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Coluna Vitor Vogas

Casagrande: “Se desejar, Ricardo vira candidato natural a governador”

Governador evitou, porém, tratar Ricardo como o “plano A” ou como “a prioridade” dele mesmo e do grupo político liderado por ele para a próxima disputa ao Governo do Estado. Ao mesmo tempo, encheu a bola de Vidigal, Arnaldinho e Euclério: “Não podemos descartá-los”. Analisamos aqui a estratégia de Casagrande para a própria sucessão em 15 meses

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No sentido da leitura: Euclério Sampaio, Arnaldinho Borgo, Renato Casagrande, Ricardo Ferraço e Sérgio Vidigal

No sentido da leitura: Euclério Sampaio, Arnaldinho Borgo, Renato Casagrande, Ricardo Ferraço e Sérgio Vidigal

Se assim desejar, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) virará “candidato natural” a governador em 2026, na sucessão do atual ocupante do cargo, Renato Casagrande (PSB). O próprio Casagrande é quem o diz, de maneira mais direta do que vinha fazendo até então. A declaração foi dada aos jornalistas Letícia Cardoso e Kaká, em entrevista à Rádio BandNews FM na manhã de quinta-feira (19), respondendo sobre seus planos políticos e sobre a própria sucessão.

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Casagrande evitou, porém, tratar Ricardo como o “plano A” ou como “a prioridade” dele mesmo e do grupo político liderado por ele para a próxima disputa ao Governo do Estado. O que ele fez foi verbalizar uma conclusão lógica: se ele mesmo renunciar ao terceiro mandato no Palácio Anchieta antes do fim – em abril de 2026 – para ser candidato a senador, Ricardo, como vice, subirá ao cargo de governador, e é assim, sentado na cadeira, que chegará à campanha eleitoral quatro meses depois. Como governador de direito e de fato, Ricardo terá total legitimidade para pleitear a reeleição. Se assim fizer e tiver sucesso nas urnas, em vez de apenas nove meses, ganhará mais quatro anos no cargo.

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“Veja bem, [Ricardo] não é ‘o plano A’. Ele é a liderança que está posicionada e, se eu saio para ser candidato ao Senado, ele vira o governador do Estado. Virando governador do Estado, ele vira candidato natural, se ele desejar. Então, ele é um nome natural. Não vou dizer que ele é a prioridade. Ele é um nome natural”, afirmou Casagrande, na referida entrevista.

Neste momento, Ricardo de fato não é o único líder político inserido na frente ampla do governo Casagrande cotado para concorrer ao Governo do Estado na próxima eleição estadual. Outros aliados do governador são lembrados, até porque saíram fortalecidos das eleições municipais deste ano – e, ainda que não o explicitem, têm real interesse em disputar a sucessão de Casagrande representando esse grupo liderado pelo atual governador. Estamos falando aqui, especificamente, dos prefeitos de Serra, Vila Velha e Cariacica, respectivamente Sérgio Vidigal (PDT), Arnaldinho Borgo (Podemos) e Euclério Sampaio (MDB).

Ciente disso, Casagrande, na mesma resposta, fez questão de destacar os três, nessa mesma ordem, ao lado de Ricardo Ferraço, como potenciais competidores que “não podem ser descartados”:

“A minha relação com Ricardo é boa. Ele é uma pessoa que me ajuda muito no governo. Então é um nome que precisa ser considerado. Mas ninguém vai descartar o Sérgio Vidigal. Ninguém vai descartar o Arnaldinho, o Euclério Sampaio… A gente não pode descartar essas lideranças, porque tem muito tempo até a eleição. Acho que o Ricardo precisa se preparar e estar preparado, mas acho também que o que importa para nós é que, eu ficando no governo ou saindo candidato [ao Senado], o nosso movimento político vai ter candidatura ao governo e vai ter candidatura ao Senado. O que importa é isso. E existem nomes com muita capacidade de representar o projeto. Para nós, isso é um conforto”.

Como se vê, com o indicador de uma mão Casagrande aponta para Ricardo, enquanto com os dedos da outra enumera os três prefeitos aliados. Isso tem método e propósito. O governador não quer mesmo eliminar ninguém agora, pois, como ele mesmo diz, até a eleição tem muito tempo. A estratégia indicada por ele é a de trabalhar com as quatro opções, a ver quem chega em melhores condições no momento em que ele precisar tomar a sua decisão daqui a pouco mais de 15 meses: ser ou não ser candidato ao Senado? Renunciar ou não ao governo?

