e Pazolini no mesmo movimento eleitoral (um apoiando o outro para governador). Quem seria o candidato a governador? É uma discussão mais para a frente. Mas eles estão convencidos de que, se o prefeito de Vila Velha e o de Vitória estiverem no mesmo palanque, essa chapa será imbatível.
É esse o objetivo estratégico cumprido por Erick: tentar atrair Arnaldinho para uma inesperada aliança com Pazolini, acreditando que os dois prefeitos podem construir juntos um movimento eleitoral e chegar a um denominador comum mais à frente. Arnaldinho se mostrou receptivo a manter o diálogo com o grupo de Pazolini. Sem nenhum compromisso, por ora.
O prefeito de Vila Velha mantém ótima relação com Erick e o Republicanos. Eles e Victor Linhalis foram assessores parlamentares contemporaneamente na Assembleia Legislativa, aos vinte e poucos anos de idade. Antes de chegar à Câmara de Vila Velha, em 2012, Arnaldinho assessorou o então deputado estadual Hércules Silveira, enquanto Erick assessorava seu avô, Heraldo Musso, e Linhalis assessorava Euclério Sampaio.
Os recados de cada um: resposta de Arnaldinho; reação de Pazolini
A política é feita de recados.
Qual o recado que cada uma das partes quis passar com essa foto e sua legenda?
Do ponto de vista de Arnaldinho, minha interpretação é que se trata de um recado para todo o mercado político capixaba, mas, particularmente, para o governo Casagrande, assim traduzível: “Ei, eu estou aqui. Não me ignorem nem me deixem na reserva. Estou no jogo e posso até jogar com outros”.
É sintomático que o encontro de Arnaldinho com Erick, com o a legenda mais que eloquente, tenha ocorrido quatro dias após outro fato político importante nesse jogo de xadrez pré-eleitoral que está sendo jogado no Estado: na última sexta-feira (11), o Podemos, ex-partido de Arnaldinho, anunciou apoio total à pré-candidatura de Ricardo Ferraço para o Governo do Estado. “Temos lado”, disse Gilson Daniel. O anúncio foi feito, perante Ricardo, durante um almoço em Viana, com a presença de nove dos dez prefeitos filiados ao Podemos no Espírito Santo.
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O prefeito anfitrião, Wanderson Bueno, também secretário-geral do Podemos no Espírito Santo, referendou que o partido está fechadíssimo no apoio a Ricardo. “É o melhor para o nosso Estado.”
Por isso, o lance de Arnaldinho nesta terça também pode ser lido como uma resposta para se mostrar vivíssimo no jogo.
Já do ponto de vista do Republicanos de Pazolini, a jogada é, antes de tudo, uma reação.
Com um processo eleitoral deflagrado muito precocemente, o Palácio Anchieta já está usando toda a sua força, o poder da máquina estadual, para minar a pré-candidatura de Pazolini e matá-la no nascedouro por asfixia política.
Além da possibilidade de herdar o cargo de Casagrande em abril de 2026 e disputar a reeleição à frente de um governo bem avaliado, os principais trunfos de Ricardo são a força partidária e institucional. O plano é que ele seja candidato com o maior número de partidos relevantes em sua coligação e com o maior número de prefeitos a apoiá-lo – quase todos, nos dois casos.
No interior, onde as prefeituras municipais são altamente dependentes dos recursos do Governo Estadual, a tendência é que o candidato da situação naturalmente venha muito forte. Na Grande Vitória, onde está a outra metade dos votos, Ricardo encontra um ponto fraco: precisa se tornar mais conhecido e popular principalmente nos bairros de periferia. Para tanto, o governo espera contar com a mesma estratégia que deu muito certo para Casagrande em sua reeleição em 2022: a do “cordão de isolamento”.
A ideia é formar uma tropa de choque com os prefeitos aliados da região (Arnaldinho em Vila Velha, Euclério Sampaio em Cariacica, Weverson Meireles na Serra e Wanderson Bueno em Viana).
Além de jogar como cabos eleitorais para Ricardo, eles poderão formar uma barreira eleitoral, um muro fortificado ao redor da cidade de Vitória, blindando o vice-governador e deixando Pazolini isolado na Capital (com saída apenas para o mar).
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Nos últimos dias, jogando pesado, o Palácio Anchieta começou a tirar de Pazolini duas coisas de que ele muito necessita para crescer: partidos e prefeitos aliados no interior. O forte de Ricardo vem a ser precisamente o ponto fraco do prefeito de Vitória.
Sob forte assédio do governo, o Republicanos tem perdido, um a um, prefeitos do interior eleitos pelo partido no ano passado. Assim, alguns dos poucos prefeitos que poderiam se perfilar com a candidatura de Pazolini estão sendo “capturados” pelo magnetismo do poder representado por Casagrande e Ricardo.
Hoje, partidariamente, o Republicanos a rigor está isolado. O PL, via Magno Malta, iniciou uma conversa de reaproximação, mas reluta em ingressar na administração de Pazolini, para não perder a própria independência. O PP está no governo Pazolini em Vitória, mas o presidente estadual da sigla, Josias da Vitória, sinalizou recentemente reforço de sua aliança com Casagrande. E até o Novo, que também está na gestão de Pazolini, afirma não ter compromisso em apoiar Pazolini para o governo.
Uma grande esperança para o Republicanos era atrair o Podemos em uma frente de centro-direita que o partido sonha em construir para 2026. Em entrevista à coluna logo após as últimas eleições municipais, Erick Musso afirmou que enxergava essa frente formada por Republicanos, PL, PSD, União Brasil, PP e Podemos. Com o partido de Gilson Daniel, lembrou ele, o Republicanos fez muitas dobradinhas nas eleições municipais no Espírito Santo.
Agora, porém, o Podemos mergulhou de cabeça no “Projeto Ricardo”.
O Republicanos precisa de uma reação forte. Levar Arnaldinho para o seu lado seria a mais impactante possível. Reconfiguraria radicalmente o tabuleiro eleitoral do Estado.
Mas é claro que Arnaldinho precisaria ter uma conversa muito séria com Casagrande…
Por enquanto, de concreto mesmo, somente a abertura do diálogo. O que, por si, já diz muito sobre as intenções de cada lado.
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