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Coluna Vitor Vogas

E se Pazolini for candidato ao Senado? E se o governo compuser com ele?

Possível mudança na conjuntura nacional pode forças mudanças de planos no Espírito Santo. Emissários de Ricardo e Casagrande já abriram diálogo com emissários do prefeito de Vitória sobre a possibilidade de juntar os dois lados numa só coligação majoritária. Aqui explicamos tudo

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À esquerda, Casagrande com Ricardo Ferraço; à direita, Pazolini com Erick Musso

À esquerda, Casagrande com Ricardo Ferraço; à direita, Pazolini com Erick Musso

Esta análise traz alguns “e se?”. Trata de uma hipótese que hoje pode soar muito distante, até inverossímil para alguns, mas que talvez não seja absurda se colocada na devida moldura. Falo da possibilidade de o governador Renato Casagrande (PSB) e o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) comporem um acordo eleitoral com o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), por intermédio do procurador político deste, o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso.

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Para escrever este material, conversei com agentes políticos ligados aos dois lados, sob condição de anonimato. A informação convergente é a de que, sim, os dois lados estão se falando, por intermédio de emissários, sobre a hipótese de uma composição futura, com todos na mesma coligação majoritária. Só estão exercitando cenários, mas, ainda que de forma embrionária, existe um diálogo aberto entre o time Ricardo/Casagrande e o time Pazolini/Erick. O próprio Ricardo conversa bem com o “outro lado”. Mantém bom diálogo com Erick.

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Se o que hoje parece impossível vier a se concretizar, a chapa ficaria com Ricardo na cabeça, como candidato a governador. Casagrande seria um dos dois candidatos a senador. A grande mudança vem agora: em vez de concorrer ao Palácio Anchieta, Pazolini seria o segundo candidato a senador dessa mesma chapa (sem campanha casada com Casagrande; cada um cuidaria da sua). De quebra, e esta parte é mais difícil, Erick Musso poderia ser o candidato a vice-governador de Ricardo.

Repito: por mais que hoje soe improvável, emissários de Ricardo e Pazolini já conversaram especificamente sobre esse eventual desenho de chapa.

No momento, as duas duplas estão em lados opostos do tabuleiro. Ricardo se consolidou como o candidato preferido do governo Casagrande para representá-lo na eleição para o Palácio Anchieta em 2026. O próprio Casagrande pretende ser candidato, na mesma chapa, a uma das duas cadeiras de senador que estarão em disputa no Espírito Santo. Pazolini, por sua vez, é o principal pré-candidato a governador fora do grupo político liderado por Casagrande; Erick é pré-candidato a deputado federal e busca articular apoios para Pazolini.

Esse é o quadro de momento. É como a mesa está posta hoje, 26 de agosto de 2025.

Entretanto, uma articulação nacional, sobre a qual nenhum desses agentes locais tem controle, pode vir a transformar radicalmente esse quadro. Refiro-me à possível concretização de uma federação que já defini aqui como aquela que tem o maior poder de “bagunçar” o tabuleiro político-eleitoral capixaba: a federação entre o MDB de Ricardo Ferraço e o Republicanos de Pazolini.

Simplificadamente, a federação partidária funciona, durante quatro anos, como se fosse um único partido. Se firmada pelas direções nacionais e homologada pelo TSE até abril, a federação entre o MDB e o Republicanos será forçosamente reproduzida em todos os estados e no Distrito Federal. No Espírito Santo, nas eleições do ano que vem, essa federação teria a mesma chapa de candidatos a deputado estadual, a mesma chapa de candidatos a deputado federal, só poderia lançar um candidato a governador e dois candidatos a senador. Enfim, como um partido só.

E quem seria o candidato a governador? Aí, vai depender da resposta para outra pergunta: com quem ficará a presidência dessa federação no Espírito Santo?

O controle estadual dessa eventual federação já está sendo disputado por Ricardo e Casagrande, de um lado, e Erick Musso do outro. Se ela de fato virar realidade, a definição do seu controle no Estado pode começar a definir – ou até mesmo definir, com boa dose de antecipação – o desfecho da eleição para governador do Espírito Santo. Isso lembrando que Pazolini e Ricardo, no momento, são, respectivamente, o primeiro e o segundo colocado nas intenções de voto, em levantamentos da Paraná Pesquisas sobre a eleição para o Palácio Anchieta.

Entre maio e junho, as conversas entre o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, e o do Republicanos, Marcos Pereira – ambos deputados federais por São Paulo –, ficaram bastante aquecidas. De julho para cá, com o recesso parlamentar e a pauta política nacional tomada pelo tarifaço de Trump, a chantagem dos Bolsonaro em prejuízo da nação e as investigações sobre o ex-presidente, as tratativas esfriaram bastante. Hoje, isso está em banho-maria… Porém, depois dos festejos pelo aniversário do Republicanos, na segunda-feira (25), é possível que a negociação acerca de uma federação seja retomada pelos respectivos líderes nacionais.

