Coluna Vitor Vogas
Apesar de Maguinha, deputado não desiste de disputar Senado pelo PL
“Falar que existe hoje um candidato ou candidata do PL é um absurdo”, afirma “concorrente interno” da filha de Magno Malta para disputar vaga de senador do ES pela sigla de Bolsonaro

No sentido da leitura: Callegari, Maguinha, Magno Malta, Nikolas Ferreira e Gilvan da Federal. Foto: PL-ES
O senador Magno Malta já anunciou: a candidata do Partido Liberal (PL) ao Senado no Espírito Santo, em 2026, será sua filha Magda Malta, mais conhecida como Maguinha. Naquilo que depende de Magno, a decisão já está mais que tomada. Mas, para o deputado estadual Wellington Callegari, também do PL, não é bem assim. Ele segue se apresentando como pré-candidato ao Senado e diz que lutará até o fim pela legenda para representar o partido de Jair Bolsonaro nessa disputa no próximo ano.
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“Falar que existe hoje um candidato ou candidata do PL é um absurdo”, afirma o “concorrente interno” de Maguinha. “Não existe ‘candidatura’ de parte alguma neste momento. O que existe, hoje, são dois pré-candidatos do PL. Repito: ‘dois pré-candidatos do PL’. Por acaso poderá haver dois candidatos da direita conservadora ao Senado? Poderá! Ambos pelo PL? Aí não sei…”
Sem trocadilho, Callegari se diz convencido de que convencerá Magno de que ele, sim, é o nome certo do PL para concorrer ao Senado pelo Espírito Santo. Ao mesmo tempo, diz “ter coragem” de mudar para outro partido de direita até abril de 2026, se Magno insistir no plano de lançar a própria filha em detrimento dele.
“Sou pré-candidatíssimo. Pretendo ser candidato e pretendo ser eleito senador da República, de preferência pelo PL. Vou lutar para ser candidato pelo PL, o partido que amo, que ajudei a construir no Espírito Santo e pelo qual pretendo me candidatar em 2026”, declara o deputado.
Você deve ter notado o uso da expressão “de preferência”. Pois é…
“Digamos que exista a possibilidade de eu ir para outro partido. Eu não acredito nisso, ok? Mas a minha grande luta é ir para o Senado. Então daí você já tira a conclusão…”, sinaliza Callegari.
“Se a pergunta é: você tem coragem de sair para ser candidato por outro partido da direita conservadora? A resposta é sim.”
Apesar da convicção com que se diz disposto a mudar de sigla se for necessário para viabilizar a candidatura, Callegari insiste que fará de tudo para ter o nome homologado pela convenção estadual do PL em julho de 2026. A prioridade dele é, de fato, ser candidato pelo partido de Bolsonaro. O deputado diz acreditar na construção, até lá, de um consenso interno em favor do nome dele.
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“Ser candidato e ser senador não depende só do candidato nem do partido. Depende do eleitorado. Então estou trabalhando para divulgar meu nome e chegar forte para essa eleição. Candidatos só serão definidos nas convenções de julho em 2026. E tenho a clara convicção de que a convenção do PL do Espírito Santo vai homologar minha candidatura”, afirma o bolsonarista.
“Estou num processo de expansão do meu nome e de diálogo com o partido, inclusive com o presidente e senador Magno Malta, que é meu líder e meu amigo. Acredito 80% que serei bem-sucedido na minha tarefa de convencimento, bem antes disso”, complementa, esbanjando otimismo.
Mas como convencer Magno Malta?!?
O otimismo pode estar exagerado. Há partidos menos democráticos que outros. Alguns, simplesmente, têm “dono”, ou um dirigente que assim se porta. Para evitar a palavra “dono”, muito forte, diremos que o PL no Espírito Santo, há décadas – desde que ainda se chamava Partido Republicanos (PR) –, tem um notório cacique. Todo mundo sabe quem é. Chama-se Magno Malta.
Callegari diz que “ser candidato depende do eleitorado”. Na abertura deste texto, ao mencionar a decisão de lançar Maguinha, usamos a expressão “naquilo que depende de Magno”… Foi só para efeito retórico. Na verdade, no PL do Espírito Santo, como provam as sucessivas eleições, todas as decisões mais importantes dependem, basicamente, de Magno. A cada dois anos, a premissa se repete. Ele mesmo define quem será candidato, quem não será candidato, com quais partidos o PL pode ou não pode se coligar.
Foi com essa autoridade que, no dia 25 de abril, em entrevista a este espaço, Magno bateu o martelo e proclamou: “A candidata do PL ao Senado será Maguinha”. A própria, ao lado do pai, confirmou a pré-candidatura.
O anúncio se revestiu de caráter místico, como se a candidatura atendesse a uma inspiração divina, ou como se Maguinha estivesse incumbida de cumprir uma missão espiritual. A própria pré-candidata, publicitária e assessora do deputado Gilvan da Federal, declarou ter decidido entrar na política e disputar sua primeira eleição respondendo a um chamado direto de Deus.
A questão que se impõe, então, é por que Magno seria “convencido” a desistir de lançar ninguém menos que a própria filha em favor de Wellington Callegari? Por que o cacique do PL-ES mudaria de ideia e abriria mão da candidatura de Maguinha, sangue do seu sangue, ainda mais considerando esse “caráter espiritual” conferido por eles ao projeto eleitoral, tratado por pai e filha como se missão divina fosse?
