Coluna Vitor Vogas
Caciques da direita capixaba fumam cachimbo da paz em Brasília
Encontro é um marco diplomático, político e eleitoral. Inaugura as tratativas entre PL e Republicanos no ES visando à formulação de estratégias conjuntas para as eleições estaduais de 2026 – algo que passou longe de ocorrer no último pleito municipal

Magno Malta e Erick Musso
Aconteceu. Foi em Brasília, no dia 25 de fevereiro. Os dois principais caciques partidários da direita capixaba na atualidade se encontraram na capital federal… e finalmente fumaram o cachimbo da paz – pedindo licença a um deles, o senador Magno Malta (PL), para usar a expressão, que remete ao rap homônimo de Gabriel o Pensador, um libelo lírico em defesa da legalização da maconha.
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O presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, foi ao encontro de Magno, presidente estadual do PL, no gabinete deste no Senado Federal. Os dois não se falavam pessoalmente há muito tempo. Ao longo de 2024, falaram-se muito através da imprensa, trocando farpas.
No aguardado reencontro, o senador e o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) “zeraram o passivo” de 2024: lavaram toda a roupa suja acumulada entre eles durante as eleições municipais do ano passado. Erick pôs às claras para Magno o que não lhe agradou no comportamento dele e do PL no processo eleitoral; Magno fez o mesmo em relação a Erick e ao Republicanos.
Superado esse “protocolo”, os dois concordaram em olhar para a frente.
O encontro de Magno com Erick é um importante marco inaugural, com significação diplomática, política e eleitoral. Representa o início das tratativas entre os dois partidos de direita visando à formulação de estratégias conjuntas para as eleições estaduais de 2026 – algo que passou longe de ocorrer no Espírito Santo no último pleito municipal.
Em 2024, tivemos PL para um lado, Republicanos para o outro, como rivais no campo da direita conservadora. Magno literalmente proibiu diretórios municipais do PL de se coligarem com o Republicanos. Em entrevistas e discursos, referiu-se ao partido da Igreja Universal do Reino de Deus como “direitinha” e outros termos depreciativos. Prevaleceu o espírito de concorrência.
Para 2026, esse espírito pode dar lugar ao de cooperação visando ao fortalecimento mútuo para enfrentar o grupo político atualmente no poder, aquele liderado por Renato Casagrande (PSB), que terá candidato a senador (quiçá o próprio governador) e buscará manter o controle do Palácio Anchieta.
Há meses, Erick Musso defende publicamente a formação de uma “frente ampla de direita” no Espírito Santo para encarar nas urnas o poderio da situação – uma coalizão abrangente fortificada em torno de Casagrande, que vai da esquerda a partidos e representantes de uma direita mais moderada.
Em entrevista publicada neste espaço no dia 20 de outubro, antes do fim do 2º turno na Serra, o ex-presidente da Ales já falava da necessidade de uma aliança entre partidos como o Republicanos, o PL e o PSD – que não estão na frente casagrandista – e, quem sabe, com outras siglas que hoje estão no Governo do Estado, como o PP, o Podemos e o União Brasil.
Agora, Magno é quem dá fortes sinais de ter feito uma inflexão e entrado no processo eleitoral com outra mentalidade, mais aberto ao diálogo com outras forças conservadoras e mais inclinado a construir alianças estratégicas para enfrentar as eleições estaduais majoritárias – para o Senado e o Palácio Anchieta.
Nota enviada pela assessoria do PL logo após o Carnaval, em nome de Magno Malta, é o mais forte indicativo dessa mudança de pensamento, refletida na mudança de discurso. A nota, publicada aqui na última segunda-feira (10), foi elaborada após a reaproximação diplomática e o armistício entre o senador e Erick Musso. E já fala, textualmente, o seguinte:
“O foco do partido, neste momento, é dialogar com partidos de direita e centro-direita para a construção de uma chapa [majoritária] forte, representativa e comprometida com o Espírito Santo, sem abrir mão da participação direta e do protagonismo do PL. O partido tem voto orgânico, militância engajada e nomes prontos para vencer nas urnas em todos os níveis: Estadual, Federal, Senado e Governo.”
A priori, o Republicanos tem um pré-candidato a governador: o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, que não se admite pré-candidato, mas é assim tratado pela direção do partido. O deputado estadual Sérgio Meneguelli, ainda filiado ao Republicanos, tem interesse em disputar uma das duas vagas em jogo no Senado. Mas, para isso, é possível que precise trocar de sigla.
Já o PL, no momento, não tem um pré-candidato “natural” ao Governo do Estado – embora a assessoria do partido mencione que o nome do próprio Magno passou a ser cogitado internamente para o cargo.
O que o partido faz questão de ter, isso sim, é candidato próprio a senador, até porque a eleição de senadores é prioritária para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nomes considerados para isso são o do deputado federal Gilvan, o do deputado estadual Wellington Callegari e o da publicitária Magda Malta, a Maguinha, filha de Magno e assessora de Gilvan na Câmara.