Enquanto isso, os dois lados têm feito gestões nos bastidores. Logo que as notícias sobre uma possível federação começaram a sair na imprensa nacional, em meados de maio, Erick esteve com Pazolini em São Paulo, conversando com Marcos Pereira.

Àquela altura, Erick era o secretário de Governo de Pazolini, na Prefeitura de Vitória. Sua saída, no fim de junho, teve a ver com isso: deu-se em atendimento a um dos pedidos de Marcos Pereira. Para o dirigente nacional, como presidente estadual do Republicanos, Erick precisava concentrar-se nas articulações eleitorais em nome do partido, isto é, na preparação da candidatura de Pazolini e naquilo que mais interessa à cúpula nacional de quase toda agremiação: a montagem de uma chapa forte para a Câmara dos Deputados.

Para tentar ficar com a presidência estadual, em caso de federação com o MDB, Erick conta com as gestões de um aliado muito forte: seu mentor, Roberto Carneiro. Presidente do Republicanos em São Paulo, Roberto priva da confiança e dos ouvidos de Marcos Pereira.

Enquanto isso, a dupla Casagrande & Ricardo não ficou parada. Longe disso. Os dois têm se falado frequentemente com Baleia Rossi, o presidente nacional do MDB, com o objetivo de assegurar que a presidência estadual, em caso de federação com o Republicanos, fique nas mãos do grupo político representado por eles. Ciente da importância que terá essa definição, o Palácio Anchieta tem investido muita energia política – inclusive junto a Marcos Pereira – para garantir a ascendência local sobre essa possível federação.

Nesse cenário favorável a Ricardo e Casagrande, a presidência estadual da federação poderia ficar com o próprio Ricardo, que já preside o MDB, isoladamente, no Espírito Santo. Outra opção aventada é a passagem da presidência estadual da federação para o deputado federal Messias Donato, hoje no Republicanos, mas aliado muito leal ao prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), portanto comprometido com o movimento eleitoral do governo Casagrande. Messias poderia inclusive migrar para o MDB.

Na avaliação de uma fonte do círculo político de Pazolini, se não fosse por Roberto Carneiro e sua influência junto a Marcos Pereira, já poderíamos até dar por certo que, em caso de federação, esta ficará sob o comando do grupo no poder no Espírito Santo. Recorrendo à metáfora do jogo de xadrez, se a federação se consumar e for parar nas mãos de Ricardo e Casagrande, será dado praticamente um xeque-mate no grupo de Pazolini e em suas aspirações de se candidatar a governador. Pelo Republicanos, ficará impossível.

Se for assim, restarão duas opções ao prefeito de Vitória.

A primeira delas é, enquanto ainda houver tempo – até abril de 2026 –, pular com Erick Musso e outros companheiros para outra sigla, de modo a salvar sua candidatura ao Palácio Anchieta. Hoje, a única opção viável que se apresenta como esse “porto de salvação” é o Partido Social Democrático (PSD). Mas não seria uma operação tão simples.

Não é tão fácil começar a construir, do nada, uma candidatura a governador em um novo partido, com o período de campanha já muito perto, sem ter acordos preestabelecidos com a direção nacional da legenda e sem garantia de financiamento suficiente para a campanha com recursos do Fundo Eleitoral (repassados pela direção nacional, que, no caso do PSD, atende por Gilberto Kassab). Pazolini, no PSD, não teria a mesma segurança que encontra hoje no Republicanos.

Qual é a segunda opção? Aí voltamos ao início deste texto. Reconhecendo o xeque-mate e a impossibilidade de ser candidato a governador sem ter a federação nas mãos, Pazolini, sempre representado por Erick em tais articulações, poderia negociar com o “outro lado” uma saída amistosa e consensual, “boa para todas as partes”. Nessa hipótese, em vez de esticar a corda, o time de Pazolini e Erick poderia até aceitar que a presidência estadual fique com o MDB. Mas com condições.

Condições e compensações.

A primeira delas: Pazolini candidato ao Senado na segunda vaga da mesma coligação. A outra vaga, intocável, seguiria reservada para Casagrande.

A segunda: Erick Musso candidato a vice-governador de Ricardo. As conversas especulativas entre emissários dos dois lados têm passado também por este ponto, mas Erick na vice de Ricardo pode ser um pouco mais difícil… Primeiro porque o Republicanos já estaria contemplado na chapa com a candidatura de Pazolini ao Senado; segundo porque, a rigor, seriam três nomes da mesma federação MDB-Republicanos. E os aliados de outras siglas? Onde seriam encaixados?

Pazolini quer ser candidato a senador?

