Coluna Valor em Foco
Do pessimismo à euforia: os fundos imobiliários como espelho do mercado
Os fundos imobiliários ilustram a volatilidade do mercado financeiro, alternando entre crise e euforia conforme expectativas de juros e inflação

Fundos imobiliários. Foto: Reprodução
Nos últimos meses, os fundos imobiliários voltaram às manchetes. Depois de um fim de 2024 conturbado, em que eram apontados como vilões de carteiras e alvos fáceis para críticas, o índice IFIX atingiu máximas históricas em 2025, coroando uma reviravolta que pegou muita gente de surpresa. Quem os descartava meses atrás agora celebra dividendos robustos e valorização acelerada. Mas talvez a maior lição desse movimento não esteja nos próprios fundos imobiliários, e sim no que eles revelam sobre a natureza do mercado financeiro.
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O mercado tem memória curta e um gosto particular por exageros. No auge da crise, a narrativa dominante era de que os fundos imobiliários estavam condenados, vítimas da Selic elevada, da inflação resistente e das incertezas fiscais. Qualquer número negativo era interpretado como prova definitiva de um futuro sombrio. Hoje, com os juros futuros recuando e o apetite por risco retornando, os mesmos ativos são exaltados como refúgio e promessa de estabilidade. Em poucos meses, passamos do pessimismo absoluto à euforia desenfreada, e é nesse pêndulo emocional que mora a armadilha.
Nem no fim de 2024 os fundos eram os piores investimentos possíveis, nem agora, em 2025, são o paraíso prometido. O que mudou, em grande medida, foram as expectativas. O preço de mercado não é apenas reflexo da realidade presente, mas da leitura que investidores fazem sobre o futuro. Quando o horizonte parecia nublado, os preços caíram além da conta. Quando o céu abriu um pouco, os mesmos ativos dispararam. O erro, portanto, não está em se animar com as boas notícias, mas em acreditar que elas durarão para sempre.
Esse comportamento não é exclusivo dos fundos imobiliários. Acontece com ações, moedas, commodities e praticamente qualquer classe de ativos. O sobe e desce não é apenas um gráfico: é um reflexo das emoções humanas, das projeções políticas, das apostas sobre juros e inflação. O investidor que se deixa levar pelo calor do momento corre o risco de sempre comprar tarde demais e vender cedo demais. O que faz diferença, no longo prazo, é a disciplina de olhar para além do preço, entendendo os fundamentos, a conjuntura e as forças que moldam cada movimento.
Os fundos imobiliários, nesse sentido, oferecem um exemplo didático do que significa investir em mercados financeiros. A tentação de acreditar que o pior ou o melhor já chegaram de forma definitiva é grande, mas raramente verdadeira. A economia é viva, sujeita a mudanças de política monetária, decisões fiscais, transformações tecnológicas e até imprevistos globais. Ignorar essa natureza dinâmica é se expor a frustrações recorrentes.
Mais do que comemorar a alta atual ou lamentar as perdas passadas, cabe ao investidor cultivar uma postura de análise crítica e paciência. Nem o céu nem o inferno definem sozinhos o destino de um ativo. O que importa é a jornada no meio do caminho, a capacidade de atravessar tempestades sem perder a bússola e de aproveitar bonanças sem embarcar em ilusões. O caso recente dos fundos imobiliários é apenas mais uma lembrança de que, no mercado financeiro, exageros sempre existem. E que o equilíbrio, ainda que menos sedutor, é quase sempre a estratégia mais lucrativa.
*Gabriel Cecco é sócio e assessor de investimentos da VALOR Investimentos.
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