Coluna Vitor Vogas
Da Vitória: “Tenho muita vontade de disputar uma eleição majoritária”
“Topo disputar qualquer eleição”, afirma futuro presidente estadual da imponente federação do PP com o União Brasil. “Será o maior partido do ES”, profetiza

Deputado Josias da Vitória (PP). Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados
Com o anúncio oficial da federação entre o União Brasil e o Progressistas, o deputado federal Josias da Vitória se coloca mais incisivamente como um player nas próximas eleições gerais no Espírito Santo: “Tenho muita vontade de disputar uma eleição majoritária”. A federação entre os dois partidos de grande porte, que deverá se chamar União Progressista (UP), foi anunciada pelos respectivos líderes nacionais na tarde de terça-feira (29), no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília, com a presença de Da Vitória. O coordenador da bancada capixaba no Congresso será o presidente da nova federação no Espírito Santo. Pouco antes da cerimônia, ele falou por telefone com a coluna. E fez o seu próprio “anúncio”:
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“Topo disputar qualquer eleição, desde que seja projeto de grupo. Uma eleição majoritária passa por uma união de forças partidárias, de lideranças políticas, de representantes da sociedade. Esse exercício precisa ser feito num diálogo, numa construção. Tenho muita vontade de disputar uma eleição majoritária. Mas, acima da minha vontade, está uma proposta que seja de grupo, uma construção coletiva”.
Em nível estadual, os cargos eletivos “majoritários” (vence quem tem mais votos) são os de governador, vice-governador e senador. Desde o pleito de 2022, Da Vitória deseja concorrer a uma vaga no Senado pelo Espírito Santo. Ele também já teve o nome citado pelo governador Renato Casagrande (PSB) e pelo vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), seus aliados, como possível candidato ao Governo do Estado.
Essa segunda hipótese é bem pouco provável e pode ser melhor compreendida como uma mesura, uma deferência de Casagrande e Ricardo a um aliado que já preside o influente PP no Espírito Santo e que eles querem manter firme ao seu lado. Hoje, o pré-candidato a governador de Casagrande e do Palácio Anchieta é o próprio Ricardo Ferraço. A “eleição majoritária” mais factível para Da Vitória é mesmo a do Senado, na qual cada unidade federada terá duas cadeiras em disputa. Aí dá jogo para ele.
Da Vitória reafirma seu “compromisso” (palavra dele) em construir, com Casagrande, o caminho a ser trilhado pelo União Progressista nas eleições do ano que vem no Espírito Santo. “Casagrande não é candidato a governador, mas tem conosco uma relação de muita proximidade. E temos o compromisso de construirmos juntos.”
Ao mesmo tempo, o deputado reitera algo surpreendente que já dissera aqui, em entrevista anterior: contra as expectativas quase gerais, ele acredita ser possível unir, em 2026, o amplo grupo político liderado por Casagrande com aquele que está se constituindo ao redor do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini. Tratado pelo próprio partido, o Republicanos, como pré-candidato a governador, Pazolini é visto, hoje (e desde o início da carreira política, em 2019), como um adversário do governo Casagrande.
“O que reafirmo é que acredito muito numa unidade muito mais ampla do que está anunciado hoje. Lá na frente isso se afunila”, reforça Da Vitória.
Hoje, em termos políticos e administrativos, o PP tem um pé em cada jangada: está tanto no Governo do Estado como na Prefeitura de Vitória, com cargos no primeiro escalão em ambos os casos. Pouquíssima gente acredita na aliança eleitoral defendida por Da Vitória. Pouquíssima gente a defende. Mas o deputado firma o pé como a exceção e justifica assim a sua crença:
“O diálogo é um instrumento muito forte para o encontro de ideias, no tempo certo, lá na frente”.
União Progressista: “O maior partido do Brasil e do ES”
“O União Progressista passa a ser, automaticamente, o maior partido do Brasil neste momento”, classifica Da Vitória, entusiasmado com a confirmação oficial do casamento do PP com o União Brasil. Para ele, essa grandiosidade também vale para o Espírito Santo. Segundo as projeções do futuro presidente estadual da “superfederação”, o posto de “maior partido” tende a se confirmar nas urnas em 2026, com o número de deputados estaduais e federais eleitos pelo UP nas disputas proporcionais.
“Tenho certeza de que a federação sairá das urnas como o maior partido do Espírito Santo, por conta da quantidade de candidatos que os dois partidos já têm, com tamanho eleitoral já visível. Isso naturalmente nos dá condições de eleger muitos deputados”, prevê o deputado.
