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Coluna Vitor Vogas

O novo pulo do gato de Marcelo Santos na política do ES

Pondo fim a novela barriguda, com dois anos de duração, presidente da Assembleia afirma que assumirá presidência do União Brasil no ES. Como ele chegou lá?

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Marcelo Santos durante solenidade do Governo do Estado

Marcelo Santos durante solenidade do Governo do Estado

Confirmando aposta feita aqui no dia 30 de abril e pondo fim a uma novela barriguda, com dois anos de duração, o presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, Marcelo Santos, afirma que assumirá, enfim, a presidência estadual do poderoso partido União Brasil, um dos maiores do país: “Sim, serei o presidente”. Acumulará ainda mais poder no cenário político estadual e aumentará as próprias chances de eleição para a Câmara dos Deputados em 2026.

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Embora muito grande nacionalmente, o União Brasil vai mal das pernas no Espírito Santo, com bem poucos mandatários, sob a presidência do atual secretário estadual de Meio Ambiente, Felipe Rigoni, desde o começo de 2022.

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A disputa pelo comando estadual começou no ano seguinte. Em abril de 2023, Rigoni foi reeleito, em convenção estadual, para presidir uma Executiva Estadual permanente. Em ações movidas por pessoas politicamente ligadas a Marcelo e ao prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, essa convenção foi contestada e chegou a ser anulada pela Justiça. Após muitas idas e vindas, Rigoni foi mantido no cargo.

Aí veio 2024. Em junho, após alguns meses de articulações diretas com o presidente nacional, o advogado Antônio de Rueda, Marcelo filiou-se ao União Brasil (tendo saído do Podemos). Chegou à sigla com a expectativa de assumir imediatamente a presidência estadual, com o aval de Rueda. Mas o governador Renato Casagrande (PSB) pôs o pé na porta. Fazendo gestões junto a Rueda, manteve o partido com Rigoni, que ganhou uma sobrevida no cargo. O temor do governador era que Marcelo, apoiador de Lorenzo Pazolini (Republicanos) naquele pleito, levasse o União para o palanque do prefeito de Vitória na eleição municipal.

Passado o pleito municipal, veio a disputa pela presidência da Assembleia Legislativa. E todo mundo entrou no modo “eleições 2026”. Após outro resultado ruim do União nas urnas no Espírito Santo em 2024, Rigoni tornou-se insustentável no cargo, do ponto de vista da direção nacional. A presidência estadual da sigla já iria mesmo para Marcelo. As três coisas, então, se misturaram: presidência da Assembleia, presidência do União e eleições gerais de 2026.

O governo Casagrande endureceu o jogo nas negociações com Marcelo sobre a Mesa Diretora da Assembleia. Para apoiar sua reeleição, Casagrande exigiu de Marcelo garantias de compromisso com o projeto eleitoral liderado por ele mesmo e pelo vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) para 2026.

O compromisso veio – pelo menos, naquele momento. No dia 22 de janeiro, Marcelo, Casagrande e Ricardo Ferraço foram juntos, no mesmo voo, ao encontro de Rueda, em Brasília. Os quatro fizeram e divulgaram uma foto. Marcelo voltou anunciando o compromisso do União Brasil em apoiar o referido projeto eleitoral – traduzindo: compor a coligação a ser encabeçada por Ricardo, com o apoio de Casagrande, como candidato a governador. Selou-se, então, o acordo de três pontas – pelos menos, naquele momento.

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Como parte do acordo costurado por eles, a presidência estadual do União foi oferecida a Euclério Sampaio – filiado ao MDB desde outubro de 2023. Casagrande preferia Euclério a Marcelo à frente do partido. Marcelo topou. Foi uma solução de consenso. No mesmo dia, Euclério nos confirmou ter sido convidado por Rueda para migrar e assumir a presidência estadual do União – o que jamais chegou a se concretizar.

Em troca do compromisso anunciado, Casagrande abriu caminho para a reeleição de Marcelo na Assembleia, sem sustos. Desde então, Ricardo Ferraço passou a agir como pré-candidato ao Governo do Estado. Marcelo, de fato, em gestos e declarações, passou a se portar como um dos principais apoiadores da pré-candidatura de Ricardo.

Mas, no meio do caminho, tinha uma pedra… ou melhor, um terremoto. Uma articulação nacional, de proporções avassaladoras, repercutiu também no Espírito Santo. No dia 29 de abril, na Câmara dos Deputados, os dirigentes nacionais do União Brasil e do Progressistas (PP) anunciaram a federação a ser composta pelos dois partidos, batizada de União Progressista. Funcionando na prática por quatro anos como se fosse um só partido, inclusive durante as eleições de 2026 e 2028, a federação terá, instantaneamente, a maior bancada na Câmara dos Deputados, a maior verba para financiamento de campanhas e o maior tempo de propaganda eleitoral gratuita.

