fbpx

Coluna Vitor Vogas

De volta ao jogo: a reação de Arnaldinho na corrida para ser governador

Tendo ficado atrás de Ricardo Ferraço, prefeito precisava urgentemente dar um sinal de reação. E o sinal veio, em dobro, na última quarta (27)

Publicado

em

No sentido da leitura: Victor Linhalis, Ricardo Barros, Arnaldinho Borgo, Da Vitória, Evair de Melo e Osvaldo Maturano. Foto: reprodução Instagram

No sentido da leitura: Victor Linhalis, Ricardo Barros, Arnaldinho Borgo, Da Vitória, Evair de Melo e Osvaldo Maturano. Foto: reprodução Instagram

Diante da consolidação de Ricardo Ferraço (MDB) como o preferido do governo Casagrande para representá-lo na corrida sucessória rumo ao Palácio Anchieta, o prefeito Arnaldinho Borgo (sem partido) mandou um recado claro, em artigo publicado em A Gazeta e no seu Instagram no último dia 22, com um título que não admite dúvida nem dupla interpretação: “Seguimos no jogo”.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

O texto assinado pelo prefeito é pródigo em metáforas futebolísticas, partindo de uma analogia entre a rotina de uma grande equipe e o duplo desafio que ele encara neste momento: “No futebol, os grandes times disputam campeonatos simultâneos. […] Vivo algo parecido. Estou em campo em duas competições decisivas. A primeira é continuar administrando Vila Velha com planejamento, diálogo e entregas que mudam a vida das pessoas. A segunda é a pré-campanha que me prepara para ser candidato ao governo do Espírito Santo […]. É jogo grande, de 90 minutos, com prorrogação e, se for preciso, disputa de pênaltis.”

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Arnaldinho não faz feio no futebol, mas é um notório corredor de rua. Adaptando a metáfora para o atletismo, seria como dizer que eleição é maratona, não corrida de cem metros. Arnaldinho anunciou ao mercado político que “segue vivo” não só no jogo eleitoral, mas, de forma bem mais específica, na corrida particular com Ricardo pelo posto de representante do governo Casagrande na eleição a governador do Espírito Santo. Para o prefeito de Vila Velha, o candidato governista está longe de estar definido, e tal definição só se dará lá no fim da maratona que precede a campanha oficial – no período das convenções partidárias, em julho do ano que vem.

De todo modo, é fato que, nessa maratona, Arnaldinho havia ficado alguns passos atrás de Ricardo. Precisava urgentemente dar um forte sinal de reação.

E essa reação veio, em dose dupla, na última quarta-feira (27). Foi como aquele isotônico, aquela barrinha de cereais (de verdade), aquela “aguinha milagrosa” que o corredor pega num posto de reidratação instalado no meio do percurso, para dali partir revigorado, acelerando a passada.

Em um giro decisivo por Brasília, Arnaldinho, em primeiro lugar, conseguiu garantir o apoio à sua pré-candidatura dos dirigentes nacionais do Solidariedade (sigla de Paulinho da Força) e do Partido Renovação Democrática (resultante da fusão do PTB com o Patriota). Os dois, juntos, formarão uma pequena federação partidária.

Na mesma tarde, o prefeito teve encontro crucial com o deputado federal Josias da Vitória. Trata-se não só do presidente estadual do Progressistas (PP) como também da futura federação do PP com o União Brasil. Aí “o jogo” é jogado em outra liga. São partidos da Série A. A chamada “superfederação” nasce com a maior bancada da Câmara (mais de 100 deputados federais); consequentemente, terá mais recursos públicos para financiamento de campanhas e mais tempo de rádio e TV que qualquer outro partido ou federação em 2026, no Brasil inteiro.

O anúncio oficial ainda não foi realizado. Mas as declarações de Arnaldinho e, notadamente, de Da Vitória não permitem outra conclusão: sem partido desde março, o prefeito está fortemente propenso a se juntar ao PP e em breve deve formalizar a filiação à agremiação comandada por Da Vitória no Espírito Santo.

> Marcos do Val vai tirar licença do mandato no Senado

“Arnaldinho chega no PP por cima”, disse o próprio Da Vitória à coluna, em frase mais eloquente que um artigo de 20 páginas.

Para o deputado e dirigente partidário, a entrada do prefeito de Vila Velha no PP – e, portanto, na “superfederação” – é “questão de tempo”: a filiação deve ser formalizada mais à frente, usando-se com sabedoria e paciência os prazos dispostos pela legislação eleitoral. Para ser candidato a qualquer cargo em 2026, Arnaldinho precisa estar filiado até o começo de abril. Há tempo para oficializar o que ficou muito bem encaminhado.