Da Vitória calcula que, dos dez membros da bancada do Espírito Santo na Câmara dos Deputados, o UP fará quatro – “no mínimo”, segundo ele. Já na Assembleia Legislativa, ele projeta que a federação poderá ocupar, no mínimo, seis das 30 cadeiras.
Hoje, somando parlamentares do PP e do União Brasil, a futura federação tem dois deputados federais pelo Espírito Santo (ambos do PP): o próprio Da Vitória e Evair de Melo. Já na Assembleia Legislativa, a bancada nasceria como a maior da Casa, com seis integrantes: os três deputados estaduais do PP (Marcos Madureira, Raquel Lessa e Zé Preto), somados aos três do União (Marcelo Santos, Dr. Bruno Resende e Denninho Silva).
Da Vitória ainda aposta que o UP atrairá muita gente interessada em participar do próximo pleito. “Acredito que vários candidatos vão querer disputar por essa federação. Só do PP tem 53 nomes interessados em disputar para estadual”.
No Espírito Santo, a chapa de cada partido para a Assembleia poderá ter até 31 candidatos (o número de vagas mais um). Pelo mesmo critério, cada chapa para a Câmara Federal poderá ter até 11 postulantes.
As vagas, segundo Da Vitória, serão divididas meio a meio entre o PP e o União Brasil. Mas, como o número é ímpar, ele diz que, na chapa de federais, é possível que o União tenha até mais candidatos: 6, contra 5 do PP.
Hoje, filiados ao União Brasil, há três notórios pré-candidatos: Marcelo Santos e Dr. Bruno Resende, além do ex-deputado federal Felipe Rigoni, atual secretário estadual de Meio Ambiente. Há, ainda, grande probabilidade de o partido atrair o deputado federal Messias Donato, hoje no Republicanos, mas apenas se Euclério Sampaio (MDB) migrar para o UP. Messias é atrelado ao prefeito de Cariacica e se filiaria no encalço dele, na próxima janela partidária (em março de 2026).
Pelo PP, na certa teremosas candidaturas à reeleição de Evair e do próprio Da Vitória – caso não disputem cargo majoritário.
Na Câmara dos Deputados, a federação nascerá com 109 parlamentares. Terá a maior bancada na Casa, a maior fatia na distribuição do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral, bem como o maior tempo de propaganda de rádio e TV. No Senado, serão 14 representantes, empatando com PL e PSD como a maior bancada. Isso além de 1.343 prefeitos pelo país (incluindo os de oito capitais) e seis governadores.
Para Da Vitória, a junção desses dois partidos (que já eram grandes) responde, antes de tudo, a necessidades práticas impostas pela atual legislação eleitoral, com a reforma aprovada pelo Congresso Nacional em 2017:
“Mudamos a Constituição há algum tempo. Hoje, para as eleições proporcionais, não tem mais coligações e agora tem a cláusula de barreira. Isso, há algum tempo, tem feito com que alguns partidos tenham crescido, enquanto outros se atrofiaram e até sumiram. Então hoje a tendência dos partidos é a de se aglutinarem. A tendência é a de que haja cada vez menos partidos, com uma eleição mais barata e mais eficaz junto à sociedade. As legendas serão poucas, com lideranças concentradas nelas. Isso vai otimizar e profissionalizar as disputas eleitorais. Vai economizar tempo, dinheiro, energia e saúde”.
Evair de Melo: “Pode ser candidato a senador”
O deputado federal Evair de Melo tem sido estimulado por Jair Bolsonaro (PL) a disputar o Senado. O ex-presidente até já declarou que apoiará a candidatura do deputado a senador (caso esta se concretize). Ao contrário de Da Vitória, Evair é opositor do governo Casagrande. Tem feito movimentos pré-eleitorais explícitos, à luz do dia, em apoio a Lorenzo Pazolini para governador do Estado.
“Evair pode ser candidato [a senador], legitimamente. São duas vagas para o Senado. Ele tem afirmado que está avaliando a provocação feita pelo ex-presidente Bolsonaro, que é um grande cabo eleitoral no Brasil e estimula a liderança dele. Minha relação com Evair é excepcional. Sei que o tempo é muito importante para que a gente construa isso”, afirma Da Vitória, despistando.