Nos estados, cada um dos dois partidos manterá os respectivos órgãos diretivos, mas com autonomia relativa e poder decisório reduzido. Acima deles, será criada outra instância: a direção estadual da federação, a quem de fato caberá o comando. Pois bem, no Espírito Santo, a direção estadual da federação ficará com o PP. Mais especificamente, com o deputado federal Josias da Vitória.

Diante desse novo cenário, Euclério perdeu totalmente o interesse em trocar o MDB pelo União Brasil. Não teria mais por que ir para um partido no qual não teria a palavra final. Só lhe interessava ir para o União Brasil (sem a federação) para de fato ter amplo poder decisório – sobre candidaturas, sobretudo. Seria um modo de garantir para si mesmo a legenda, em um partido imenso, para sua eventual candidatura a governador do Estado, como é de seu interesse.

Como relata Marcelo Santos, grande parceiro de Euclério, o prefeito de Cariacica não irá mais para o União. E assim, como previmos aqui no dia 30 de abril (no fim do texto), o caminho ficou escancarado para ele mesmo se tornar o futuro presidente, em acordo direto com Rueda. O martelo foi batido pelos dois num jantar em Brasília, no dia 29 de abril, logo após o anúncio oficial da federação na Câmara dos Deputados.

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Eis a versão de Marcelo:

“O Euclério declinou de ir para o União Brasil, tendo em vista que os dois partidos se federaram, o Progressista e o União. Ele tinha o interesse de presidir um partido, de construir em conjunto com a gente, junto comigo. O Rueda chegou a colocar isso para a gente lá na agenda. Mas o Euclério entendeu que é melhor ele não ir para o partido, porque não seria ele, talvez, o grande protagonista. Diante da posição do Euclério de não assumir, o Rueda decidiu me refazer o convite para eu assumir o União e ficar como presidente, presidente da Assembleia e presidente do União Brasil. No jantar, o Rueda falou: ‘Olha, Marcelo, eu já tomei a decisão para que você possa assumir o União. Com essa decisão do Euclério, quero aqui dizer que vou voltar àquilo que eu sempre quis, que é você presidir o União Brasil no Espírito Santo’.”

Segundo Marcelo, o formato da substituição de Rigoni, a princípio, seria uma intervenção pura e simples da direção nacional na Executiva Estadual. A intervenção já estava engatilhada. Segundo Marcelo, ele pediu a Rueda para suspendê-la. Antes, quer buscar construir com Rigoni uma “ação combinada”, com uma transição que não seja “tão violenta”. O que significa isso? Significa Rigoni aceitar renunciar ao cargo, voluntariamente. Do contrário, diz Marcelo, haverá a intervenção nacional.

Marcelo conta:

“Pedi ao Rueda um tempo para conversar com o Rigoni primeiro, para não acontecer o ruído que houve antes. Eu marquei uma agenda com o Rigoni, que já sabia que isso estava acontecendo. Nós dois já conversamos. Eu disse a ele que quero combinar com ele que a gente possa fazer uma gestão compartilhada. Eu vou presidir o partido e a gente pode ajustar o modus operandi para que eu chegue à presidência. Essa federação nos dá a oportunidade de termos o retorno dele, por exemplo, para o Congresso Nacional, e possivelmente a minha chegada lá também. Então, nós dialogamos que poderíamos fazer uma transição que não fosse tão violenta, que é o caso da intervenção. Que seria algo combinado, de ele sair da presidência e eu assumir. Nos próximos dias, vou a Brasília para conversar com o Rueda e tratar do assunto. Qual é o modelo em que nós vamos agir? Eu sou muito a favor de que seja uma ação combinada. O Rigoni deixa a presidência, eu assumo e ele faz parte comigo da Executiva Provisória. Caso contrário, vai ter que seguir pela intervenção, que é a decisão que a direção nacional já havia tomado e que eu pedi para suspender”.

Mas… e quanto ao acordo de janeiro?

Marcelo Santos anunciou que o União Brasil havia assumido o compromisso de estar no projeto político-eleitoral liderado por Casagrande em 2026. Mas isso foi em janeiro, antes do surgimento da federação, fato de magnitude nacional que produz um novo cenário nos estados. A questão que emerge, então, é a seguinte: com a federação União Progressista e a ascendência de Da Vitória (PP), esse compromisso do União Brasil no Espírito Santo está mantido, ou tudo fica zerado e pode mudar daqui para a frente? Será preciso dar um F5?

Será o tema de uma próxima análise.

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Para constar

No dia 30 de abril, publicamos:

Com o provável recuo de Euclério e sua permanência no MDB, eis a aposta da coluna para a presidência do União Brasil no Espírito Santo:

Após uma longa, longuíssima volta, Marcelo Santos há de alcançar o que mais queria desde o início: a presidência do União Brasil (não do UP), com o endosso de Antônio de Rueda.

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