Coluna Vitor Vogas
Arnaldinho: concorrente de Pazolini e sombra remoçada para Ricardo
Nos bastidores, muitos apostam que o embate reservado para 2026 será o “clássico da renovação política” entre representantes da mesma geração, mas em lados opostos da ponte e do tabuleiro político estadual: Arnaldinho versus Pazolini, respectivamente Vila Velha contra Vitória, Casagrande contra Paulo Hartung

Arnaldinho discursa durante evento da Ascamves (26/03/2025). Foto: reprodução Instagram
No dia 26 de março, a Associação das Câmaras Municipais de Vereadores do Espírito Santo (Ascamves) promoveu um congresso estadual, no Centro de Convenções de Guarapari. A “grande atração” do evento, segundo testemunhos, foi Arnaldinho Borgo (sem partido). O prefeito tirou o máximo proveito da oportunidade ímpar de falar diretamente a vereadores vindos do Estado inteiro, reunidos em um mesmo auditório – uma plateia de potenciais cabos eleitorais. Discursou sobre sua administração, destacando os investimentos na segunda cidade mais populosa do Espírito Santo e sua parceria política com o governador Renato Casagrande (PSB). Ao final, foi muito aplaudido.
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“Arnaldinho foi a estrela da programação, o palestrante mais festejado, mais até que o Ricardo”, relata um membro do “fã-clube” do prefeito. Como governador em exercício naquela semana, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) também passou pelo evento, mas fez uma fala mais breve e não se alongou no corpo-a-corpo – diferentemente de Arnaldinho. “A tietagem sobre ele foi imensurável. Selfies aos montes, aquela coisa…”, reporta o mesmo aliado do prefeito.
Mas não é só Arnaldinho que está indo até os líderes políticos de outros municípios. Estes também têm ido, em procissão, conversar com ele, a seu convite, no gabinete do prefeito de Vila Velha, em Itaparica. “Ele abriu a agenda dele para o debate estadual”, revela outro aliado muito próximo a Arnaldinho na política canela-verde. “Todos os dias, ele tem recebido de dez a vinte líderes do interior. Está recebendo os prefeitos, os vereadores, os players…”
São indicativos que, somados, apontam para a mesma direção: assim como Lorenzo Pazolini (Republicanos), de Vitória, e Euclério Sampaio (MDB), de Cariacica, Arnaldinho começou a estadualizar o movimento político dele, pensando em 2026.
Fidelíssimo a Renato Casagrande e literalmente correndo ombro a ombro com o governador, Arnaldinho, 41 anos, bem sabe que nessa corrida rumo ao posto de candidato do Palácio Anchieta existe outro competidor que largou na frente – lançado pelo próprio Casagrande – e que goza da preferência do governador para a “missão sucessão”: o já citado Ricardo Ferraço. Respeita a preferência de Ricardo e, segundo aliados, não tem a pretensão de atropelar o vice-governador.
“Vejo ele num movimento de respeito. Ele respeita muito a autoridade do governador. Não avança muito no assunto [eleição]. Mas uma coisa que sempre garante é que é do grupo do governador e que vai ajudar. Ao mesmo tempo, ele está se posicionando na disputa, no debate da majoritária, assim como o Euclério e o [Sérgio] Vidigal, o que vejo com naturalidade”, afirma um arnaldista, para quem o prefeito de Vila Velha está anunciando: “Eu estou aqui”.
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“O próprio governador, que é o maestro do negócio, o posicionou como um possível candidato. Os players também o colocam. Todos os números o levam à condição de ser respeitado para se sentar nessa mesa de negociação. Antes dele, Vila Velha era conhecida como o ‘cemitério de prefeitos’, pois ninguém se reelegia. Arnaldinho quebrou esse ciclo. Então, ele é um líder a colocar o nome, a debater. Vejo ele como um cara que está se posicionando para dizer ‘eu tô aqui, eu jogo também, eu sei fazer gol’. Ele cabe no jogo”.
Enquanto isso, outro político de Vila Velha ainda mais “arnaldete” não acha que o prefeito tem dito “eu estou aqui”, mas que há em torno dele um crescente clima de “Arnaldinho vem aí”. “Tudo o que ele quer é ser candidato a governador. Mas ele não quer atropelar ninguém. Ele tem dito que é muito novo e pode esperar; que, se o governador decidir que é o Ricardo, vai apoiar o Ricardo. Por outro lado, muito reservadamente, também tem dito: ‘Se o cavalo passar arreado, eu monto’. Isso já está enraizado. Ele está deixando que os aliados, vereadores e assessores soltem isso por aí.” Segundo a fonte, no evento da Ascamves, o boato se espalhou pelos vereadores.
Além da aproximação maior com líderes do interior, Arnaldinho tem se reunido com jogadores maiores, incluindo quem não está, como ele, no grupo liderado pelo governador. Na última quinta-feira (3), recebeu o deputado federal Evair de Melo (PP), opositor de Casagrande e aspirante a candidato a senador.
Adicionalmente, um forte indício do interesse de Arnaldinho em se colocar no jogo sucessório foi sua decisão, sacramentada em março, de se desfiliar do Podemos, sigla que definitivamente ficou pequena demais para ele e Gilson Daniel, presidente do partido no Espírito Santo.
A saída de Arnaldinho, agora sem partido, tem a ver, primordialmente, com desentendimentos proverbiais entre ele e Gilson Daniel – cujas causas reais nem aliados bem próximos sabem explicar ao certo.
Mas a desfiliação também responde a uma vontade de Arnaldinho de ficar mais à vontade para fazer seus próprios movimentos políticos de agora em diante. Leia-se: buscar outro partido em que possa exercer maior influência e que possa vir a abrigar sua eventual candidatura a governador do Estado… isso também no caso de a candidatura de Ricardo mascar.
