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Coluna Vitor Vogas

O homem que comandará o partido do governador durante as eleições

Presidente estadual, com mandato até 2028, será eleito como nome de consenso no próximo dia 23, mas a produção do consenso não foi tão simples…

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Renato Casagrande, no congresso estadual do PSB (27/03/2022). Foto: Hélio Filho/Secom

Renato Casagrande, no último congresso estadual do PSB (27/03/2022). Foto: Hélio Filho/Secom

Veterano aliado do governador Renato Casagrande, Alberto Farias Gavini Filho será reconduzido, no próximo dia 23, à presidência do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Espírito Santo. Há décadas, a sigla tem no governador seu principal líder regional. Gavini presidirá o PSB no Estado por mais três anos, até 2028, incluindo, no meio do percurso, as eleições estaduais do ano que vem.

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Gavini será reeleito por consenso, à frente de chapa única, no congresso estadual do PSB, marcado para o dia 23, com a presença confirmada do prefeito de Recife, João Campos, uma das figuras mais destacadas do partido no país e seu futuro presidente nacional.

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Com 66 anos, o presidente estadual do PSB também é o diretor-geral da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes), órgão do Governo do Estado. É conhecido como um dirigente habilidoso, com perfil talhado para o cargo: é de ouvir mais do que falar. Chegou ao posto no fim de 2019, para um mandato tampão, foi reeleito em 2022 (ano da reeleição de Casagrande) e, agora, seguirá para o terceiro mandato consecutivo na presidência estadual. Se completar o próximo mandato, ficará à frente do PSB no Espírito Santo por quase uma década.

A recondução de Gavini, já selada nos bastidores, agora é ponto pacífico no partido, mas não foi bem assim desde o começo.

Até cerca de dez dias atrás, houve um movimento forte de incentivo, vindo de uma parcela do PSB, para que o deputado estadual licenciado Tyago Hoffmann, secretário estadual de Saúde desde janeiro, lançasse o nome à presidência, não contra Gavini, mas em substituição a ele.

Tyago nunca admitiu de público a intenção de postular o cargo de Gavini e o movimento não chegou a se concretizar, mas de fato foi ensaiado.

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Em conversa com o próprio Tyago, lhe perguntamos se ele retirou a pré-candidatura. Ele botou uma pedra no assunto: “Não posso confirmar a retirada de algo que nunca existiu. Não posso ter retirado a candidatura porque nunca fui candidato a presidente do partido”. O próprio secretário acredita na recondução sem sobressaltos de Gavini, em chapa única.

Por que o ensaio em torno de Tyago Hoffmann?

Como dito acima, Gavini tem 66 anos e já está no cargo há seis, tendendo a ser reconduzido por mais três. O cargo demanda muito do seu ocupante, tanto física quanto emocionalmente. Em outras palavras, é cansativo e estressante. Mais ainda em se tratando de um partido grande como é o PSB no Espírito Santo. No ano passado, com 21 eleitos, a legenda foi a que mais fez prefeitos no Estado. E multiplique isso quando se trata do partido que está no governo há mais de cinco anos, pouco mais que o tempo que Gavini já leva no cargo.

“A pior coisa do mundo é ser presidente do partido que está no governo. Frequentemente, você se vê entre a cruz e a espada, entre defender os interesses do partido e os do governo do seu partido, que nem sempre se equivalem”, observa outro dirigente do PSB, defensor da permanência de Gavini.

O próprio Gavini, desde o ano passado, vinha confidenciando a pessoas próximas, dentro do partido e do governo, certa fadiga gerada pelo exercício do cargo. Chegou a expressar a vontade de passar adiante o bastão – de preferência, para seu braço direito no PSB: o diretor-geral da Junta Comercial do Espírito Santo, Paulo Menegueli.

Esse cansaço exprimido por Gavini foi um primeiro ponto. Abriu brecha para movimentações de potenciais substitutos. Tyago foi visto então, por setores do partido, como um possível sucessor. E foi encorajado por colegas de PSB. Entre eles, o mais ilustre correligionário. Segundo nossa apuração, o próprio Casagrande chegou a estimular Tyago, em dado momento, a dar um passo adiante para ser o possível sucessor de Gavini na presidência estadual do PSB.

Mas a ideia não saiu exatamente da cabeça de Casagrande. Faz parte de uma inflexão que o PSB está procurando fazer em nível nacional. Nas últimas eleições municipais, em 2024, o PSB foi o partido de esquerda que mais elegeu prefeitos no país, embora não tenha exatamente alcançado números de encher os olhos, num pleito dominado por forças de centro-direita no Brasil.

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Já nas últimas eleições gerais, em 2022, o partido teve um resultado muito tímido em âmbito nacional. Espremido pela polarização entre o PT de Lula e o bolsonarismo, elegeu uma pequena bancada na Câmara dos Deputados. Como partido de centro-esquerda, sofreu naquele pleito como todas as forças mais ao centro.

