Coluna Vitor Vogas
Arnaldinho quer ser governador e busca um partido para chamar de seu
A semana que passou foi marcada por um fato político bem relevante no quintal do prefeito de Vila Velha. Os sinais e a apuração da coluna indicam que ele é mais “candidatável” que nunca ao Governo do Estado. Confira aqui nossa análise

Arnaldinho Borgo com Casagrande durante desfile cívico de 23 de maio em Vila Velha. Crédito: Adessandro Reis/PMVV
A semana que passou foi marcada por um fato político bem relevante no quintal de Arnaldinho Borgo. Na última terça-feira (13), o prefeito de Vila Velha encontrou-se pessoalmente, em São Paulo, com Gilberto Kassab.
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Kassab é não só ex-ministro, ex-prefeito da maior cidade do Brasil e uma das maiores águias políticas em atividade no país. É também o presidente nacional do Partido Social Democrático (PSD), sigla que mais cresceu nacionalmente nos últimos anos e que mais elegeu prefeitos no país em 2024. Foi a primeira vez que o prefeito de Vila Velha conversou com ele.
Arnaldinho, por evidente, não foi ao encontro de Kassab só para tomar um bom café com ele. Os dois trataram da possível filiação do prefeito ao PSD, com as bênçãos da direção nacional. A conversa não foi definitiva. Foi a abertura de um canal diálogo, que poderá render frutos ou não. Mas interlocutores do prefeito garantem: ele achou a conversa muito boa e saiu muito animado desse primeiro encontro com Kassab. Haverá outro.
Antes, Arnaldinho pretende conversar com o atual presidente do PSD no Espírito Santo, o prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos, para ter uma noção mais precisa do atual quadro do PSD no Estado e, principalmente, evitar atropelos. Leia-se: atropelos em relação ao comando estadual do partido.
O prefeito de Vila Velha busca um partido “para chamar de seu” no Espírito Santo. Só quer ir para algum espaço em que não seja comandado, mas comandante. De preferência, uma legenda de centro-direita (como o PSD) na qual possa ter total autonomia para definir os rumos partidários… ser o cara a tomar as decisões relativas a alianças e a eventuais candidaturas – inclusive a própria. Arnaldinho quer ser candidato a governador do Espírito Santo. Ponto. Chegaremos lá.
Arnaldinho, cumpre lembrar, está sem partido político há cerca de dois meses. Em março, decidiu desfiliar-se do Podemos, partido pelo qual se elegeu prefeito em 2020 e se reelegeu no ano passado, mas no qual não tinha, nem nunca teve, aquilo que agora mais deseja para poder alçar voos maiores: poder interno. No Espírito Santo, há muitos anos, o Podemos é controlado pelo deputado federal Gilson Daniel, que, por razões óbvias, não abre mão desse ativo. Quem abriria?
Após longo tempo numa convivência interna difícil, vivendo às turras com Gilson, Arnaldinho se cansou de ficar subordinado a ele e tentou uma última cartada: com seu dileto aliado Victor Linhalis, o outro deputado federal do Podemos no Espírito Santo, foi ao encontro da deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do Podemos, e propôs uma passagem de bastão na presidência estadual. Não deu certo. Renata bancou Gilson no cargo. Arnaldinho, então, agradeceu por tudo e lhe entregou sua carta de desfiliação. O ofício da Justiça Eleitoral, confirmando sua desfiliação, chegou-lhe na semana passada.
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O fato de estar fora do Podemos, e com passe livre no mercado político, dá a Arnaldinho uma margem de movimentação que ele até então não tinha. Mas não há tempo a perder.
O prefeito não fala abertamente sobre isso. Mas a coluna ouviu alguns de seus interlocutores mais próximos. O nível de ênfase varia, mas todos vão na mesma direção. Alguns, mais cautelosos, afirmam que, “se o cavalo passar arreado”, Arnaldinho será, sim, candidato a governador do Estado. Outros, num meio-termo, confirmam que ele começa a trabalhar nos bastidores para viabilizar a candidatura ao Palácio Anchieta. Já vem recebendo, em Vila Velha, uma procissão de vereadores e prefeitos de outras cidades. Em julho, passará a percorrer o interior do Estado. E há os mais entusiasmados, que, sem titubear, carimbam que Arnaldinho não “será”, mas já “é” pré-candidato a governador.