Como fica o União Brasil e a presidência estadual do partido
No fim de janeiro, em articulação que envolveu a manutenção da presidência da Assembleia, Marcelo Santos anunciou que Euclério assumiria a presidência do União Brasil (não do UP) no Espírito Santo, no lugar de Felipe Rigoni. O próprio Euclério, no mesmo dia, informou à coluna que foi convidado para assumir o cargo, por telefone, pelo presidente nacional do União, Antônio de Rueda.
Na oportunidade, Marcelo também anunciou o compromisso do União Brasil em estar no projeto eleitoral liderado por Casagrande e Ricardo Ferraço no Espírito Santo. Isso tudo com direito a uma foto de Marcelo, Casagrande e Ricardo com Rueda em Brasília. Em troca, Marcelo garantiu para si “caminho livre” para se reeleger presidente da Assembleia, no dia 3 de fevereiro, à frente de chapa única e com as bênçãos do Palácio Anchieta – que tirou o pé da porta.
Isso tudo, notem bem, ocorreu antes do afunilamento das negociações para constituição da federação do União Brasil com o Progressistas – agora anunciada oficialmente.
Com a federação, a “ida de Euclério para o União” muda radicalmente de perspectiva. Também citado por Casagrande e Ricardo em listas de possíveis candidatos ao governo, o prefeito de Cariacica tem interesse real em disputar o cargo de chefe do Executivo Estadual em 2026. Do Carnaval para cá, passou a intensificar os movimentos nesse sentido, com o objetivo de se viabilizar.
Euclério só teria interesse em ir para um partido que ele pudesse controlar no Espírito Santo. Ou seja, só teria interesse em entrar no União Brasil se fosse realmente para assumir a presidência e dar as cartas no partido no Estado. O MDB, onde está filiado, é comandado por Ricardo Ferraço. Presidindo um União Brasil “solteiro”, com plena autonomia, Euclério teria margem de ação, inclusive, para garantir a si mesmo a legenda para eventual candidatura a governador.
Agora, com a “superfederação”, ele não terá nada disso, já que o UP, no Espírito Santo, será comandado (e controlado) por Da Vitória. Perde-se “a razão de ser” da troca. Esvai-se a motivação. Para trocar um partido onde ele não manda por outro onde ele tampouco vai mandar, melhor ficar onde se encontra – não obstante a excelente relação que o prefeito tem com Da Vitória.
Em sua entrevista anterior à coluna, publicada em 21 de março, para “seduzir” Euclério, Da Vitória só faltou estender tapete vermelho para o prefeito. Ciente do interesse maior de Euclério, afirmou que ele teria portas abertas para viabilizar candidatura a governador pela federação do PP com o União. Agora, com a relutância de Euclério, Da Vitória atenua o discurso:
“O Euclério recebeu o convite de Marcelo e o incentivo de Casagrande para ser o presidente do União Brasil no Estado. Naturalmente ele estará avaliando, mas nada impede que ele possa presidir o União Brasil, se for da vontade dos membros”.
Quanto às pretensões de Euclério de concorrer a governador, Da Vitória também modera a euforia de 40 dias atrás: “Isso é plenamente legítimo. É um nome que tem uma grande liderança no Estado. Ele precisa decidir isso. Temos um longo caminho pela frente. O que posso te dizer é que o UP seguramente estará na disputa majoritária, com uma ou duas vagas”.
Atenção: “com uma ou duas vagas”.
Tradução: no Espírito Santo, a superfederação terá, pelo menos, um candidato em disputa majoritária. Trabalha com uma destas três opções:
. só candidato a senador;
. candidato a senador e também a governador;
. candidato a senador e a vice-governador.
O UP terá tamanho para pleitear isso nas mesas de negociação. E “subir” ainda mais, como indica a sigla da federação, em trocadilho com a preposição da língua inglesa.
Aposta da coluna para a presidência do União Brasil
Com o provável recuo de Euclério e sua permanência no MDB, eis a aposta da coluna para a presidência do União Brasil no Espírito Santo:
Após uma longa, longuíssima volta, Marcelo Santos há de alcançar o que mais queria desde o início: a presidência do União Brasil (não do UP), com o endosso de Antônio de Rueda. Mantido o compromisso de reforço ao movimento eleitoral conduzido por Casagrande e de apoio à pré-candidatura de Ricardo Ferraço.
Marcelo participou pessoalmente do ato de lançamento da federação, na tarde de terça-feira, na Câmara dos Deputados, ao lado de Josias da Vitória.
