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Coluna Vitor Vogas

Enivaldo dos Anjos decide: “Vou renunciar ao mandato de prefeito”

Dizendo-se disposto a ser candidato a senador, mas cotado mesmo é para ser suplente da chapa de Casagrande ao Senado, prefeito de Barra de São Francisco explica por que está decidido a abrir mão do mandato pela metade (mesmo que não seja candidato)

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Enivaldo dos Anjos dá risada com Renato Casagrande, de quem é aliado. Crédito: Assessoria

Personagem marcante da história política capixaba contemporânea, Enivaldo dos Anjos (PSB) é chamado em muitos círculos de “Coronel”. O apelido contém uma mistura de respeito, carinho, temor e sátira – dependendo do ponto de vista. Refere-se ao seu estilo de fazer política (à moda antiga), ao seu jeitão impetuoso, à sua origem e a seu reduto eleitoral, onde está concentrada a sua ainda hoje inegável influência, lá no noroeste capixaba.

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Hoje com 75 anos, Enivaldo nunca foi um político previsível. Sempre foi inimigo do comum. Descreveu uma trajetória parabólica: nos anos 1980, prefeito de sua Barra de São Francisco; nos anos 1990, mandatos na Assembleia Legislativa; nos anos 2000, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCES). Aí, nos anos 2010, antecipou sua aposentadoria do TCES. Não foi, como em outros casos (o de Marcos Madureira, por exemplo), só um expediente para escapar a uma inevitável cassação pela Justiça. Não. Ele queria voltar a fazer política. E assim fez. Voltou a se eleger deputado estadual. Virou líder do governo Casagrande na Assembleia e, algo raro, acabou destituído do cargo.

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Aí, quando ninguém mais esperava, o Coronel voltou a se eleger prefeito de Barra de São Francisco, em 2020. Reelegeu-se, ainda, com folga, em 2024. Agora, para quem achava que ele estava satisfeito, Enivaldo prepara a sua nova surpresa política, anunciada em conversa com a coluna: no ano que vem, aconteça o que acontecer, o prefeito de Barra de São Francisco renunciará ao mandato. Frisamos: voluntariamente.

Reeleito no ano passado, Enivaldo tem mandato a cumprir até o final de 2028. Mas está decidido a antecipar o fim para o ano que vem, entregando o comando da prefeitura, em definitivo, para seu vice-prefeito, Wanderson Melgaço (PSB), eleito com ele em 2024.

A resolução pessoal, garante Enivaldo, já está tomada. A única indefinição é quanto ao mês em que ele dará caráter oficial à decisão. Aí vai depender da sua participação (ou não) nas eleições gerais de 2026. Se o prefeito tiver a possibilidade real de ser candidato, ele renunciará em abril, em cumprimento à legislação eleitoral. Se não houver essa possibilidade, ele apenas adiará a renúncia em oito meses: de qualquer maneira, encerrará o mandato de prefeito na metade do seu atual mandato, em dezembro do ano que vem.

Enivaldo diz estar à disposição do PSB para ser candidato a senador. Nos bastidores, a informação que circula, cada vez mais fortemente, é que seu desejo mesmo, no fundo, é ser o 1º suplente de senador na chapa do governador Renato Casagrande. Num caso ou no outro, ele será obrigado a renunciar em abril. Porém, mesmo não sendo candidato a nada, ele garante que, no fim de 2026, dará por encerrado seu mandato, comunicará sua renúncia à Câmara de Vereadores da cidade e passará o bastão de uma vez por todas a Melgaço.

Filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) – embora com perfil de líder de direita –, Enivaldo reelegeu-se prefeito em 2024 pela legenda de centro-esquerda liderada no Espírito Santo por Renato Casagrande. Mais que correligionário, é um aliado para lá de estratégico do governador. Na reeleição de Casagrande, em 2022, deu, ao lado de Arnaldinho, Euclério e Ricardo Ferraço, a base forte de direita necessária à coalizão eleitoral do socialista.

Independentemente dos rumos específicos, uma coisa é certa: Enivaldo está no projeto de Casagrande (para senador) e de Ricardo Ferraço (para governador). O papel que lhe caberá, não se sabe. Mas ele diz que pode ser até candidato a senador, na segunda vaga da ampla coligação a ser montada pela dupla citada.

“Estamos discutindo todas as candidaturas, de deputado estadual a senador, dentro do grupo de parceiros que vai apoiar o Ricardo para governador. Manifestei a ele [Casagrande] o meu desejo de participar, caso haja necessidade. Cada coligação tem de apresentar dois candidatos a senador. Se o nosso arco de alianças não tiver outro partido que tenha interesse na vaga, eu gostaria de disputar a segunda vaga de senador. Isso se o partido tiver a necessidade de compor uma chapa com dois candidatos do PSB.”

Observem: “caso haja necessidade”, “se o PSB tiver a necessidade”, “se o grupo não tiver outro partido que tenha interesse na vaga”… O discurso de Enivaldo não exprime aqueeeeeela convicção de que ele nutre mesmo a ambição de ser candidato a senador pelo PSB.