Informações de bastidores dão conta de que Casagrande viria inclusive estimulado os aliados mencionados por ele a trabalhar para se viabilizarem. Se não está propriamente “estimulando”, também não está desestimulando o movimento de ninguém. Precisará ter cartas na mesa, para poder ponderar, comparar e tomar a melhor decisão.

Ao ressaltar que Ricardo pode virar “candidato natural”, se o desejar (caso ele renuncie ao governo em abril de 2026), Casagrande prestigia seu vice-governador e corrobora que ele possui, sim, uma vantagem prática sobre os demais, pelo simples fato de estar sentado onde está sentado hoje, no 8º andar do Palácio da Fonte Grande, e ser o primeiro na linha sucessória.

Ao mesmo tempo, ao ter o cuidado de não tratar Ricardo como “plano A”, ao evitar referir-se a ele como “prioridade”, ao ressalvar que seu vice “precisa se preparar e estar preparado”, Casagrande sinaliza três coisas:

1) a escolha do aliado em quem ele apostará como seu candidato à sucessão em 2026 passa longe de estar definida;

2) Ricardo tem, de fato, uma vantagem importantíssima, mas, nos próximos 15 meses, precisará se viabilizar eleitoralmente, para chegar em meados de março de 2026 com evidências de que é competitivo (o que será medido em pesquisas);

3) é exatamente deste fator-chave, o verdadeiro grau de viabilidade eleitoral de Ricardo, que dependerá a decisão a ser tomada por Casagrande, daqui a 15 meses, sobre o seu próprio futuro político.

O que significa “ficar para organizar minha sucessão”?

Na entrevista concedida à BandNews, Casagrande reiterou, muito objetivamente, algo que vem repetindo desde que deu outra entrevista à mesma rádio, em junho deste ano, a mim e à colega Letícia Cardoso, sobre o seu passo seguinte. Ele resumiu a sua escolha a duas opções: ou ele realmente toma o caminho natural, entrega o governo a Ricardo em abril de 2026 e vai disputar uma das duas vagas em jogo no Senado pelo Espírito Santo; ou permanece no cargo para encerrar seu terceiro mandato no Palácio Anchieta, assim condenando-se a não disputar as eleições daquele ano e a ficar por pelo menos quatro anos sem mandato (até 2030).

Enquanto o primeiro caminho parece muito mais lógico e natural, o segundo soa como um sacrifício, ou quase um suicídio político. O que poderia levar Casagrande a abrir mão de uma candidatura certamente muito forte ao Senado (com duas vagas em disputa!), tendo ainda idade, disposição para o trabalho e condições de contribuir com o Estado, para fazer uma opção que pode até representar uma aposentadoria política precoce, ou um quadriênio sabático sem mandatos no auge da forma política?

Em suma, o que poderia levá-lo a fazer questão de cumprir esse restinho de terceiro mandato (nove meses entre abril e dezembro de 2026), após mais de 11 anos no cargo?

O próprio governador respondeu à pergunta, também reiterando algo que já havia dito em entrevista anterior a esta coluna: ele pode decidir ficar no governo e cumprir seu mandato até o fim se concluir que isso é necessário, imprescindível mesmo, para “organizar a própria sucessão”.

“Diferentemente de outros políticos, eu tenho uma coisa muito clara e falo sempre aquilo que vou fazer. E é verdade aquilo que estou falando e falo sempre. Tenho dois caminhos com chances muito iguais. Posso ficar no governo. Eu não tenho problema em ficar no governo, pois me sinto uma pessoa realizada na vida pública. Então eu posso ficar no governo, se for preciso, para organizar a política e organizar a minha sucessão. E, se eu não ficar no governo e sair para ser candidato, eu vou ser candidato ao Senado”, afirmou Casagrande.

“Será um desses dois caminhos, a não ser que Deus me apresente um outro. No meu planejamento, é isso. Ou eu fico no governo até o fim, ou eu vou para uma candidatura ao Senado”, completou o governador.

Ora, e o que significa, afinal de contas, a necessidade de “organizar a própria sucessão”? Nesse ponto nodal, o governador é sempre mais evasivo. Mas podemos interpretar suas palavras. E, para fazer isso, precisamos voltar ao início deste texto: Ricardo Ferraço, a sua “vantagem natural”, o seu grau de viabilidade e de competitividade daqui a 15 meses e a sua intensa “concorrência interna” no grupo de Casagrande.

Em entrevista anterior a este espaço, o governador acrescentou outro argumento para justificar sua possível decisão de não sair do governo: além da necessidade de “organizar sua sucessão”, há o risco, que ele diz querer evitar, de que o Governo do Estado caia nas mãos de algum “aventureiro”, sem respeito ao erário e à coisa pública.

