Coluna Vitor Vogas
Senado: por que é bom, para Casagrande, ter um companheiro de direita
Para não dar sopa para o azar – nem caldinho de mocotó às 5h30 –, o governador parece disposto a cercar todas as saídas, ganhando de todos os lados. Leia aqui a nossa análise

Renato Casagrande pode ser candidato ao Senado em 2026
O governador Renato Casagrande (PSB) quer e tem boas chances de ser candidato a senador no ano que vem. Neste artigo, procurarei demonstrar por que, para ele, pode ser muito interessante ter um companheiro de chapa, isto é, um segundo candidato ao Senado, com perfil político-ideológico de direita.
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O primeiro voto de Casagrande será o primeiro voto de Casagrande. Quem quiser votar nele por convicção, por de fato acreditar que é o melhor candidato ao Senado, o terá como primeira opção; “gastará” seu primeiro voto no candidato do PSB. Mas e quem não tiver Casagrande como primeira opção de voto?
É claro que o governador também está de olho nesses eleitores. Hoje, a um ano da campanha, temos elementos para afirmar que Casagrande está nadando de braçada nessa disputa – inclusive com base em pesquisas eleitorais. Como governador, chega muito bem avaliado à reta final de seu terceiro mandato. Parece improvável, a esta altura, que, havendo duas vagas em aberto, ele não consiga chegar pelo menos em segundo lugar (na pior das hipóteses para ele).
Mas a eleição ainda está muito longe; seus bons índices de intenção de voto têm muito a ver com o recall de quem tem exposição massiva, a todo instante, pelo cargo ocupado; e, se tem uma disputa que tem se provado imponderável nos últimos pleitos, de 2018 para cá, é a disputa por cadeiras no Senado. Resumindo: não se pode dar bobeira nem praticar o pecado da soberba, sentando-se em cima de resultados de pesquisas tão remotas e acreditando em uma eleição já ganha com tamanha antecedência, mais de um ano antes da abertura das urnas. Não dá.
Cada voto conta e cada voto terá o mesmo peso (seja o primeiro ou o segundo voto de cada eleitor para o Senado). Também por isso, interessa a Casagrande captar uma boa quantidade de “segundos votos”.
Entre os eleitores de esquerda (especificamente, do PT), parece-me muito “natural” que o primeiro voto vá para o senador Fabiano Contarato e que Casagrande herde, por gravidade, o segundo voto dessa parcela do eleitorado – até por eliminação. Por incrível que pareça, no imenso rol de pré-candidatos ao Senado postos hoje no Espírito Santo, Casagrande, na sua centro-esquerda, é aquele que mais se aproxima ideologicamente de Contarato. Os demais estão todos situados do centro para a direita.
O governador, nesse caso, poderá se dar ao luxo de herdar esses votos da esquerda sem precisar acomodar o PT na coligação majoritária do Palácio Anchieta, que está sendo montada por ele e que terá outro aliado dele como candidato a governador – Arnaldinho Borgo ou Ricardo Ferraço, tendo o último, hoje, mais chances.
Ao mesmo tempo, se Casagrande encaixar em sua chapa alguém com o perfil de Euclério Sampaio (MDB), como o segundo candidato a senador, ele se torna capaz de herdar, também, o segundo voto de eleitores de direita – no caso, os eleitores de Euclério.
Nas convicções pessoais, nas crenças religiosas professadas, na ideologia verdadeiramente abraçada, não consigo ver hoje, na Grande Vitória, um líder político que possa ser mais corretamente apontado como um “conservador de direita” do que o prefeito de Cariacica. Em algumas matérias, ele beira o reacionarismo. Como prefeito isso se dilui um pouco, mas Euclério é, na essência, um ultraconservador de direita.
A Renato Casagrande, convém ter ao seu lado um segundo candidato ao Senado exatamente com esse perfil, dividindo com ele a mesma chapa. Por que não? Do ponto de vista ideológico, os dois são bastante diferentes. Casagrande está na centro-esquerda. Mas Euclério é, antes de tudo, um aliado do governador que já deu reiteradas provas de sua lealdade incondicional.
Jogando como candidato à segunda vaga no Senado, Euclério ajuda Casagrande a minar as possíveis candidaturas de outros aspirantes ao Senado que, como o prefeito de Cariacica, pertencem à direita conservadora, mas que, ao contrário do prefeito, são adversários do governador.
Exemplo gritante é a publicitária Maguinha Malta (PL). Euclério, por seu perfil, pode tirar da filha do senador Magno Malta (PL) alguns votos de eleitores de direita (mas não de extrema-direita); eleitores bolsonaristas, mas não radicalizados a ponto de só votarem num candidato ou candidata do PL.
Emblemática nesse sentido foi a declaração de Euclério à coluna na segunda-feira(25) logo após se lançar (ou ser lançado por líderes de igrejas evangélicas): “Eles [pastores] sabem que minha postura é a mesma há 25 anos. Eu faço o que prego. Tem gente que prega ‘Deus, pátria, família’ e não pratica isso…”. A indireta tem endereço certo.
Considerando que haverá duas vagas no Senado em disputa e que cada eleitor terá direito a dois votos para o cargo, Euclério pode ajudar Casagrande a receber o segundo voto dos eleitores dele, se ambos forem parceiros de chapa.
Na campanha, o próprio prefeito poderá pedir seu segundo voto para Casagrande, e vice-versa. Por divisão de palanque, eventos casados, afinidade política etc., alguns eleitores de Euclério, sabendo-o aliado de Casagrande, poderão confiar a este o seu segundo voto ao Senado – mesmo que Casagrande, de direita, tenha muito pouco.
Diga-se de passagem, estou aqui a enfatizar Euclério pela maneira ostensiva como ele acaba de lançar sua pré-candidatura ao Senado, mas semelhante papel também pode vir a ser cumprido por outro aliado de Casagrande à direita dele, que venha a completar a sua chapa como segundo candidato ao Senado. Não se pode descartar, por exemplo, o deputado Josias da Vitória (PP), no lugar de Euclério.
Jogando dessa maneira, o governador amplia as próprias possibilidades de obter o segundo voto dos dois lados do espectro ideológico: o dos eleitores de esquerda, resignados, por falta de opção; e o de parcela dos eleitores de direita, que, atraídos por seu companheiro de chapa direitista, poderão lhe confiar o segundo voto. Isso, é claro, além da boa quantidade de “primeiros votos” que Casagrande poderá receber.
Para não dar sopa para o azar – nem caldinho de mocotó às 5h30 –, o governador parece disposto a cercar todas as saídas, ganhando de todos os lados.