Pazolini não fala sobre o processo eleitoral. Mas todos os seus movimentos, de alguns posts a mensagens em camisetas, do logotipo à andança frenética pelo interior do Estado, não dão lugar a dúvida quanto à sua determinação em ser candidato a governador. Quando perguntamos a Erick Musso, ele diz que o plano é mesmo o Governo do Estado.

Pessoas que convivem com Pazolini dizem que o sentem bem motivado, determinado mesmo a ser candidato a governador. Combustível para tal motivação é o fato de ele ter liderado todas as quatro sondagens feitas até agora, desde dezembro passado, pela Paraná Pesquisas, sobre a corrida ao Palácio Anchieta.

Por outro lado, mais de uma fonte que conhece bem Pazolini e convive com o prefeito de Vitória já me disse tê-lo ouvido externalizar o desejo de um dia chegar ao Senado.

Ele tomou gosto pela atividade de chefe do Poder Executivo. Segundo depoimentos dessas fontes, sente-se pessoalmente realizado com as entregas realizadas pela Prefeitura de Vitória. “Ele virou a chave e entendeu que, com a caneta, consegue fazer muito mais que um parlamentar”, relata um aliado do prefeito.

Por outro lado, em sua breve passagem pelo Parlamento – foi deputado estadual por dois anos, na Assembleia Legislativa –, Pazolini mostrava gosto pela atividade parlamentar, pelo uso da tribuna, pelas discussões em plenário. Gostava do Legislativo. Parecia ter vocação para isso.

Além disso, pessoas próximas de Pazolini testemunham que, pessoalmente, o ponto que mais o incomoda na atividade de prefeito é a superexposição, a perda da privacidade, da liberdade em sua vida pessoal. Se isso é verdade para um prefeito, imaginem para um governador… Um senador ficaria menos exposto.

É importante registrar que, em todos os levantamentos da Paraná Pesquisas, sintomaticamente, o nome de Pazolini sempre foi testado não só para governador como também para senador – apesar de ele mesmo e seu partido jamais terem admitido essa alternativa. Na última pesquisa, divulgada na semana passada, ele também se mostrou competitivo na corrida para o Senado.

Na primeira posição, disparado, aparece Casagrande, com 52,5%. Pazolini vem em terceiro lugar, com 25,5%, tecnicamente empatado com Paulo Hartung (PSD), que tem 26,6%, e com Sérgio Meneguelli (PSD), que tem 20,5%.

Num segundo cenário, sem Hartung, Pazolini cresce: fica em segundo lugar, com 31,3%, só atrás de Casagrande, com 56,2%.

Ricardo e Pazolini: sem agressões mútuas

Importante registrar, ainda, que Ricardo Ferraço e Pazolini mantêm relação bem respeitosa. Nunca se viu nem ouviu nenhum ataque ou crítica de um contra o outro, nem mesmo indiretamente. Por enquanto, estão exercitando um pacto (tácito ou não) de convivência pacífica. A ranhura de Pazolini com Casagrande não se estendeu para o vice-governador.

E se se der o contrário, o que fará Ricardo?

Esta análise está priorizando o cenário em que a federação MDB-Republicanos se confirme e fique com o time Ricardo no Espírito Santo. Mas e se se der o contrário? Se a direção estadual ficar nas mãos do Republicanos e candidatura de Ricardo “sobrar”? O que ele pode fazer?

Nessa hipótese, para preservar sua candidatura a governador, é Ricardo quem terá de trocar de sigla. As duas mais plausíveis são o Podemos e o PSDB. Neste último, ele passou boa parte do seu mandato de senador.

Senado para ele não é uma opção agora.

O fator São Paulo

Fonte ligada ao vice-governador afirma que Baleia Rossi tem sido muito firme em dizer que a candidatura de Ricardo a governador está mantida, com ou sem federação. Com a federação, isso significa dar o comando local para Ricardo.

O staff do vice-governador acredita que, a bem da verdade, a cúpula nacional do Republicanos não tem interesse em lançar candidatura a governador no Espírito Santo. Isso porque o governador de São Paulo, Tarcísio da Freitas, dá a cada dia sinais mais claros de que irá mesmo para a reeleição, em vez de postular a Presidência. Se assim for, o Republicanos tende a colocar todas as fichas na campanha de Tarcísio em São Paulo. Com ou sem federação, o MDB em São Paulo apoiará Tarcísio para o Palácio dos Bandeirantes.

Nesse caso, pela dimensão e pela importância de São Paulo, as contrapartidas repercutem em vários outros estados, bem menores, como o Espírito Santo. “Se houver mesmo essa federação, os dirigentes nacionais do Republicanos vão preferir ter uma boa chapa de deputados federais no Espírito Santo. E sabem que, para ter uma chapa forte, o comando local da federação precisa estar com o governo Casagrande”, avalia um auxiliar do vice-governador.