Coluna Inovação
A cultura do mais ou menos: tolerância com a mediocridade
Com avanços tímidos e limitações estruturais, o Brasil mais ou menos se mantém distante da relevância global e do desenvolvimento pleno

Brasil mais ou menos. Foto: Reprodução
Tá ruim, mas tá bom. Tudo meia boca. A gente tenta, se não der, não deu, fazer o quê?. Superar meta? Não precisa. Se igualar, fica de bom tamanho. Entregar mais do que foi pedido? Exagero. Superar a expectativa do cliente? Só atender tá bom, ele acaba voltando mesmo. Obra para durar muito? Nada, o próximo governo refaz. Estudante com nota alta? Se der para passar, tudo bem. Com essas premissas vamos levando a vida e o país rumo à irrelevância.
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O PIB cresceu 2%? Viu, mais do que se esperava, muita gente achou que ia ser negativo. O desemprego está no nível mais baixo em muitos anos? Maravilha, nem-nem, desalentados ou subempregados não contam mesmo, só conta quem está procurando emprego. Está todo mundo endividado? Sem problema, depois a gente dá um jeito e renegocia. As reformas necessárias são muitas, mas depois que faz a primeira, cheia de exceções, todo mundo relaxa e deixa as outras para outro dia adiante. A esperada reforma tributária acontece enfim, mas para ficar mais ou menos cria a maior alíquota. O capitalismo é mais ou menos, cheio de restrições e interferências, com muita gente achando que o estado administra melhor, apesar das evidências. O presidencialismo é mais ou menos, com os poderes tirando atribuições uns dos outros. O orçamento foi sequestrado pelo legislativo. As tentativas de colocar limites nos salários do setor público ficam mais ou menos. A todo momento, algum órgão público cria um penduricalho nos salários, com justificativas contorcionistas ou na cara dura mesmo. A nova legislação trabalhista é boa, mas o juiz não acredita e fica tudo mais ou menos. Obras públicas ficam pela metade, mais ou menos prontas, enroladas em licenças ambientais, suspeitas de corrupção ou planejamento mal feito. O tráfico de drogas é proibido, quer dizer, mais ou menos, todo mundo sabe onde compra e quando chega, por causa dos fogos. O crescimento do país tem idas e vindas, assim como a economia. Para baixar a taxa de juros é necessário conter gastos públicos. Para não deixar de ficar mais ou menos basta tirar algumas despesas dessa conta. Me engana que eu gosto. Está difícil trazer a inflação para a meta? Aumenta a meta. Um truque é chamar custo de investimento. Afinal, quase tudo pode se enquadrar nesse argumento: educação, infraestrutura, saúde, programas sociais, ciência e tecnologia e, quem sabe, até emendas pix, investimento para a próxima eleição.
A educação é mais ou menos, aliás mais para menos que para mais. O salário médio do professor no Brasil é baixo, cerca de 47% inferior à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e também significativamente inferior ao de nações da América Latina, como Chile e México. No exame Pisa dos alunos com 15 anos de idade estamos depois do 50º em Ciências, Leitura e Matemática.
Quando soma tudo e consulta os números acontece o inevitável, o crescimento fica mais ou menos. Em 1980, o PIB per capita da Coreia do Sul era 17,5% do PIB per capita dos Estados Unidos, enquanto o PIB brasileiro era 39%. Quase quatro décadas depois (38 anos), o PIB da Coreia do Sul passou a representar 66% do PIB norte americano, enquanto o do Brasil representa 25,8%. Antes mais rico, Brasil tem agora 12% do PIB chinês e 56% do indiano.
O Brasil é o país do futuro? Mais ou menos.
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