Pelo que apuramos, ele realmente o deseja. Reconhece que, hoje (frisemos o advérbio de tempo), o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) goza de todo o estímulo do governador Renato Casagrande (PSB) para buscar se viabilizar. Arnaldinho mantém relação muito respeitosa com o vice-governador. Mas, com todo o respeito a Ricardo, não tem tanta certeza de que ele conseguirá deslanchar… Aposta que, encerrado o ciclo de Casagrande no poder, as pessoas ansiarão por mudança e que prevalecerá o desejo de renovação – melhor encarnado por ele (42 anos) que por Ricardo (61 anos).
Diferentemente de outros importantes aliados de Casagrande, como Marcelo Santos (União), Wanderson Bueno (Podemos), Lucas Scaramussa (Podemos) e o próprio Gilson Daniel (Podemos), já mergulhados de cabeça no “Projeto Ricardo”, Arnaldinho está longe de se portar como um cabo eleitoral antecipado do vice-governador. Está correndo na própria raia.
Ora, para viabilizar o projeto de se candidatar ao governo, ele não pode ficar ao relento. Precisa estar filiado a um partido político até 4 de abril de 2026. Esse é o prazo oficial, ditado pelo calendário eleitoral. Mas o tempo da política é outro. Aliados de Arnaldinho avaliam que, para construir a candidatura, ele precisa estar filiado a uma nova legenda até julho, no máximo agosto deste ano. Isso porque não basta estar filiado: será preciso construir a sua candidatura por dentro do novo partido, montando chapas de candidatos a deputado estadual e federal e costurando alianças com outras forças partidárias. Se deixar para o ano que vem, não dará tempo – até porque a concorrência está ativa.
É aí que entra (ou pode entrar) o PSD. Sejamos francos: não há muitas opções para Arnaldinho. Sendo ainda mais francos: o Brasil tem muitos partidos registrados no TSE, mas relevantes, relevantes mesmo, há algo em torno de 15. No Espírito Santo, menos. Com a onda de fusões, incorporações e federações, isso tende a se reduzir ainda mais para 2026. E quase todos já têm “dono”. Quem é que sobra para Arnaldinho, dentro do seu perfil ideológico (declaradamente “de centro”, porém mais situado em algum ponto entre a centro-direita e a direita)?
Temos o Novo, que o apoia em Vila Velha e cujo presidente estadual, Iuri Aguiar, gosta muito do trabalho dele. Mas é um partido muito pequeno. Não teria porte para sustentar uma candidatura a governador.
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Temos a federação, já anunciada, entre o União Brasil e o Progressistas. Diferentemente do Novo, o União Progressista será um gigante político. Mas o lugar de mando ali já está reservado. A presidência estadual ficará com Josias da Vitória (PP). O deputado federal, não é de hoje, tem feito a Arnaldinho convites públicos para ele se filiar ao PP. Se nada mais der certo, o prefeito até poderá atender a esse chamado… mas ciente de que, se for mesmo para lá, terá de abrir mão da sua maior condição. Chegará para somar, não para comandar, aceitando a ascendência de Da Vitória.
Há uma terceira opção, mas que implicaria boa dose de flexibilidade de Arnaldinho do ponto de vista ideológico. O Partido Socialista Brasileiro (PSB), sigla do governador Casagrande, seu maior aliado político, volta e meio também faz acenos para atrair o prefeito. Seria o sonho consumo do PSB e resolveria um problemão para o partido: a falta de renovação dos seus quadros no Espírito Santo.
Ocorre que a sigla do governador é de centro-esquerda, diferentemente de Arnaldinho. Embora não seja um direitista na linha “Deus, pátria, família e liberdade”, ele é um político de direita, católico e militar (tenente da reserva do Exército).
