Coluna Vitor Vogas
O exercício eleitoral de Da Vitória com Casagrande, Ricardo e Marcelo
E mais: Arnaldinho só irá para o PP se tiver garantias de que poderá disputar o governo. Analisamos aqui o tamanho do risco para o prefeito se entrar no partido sem saber se poderá ser candidato

No sentido da leitura: Marcelo Santos, Ricardo Ferraço, Renato Casagrande e Josias da Vitória. Foto: reprodução Instagram
O deputado federal Josias da Vitória e o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos, reuniram-se no Palácio Anchieta, na tarde de quinta-feira (25), com o governador Renato Casagrande (PSB) e o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), para tratarem objetivamente da pauta eleitoral.
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Além de presidente estadual do PP, Da Vitória comanda a Federação União Progressista no Espírito Santo. Já Marcelo Santos é o novo presidente do União Brasil (segunda torre dessa federação). Aliás, essa foi a primeira vez que os quatro discutiram juntos as eleições, a portas fechadas, desde que Marcelo passou a responder pelo partido, no lugar de Felipe Rigoni.
O receio fundado, no Palácio Anchieta, é que essa poderosa federação possa escapar-lhe das mãos e ir parar, no ano que vem, no palanque adversário que deve ter o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), como candidato a governador.
O PP, é verdade, está na base do governo Casagrande, onde tem até secretaria de Estado (a de Desenvolvimento Urbano). Porém, ao mesmo tempo, está na administração de Pazolini em Vitória, inclusive com a vice-prefeita, Cris Samorini, filiada ao partido. O próprio Da Vitória tem mantido postura “ambidestra” – muito embora já tenha declarado e reiterado seu compromisso de “construir com Casagrande o processo eleitoral do Espírito Santo em 2026”. Ontem mesmo, logo após a reunião, Da Vitória e Marcelo postaram em seus stories esta legenda para a foto acima: “O presente e o futuro do Espírito Santo passam pelo diálogo que estamos construindo”.
Todos naquela mesa de reuniões sabem que, no caso do União Progressista – como outras forças políticas de centro-direita e direita –, a conjuntura estadual pode ser profundamente influenciada pela configuração da eleição presidencial.
Em decisão conjunta, PP e União Brasil desembarcaram oficialmente do governo Lula, em anúncio feito pelos respectivos presidentes nacionais, Ciro Nogueira e Antônio de Rueda. Exigiram de todos os filiados a entrega dos cargos no Governo Federal. Os dois partidos não estarão na coligação encabeçada pelo PT em busca da reeleição de Lula.
O União Brasil (logo, a federação) tem pré-candidato próprio à Presidência: o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, governante de direita. Se Caiado não for candidato ao Palácio do Planalto, é provável que a Federação União Progressista leve seu apoio para um dos outros presidenciáveis de direita apresentados no momento.
Enquanto isso, o PSB de Casagrande certamente estará na coligação de Lula. É muito possível que o MDB de Ricardo também esteja.
Assim, para que a Federação União Progressista fique na coligação majoritária de Casagrande e de Ricardo, o desafio que se impõe a Da Vitória é o de conseguir emplacar, no Espírito Santo, um arranjo diferente do arranjo nacional da própria federação: coligar-se, no Espírito Santo, com PSB e MDB, partidos que estarão em outro palanque na disputa presidencial.
Para isso, ele precisará de muita habilidade e, acima de tudo, da aquiescência dos dirigentes nacionais de PP e União Brasil.
Isso tudo, segundo da Vitória, foi posto na mesa durante sua conversa com Marcelo Santos, Casagrande e Ricardo. “Fizemos vários exercícios de cenário.”
Em diálogo com a coluna, o deputado fez questão de lembrar um precedente enfatizado por ele, o qual de fato é emblemático: nas últimas eleições gerais, em 2022, o PP não só apoiou oficialmente a reeleição de Bolsonaro como integrou a coligação do PL na disputa presidencial; entretanto, na eleição para governador do Espírito Santo, o PP ficou na coligação encabeçada pelo PSB (a qual tinha também o PT) e apoiou a reeleição de Casagrande.
Ou seja: nacionalmente, o partido fez parte de um arranjo; no Espírito Santo, ficou em outro bem diverso, em função da conjuntura regional.
