Coluna Vitor Vogas
Entrevista: Euclério defende anistia para Bolsonaro, cassação de Moraes e voto em Tarcísio
Prefeito marca posição sobre questões espinhosas que estão na ordem do dia no Congresso, ou que poderão passar diretamente pelo Senado a partir de 2027

Euclério Sampaio é prefeito de Cariacica. Foto: assessoria da Prefeitura de Cariacica
O prefeito Euclério Sampaio (MDB) me recebeu em seu gabinete, na tarde da última quinta-feira (18), com uma Bíblia em cima da mesa, a mesma que nunca sai dali. Antes da entrevista, serviu-me café; depois, pediu pipoca à assessora. Vestia uma camiseta estampada, calça jeans e tênis esportivos – informal, no estilo Euclério. A exclusiva concedida por ele também foi bem ao seu estilo: opiniões firmes e fortes, sem fugir das polêmicas e até jogando brasa em algumas.
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Lançado e impulsionado ao Senado nas últimas semanas, Euclério marca posição sobre algumas questões espinhosas que estão na ordem do dia no Congresso Nacional, ou que poderão passar diretamente pelo Senado a partir de 2027. Entre elas, a possibilidade de cassação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Sem rodeios, o pré-candidato a senador afirma que, se eleito, não terá problema em ajudar a cassar Alexandre de Moraes por eventual crime de responsabilidade.
“Não tenho dificuldade nenhuma em votar a cassação. Não se vota a cassação de deputados? Por que com um ministro do STF será diferente, se ele errou ou se ele errar?”
Atribuindo ao STF “excessos em exagero”, Euclério defende, “com ressalvas”, a anistia dos muitos condenados pela trama golpista que culminou com o 8 de janeiro, incluindo Jair Bolsonaro (PL). Para ele, a condenação do ex-presidente da República é injusta e desproporcional.
Mas o candidato de Euclério à Presidência não é Bolsonaro – até porque ele está inelegível – nem tem Bolsonaro no nome. O prefeito faz uma defesa vigorosa de Tarcísio de Freitas para presidente. Em sua avaliação, entre todos os presidenciáveis, o governador de São Paulo é “o mais qualificado” para “unir os dois campos ideológicos em favor do país”.
“Acho que o Brasil precisa ter uma liderança nova, conservadora e que tenha condições de unir o Brasil. Isso é muito importante, tá?”
Euclério diz acreditar que “Bolsonaro estaria fazendo o melhor para o Brasil” se apoiasse Tarcísio.
A declaração antecipada de voto causa relativa surpresa, não pelo critério ideológico. O próprio Euclério se define como um conservador: “Acredito em Deus, na família e no trabalho”. A surpresa advém do fato de que Tarcísio é o pré-candidato do Republicanos, o partido de Lorenzo Pazolini, adversário político do grupo de Euclério, liderado por Renato Casagrande. Aliás, também surpreendendo, Euclério reputa o governador como “o maior conservador” do Espírito Santo (opinião, segundo ele, expressada pelos cariaciquenses).
O prefeito ainda se posiciona sobre temas como aborto e porte de armas de fogo. Diz que, se chegar ao Senado, defenderá a Bíblia e combaterá a chamada “ideologia de gênero”. E deixa uma alfinetada (em Pazolini e/ou em Arnaldinho Borgo): “Independentemente de onde eu estiver, vou apoiar Renato [Casagrande] para o Senado e Ricardo [Ferraço] para o governo. Ponto final. Eu tenho gratidão. E todos os 78 prefeitos deveriam ter”.
Aqui, a entrevista completa. Boa leitura!
Nas eleições para o Senado no ano que vem, um dos critérios fundamentais para definição de voto, sobretudo entre os eleitores mais alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, será a predisposição ou não dos candidatos em cassar ministros do Supremo Tribunal Federal, por eventual crime de responsabilidade. Pela Constituição Federal, só o Senado pode fazer isso. Se o senhor chegar lá, como vai se posicionar em relação a esse tema? Defende a cassação de membros do STF e, especificamente, do ministro Alexandre de Moraes?