Com o passe livre no mercado, o prefeito de Vila Velha fica livre para dialogar com dirigentes de outras legendas e decidir o próprio destino, sem precisar passar pela bênção do desafeto Gilson Daniel.
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Pazolini versus Arnaldinho
Assim como Euclério Sampaio, Arnaldinho no fundo também gostaria muito de ser candidato a governador já em 2026. Sim, é verdade que ele é jovem e, em tese, pode “esperar sua vez”. Tem 41 anos, um a menos que Pazolini.
Mas digamos que Arnaldinho, na crista da onda, deixe de disputar em 2026 e veja, impotente, seu “equivalente em Vitória” não só concorrer como chegar ao Palácio Anchieta. A espera pode ficar bem mais longa. Pode virar uma fila de oito anos, até 2034, pois, uma vez no poder, o prefeito de Vitória passaria a ter grandes chances de disputar a reeleição em 2030 e ficar no poder por dois mandatos. Deixar passar essa chance, tendo sido reeleito e consagrado com quase 80% dos votos válidos no segundo maior colégio eleitoral capixaba, é algo que precisa ser muito bem avaliado pelo prefeito de Vila Velha.
Até aqui, Arnaldinho tem se mostrado disciplinado. Na comparação com Euclério, por exemplo, está muito mais comedido. Em declarações oficiais, reitera que seu candidato é o do grupo de Casagrande: hoje, Ricardo Ferraço. Aparece ao lado de Casagrande e do próprio Ricardo em uma série de agendas oficiais em Vila Velha.
Não faz movimentos explícitos que permitam a mínima interpretação de que está “secando” Ricardo e apostando contra ele, ou de que está se preparando para entrar no vácuo do vice-governador e assumir seu posto como o candidato do governo Casagrande… Mas sua saída do Podemos pode ser interpretada desse jeito, assim como a “abertura de sua agenda”.
Mesmo dentro do grupo de Casagrande, há quem acredite sinceramente que o verdadeiro embate, a se desenhar no horizonte e se confirmar na hora certa, será entre Lorenzo e Arnaldinho (algo como o clássico Enzo versus Inho, jovens líderes que denunciam a pouca idade até na terminação dos nomes).
Seria, nesse caso, não só a medição de forças de dois políticos ascendentes e coetâneos que saíram consagrados das urnas nas respectivas reeleições em 2024, mas também uma disputa muito particular entre o prefeito da capital do Espírito Santo contra o da sua mais famosa e antiga vizinha, à distância de uma ponte: qual cidade mais se desenvolveu, em todas as áreas, nos últimos anos? (Em muitos casos, conforme a fonte do dado, os dois por vezes parecem dizer a mesma coisa.) Qual dos dois prefeitos terá feito mais pela própria cidade em cinco anos e quatro meses de governo?
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De quebra, poderia ser uma reedição do clássico embate entre Casagrande e Paulo Hartung, mas dessa vez de forma indireta, cada um apostando no seu cavalo novo. Enquanto o atual governador tem em Arnaldinho um parceiro e afilhado político, o ex-governador parece disposto a apadrinhar Pazolini. Na noite de sua reeleição, parabenizou-o num story e saudou a consolidação de “um novo líder no ES”. Segundo informações de bastidores, viria incentivando a candidatura do prefeito da Capital.
Enquanto Pazolini teria a própria juventude para exibir ao eleitor, apresentando-se como “sangue novo” e “oxigenação política”, Casagrande poderia contrapor a juventude de Arnaldinho, um candidato tão “fresco” quanto Pazolini para chamar de seu. O governador poderia, enfim, responder com a mesma moeda ao discurso do adversário: o mesmo vento renovador que sopra de uma margem da Baía de Vitória também pode soprar do outro lado da ponte.
Com Ricardo, as armas seriam outras: o preparo técnico, a sequência do legado do governo Casagrande (do qual ele mesmo é copartícipe) e, precisamente, a comparação de sua experiência e sua folha de serviços com a de Pazolini. Em certo sentido, a estratégia se inverte.
Redes sociais; cristãos; militares
Vale dizer que, em matéria de engajamento, Pazolini e Arnaldinho têm índices muito bons e muito parecidos nas redes sociais – além de usarem estratégias semelhantes.
Diferentemente de Pazolini e de Euclério, por exemplo, Arnaldinho não se diz de direita, mas tem dois pés bem fincados nesse campo, incluindo segmentos sociais que votam predominantemente em candidatos de direita.
O prefeito tem boa inserção em nichos da comunidade católica e evangélica. Toda manhã, para reiterar seu cristianismo, ele posta no Instagram a página de um exemplar da Bíblia com passagens comentadas – algo como um estudo matinal –, enquanto Ricardo tem postado áudios dele mesmo lendo e comentando versículos bíblicos (salmos, provérbios etc.), e Euclério abre seu gabinete toda quarta de manhã para a celebração de cultos evangélicos.
Além disso, Arnaldinho tem um pé nas Forças Armadas: prestou serviço militar e é tenente da reserva do Exército. Na reeleição em 2024, foi apoiado por ninguém menos que o Projeto Político Militar (PPM), mesmo contra o Coronel Ramalho (PL).
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Piadas políticas prontas
Duas pilhérias circulam em Vila Velha, uma positiva para Arnaldinho, a outra negativa.
A favorável ao prefeito é que Casagrande teria na verdade dois planos para sua sucessão: o plano A de Arnaldinho e o B de Borgo. Assim diz um gaiato da cidade.
Já outro galhofeiro afirma que o prefeito, conhecido “triatleta amador”, corre o risco de ver o sonho frustrado: “Corre, pedala… e nada”.
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