Em suas profícuas redes sociais, com frequência faz posts que, subliminarmente, reafirmam tal posição, acenando para um eleitorado mais conservador: ora aparece rezando para Nossa Senhora da Penha, ora disparando tiros num stand com as novas pistolas Glock adquiridas para a Guarda Municipal (“Cuidado, bandidagem!”). Sabe que seu eleitorado poderia ter dificuldade em aceitá-lo num partido mais à esquerda e que isso poderia ser explorado por adversários mais extremistas. E ele mesmo se sentiria pouco à vontade no ninho socialista.
Resta quem, nesse caso?
Resta o PSD. Com grande bancada na Câmara, é uma das agremiações que mais terá recursos públicos de campanha em 2026. Ideologicamente, está na centro-direita. Pragmaticamente, é uma sigla do Centrão. Mas, de novo: Arnaldinho só quer se filiar ao PSD – ou a qualquer outra sigla – se for para comandá-la no Espírito Santo. Do contrário, nada feito. Vale dizer: ou ele terá de dar, por cima, um chega pra lá em Renzo Vasconcelos, ou terá de alcançar um entendimento muito fino com o prefeito de Colatina… que, diga-se de passagem, hoje, está muito mais próximo politicamente do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, e do partido dele, o Republicanos.
No Espírito Santo, sob a presidência de Renzo, PSD e Republicanos fizeram uma dobradinha na última eleição municipal. O apoio do Republicanos foi fundamental para a vitória eleitoral de Renzo contra Guerino Balestrassi (MDB) em Colatina; por sua vez, Renzo levou o PSD para a coligação de Pazolini em Vitória, tirando-o do palanque de Luiz Paulo (PSDB). Emblematicamente, na última sexta-feira (16), quem foi visitar Renzo na Prefeitura de Colatina? Pazolini e o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso. Marcaram território ao seu lado.
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Arnaldinho animado
Arnaldinho está animadíssimo com a possível candidatura ao governo.
Segundo interlocutores do prefeito de Vila Velha, ele tem encomendado pesquisas sobre o cenário eleitoral capixaba. E estas, segundo as mesmas fontes, têm animado o prefeito. Todas indicariam que a população está num momento de querer frescor na política. E ele seria, no grupo político de Casagrande, quem melhor representa essa renovação.
Se o quadro atual das pesquisas for o mesmo daqui um ano, o prefeito está disposto a renunciar. Administrativamente, ele não tem preocupação em deixar a prefeitura, porque a máquina municipal está redonda, e os projetos, encomendados. Seguiriam sendo tocados por seu vice-prefeito, Cael Linhalis, do PSB de Casagrande, que então seria alçado à condição de prefeito, para cumprir o mandato até o fim.
De acordo com nossas fontes, Arnaldinho avalia que Casagrande está observando tudo da janela; que, se o governador já tivesse definido sua posição, não teria pedido a Ricardo para “se viabilizar”; e que Casagrande sabe da importância de escolher bem o candidato ao Executivo para viabilizar a própria candidatura ao Senado, numa dobradinha na chapa majoritária.
Casagrande é favorito para pegar uma das duas vagas em disputa? É. Está, hoje, bem avaliado? Segundo pesquisas, sim. Mas não convém esquecer que, em 2022, mesmo muito bem avaliado, ele teve de suar bastante e dependeu de muitos aliados (como o próprio Arnaldinho) para confirmar a reeleição.
O compromisso de Arnaldinho, aliás, é apenas este: com Renato Casagrande e sua candidatura ao Senado. Vai apoiá-lo, com certeza. Mas não tem compromisso previamente firmado em apoiar outro candidato ao governo ungido por Casagrande.
Na avaliação de auxiliares do prefeito, até por uma questão de timing político, esse é o momento perfeito para ele ser candidato ao Palácio Anchieta. A História está aí para ensinar. Outros deixaram o momento passar e nunca mais tiveram nova chance. As mesmas fontes citam vários nomes: Max Filho, Audifax Barcelos, Sérgio Vidigal, Luciano Rezende e até Jorge Anders. “Não entenderam que era o momento de buscar algo maior, perderam a passada e ficaram pelo caminho”, avalia um colaborador de Arnaldinho.
