Coluna Vitor Vogas
Casagrande estabelece um limite para Arnaldinho Borgo
Conversamos com o governador sobre como ele vê a movimentação eleitoral de Arnaldinho, que quer se candidatar ao Palácio Anchieta

Arnaldinho Borgo e Renato Casagrande. Foto: Divulgação
O governador Renato Casagrande (PSB), em conversa com a coluna, fez a sua avaliação pessoal sobre as recentes (e crescentes) movimentações pré-eleitorais por parte do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido). E estabeleceu um limite muito claro para essas movimentações, demarcando até onde o prefeito pode ir sem que haja problema algum para ele.
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Como analisamos aqui no último domingo (18), Arnaldinho tem dado sinais cada vez mais evidentes de que pretende mesmo consolidar pré-candidatura a governador do Espírito Santo. Tem encomendado pesquisas e recebido agentes políticos de outras cidades. Em março, desfiliou-se do Podemos, onde não tinha o comando partidário, justamente para ficar mais “solto” a fim de se movimentar. Em julho, deve começar a circular pelo interior do Espírito Santo.
Agora, busca um partido para se filiar e, de preferência, presidir no Espírito Santo. Com isso em mente, no último dia 13, encontrou-se pessoalmente, em São Paulo, com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Os dois abriram conversas sobre sua possível filiação.
O prefeito de Vila Velha, enfim, se move de maneira mais explícita a cada dia visando se viabilizar na corrida ao Palácio Anchieta. Ocorre que, nessa corrida, há outro grande aliado do governador Renato Casagrande que largou na frente: o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). Em entrevistas concedidas em dezembro, Casagrande afirmou que “se desejar, Ricardo vira candidato natural” e que “Ricardo precisa se preparar e estar preparado”.
Desde janeiro, o próprio Ricardo tem se apresentado como pré-candidato e fala abertamente sobre o projeto de se viabilizar, incluindo sua saída da Secretaria de Estado do Desenvolvimento (Sedes) em fevereiro, para poder cumprir mais atividades ao lado do governador, ou no lugar dele, e circular pelo Estado – o que, de fato, tem feito intensamente.
Em entrevistas anteriores, o próprio Casagrande já citou outros cinco aliados que também têm condições, segundo ele, de representar seu grupo político na disputa pela sua sucessão no ano que vem, entre os quais o próprio Arnaldinho, além de Euclério Sampaio (MDB), Sérgio Vidigal (PDT), Josias da Vitória (PP) e Gilson Daniel (Podemos). Mas, nesta nova entrevista à coluna, o governador volta a frisar: Ricardo é tido “como prioridade”, por ser o vice-governador e assumir em abril de 2026 se o próprio Casagrande renunciar para disputar o Senado.
> Arnaldinho quer ser governador e busca um partido para chamar de seu
Perguntamos, então, ao governador: por acaso essa movimentação explícita de Arnaldinho está fugindo ao script ou está dentro do roteiro traçado e combinado previamente por ele com seus aliados? Casagrande negou que haja um “script”, mas delimitou muito claramente no chão o ponto até onde está disposto a considerar “normais” as movimentações eleitorais do prefeito de Vila Velha: até o ponto em que tais articulações se derem com outros integrantes do mesmo grupo político, liderado pelo próprio Casagrande no Espírito Santo.
“Não tem um script combinado. Não tem uma combinação entre nós. O que tem é uma fala minha dizendo de possíveis nomes com condições de serem candidatos ao governo e do vice-governador como prioridade, pela posição que tem. Mas não tem um script combinado.”
“Então, se Arnaldinho se movimentar em direção a aliados, mesmo não tendo um script combinado, está dentro de um comportamento normal. Nós temos hoje aliados e adversários. Todos sabem quem são os nossos aliados e quem são os nossos adversários. Então, se o movimento for dentro de um ambiente de aliados, é um comportamento normal.”
Em outras palavras, se Arnaldinho começar a ciscar para fora do grupo de Casagrande e flertar com adversários políticos, o governador já não enxergará nisso a menor “naturalidade”. Verá tal comportamento como um problema ou talvez, até mais, como uma afronta. A resposta do governador é um recado translúcido ao seu maior aliado entre os prefeitos do Espírito Santo, ao lado de Euclério Sampaio.
E quem são os adversários?
Como Casagrande disse, “todos sabem” quem são os adversários dele mesmo e de seu governo no Espírito Santo. Para o leitor ou leitora que eventualmente não saiba ou não se lembre, eles estão divididos em três “potes”.
O primeiro é o que contém Lorenzo Pazolini e o grupo político concentrado ao redor do prefeito de Vitória, potencial candidato a governador do Espírito Santo. Esse grupo, hoje, tem sua cabeça no partido Republicanos, mas também há partes vindas do PP e do PL.