Da Vitória já havia convidado Arnaldinho para entrar no PP em 2023 e ser candidato à reeleição em Vila Velha pelo partido. O prefeito àquela altura preferiu continuar no Podemos, reelegeu-se por essa legenda em 2024, mas se desfiliou em março deste ano. Da Vitória voltou a convidar Arnaldinho. Esse flerte havia esfriado um pouco. Mas, nos últimos dias, reaqueceu-se com força, chegando ao ponto de ebulição.

Segundo Da Vitória, ele na verdade “nem precisou” reforçar o convite ao prefeito: “Nem precisei, porque Arnaldinho está decidido a estar nesse movimento junto conosco. A estrada já está pavimentada para ele aqui [no PP]. Isso é uma questão de tempo. Com respeito ao tempo e diálogo, poderemos ter um processo eleitoral muito mais seguro”.

Mais um fortíssimo indício de que a decisão de Arnaldinho está tomada, também mais eloquente que 20 páginas, foi dado pelo próprio prefeito, em post publicado logo após o encontro em seu perfil no Instagram. Na foto (republicada acima), os participantes da reunião dão-se as mãos, naquele inequívoco gesto político de “fechamos um acordo e caminharemos juntos”.

No texto, Arnaldinho reforça a mesma mensagem:

“Admiro e respeito a força do União Progressista, a maior federação partidária do #Brasil, que no Espírito Santo é liderada por @deputadodavitoria, @evair_de_melo e @marcelosantosdeputado, grandes amigos com quem estou dialogando sobre o #futuro. A história do nosso Estado e do nosso país sempre foi construída com diálogo, espírito republicano e convergência de ideias. Esse é o caminho que acredito e que quero seguir. Estou muito animado em unir forças para que num futuro próximo possamos fazer o Espírito Santo avançar ainda mais” (grifo nosso).

> PSDB quer secretários de Estado em sua chapa de deputados federais

A condição sine qua non e os riscos assumidos pelo prefeito

Logicamente, a condição para Arnaldinho entrar de vez no PP é que a federação União Progressista lhe dê plenas possibilidades de viabilizar a candidatura e plenas garantias de que ele terá a legenda para disputar o Governo do Estado.

Entrando realmente no PP – é preciso sublinhar este ponto –, o prefeito está assumindo um certo risco, pois ingressará numa federação sobre a qual não terá controle algum. Nos processos decisórios, haverá muita gente acima dele, com precedência sobre ele, seja por antiguidade, seja pelos postos ocupados na hierarquia interma.

Referimo-nos não só a Da Vitória como também a Evair de Melo, o outro deputado federal do PP-ES, e a Marcelo Santos, que em breve passará a presidir no Estado o União Brasil, outra metade da federação. Não por coincidência, os três foram citados e marcados no post de Arnaldinho (acima).

Voltando às metáforas do universo futebolístico, o prefeito pode até entrar no PP “por cima”, como pré-candidato a governador, mas não como o “dono da bola”. Sua eventual candidatura estará nas mãos de dirigentes como Da Vitória e Marcelo Santos.

Inicialmente, quando saiu do Podemos em março, justamente a fim de viabilizar a própria candidatura, o “plano perfeito” de Arnadinho era migrar para um partido de bom porte que ele mesmo pudesse controlar no Espírito Santo, para minorar os riscos políticos, as chances de não ter legenda.

Foi isso o que o prefeito procurou em várias partes, mas o mercado está limitado, e ele esbarrou em portas fechadas. Tentou, é bem verdade, “arrombar” a do Partido Social Democrático (PSD), outro que joga na Série A. Após ter pessoalmente com o presidente nacional, Gilberto Kassab, chegou a admitir que pretendia filiar-se à sigla e já chegar para assumir a presidência estadual, no lugar do atual ocupante do cargo, o prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos. Visto, inclusive aqui, como um movimento açodado de “atropelo”, isso não deu nem um pouco certo. Arnaldinho não entrou no PSD. Renzo continua na presidência.

Ao prefeito de Vila Velha, então, restaram duas opções de filiação. Uma delas era o Novo, com quem ele conversa muito bem. Ali ele até poderia ter legenda, mas não o controle total da sigla, que, ademais, é muito pequena. A outra é o já citado PRD, que de fato, como vimos, em federação com o SD, decidiu apoiá-lo. O prefeito até terá ascendência sobre a direção estadual de tal federação. Mas ele mesmo se filiar é outra história: a federação PRD-SD é, também, muito pequena. Não tem dinheiro nem estrutura para sustentar uma onerosa candidatura ao Governo do Estado.

> Presidente nacional do PSDB lança Luiz Paulo ao Senado pelo ES

O dilema de Arnaldinho, então, resumia-se ao seguinte: entrar numa federação pequena que ele poderá controlar, com a certeza de poder ser candidato, mas assim ficar à míngua de recursos e condenar-se a uma campanha mendicante, ou entrar numa federação enorme que ele não poderá controlar, sem a certeza de poder ser candidato, mas ao menos ter a possibilidade de entrar no jogo de igual para igual com qualquer outro pré-candidato?