Todos conhecem minha atuação no Parlamento, nos tempos de Assembleia. Não tenho dificuldade nenhuma em votar a cassação. Não se vota a cassação de deputados? Por que com um ministro do STF será diferente, se ele errou ou se ele errar? Fui corregedor na Assembleia. Relatei pela cassação de cinco deputados, no meu primeiro mandato. Não tenho dificuldade nenhuma. Eu não posso fazer o que eles estão fazendo lá, concorda?
Quem?
O STF.
O senhor considera que o Supremo tem cometido excessos?
Ah, todo mundo sabe disso. Hoje estamos vivendo um momento muito ruim. Você vê uma condenação a 20 anos de uma pessoa de 70 anos que não cometeu crime nenhum, só participou de um movimento…
O senhor está se referindo ao 8 de janeiro de 2023? Acha que não cometeram crimes?
Quem cometeu crime tem que pagar, mas a pena tem que ser de acordo com a lei. Não você inventar uma pena de 20 anos. Tem que ter a dosimetria da pena. Tem que ser proporcional ao crime praticado.
Então o senhor considera que a pena em alguns casos, contra alguns dos participantes do 8 de janeiro, estão desproporcionais e desarrazoadas?
Totalmente. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. E hoje, pelo tempo que passou, se fosse feito corretamente, já estaria todo mundo na rua.
E especificamente quanto ao ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos relacionados ao 8 de janeiro e à chamada “trama golpista”?
Não teria nenhuma dificuldade em votar.
Mas hoje, na sua opinião, ele está cometendo excessos? Se o senhor fosse senador hoje, defenderia a cassação do ministro Moraes no Senado?
É uma coisa a se avaliar no momento de tomar posse. Mas eu não teria dificuldade nenhuma em votar a cassação dele. Nenhuma. E quem conhece minha atuação no Legislativo sabe disso.
E como o senhor avalia a atuação do ministro Moraes na condução desse processo, como relator?
É público e notório, quem conhece um pouco de Direito sabe que ele está cometendo excessos em exagero. “Excessos em exagero”… Não sei se está certo ou se é um pleonasmo.
A condenação do ex-presidente Bolsonaro e de outros sete integrantes do núcleo central da chamada trama golpista foi um excesso por parte do Supremo? Como o senhor avalia?
Eu não conheço os autos, mas é totalmente desproporcional, como todas as condenações que estão ocorrendo. Na verdade, ninguém conhece as provas que estão dentro dos autos. Mas, por mais que tenha tido provas, tem essa controvérsia do assessor do ministro, denunciando que foi tudo forjado… Você tem que conhecer os fatos. Um profissional do Direito não pode se manifestar sem conhecer as provas. Mas, pelo pouco que se tem noticiado, com certeza está tendo excesso. O Bolsonaro hoje, para receber uma visita na casa dele, precisa pedir autorização. Isso é muito ruim.
Considera que foi justa a condenação de Bolsonaro a quase 30 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa e outros dois crimes?
Achei que foi injusta. Hoje, por um crime de homicídio, pelas nossas leis, você pega no máximo 30 anos. Aí, se você for réu primário, você cumpre um terço. Tem uns atenuantes, tem os dias remidos por trabalho… Você vai ficar preso no máximo por dez anos. Aí condenam o cara a 27 anos, só para deixar o cara…
Mas o que o senhor considera injusto é a condenação em si ou o tamanho da pena? Em outras palavras, o senhor acha que ele é inocente e deveria ter sido absolvido?
Eu não conheço as provas que juntaram para condená-lo. Eu não sei se teve trama, se não teve trama… Eu não vou agir com o coração, como a maioria das pessoas está fazendo. Mas que a pena é desproporcional, caso ele tivesse feito alguma coisa, é desproporcional. Segundo: o foro em que ele está sendo julgado não é legítimo. As instâncias têm que ser respeitadas e não estão sendo respeitadas. É um monte de fatos.