O segundo é pote do Partido Liberal (PL), que faz oposição a Casagrande na trincheira da extrema-direita bolsonarista.
O terceiro é o ex-governador Paulo Hartung, que está prestes a se filiar ao PSD, na próxima segunda-feira (26).
> Pazolini nomeia ex-deputado e líder evangélico em cargo na Prefeitura de Vitória
Eventualmente, para as próximas eleições estaduais, pode haver interseções entre eles. Por exemplo, em tese, Hartung poderia apoiar Pazolini, que poderia se juntar ao PL…
Recentemente, Arnaldinho tem feito alguns flertes públicos com agentes políticos que estão entre esses adversários “que todos sabem quem são”. No dia 15 de abril, encontrou-se com o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, principal operador político e eleitoral de Pazolini. O prefeito de Vila Velha fez questão de publicar a foto dos dois juntos e sorridentes. Na legenda ainda tascou: “Conversamos sobre os desafios das grandes cidades e o futuro do Espírito Santo”.
Questionado sobre esse encontro, Casagrande foi categórico:
“Ter encontro é normal da política. Ter compromisso é diferente. Ter encontro é normal. Ter compromisso e uma articulação real com quem não é aliado, isso não é adequado. E não acredito que ele esteja fazendo isso.”
Em outras palavras, flertar pode; namorar, não.
Victor Linhalis: “Fui eu que articulei encontro com Kassab”
Além disso, se Arnaldinho vier a se filiar mesmo ao PSD, dividirá o partido com ninguém menos que Paulo Hartung, adversário visceral de Casagrande. Em tese, passaria a morar com o inimigo do governador. E o fato de passarem a ser correligionários poderia aproximá-los politicamente – ideia que na certa não agrada nada ao atual ocupante do Palácio Anchieta.
Agentes do mercado político chegaram a especular que teria sido Hartung o responsável por articular o encontro de Arnaldinho com Kassab, com quem é muito bem relacionado. Seria sinal de que uma aproximação entre prefeito e ex-governador já poderia estar em curso.
> E se Ricardo Ferraço presidir federação com partido de Pazolini?
Mas, de uma das fontes mais próximas a Arnaldinho, vem uma negativa peremptória: “Quem articulou o encontro com Kassab fui eu. Fui eu quem consegui e mediei a reunião”, afirma o deputado federal Victor Linhalis (Podemos).
Vice-prefeito de Arnaldinho na primeira metade de seu primeiro mandato (2021/2022), Victor Linhalis se elegeu para a Câmara Federal em 2022 como “o deputado do Arnaldinho”. Seu pai, Cael Linhalis (PSB), é o atual vice-prefeito de Vila Velha.
Doutor Victor, como é conhecido, participou do encontro de Arnaldinho com Kassab no último dia 13, no complexo do Shopping Anhembi, na capital paulista. Ele diz não ter nenhuma dúvida de que Arnaldinho é pré-candidato a governador e que sua filiação ao PSD é uma questão de tempo. Acredita que alguém de confiança do prefeito de Vila Velha, indicado pelo próprio, passará a presidir o PSD no Espírito Santo. Hoje, o partido é presidido no Estado pelo prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos.
Casagrande reitera a sua lista de candidatáveis
Casagrande mantém Ricardo Ferraço no topo da sua relação de potenciais candidatos a governador com seu apoio, mas reafirma todos os nomes da lista:
“Ricardo é o nome prioritário, porque é o vice-governador, tem experiência, tem condições, conhece toda a máquina pública e conhece bem todo o Estado. Mas nós temos nomes como Euclério, Arnaldinho, Sérgio Vidigal, Gilson Daniel e Josias da Vitória. São os nomes que já apresentamos como opções dentro do nosso movimento político. Estabelecendo um nível de prioridades, continua sendo essa a nossa posição”.
A bem da verdade, Da Vitória (que pode vir para senador) e Gilson Daniel são mantidos aí por uma deferência do governador. É uma forma de os prestigiar, pela importância dos dois deputados federais e das respectivas forças partidárias comandadas por eles no Espírito Santo. Da Vitória será o presidente do União Progressista, federação a ser formada pelo União Brasil com o Progressistas (PP). Já Gilson Daniel é o presidente estadual do Podemos e, se sair a fusão com o PSDB, presidirá o partido resultante dessa junção.
Assim como Arnaldinho, Euclério iniciou intensas movimentações eleitorais após o Carnaval visando viabilizar candidatura a governador. O fato de ter desistido de ir para o União Brasil, devido à federação com o PP, esfria um pouco essa pretensão. Quanto a Vidigal, hoje sem mandato e à frente da Sedes, mais provável é que procure se encaixar como candidato a vice-governador de quem vier a ser o candidato governista.
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