Notem: Ricardo será o “candidato natural”, se Casagrande deixar o governo em suas mãos. Para isso, ele terá de sentir muita firmeza quanto às chances de vitória eleitoral do seu vice-governador. Se, em meados de março de 2024, Ricardo se provar um candidato com bom potencial e boas chances de crescer ainda mais após assumir o governo, pronto, o dilema fica mais fácil: Casagrande poderá tranquilamente renunciar para disputar o Senado e apostar todas as fichas em Ricardo na sua sucessão; pelo mesmo motivo, será muito mais fácil o grupo inteiro de Casagrande, ou quase inteiro, convergir para o nome de Ricardo, apoiando-o como o candidato que dará continuidade ao projeto de Casagrande, aí inclusos Arnaldinho, Vidigal e Euclério.

Agora, se lá para as idas de março de 2026 Ricardo estiver patinando em pesquisas e não inspirar toda essa confiança, isso poderá atiçar ainda mais a sanha de outros aliados – os mesmos que hoje Casagrande “não descarta” – para lançarem a própria candidatura ao Palácio Anchieta. A consequência é que a extensa coalizão político-eleitoral de Casagrande, hoje muito coesa, correrá o risco de desmoronar, de se desmantelar em vários fragmentos ao longo de 2026. Essa fragmentação, em última análise, pode beneficiar adversários eleitorais do grupo político liderado por Casagrande – incluindo aqueles que ele, sem citar nomes, tacha como “aventureiros”.

Se sentir que existe mesmo esse risco de desmoronamento da sua coalizão, exatamente para impedi-lo, Casagrande pode se ver impelido a permanecer no governo e, como queríamos demonstrar, “organizar pessoalmente a própria sucessão”. É este o primeiro sentido da expressão: evitar que aliados em comum se digladiem pelo poder, em benefício final de terceiros.

Nesse caso – e só nesse caso –, se perceber um Ricardo enfraquecido, aliados em comum sequiosos do mesmo lugar e uma disputa interna fugindo do controle em seu grupo político, Casagrande pode mesmo concluir que o melhor a fazer é seguir sentado na cadeira de governador até o fim, e passar a eleição sentado nela, sem ser candidato a nada, mas comandando de perto o seu grupo no processo eleitoral. Ricardo, nessa hipótese, perderá a sua vantagem prática, deixará de ser um candidato natural e, arrisco-me a dizer, dificilmente será candidato a governador.

Em outras palavras, sendo o mais prático possível, se Casagrande decidir sair para disputar o Senado, é porque Ricardo será mesmo candidato a governador; se decidir cumprir o mandato até o fim, é porque Ricardo muito provavelmente não será candidato. E aí o candidato de seu grupo, representante do seu projeto, poderá ser Vidigal, Arnaldinho ou Euclério – com chances maiores para os dois primeiros. Eis a síntese.

Um senador hoje vale ouro”

Na entrevista da última quinta-feira à BandNews, Casagrande também disse o seguinte sobre sua possível candidatura ao Senado: “Tem uma pauta de interesse do Espírito Santo na política nacional e que o papel do Senado é um papel importante. Um senador hoje vale ouro”.

O que Casagrande não pode e jamais vai dizer, mas podemos dizer aqui, é que, se um senador vale ouro, nossa bancada completa atual no Senado está mais para aquelas barras de ouro do Sílvio Santos “que valem mais do que dinheiro”, quando se trata da defesa dos interesses específicos do Espírito Santo, sobretudo em matérias que envolvem a infraestrutura estadual e as disputas econômicas com outras unidades da federação. Nenhum dos nossos três atuais senadores têm mandato nem remotamente voltado para isso.

Marcos do Val (Podemos) é um senador à deriva. Magno Malta (PL) prioriza uma pauta de costumes, não raro com posições retrógradas, que nada tem a ver com as reais prioridades do estado que representa. Fabiano Contarato (PT) se mostra até bem atuante nas pautas prioritárias de seu mandato (segurança pública, segurança no trânsito, meio ambiente, direitos sociais), mas fica devendo na defesa dos interesses específicos do Espírito Santo. Não é o foco do mandato dele.

Nessa matéria, portanto, os capixabas estão mesmo carentes de representação no Senado. Na defesa do Espírito Santo em Brasília, se um senador vale ouro, juntando os três não temos um senador.

A não ser que Deus me apresente outro caminho…”

Notaram? “A não ser que Deus me apresente outro caminho…” Tradução: a não ser que surja para ele uma chance real de disputar a eleição presidencial pelo PSB. Hoje isso é muito difícil, em função da aliança do partido do governador com o PT no governo Lula.


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