Coluna Vitor Vogas
Denninho rompe com Pazolini e declara: “Sou Ricardo Ferraço”
Prefeito exonerou irmã de Denninho no mesmo dia em que este postou vídeo reafirmando sua lealdade a Euclério Sampaio. Reação de deputado foi dura

Denninho Silva e Lorenzo Pazolini
O deputado estadual Denninho Silva (União) rompeu politicamente com o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos). Ele já fez isso uma vez, no fim de 2023, mas voltou atrás pouco depois. Dessa vez, porém, a julgar pelas palavras de Denninho, a decisão é sem retorno.
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O deputado declarou, de uma vez por todas, quem terá o seu apoio na eleição para governador: “Sou Ricardo Ferraço”. Disse, ainda, que não apoiará Pazolini de jeito nenhum, criticando a “forma de trabalhar” do prefeito e atribuindo a ele a prática de “chantagem” e “ameaças” a quem “não cumpre sua cartilha”. “Nem a amizade dele eu quero mais”, desabafou o deputado, que ainda colocou em dúvida a “estabilidade emocional” de Pazolini para ser governador.
As fortes declarações de Denninho foram dadas à coluna na noite de quinta-feira (14), dia (anote aí) que marca o rompimento do deputado com o prefeito, após uma sucessão de eventos que, ao que tudo indica, guardam uma relação de causa e consequência entre si: ação, reação e contrarreação.
Por volta das 7h40 da manhã, Denninho publicou em seu Instagram um vídeo em que reiterou, para seus seguidores, algo que já afirmara aqui: sua lealdade ao prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), é incondicional e está acima de tudo; por conseguinte, disse o deputado, nas eleições de 2026, ele apoiará o candidato a governador que for indicado por Euclério. Nessa postagem, Denninho não foi tão específico quanto a apoiar Ricardo Ferraço, mas, bem, como sabe todo o meio político capixaba, o candidato de Euclério é Ricardo.
No mesmo dia, Pazolini assinou o ato de exoneração da servidora Tatiane Januário da Silva Pereira. Ela é ninguém mais, ninguém menos que a irmã de Denninho Silva (nome de batismo: Denner Januário da Silva). Tatiane ocupava o cargo comissionado de assessora técnica na Secretaria Municipal da Fazenda. O decreto de Pazolini foi publicado no Diário Oficial do Município de Vitória.
Segundo Denninho, sua irmã estava na Prefeitura de Vitória desde os tempos do governo João Coser (PT) – há mais de uma década, portanto. Ainda segundo o deputado, Tatiane não foi a única servidora ligada a ele exonerada por Pazolini, na mesma edição do Diário Oficial.
A Prefeitura não comentou os motivos da exoneração da servidora, mas, por meio de sua assessoria de imprensa, emitiu a seguinte nota oficial:
“A Secretaria de Governo da Prefeitura de Vitória informa que os cargos comissionados, conforme previsto na legislação vigente, são de livre nomeação e exoneração, de acordo com as necessidades da administração municipal e o interesse público. Considerando isto, acrescenta que não há o que comentar a respeito da exoneração em tela”.
Como não há um motivo oficial, só nos resta especular a respeito, mas convenhamos: dificílimo acreditar numa coincidência aqui. Já Denninho não tem a menor dúvida de que o prefeito mandou sua irmã embora como retaliação por ele ter reiterado sua fidelidade a Euclério – consequentemente, seu apoio a Ricardo –, em entrevistas e nas redes sociais.
Por volta das 20h, perguntamos a Denninho como ele recebeu a exoneração da irmã. Foi então que, visivelmente abalado, o deputado dirigiu críticas duríssimas ao comportamento de Pazolini, aproveitando para cravar os dois pés no palanque adversário ao do prefeito.
“Minha irmã estava lá desde a época de João Coser. Passou Luciano [Rezende], ninguém mexeu com ela. E aí o Lorenzo, porque eu fiz uma foto declarando apoio a Ferraço, e eu sou Ferraço, ele foi e exonerou não somente a minha irmã, mas também o Testinha, que é o vice-presidente lá do bairro Jardim Camburi. Então essa é a forma dele trabalhar. Se as pessoas não cumprirem a cartilha dele, ele faz isso aí, na ameaça: ‘ou você faz, ou eu exonero’. Mas não estou preocupado, não. Tem muito mais Deus pra dar do que o Diabo pra tirar”, afirmou o parlamentar, ex-líder comunitário da região de Goiabeiras.
“Ele eu não apoio. O meu candidato a governador já era Ferraço. Diante dessa atitude ridícula dele, rebaixada, que ele fez, nem a amizade dele eu quero mais”, prosseguiu o deputado, em tom de desabafo.
Denninho apoiou Pazolini para prefeito no 2º turno (contra Coser) em 2020 e na campanha toda à reeleição em 2024. Apesar de fazer parte da base do governo Casagrande (PSB) e de ser de fato um aliado histórico de Euclério – seu tio e ex-chefe na Assembleia –, Denninho até então cultivava parceria política com Pazolini e, segundo relatos, tem dezenas de cargos na atual administração de Vitória.
No atual plenário da Assembleia – um “campo minado” para Pazolini, cheio de adversários (Coser, Mazinho dos Anjos, Camila Valadão…) –, Denninho era o único aliado do prefeito com reduto na Capital. Segundo ele, “era”.
“O Lorenzo tem que relembrar que ele não era ninguém quando veio candidato a prefeito, e eu abracei ele. Não cobrei um centavo dele, nem no primeiro nem no segundo turno. Eu fui o único deputado estadual, no segundo turno, que fui homem e andei com ele de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, mais ninguém. E o presente que ele me deu foi esse aí: me chantagear a ponto de mandar minha irmã embora porque eu vou ficar com Ferraço. O meu candidato será Ferraço. Por quê? Porque o candidato de Euclério é Ferraço. E o meu grupo é Euclério Sampaio.”*
Denninho ainda afirmou que (dessa vez) não voltará atrás nem cederá a nenhum tipo de pressão:
“Ele está achando que eu sou esses vereadorezinhos aí, que ele vai lá, exonera, bota pressão, e os caras vão, voltam atrás, e ele nomeia. Por mim, ele pode fazer o que ele quiser. A minha decisão está tomada. Eu estou no grupo do Euclério e não largo. Meu candidato será Ferraço!”
Para completar, o deputado da Grande Goiabeiras falou em “covardia” e “falta de estabilidade emocional”.
“Um cara que tem uma atitude como essa com um aliado, aliás, com um ex-aliado, porque agora sou ex, com um cara que esteve com ele em duas campanhas, honrando ele, com o único deputado na Assembleia que defende ele, ele teve a covardia de fazer isso, ele mostra que não tem estabilidade emocional nenhuma para ser governador do Estado.”
Por volta das 20h30, em mensagem à assessoria de imprensa da Prefeitura de Vitória, questionamos os motivos da exoneração de Tatiane Januário. A assessoria enviou a nota acima. Também perguntamos se o prefeito gostaria de comentar as declarações de Denninho. Não houve resposta quanto a isso. O espaço segue franqueado ao prefeito caso queira responder às afirmações do deputado.