Calejadíssimo como é, ele sabe perfeitamente que, nesse extenso “arco de alianças”, o que não falta é justamente “outro partido que tenha interesse” na segunda vaga de candidato ao Senado, para completar a coligação. A fila na verdade contorna o quarteirão. Sabe também que ele não está nas primeiras posições dessa fila; e que, estando no PSB, o partido do governador, beira zero a chance de ele ser mesmo um dos candidatos da coligação ao Senado. Afinal, um dos postulantes do grupo já será o próprio Casagrande, e o PSB não há de querer lançar dois candidatos a senador, em vez de contemplar parceiros de outras agremiações.

Isso reforça a leitura de que o que Enivaldo quer mesmo, no fundo, é ser o 1º suplente de senador de Casagrande.

Isso é uma coisa. Outra coisa é entender por que Enivaldo, mesmo se não for nem suplente de senador, quer encerrar seu mandato de prefeito em dezembro do próximo ano. Questionado sobre seus motivos, ele menciona o fato de defender mandatos de cinco anos (sem reeleição) para cargos de chefe do Executivo e, principalmente, a vontade de promover uma renovação em seu grupo político no noroeste do Espírito Santo, proporcionando a seu vice-prefeito, Wanderson Melgaço, a oportunidade de ascender na política local.

“Pretendo sair. O mandato ideal para o Executivo seria de cinco anos. No ano que vem, já estarei no sexto. Tenho um vice-prefeito da confiança do nosso grupo político e à altura de exercer um mandato e ganhar a própria força e a própria experiência. É importante a formação de novas lideranças dentro do nosso grupo. Então, em abril, saio para ser candidato. Se eu não for candidato, vou sair em dezembro”, afirma Enivaldo, ciente de que uma renúncia voluntária como essa é algo extremamente raro, quiçá sem precedentes na política do Espírito Santo.

“Eu sou cheio de ineditismo! Isso pra mim não é novidade. Temos que acreditar naquilo que no campo político fazemos como grupo. Acho que é uma oportunidade que tenho de fazer uma transição no nosso grupo. O grupo é eterno, nós não somos. Então, a partir de dezembro do ano que vem, estarei me colocando na atividade político-partidária, algo que já fiz e gosto de fazer. O norte do Espírito Santo precisa desse tipo de liderança que se disponha a trabalhar pela região.”

Quem é Wanderson Melgaço

Completamente desconhecido por quem não é da região, Melgaço está longe de ser um desconhecido para Enivaldo dos Anjos. Formado em Publicidade, o pupilo do prefeito de Barra de São Francisco, hoje com 38 anos, o acompanha há 22 anos, desde que tinha 16. Segundo Enivaldo, ele foi estagiário no TCES, seu assessor na Corte de Contas e, depois, seu chefe de gabinete na Assembleia Legislativa. É sobrinho de um advogado amigo de Enivaldo. As famílias se conhecem há muito tempo, em Barra de São Francisco. No ano passado, Melgaço disputou sua primeira eleição, tornando-se vice-prefeito.

“O grupo entendeu que ele seria o melhor candidato do grupo, por ser jovem e por ter o perfil adequado. Acho que ele está pronto para ser prefeito”, avalia Enivaldo.

Segundo muitos relatos, desde que iniciou o atual mandato de prefeito, no começo deste ano, Enivaldo tem se afastado cada vez mais da gestão, já tem transferido uma série de deveres do cargo para Melgaço e deixado a prefeitura em suas mãos. Na prática, o vice-prefeito já é o prefeito de fato. É quem tem tocado a prefeitura.

Do começo de julho Enivaldo tirou uma licença de dois meses, segundo ele não remunerada, para tratar de assuntos particulares. Aproveitou para fazer um check-up médico. Segundo ele, tudo nos trinques. “Passei cinco anos sem tirar férias. Senti a necessidade de dar uma descansada e fazer uns exames. O cardiologista falou que estou preparado para continuar a maratona.”

Durante sua licença, Enivaldo tem ficado direto em sua residência em Vitória. Voltará ao cargo no início de setembro. Hoje, se você for à Prefeitura de Barra de São Francisco, deverá procurar o quase prefeito Wanderson Melgaço.

A cobiçada suplência de Casagrande

Convenhamos: até este momento, ninguém está dando atenção às suplências de candidaturas ao Senado – uma das últimas coisas que costumam ser resolvidas nas chapas –, mas essa 1ª suplência de Casagrande pode valer ouro no mercado político: hoje, ninguém em sã consciência vai contestar que são altas as chances de Casagrande se eleger em uma das duas vagas.

Nos quatro anos em que esteve no Senado (2007-2010), também convenhamos, ele fez um mandato vistoso, com atenção da mídia nacional. Vai que Casagrande volta ao Senado e, uma vez lá, ganha protagonismo e projeção nacional a ponto de poder almejar participação em uma chapa presidencial em 2030… O mandato de senador é de oito anos.

Ou vai que a aliança do PT com o PSB reedita a vitória na eleição para presidente no ano que vem e Casagrande, em Brasília, é lembrado na composição do novo governo de centro-esquerda. Neste caso, para ser ministro, terá de se licenciar do mandato de senador, e quem assume, é claro, é o seu 1º suplente.