Em 2026, o PSB deseja mudar esse cenário e levar bem mais gente para Brasília. Para isso, o partido está passando por um declarado processo de renovação, começando pela direção nacional. O próximo presidente nacional será o prefeito de Recife, João Campos, que só tem 31 anos. Apoiado pelo atual presidente, Carlos Siqueira, no cargo há dez anos, Campos teve a candidatura lançada em fevereiro e deve ser eleito por aclamação no congresso nacional do PSB, de 30 de maio a 1º de junho, em Brasília.

Ao lançá-lo, Siqueira disse se tratar de “uma mudança geracional necessária” para o PSB. A ideia é que isso se espalhe pelo país, com a eleição de novos dirigentes nos estados e oxigenação dos diretórios regionais. A palavra de ordem é “renovação política”.

Com isso em mente, a direção nacional do PSB sugeriu a Casagrande que buscasse um nome capaz de promover essa renovação no Espírito Santo. O nome encontrado pelo governador, até por sugestões de conselheiros, foi o de Tyago Hoffmann. Houve de fato esse incentivo.

Porém, antes que Tyago pudesse chegar a fazer qualquer movimento real, uma reação do deputado federal Paulo Folletto, único representante do PSB capixaba no Congresso, botou o pé na porta. Em declaração contundente à jornalista Fabiana Tostes, do jornal online Folha Vitória, publicada no dia 2 de abril, Folletto disse que não aceitaria de jeito nenhum eventual candidatura de Tyago ao lugar de Gavini, que tentaria dissuadi-lo disso e que, se Tyago insistisse, ele mesmo lançaria candidatura à presidência estadual do PSB.

As aspas de Folletto para a jornalista, em tom de ameaça, foram as seguintes:

“Descarto ser presidente, sou contrário a alguém que irá disputar a eleição ser presidente. Se Tyago quiser presidir o PSB, vou até ele dizer que não é uma boa. Se ele insistir, vou disputar com ele”.

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Por que essa reação de Folletto?

A declaração foi de Folletto, mas não foi só ele falando. Na verdade, o deputado exteriorizou o sentimento partilhado por uma ala do PSB que defende a permanência de Gavini e não aceita de modo algum que o partido vá para as mãos de alguém que tenha, pessoalmente, aspirações eleitorais.

Tyago Hoffmann, como é público há algum tempo, é pré-candidato a deputado federal. Folletto é pré-candidato à reeleição. Os dois estarão na mesma chapa, ajudando-a, sim, com seus votos, a atingir o melhor resultado, para que o PSB possa ter direito a mais cadeiras na Câmara, mas, ao mesmo tempo, concorrendo entre si. Se o partido fizer uma só cadeira, esta ficará com o candidato da chapa que obtiver a maior votação individual. Se fizer duas, ficarão com os dois mais votados, e assim sucessivamente.

Folletto, então, trouxe a público uma preocupação partilhada por outros possíveis candidatos a deputado pelo PSB. O receio, no caso, era o de “concorrência desleal”, com Tyago eventualmente usando o partido e seu controle sobre ele para privilegiar a própria candidatura sobre as demais.

Além disso, há outro sentimento, não verbalizado, mas comungado por uma ala do PSB. É a “velha guarda” do partido, aqueles pessebistas raiz que acompanham Casagrande desde seu ingresso no partido e início da trajetória política, em fins dos anos 1980 e princípios da década seguinte.

É uma ala ainda muito influente, resistente a essa ideia de “renovação” e refratária a qualquer mudança brusca na direção do partido que possa representar, também, uma mudança de direção do partido.

É também o que poderia ocorrer se Tyago chegasse à presidência. Ele poderia levar o PSB a dar uma guinada mais ao centro no Espírito Santo, consoante ao seu próprio perfil político.

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Seja como for, a declaração de Folletto feriu de morte eventuais pretensões de Tyago (dele mesmo e/ou de terceiros para ele). Serviu para deixar claro que, se ele se lançasse à presidência, um acordo seria inatingível e o consenso daria a vez à disputa interna, pondo a perder a unidade do partido – ou, no mínimo, colocando-a em risco em pleno ano pré-eleitoral.

Magoado, segundo fonte do governo, Tyago desistiu de apresentar o nome, para não complicar mais a situação. Informou ao governador que não queria causar constrangimento. E, como disse à coluna (acima), nem sequer chegou a se lançar.

Enquanto isso, Gavini foi convencido por colegas de longa data a continuar na presidência. Apesar da fadiga, topou a missão de renovar o mandato. Aceitou ficar por mais três anos, com os ônus e os bônus, encargos e benefícios, sacrifícios e delícias inerentes à presidência de um dos partidos mais poderosos do Espírito Santo.

Futura composição

A Executiva estadual do PSB é composta por 17 membros, além de um representante de cada um dos segmentos do partido (jovens, mulheres etc.), totalizando 24.

Na nova composição do órgão, estarão presentes todos os atuais deputados estaduais da legenda (Dary Pagung, Janete de Sá, Toninho da Emater e o licenciado Tyago Hoffmann), Folletto (como federal), o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Bruno Lamas, a secretária estadual de Mulheres, Jacqueline Moraes, além do pessoal do batente, que toca mesmo o PSB no dia a dia, como Paulo Menegueli e o economista Paulo Brusqui.

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