Coluna Vitor Vogas
Da Vitória quer unir Pazolini e Casagrande nas eleições 2026. E trabalhará por isso
Ouvindo o futuro presidente estadual da federação PP/União, explicamos aqui os impactos do gigante siamês nas disputas para o Senado e o Governo do Estado no ES
Se de fato nascer o gigante siamês que será a federação do PP com o União Brasil, seu presidente no Espírito Santo será o deputado federal Josias da Vitória (PP). Essa operação partidária sem precedentes terá profundos reflexos no Brasil inteiro nas próximas eleições gerais, inclusive no Espírito Santo. Para entendermos melhor os desdobramentos locais, conversamos com o próprio Da Vitória.
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Nesta sexta-feira (21), esmiuçamos os possíveis impactos dos passos desse gigante nas disputas majoritárias (para governador do Estado e para os dois assentos de senador que estarão em disputa). Comecemos pela Câmara Alta:
Majoritária: Evair e Da Vitória são cotados para o Senado
Para a eleição majoritária, a princípio, o PP não tem candidato a governador. Mas tem dois potenciais candidatos ao Senado: precisamente, Da Vitória e Evair. O primeiro é histórico aliado do governador Renato Casagrande (PSB), enquanto o segundo é um dos seus principais opositores. Mas Da Vitória assevera: o que quer que seja decidido, será decidido pelos dois.
“O principal ponto é que minha relação com Evair é excepcional. Convergimos em tudo o que vamos decidir, mesmo com posições divergentes ou contrárias em uma ideia ou outra. Mas lá na frente, quando for para concretizar as decisões, decidiremos tudo juntos, assim como foi na eleição passada, em 2022”.
Sem querer precipitar o processo, Da Vitória considera legítima a aspiração de Evair – muito mais vocalizada que a dele mesmo:
“Nada mais sadio e de direito do que as pessoas pleitearem participação em algo maior. O Evair é alguém com envergadura para participar da eleição majoritária. O que temos certeza é que vamos convergir lá na frente sobre quem é que disputa e qual é o cargo que disputa”.
Se o PP tiver mesmo candidato ao Senado (e Evair permanecer na sigla), só um dos dois poderá ser esse candidato. E o postulante do PP, nesse caso, será o da federação PP/União.
Da Vitória usará todo o tempo disponível (mais de um ano) para tomar essa decisão: “Precisaremos ter grupo. É importante a gente discutir isso com o governador e com os nossos partidos aliados. Da minha parte, prevalece a tranquilidade cultivada em meus 19 anos de mandatos. Tenho a obrigação, com a minha experiência, de aguardar o tempo, o cronograma eleitoral”.
Da Vitória sobre Euclério Sampaio: “Terá todas as facilidades para ser candidato a governador”
Em sua segunda declaração mais surpreendente (a primeira vem na sequência), Da Vitória afirma que Euclério Sampaio tem interesse em ser candidato a governador e que, se de fato o quiser e se viabilizar, o prefeito de Cariacica encontrará todas as “facilidades” na federação PP/União para se candidatar ao Palácio Anchieta.
Hoje no MDB, Euclério é apontado como futuro presidente do União Brasil. Se de fato ingressar no União, ele passará a fazer parte da mesma federação e estará atado a ela do ponto de vista eleitoral. Não terá autonomia para decidir os rumos do União e dele mesmo na eleição estadual. Mas Da Vitória estende o tapete vermelho não só para Euclério como para a sua potencial candidatura:
“Essa federação será uma potência para quem queira construir candidatura majoritária dentro dela. Fiz um exercício bom com o Euclério, que também tem pretensão majoritária. E a pretensão de Euclério cabe perfeitamente aqui na federação, pois é difícil que um único partido tenha candidato a governador e a senador”.
O deputado do PP completa:
“O Euclério tem muita vontade de disputar uma eleição majoritária ao governo. Hoje ele é uma das lideranças com mandato mais importantes do Espírito Santo. Para ser candidato [a governador], ele terá que cumprir a legislação eleitoral e renunciar ao cargo de prefeito em abril do ano que vem. Se ele realmente decidir disputar essa eleição, a gente tem todas as facilidades para que ele possa mesmo ser candidato pela federação”.
Em teoria, na chapa da federação no Espírito Santo, Euclério poderia ser candidato a governador pelo União Brasil, enquanto o PP poderia lançar um candidato a senador (Evair ou o próprio Da Vitória). No momento, são só suposições e conjecturas, mas Da Vitória admite ser possível:
“Não é muito comum, mas é possível uma chapa da federação com uma candidatura ao Senado e outra a governador.” Leia-se: Euclério a governador e o candidato do PP a senador. “Acredito que a federação estará com os dois partidos na majoritária”, carimba o deputado.
Ele só faz uma ressalva: para ser mesmo candidato ao governo, Euclério precisa “viabilizar o apoio das lideranças importantes, como o governador, e os partidos com quem temos boa relação”.