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Todos são da mesma geração política de Paulo Hartung e Casagrande, mas perderam o bonde da História. Foram engolfados pela polarização e a alternância de Hartung e Casagrande no poder. Seja por compromisso político com um dos lados, seja por receio de ir para o risco (deixar as respectivas prefeituras para desafiá-los numa disputa estadual), o fato é que ficaram a assistir de camarote a “Era Hartung/Casagrande”. Vidigal até tentou uma vez, em 2006, mas Hartung estava mais forte que nunca. Não teve chance. Audifax tentou em 2022, contra Casagrande. Já estava sem mandato na Serra.
Agora, porém, o ciclo se encerra. Abrir-se-á, enfim, aquele “portal mágico” que todos no Espírito Santo, da esquerda à direita, esperam há um quarto de século. Casagrande já não pode se reeleger. Deve buscar o Senado. Hartung, na avaliação da coluna, dificilmente tentará voltar ao Palácio Anchieta. É difícil vê-lo dando esse “passo para trás”. Como já analisado aqui, os sinais são de que o foco dele agora, mais que nunca, é nacional.
Tem mais.
Suponhamos que Arnaldinho deixe passar esse trem, “respeite a fila de antiguidade”, não seja candidato agora e, em vez disso, apoie Ricardo.
Se Ricardo ganhar, é verdade, a fila andará mais rápido. Se for candidato ao governo, no ano que vem, já o será na condição de governador, substituindo Casagrande em abril. Sem poder disputar nova reeleição em 2030, Ricardo terá de lançar um sucessor. Esse nome poderá ser Arnaldinho, com o apoio do então governador. A espera para Arnaldinho, nesse caso, será prolongada em “apenas” mais quatro anos. Ele terá 47 anos.
Há pontos a ponderar, porém:
1) Qual o grau de compromisso que Ricardo Ferraço teria com Arnaldinho para uma eleição futura? Na certa, seria uma relação diferente da que Arnaldinho mantém hoje com Casagrande. Como frisado acima, segundo aliados do prefeito, o compromisso dele é de apoio a Casagrande (não a Ricardo). Por que Ricardo, uma vez no governo, de 2027 a 2030, teria algum “compromisso prévio” com Arnaldinho?
2) Até lá o quadro poderá mudar muito. Ninguém pode prever como será eventual governo de Ricardo Ferraço. Quem garante que ele chegará forte o bastante em 2030 para apoiar quem quer que seja e fazer o próprio sucessor?
3) Em 2030, Arnaldinho não será mais prefeito. Estará sem mandato a partir de janeiro de 2029. Serão quase dois anos na planície até o pleito estadual de 2030.
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Finalmente, suponhamos que Arnaldinho não seja candidato agora para apoiar Ricardo, e este perca a disputa, por exemplo, para Pazolini…
Aí, amigo, a conversa muda muito. O eixo de poder no Espírito Santo mudará radicalmente…
E Arnaldinho irá parar lá no fim da fila. Uma fila que, nessa hipótese, pode se estender até 2034. Onde estará Arnaldinho, então, na política estadual, com mais de 50 anos? Possivelmente, não mais no auge… a exemplo do que ocorreu com Max Filho, Luciano, Vidigal, Audifax e outros mais.
E Paulo Hartung?!?
Quem seguramente se filiará de papel passado ao PSD, com data marcada e tudo, é o ex-governador Paulo Hartung. No próximo dia 26, ele assinará sua ficha de filiação, ao lado de Kassab, na sede nacional do PSD, na cidade de São Paulo.
Estar no mesmo partido de Hartung não poderia causar a Arnaldinho algum atrito ou constrangimento com Casagrande? Aliados do prefeito entendem que as duas coisas são independentes, uma não interfere na outra, até porque acham bem pouco provável que Hartung seja candidato novamente a cargo majoritário no Espírito Santo, a menos que tenha segurança de uma candidatura vitoriosa, o que também acham muito difícil.
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