A Câmara aprovou, na última quarta-feira (17), requerimento de urgência para a votação de projeto de anistia. O texto final ainda é desconhecido. O senhor defende a anistia para os participantes dos eventos que culminaram com a depredação da Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023?
Sou a favor da anistia, com ressalvas. Quem cometeu crime tem que ser penalizado de acordo com o crime praticado. E ali, por mais que tenham sido praticados crimes, hoje já estaria a pena toda cumprida. Tem crime ali que a pena é seis meses. Tomar 20 anos? Onde já se viu isso?
O que o senhor defende exatamente? Anistia ampla, geral e irrestrita (ou seja, anulação de todas as condenações), ou redução das penas?
Defendo que quem comprovadamente praticou crime seja condenado de acordo com o artigo que violou. E, nesse caso, se tivessem feito isso, hoje não teria mais ninguém preso. Agora, pessoas morrendo, condenações absurdas, pessoas idosas… É a mesma coisa que se condenar à prisão perpétua.
O senhor acha que a anistia deve se estender para Bolsonaro? Ele deve ser anistiado?
Também entendo que sim, pois todos são iguais perante a lei. A Justiça deve abraçar a todos, sem distinção.
Mas, no caso de Bolsonaro, o senhor defende anulação da condenação ou a redução da pena dele?
Se ele cometeu crime, pena condizente com o crime que ele cometeu. Se ele cometeu. E outra coisa: dentro do processo legal, que não ocorreu.
Onde o senhor está, hoje, no espectro ideológico brasileiro?
Eu sou conservador. Acredito em Deus, na família e no trabalho.
E, dentro dessa nomenclatura que vai da extrema-esquerda à extrema-direita, onde é que o senhor está?
Eu já falei: sou conservador. Não sou extremista em nada. Mesmo porque o homem público deve cumprir o papel dele, para o qual foi eleito, e não se desviar para um caminho de poucos privilegiados, ou de um grupo. Tem que fazer o papel dele para todos.
Inclusive no Parlamento? Ou o senhor está se referindo mais a cargos do Poder Executivo?
O homem público em geral. Se bem que, no Parlamento, você fica mais “solto”. Você não tem a responsabilidade de fazer entregas. O Executivo tem. Então, no Parlamento, você é mais aguerrido com as suas convicções.
Em 2022, o senhor foi um dos que deu um voto “Casanaro” no Espírito Santo?
Fui.
Votou em Casagrande para governador, Bolsonaro para presidente da República e defendeu essa combinação?
Faço pesquisas qualitativas e quantitativas. Aqui em Cariacica, você sabe quem o povo considera o maior conservador do Estado?
Casagrande?
Casagrande. Você vê Casagrande com foto que não seja com a família, com os netos ou entregando obras diariamente? Ele é Deus, a família e o trabalho.
Então os moradores de Cariacica associam Casagrande ao conservadorismo, muito embora ele seja do PSB etc.?
Você só vê ele com a família. O partido dele é de esquerda, mas ele não é radical. Você só vê ele fazendo entrega. O povo quer resultado, Vitor. O povo quer ver uma educação melhor, uma saúde melhor, quer ver sua rua pavimentada, um serviço público de qualidade. Ele toca o trabalho dele. Trabalha todos os dias.
O senhor se considera um apoiador do ex-presidente Bolsonaro?
Eu sou um apoiador da democracia, do conservadorismo… Não vou idolatrar homem nenhum. Acredito em Deus. A Deus eu curvo meus joelhos. Acho que o Brasil precisa ter uma liderança nova, conservadora e que tenha condições de unir o Brasil. Isso é muito importante, tá? O Brasil precisa de uma pessoa que consiga unir os dois campos ideológicos em favor do país.
E quem é essa pessoa? Quem o senhor visualiza com o perfil, a capacidade, as características necessárias para exercer essa união que o senhor prega?
Não sei… Hoje estou vislumbrando um… Um governador.
Tarcísio?