Isso só foi possível, segundo Da Vitória, graças a uma liberação, obtida por ele próprio, como fez questão de enfatizar, junto à direção nacional do PP. “Foi uma liberação. Em 2022, fui eu que articulei isso, em diálogo com a Executiva Nacional.” Na época, ele já era deputado federal, mas o presidente estadual do PP era Marcus Vicente.
De acordo com Da Vitória, o exemplo pode se repetir. “Talvez vamos construir, aqui no Espírito Santo, uma aliança até mais ampla do que a vista hoje alcança.”
Na conversa a portas fechadas, os quatro também trataram da possibilidade de o União Progressista ter um nome na chapa majoritária oficial do Palácio Anchieta. Isso é condição sine qua non para qualquer definição de apoio por parte dos dirigentes da federação. “O União Progressista estará em uma chapa majoritária nas eleições do ano que vem no Espírito Santo”, asseverou Da Vitória. Em qual chapa? Vai depender de alguns fatores. A presença de um nome seu na chapa é um dos mais importantes.
Nos estados, em cada chapa majoritária, haverá quatro vagas a preencher: candidato a governador, candidato a vice-governador e dois candidatos ao Senado. No Palácio Anchieta, duas dessas vagas já estão reservadas para participantes da reunião aqui relatada: Ricardo para governador e Casagrande como um dos dois candidatos ao Senado. Resta a vice e a vaga de segundo candidato a senador. Esta última já foi oferecida por Casagrande e Ricardo a Da Vitória.
À coluna, o deputado reiterou sua disposição para disputar um mandato majoritário, seja a senador, seja até a governador.
No momento, Da Vitória se mantém extremamente cauteloso em cada passo, atento aos movimentos nacionais e evitando acelerar o tempo das decisões.
Arnaldinho só irá para o PP se tiver garantias de que poderá disputar o governo
Há outro elemento nessa equação que também pode fazer grande diferença: a possível entrada do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, no PP de Da Vitória.
Como noticiamos aqui, na próxima terça-feira (30), Arnaldinho e Da Vitória têm reunião marcada, em Brasília, com o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, para tratarem objetivamente da possível filiação do prefeito ao partido. O convite está posto publicamente.
Se de fato ingressar no PP – e, portanto, na Federação União Progressista –, Arnaldinho também entra nessa mesa de discussões com Casagrande, Ricardo, Marcelo Santos e Da Vitória, sobre a formação da chapa majoritária governista no ES. Afinal, falando em tese, poderá ser ele próprio o representante dessa federação na chapa majoritária.
Arnaldinho quer ser candidato a governador e não abre mão de buscar se viabilizar.
Sua decisão quanto a se filiar ao PP ainda não está tomada e depende, fundamentalmente, de ele ter ou não possibilidades reais de se candidatar ao Palácio Anchieta pela Federação União Progressista.
Conforme a coluna apurou, o prefeito quer ter, de Ciro Nogueira e da direção nacional da federação, garantias de que, se entrar no PP, passará a ser tratado como o pré-candidato do União Progressista a governador do Espírito Santo. Em outras palavras, entrará no PP se a filiação vier com um indispensável complemento para ele: não apenas um “anúncio de filiação”, mas o combo “anúncio de filiação + anúncio de pré-candidatura”.
Do contrário, o prefeito irá para um risco muito grande e poderá até cair numa armadilha. Como já avaliamos aqui mesmo, sem controle algum sobre os rumos eleitorais da federação no Espírito Santo, ele colocará seu destino nas mãos do PP, do União Brasil e, muito especialmente, do deputado Da Vitória.
Suponhamos, por exemplo, que o União Progressista componha com Ricardo para governador e Casagrande para senador sob a condição de que Da Vitória seja o segundo candidato a senador. Se assim for, Arnaldinho roda.
E se o União Progressista acabar indo parar no palanque majoritário da oposição, encabeçado por Pazolini? Nesse caso, Arnaldinho também roda. A não ser que também entre pessoalmente na composição com Pazolini, o que, além de muito improvável, representaria uma quebra da palavra empenhada por ele, de público, a Casagrande e Ricardo: “Caminharemos unidos”.
Em todo caso, a situação é delicada e o risco político é grande para o prefeito de Vila Velha.