O prefeito fez a segunda opção, abrindo mão daquele primeiro fator (o almejado controle partidário) e, em grande medida, colocando agora seu sonho nas mãos de terceiros – acima de tudo, Da Vitória.

Por isso, perguntamos ao próprio Da Vitória se, entrando oficialmente no PP, Arnaldinho terá garantias de legenda para concorrer a governador e se terá todas as condições necessárias para concretizar esse sonho. O deputado não só disse que sim como foi muito além, incluindo até uma possível candidatura do prefeito de Vila Velha ao Senado:

“Arnaldinho chega por cima no partido, com todas as condições para estarmos num projeto majoritário. Nós nos habilitamos e ele também. Ele tem todas as condições para que possa participar, liderar um projeto majoritário, ser candidato a senador, a governador, o que ele entender… Assim como o Evair é um candidato a senador, e assim como, se todos quiserem me apoiar, eu disputo uma eleição majoritária”.

Da Vitória também destacou:

“Arnaldinho é um amigo meu, de Evair e de Marcelo Santos. Ajudamos ele na reeleição e somos sócios da administração dele em Vila Velha. Ele com certeza será muito importante no processo eleitoral de 2026. Decidiu que vai vir junto conosco e que vamos construir isso juntos. Estamos decididos, confirmados e pactuados que estaremos juntos no processo eleitoral. Conversaremos também com o governador nesse sentido.”

Arnaldinho não abre mão de sua tese e está convencido de que é a correta

Arnaldinho já declarou que não pretende ser candidato fora do grupo político liderado por Renato Casagrande (PSB) nem quebrar sua aliança com ele. Hoje, no entanto, o governador tem preferência manifesta pela pré-candidatura de Ricardo Ferraço. Arnaldinho, portanto, concorre diretamente com Ricardo pelo lugar de futuro candidato desse grupo. Se ninguém romper com ninguém nem trair ninguém, um dos dois sobrará; terá de se retirar ou ser retirado do páreo.

> De 0 a 3 deputados: partido nanico de direita dá um salto no ES

No momento, como já analisamos aqui, Ricardo se estabeleceu com certo favoritismo para ser o candidato do Palácio e está alguns passos à frente nessa corrida pessoal com Arnaldinho. O prefeito, porém, segue inabalável em sua marcha, sem se deixar abater.

Aconselhado por assessores como Robinho Leite e Felício Corrêa e munido de pesquisa qualitativa realizada pelo Instituto Flexconsult, o prefeito está firmemente convencido de que sua tese é a correta e que assim se provará mais à frente, perto do momento de definições de candidaturas, em meados do ano que vem: a de que o eleitorado capixaba anseia por renovação política e está fatigado de políticos mais antigos; e que, considerando tais premissas, ele seria um adversário muito mais habilitado que Ricardo para derrotar Lorenzo Pazolini (Republicanos).

Dizendo o mesmo ao contrário: se a tese de Arnaldinho estiver mesmo certa, Ricardo seria o “adversário perfeito” para o prefeito de Vitória, oponente do Palácio Anchieta.

Conclusão

Se realmente se filiar ao PP, ficando em condições de se candidatar pela imponente “superfederação”, Arnaldinho reagirá fortemente nesse jogo eleitoral – e no duelo pessoal com Ricardo.

Se de fato conseguirá ser candidato a governador, só mais à frente será possível afirmar. Mas, em se confirmando a filiação, o prefeito ganhará muita força na luta para viabilizar seu projeto eleitoral.

Isso, é claro, se realmente receber de Da Vitória – e da direção nacional de PP e União Brasil – as prometidas condições para pôr de pé sua candidatura pela federação.

Do contrário, o prefeito de Vila Velha poderá cair na mesma armadilha da qual saiu, em março, quando se desfiliou do Podemos: entrar em outro partido de bom porte, sobre o qual não terá controle algum e no qual correrá o risco de não conseguir ser candidato.

LEIA TAMBÉM

> De volta à origem: a rotina de Sérgio Vidigal como médico na Serra

> Da Vitória: “Arnaldinho chega ao PP por cima”

> Arnaldinho consegue apoio da federação SD-PRD para ser candidato a governador

> Senado: por que é bom, para Casagrande, ter um companheiro de chapa de direita

> Por que Euclério Sampaio entrou na briga pelo Senado? Quem mais ganha com isso?

> Euclério Sampaio entra na briga pelo Senado: “Tô muito animado”

> E se Pazolini for candidato ao Senado? E se o governo Casagrande compuser com ele?

> A consolidação da pré-candidatura de Ricardo Ferraço a governador, em 10 pontos