Você é que respondeu…
Mas estou perguntando ao senhor…
É. Eu acho que ele reúne as condições. Você vai botar uma pessoa que vai arrumar briga de novo? O Brasil não precisa de mais guerra.
Então hoje, na sua opinião, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é o potencial candidato à Presidência que mostra ter as condições e as qualificações necessárias para unir e pacificar o país?
É o mais qualificado. Ele é um gestor que não escolhe quem vai ajudar. Ele trabalha para todos. O Brasil precisa disso. E não arranja briga nem com direita nem com esquerda. É disso que o Brasil precisa.
O senhor pensa, então, que Bolsonaro deve lançar e apoiar a candidatura de Tarcício de Freitas para a Presidência da República?
Acredito que o Bolsonaro estaria fazendo o melhor para o Brasil. Se não for assim, vai continuar a guerra. Bem, pode ser que apareça outro. Mas, no momento, vejo Tarcísio como aquele que reúne as melhores qualidades.
Então, na sua avaliação, o Bolsonaro faria bem ao país se apoiasse o Tarcísio desde já?
É. Aliás, se todos apoiassem. Aí acabaria com essa briga.
Se ele for mesmo candidato, então, será o seu candidato à Presidência da República, independentemente do partido em que o senhor estiver?
Acredito que sim.
Tem alguma chance de o senhor, pessoalmente, apoiar o Lula? Pergunto isso, apesar das suas posições, por causa do seu partido. Não sei se estará no ano que vem, mas hoje o senhor está no MDB. E atualmente o MDB apoia o governo Lula…
Vou te dizer uma coisa: eu nunca obedeci a orientações partidárias nessa questão de presidente e governador. Sempre votei com o coração e a razão. E assim farei no ano que vem, de acordo com o que eu achar melhor para o Brasil.
Em sua pré-candidatura ao Senado, o senhor já reuniu o apoio em peso de igrejas evangélicas…
A maioria.
Pois é. O senhor mesmo é pastor licenciado da Igreja do Evangelho Quadrangular. Se chegar ao Senado, o senhor fará um mandato em defesa dos chamados “valores cristãos”?
Eu sou conservador, então nem preciso te responder essa matéria. Eu vou respeitar a todos, mas a minha crença eu vou defender enquanto eu respirar.
E como será isso na prática? Como é que um senador da República, no Senado Federal, defende os valores cristãos?
Ele defende fazendo aquilo que ele acha que é certo e fazendo leis de acordo com o entendimento dele.
O senhor pode dar um exemplo hipotético de como o senhor faria essa defesa dos valores cristãos no Senado?
Não sou favorável a aborto. Não estou nem aí para ganhar ou perder votos. Sou a favor que o cidadão de bem deva andar armado. Eu tenho e ando armado há quase 40 anos. Você já viu algum incidente meu?
Mas é preciso, me perdoe, fazer a ressalva de que o senhor é policial civil aposentado e por isso tem o direito ao porte de arma, pela profissão…
Isso. Mas também defendo esse direito para o cidadão de bem.
Um grande e notório aliado do senhor, aliás pastor da mesma igreja, o deputado federal Messias Donato, me disse, logo no início do atual mandato dele, em 2023, que faria um mandato na Câmara em defesa de Cariacica, de Deus e da Bíblia. O senhor também fará isso?
É lógico! A Bíblia é um livro universal. Quem queira viver bem, a Bíblia ensina tudo o que você precisa. Deus, na minha vida, é em primeiro lugar em tudo. Eu vou fazer a defesa dos 78 municípios. Amo esta terra, nasci aqui, cresci aqui. E tenho que fazer a defesa dos 78 municípios e ser justo com todos eles. São 78 filhos que um senador carrega.
O senhor mencionou a legislação sobre aborto…
Sou contra!