“Decidi [ser candidata] porque Deus moveu as coisas e me colocou nesse lugar. […] Deus sempre me disse que essa hora ia chegar. […] Deus falou com meu pai, mais uma vez, Ele falou com meu pai que então era pra ser eu a vir como senadora. Então, eu só estou cumprindo uma missão”, declarou Maguinha à coluna, no dia 25 de abril.
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Adotando a linha de pensamento do senador e de sua filha, Deus por acaso mudará de ideia e lhes soprará “pensando bem, mandem o Callegari”?
Em política, é impossível dizer que algo é totalmente “impossível”, mas é difícil até imaginar Magno voltando atrás nesse caso…
Portanto, o que leva Callegari a nutrir tamanha convicção de que será capaz de convencer Magno Malta a optar por ele? Foi o perguntamos ao deputado. E ele respondeu sem firulas: considera-se mais preparado que Maguinha, neste momento, para concorrer ao Senado. Além disso, acredita ter maior potencial eleitoral.
“Tenho potencial de votos maior que o dela. Não tenho padrinho, nunca tive e não sou cria de ninguém.”
Como Magno adiantou em sua já citada entrevista à coluna, a estratégia para eleger a filha, sem mistério e sem rodeios, é muito clara: apostar na transferência de votos do seu eleitorado cativo para ela e numa campanha colada: “Já está colada, até porque ela tem até meu nome. Ela tem minha cara e meu nome. Então, não tem como ser de outro modo. As pautas que eu defendo são as pautas que ela defende. O que eu creio é o que ela crê”.
Callegari tem suas dúvidas, porém, quanto à eficácia de tal estratégia:
“A Maguinha não tem o eleitorado dela. Ela vai ter que depender do eleitorado do Magno Malta, que é muito respeitável. Porém a história mostra que transferência de votos é um negócio complicado. Pode ocorrer ou não.”
Ele enumera outros fatores, como seu histórico de luta pelos ideais conservadores e por Jair Bolsonaro, sua “capacidade de debater qualquer tema” e sua “experiência parlamentar comprovada” (embora curta: dois anos e pouco de mandato na Assembleia).
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“Não quero usar a palavra ‘melhor’, porque não sou melhor que ninguém. Mas acredito no consenso em torno de um nome que represente melhor os ideais conservadores, que represente a prática parlamentar que já tenho comprovada e o histórico de lutas que tenho, sem menosprezar ninguém, de forma alguma”, afirma o deputado estadual e professor de História, natural de Vargem Alta.
“Tenho histórico comprovado de luta por Bolsonaro desde 2016. Tenho capacidade, sem nenhuma vaidade, porque me preparei ao longo da vida para debater qualquer tema estadual ou nacional com qualquer ator político. Tenho experiência parlamentar comprovada, apesar de apenas dois anos de mandato. Tenho histórico de militância política de direita. E, acima de tudo, tenho coragem de botar em pauta a grande questão nacional, que é o reequilíbrio dos Poderes e o fim da ‘ditadura do Judiciário’. Tudo isso me dá maior potencial de crescimento eleitoral, com todo o respeito a outros pré-candidatos.”
Falando no “reequilíbrio dos Poderes”, ele acredita que, no ano que vem, a eleição mais importante – mais até que para a Presidência da República – será o pleito para o Senado. Bolsonaro já disse que sua prioridade será realmente eleger o maior número possível de senadores país afora. Aumentar sua tropa ali reforçará seu enfrentamento ao STF.
“A eleição mais importante no Brasil em 2026 será para o Senado da República, para restaurar o equilíbrio entre os Poderes e acabar com a ‘tirania de toga’. Eu, que sou um patriota há muito tempo, não posso me eximir disso. Então eu sou pré-candidato e serei candidato a senador da República”, reafirma Callegari.
Mas não necessariamente pelo PL. Como frisado pelo próprio deputado, ele se fia na decisão da convenção partidária em julho de 2026. Antes disso, porém, terá de tomar uma decisão impositiva por conta do calendário eleitoral: se ele decidir mudar de partido, será obrigado a fazê-lo até o dia 4 de abril (seis meses antes do pleito).
Supõe-se, assim – com base em suas declarações –, que ele só ficará no PL se tiver a plena certeza de que terá mesmo o nome homologado na convenção de julho. Do contrário, terá de mudar, até a data limite, para outro partido de direita que lhe assegure a legenda. Caso fique no PL após 4 de abril com Maguinha ainda tratada como “a pré-candidata do partido”, ele irá para o risco. Poderá tentar disputar a convenção com ela, ou poderá ser candidato a outro cargo (por exemplo, a deputado federal). Mas não poderá ser candidato, nem a senador nem a nada, por qualquer outo partido. Estará atado ao PL.
“Se chegar nessa data, dependendo de como estiver o diálogo antes disso, é claro que vou confiar na convenção. Como disse, tenho coragem para sair. Mas acredito que o Magno será convencido, sim.
O fato de ser filha dele vai deixá-lo ainda mais preocupado com o futuro político dela. A filha dele terá um futuro político, mas não necessariamente no Senado. Outra coisa que vai entrar na discussão são os acordos com outras forças partidárias. Certeza eu não posso dar. Mas acredito e tenho uma convicção muito forte de que vamos caminhar nesse sentido, sim. E tenho motivos para acreditar nisso.”
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