Da Vitória ligou imediatamente, na quarta-feira (19), para Euclério Sampaio e o presidente da Assembleia Legislativa (Ales), Marcelo Santos. Os três são antigos aliados na política espírito-santense, desde que eram colegas na Ales, entre 2007 e 2018.
“Quanto aos desdobramentos no Estado, acho que isso está muito pacificado no Espírito Santo. Faço questão de ter uma condução muito pacífica com os líderes do União Brasil no Estado”, declara o futuro presidente.
E o anúncio de janeiro? Apoio do União a Casagrande e Ricardo segue valendo?
O governador Renato Casagrande (PSB) pretende ser candidato a senador em 2026 e apoiar um candidato à própria sucessão. Hoje, a aposta maior do Palácio Anchieta para isso é o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB).
No fim de janeiro, pouco antes da eleição da Mesa Diretora da Assembleia, para garantir o apoio do União a esse projeto, Casagrande, Ricardo Ferraço e Marcelo Santos foram a Brasília e se encontraram com o presidente nacional do União, Antônio de Rueda.
Após esse encontro, Marcelo anunciou o compromisso do União em estar no projeto eleitoral liderado por Casagrande e Ricardo no Espírito Santo em 2026. Informou, ainda, que Euclério assumiria a presidência estadual do União – por decisão da direção nacional, no lugar de Felipe Rigoni, após acordo firmado entre Marcelo e Casagrande.
Euclério confirmou o convite recebido de Rueda. Cumprindo sua parte no acordo, Casagrande apoiou a recondução de Marcelo à presidência da Assembleia. Marcelo declarou apoio a Ricardo Ferraço para o governo.
Tudo isso, porém, ocorreu antes da evolução da superfederação com o PP. E agora? Como fica esse acordo (sem a participação do PP e do homem que dirigirá a federação no Espírito Santo)? Seguirá valendo? Foi o que perguntamos diretamente a Da Vitória.
O deputado não chega a dizer que uma borracha será passada nesse acordo, mas dá um passo atrás movido pela cautela: ele mesmo não anunciou acordo algum. “A federação não se dissolve. Estará em um único local. Você não viu nenhum entrevista minha dizendo que estarei no palanque A, B ou C. Tenho muita cautela, até para que possamos declinar um apoio e cumprir esse apoio.”
O União, hoje, está inteiramente no governo Casagrande e em sua base. O PP, por sua vez, está dividido, mantendo um pé em cada canoa: ao mesmo tempo em que faz parte do governo Casagrande, também apoia o governo do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) em Vitória, com a vice-prefeita, Cris Samorini, e, agora, duas secretarias (a de Desenvolvimento da Cidade, com a própria Cris, e a de Assistência Social, com Soraya Manatao), além de ter chancelado a nomeação de Edu Henning, em 2023, para a Cultura.
Pazolini é tratado, hoje, como o principal adversário, potencialmente, do governo Casagrande na próxima corrida ao Palácio Anchieta.
Da Vitória reforça compromisso de união com Casagrande
Da Vitória não assume compromisso eleitoral antecipado com ninguém, mas, em suas declarações à coluna, dá uma sinalização importante de manutenção de seu apoio e sua lealdade a Casagrande.
“No início do ano, você mesmo noticiou algumas vezes o estreitamento do meu diálogo com o governador Renato Casagrande. E, dentro desses estreitamento de diálogo, mantemos o mesmo compromisso de trabalhar para convergirmos e construirmos juntos”, afirma o deputado.
De fato, esse “estreitamento” ocorreu, passando pela nomeação de Marcos Soares, por indicação de Da Vitória, para a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano, no começo de janeiro. O novo secretário é aliado do deputado.
Da Vitória afirma que quer construir o processo eleitoral de 2026 no Espírito Santo em diálogo com Casagrande:
“O governador é o maior cabo eleitoral desse processo. Muita gente que quer ser candidato a governador espera o apoio do Casagrande. Na minha relação com ele, temos o compromisso de construir juntos essa proposta”.
Da Vitória acredita ser possível a união de Pazolini com Casagrande. E trabalhará por isso
Em sua mais impressionante declaração, Da Vitória diz acreditar que seja possível até uma aliança eleitoral entre Pazolini, Casagrande e os respectivos grupos em 2026:
“O governador não pode ser candidato à reeleição, e vamos trabalhar para unir o Espírito Santo o máximo possível. É um direito dos nossos amigos também pleitearem candidatura ao governo. Temos um cronograma a cumprir e vamos trabalhar para fazer caber todo mundo nessa proposta de governar o Espírito Santo mais para a frente. Acredito que possamos ter uma convergência até maior lá na frente, com o Republicanos”.
Mais que isso: Da Vitória afirma que ele, como presidente da federação PP/União, dispõe-se a desempenhar pessoalmente o papel de ponte entre os dois lados:
“Tudo sempre é possível. O diálogo é o instrumento mais forte que existe. E vamos dialogar muito para convergir. É legítimo que haja movimentos de candidatura majoritária fora do grupo de Renato Casagrande. Mas talvez o governador precise de uma ponte para estreitar a relação com outros grupos. Eu posso ser essa ponte.”
Haja força nesse diálogo…