Pois é, o senhor declarou ser contra o aborto, mas queria entender melhor um ponto. A atual legislação brasileira sobre essa matéria proíbe a prática do aborto, ressalvadas três hipóteses. O aborto é considerado ilegal, logo configura um crime, salvo em caso de risco à vida da mãe, gravidez resultante de estupro ou feto anencéfalo. As duas primeiras exceções estão previstas no Código Penal (art. 128); a terceira, em jurisprudência do STF. O senhor entende que a legislação atual é satisfatória ou que precisa ser alterada, para que se proíba o aborto sob qualquer hipótese?
A lei tem que ser cumprida. Esses casos aí são casos específicos. A lei tem que ser cumprida. Independentemente de você ser senador ou deputado, você tem que ser legalista. No caso de risco à vida da mãe, eu acho até que é justo. Como é que você vai tirar uma vida para gerar uma vida? Como vou participar de um assassinato?
Era o que eu queria saber. Uma vez lá, o senhor vai defender que se mude essa legislação, para proibir o aborto em qualquer hipótese?
Negativo. Foi essa legislação que foi aprovada por quem já passou por lá e tem que ser respeitada. Há os casos específicos previstos em lei. No restante dos casos, não. Sou terminantemente contra.
Outro ponto muito sensível para setores mais conservadores, especificamente conservadores de algumas denominações evangélicas, são pautas relacionadas ao que eles costumam chamar de “ideologia de gênero”…
Sou totalmente contra.
Aqui mesmo no Espírito Santo, tivemos em julho a sanção de uma lei estadual, oriunda de projeto do deputado estadual evangélico Alcântaro Filho, que autoriza pais e responsáveis a vetar a participação dos respectivos filhos em “atividades relacionadas a gênero” nas escolas do Espírito Santo. A lei está sob contestação no TJES e até no STF, mas está em vigor… O senhor defende esse projeto?
Defendo. Sou totalmente a favor. Sala de aula não é pra ensinar isso, não. Sala de aula é pra preparar o aluno naquilo que está no programa de educação, na grade curricular. Aqui eu não permito que fuja.
Pois é, mas é aí que entramos num dos pontos nevrálgicos deste debate e numa das grandes controvérsias… Quando você vai ver o que está escrito nos currículos oficiais, determinados por legislação federal (a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o Plano Nacional de Educação, a matriz curricular do ensino médio, os documentos do MEC), isso consta. O ensino de questões relacionadas a gênero e diversidade está, na verdade, previsto. Então o professor não está fazendo nada mais que cumprir o seu dever, está justamente cumprindo o currículo obrigatório…
Não. Aí eu discordo de você, porque o professor municipal obedece à grade curricular feita pelo município. Ele tem que respeitar isso aí. Na minha grade curricular, isso não entra.
Prefeito, a abordagem desses temas não consta no currículo oficial e no programa pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Cariacica?
Na minha, não. E, se alguém colocou tentando me ludibriar, eu vou punir. A minha determinação é que não conste.
Ainda na referida lei estadual, quando você lê detidamente o texto, o que é que se define como “atividade de gênero”? Está lá: qualquer atividade que toque em temas como diversidade, identidade de gênero, igualdade de gênero. O senhor é contra que se aborde esses temas na escola?
Sou contra.
Outro ponto controverso relacionado a essa lei é o que diz respeito às competências das esferas legislativas e do poder público. A princípio, legislar sobre diretrizes e bases curriculares da educação nacional é uma competência privativa da União. Portanto, um deputado estadual não pode legislar sobre essa matéria. Um senador, sim.
Justo. E, se eu estiver lá, eu vou legislar sobre isso.
É a minha pergunta: como senador, o senhor pretende entrar em questões relacionadas a essa agenda de combate à dita “ideologia de gênero”?
Com certeza! Cem por cento. Não é papel de professor entrar nisso, não. Professor tem que preparar o aluno para ele conhecer as leis, ensinar a ele português, matemática, geografia, as matérias… Não ensinar o que ele deve ser. Se ele quer ser… o que ele quer ser… O pessoal dele é com o pai e a mãe.
No início desse impulsionamento da sua pré-candidatura a senador, temos visto o senhor receber uma série de apoios vindos de várias partes, mas principalmente de igrejas, particularmente de igrejas evangélicas, representantes das forças de segurança pública…
Todas elas.
Justo. E também alguns agentes políticos…
Tem um monte.
Isso é o que temos visto. Agora, o que não temos visto é apoio empresarial, o senhor se reunindo com representantes da classe empresarial. O senhor vai buscar esses apoios do setor produtivo?
Vou. Pergunta aos empresários da cidade quem tem alguma coisa contra Euclério Sampaio como gestor. Amigo, para conseguirmos atrair, nestes quatro anos e meio, uma grande quantidade de empresas para esta cidade, é porque eu trato bem o empresário. O empresário é quem gera emprego e renda e quem movimenta o caixa do Estado e do município. Pergunte a eles se estão satisfeitos.
E estão satisfeitos com a atual representação do Espírito Santo no Senado?
Não posso falar por eles. Posso falar por mim.
E o que acha?
Não estou satisfeito.
Uma queixa recorrente de membros do setor produtivo do Espírito Santo tem a ver justamente com a falta de mediação e interlocução, de algum representante no Senado que ouça a categoria e que atue como um defensor dos interesses do setor produtivo capixaba, e dos interesses econômicos maiores do Espírito Santo, nos debates mais estratégicos travados em Brasília. Nenhum dos nossos três atuais senadores possui esse perfil e atua nessa agenda mais econômica…
Quem faz o Estado funcionar não tem um carinho dos senadores. Aqui eu sou despachante de cada empresário que vem para a cidade. Eu sou despachante. Protocola o pedido, eu é que vou ver para andar, tudo dentro da legalidade, porque o município precisa, o Estado precisa.
Mas o senhor fará isso como senador? Atuará também como representante dos interesses econômicos do Espírito Santo e do setor produtivo do Estado?
Com certeza! Tem que ser. Eu tenho que olhar o lado do trabalhador e o do empresário, o lado daquele que precisa do emprego e o daquele que quer produzir e gerar emprego. Quando entrei aqui na prefeitura, no primeiro mês, a maioria das empresas estava apavorada comigo. Sou sócio dos meus irmãos num dos maiores escritórios trabalhistas do Estado. E nós só defendemos trabalhadores. E aí eles tinham pavor da gente. O patrão, não o empregado. Uma vez, o Léo da Findes [Léo de Castro, ex-presidente da Findes] estava aqui com um representante da Vale, e eu perguntei para eles: “Vocês acham que eu fazia um trabalho bom para os meus clientes?”. A menina da Vale respondeu: “Sim, muito bom”. Aí eu falei: “Aqui, eu vou fazer um trabalho ainda melhor para vocês, porque vocês é que vão trazer empregos para o meu povo e vão gerar receita para o município”.
E quanto à composição política? O senhor só será candidato ao Senado pela chapa de Renato Casagrande, ou se porventura o senhor “sobrar”, não couber na chapa oficial da situação, o senhor pode se candidatar de forma avulsa?
Quero sair com Renato e com Ricardo [Ferraço]. Mas, se por acaso eles precisarem da segunda vaga de senador para fazer uma composição, eu vou para outro partido. Mas não vou abrir mão de apoiar Renato e Ricardo.
O senhor já tem conversas com algum outro partido?
Tenho diversos convites, mas não quero nem levar para a frente, mesmo porque o MDB tem direito de ter uma vaga. Se a Rose [ex-senadora Rose de Freitas] criar problema, eu saio do partido. A pessoa tem que olhar o tempo de cada um. Quem está pleiteando a segunda vaga de senador? Me diga.
No grupo do governador, abertamente, além do senhor, tem a Rose e o Luiz Paulo Vellozo Lucas…
Eu não vou deixar de ser candidato para quem está pleiteando a vaga de governador querer descer para senador. Aí, amigo, perdeu a sua vez. Eu vou estar onde for necessário para disputar. E, independentemente de onde eu estiver, vou apoiar Renato para o Senado e Ricardo para o governo. Ponto final. Eu tenho gratidão. E todos os 78 prefeitos deveriam ter.
