Coluna Vitor Vogas
Guerino Zanon: uma nova peça chave no jogo eleitoral de Pazolini
Por que o ex-prefeito de Linhares passou a ser fortemente cotado como candidato a vice-governador e por que esse encaixe pode ser perfeito para o prefeito de Vitória?

Guerino Zanon e Lorenzo Pazolini
Sumido da política capixaba desde que perdeu a eleição para governador em 2022, o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon voltou a ter o nome destacado em discussões políticas e pode retornar à cena eleitoral do Espírito Santo no ano que vem, em uma importante posição. Prefeito por cinco mandatos da maior cidade capixaba acima do Rio Doce, entre 1997 e 2022, Guerino passou a ser muito seriamente cotado, por aliados de Lorenzo Pazolini (Republicanos), como possível candidato a vice-governador na chapa a ser encabeçada pelo prefeito de Vitória ao Governo do Estado em 2026. Seria a chapa Zanolini.
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Na origem das articulações que levam Guerino a ser tratado como possível companheiro de chapa de Pazolini, estão o ex-governador Paulo Hartung (PSD), o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso. e o deputado federal Evair de Melo (PP). Hartung tem despontado como um grande incentivador da pré-candidatura de Pazolini ao Palácio Anchieta; Erick é o principal articulador do referido projeto eleitoral; Evair, assim como Erick, tem acompanhado o prefeito de Vitória em múltiplas visitas por cidades do interior do Estado.
Guerino Zanon não tem contato nem vínculo direto com Pazolini. Mas cultiva excelente relação com esses três elos da corrente. De Hartung, é um aliado histórico. Com Evair, se dá muito bem desde os tempos em que o atual deputado federal dirigia o Incaper. Quanto a Erick, para se ter uma ideia, Guerino chegou a gravar vídeo de apoio para ele em 2016, quando o então deputado estadual foi candidato a prefeito de Aracruz (mas não ganhou).
Há cerca de duas semanas, Paulo Hartung esteve em Linhares e reuniu-se com os filhos de Guerino. No dia seguinte, esteve com Erick Musso. Contou a Erick que Guerino está muito disposto a voltar à vida pública. No dia 12 de setembro, Erick tomou um café com Evair de Melo. Os dois concordaram que precisam ter uma boa conversa com Guerino e inserir o ex-prefeito de Linhares no projeto eleitoral de Pazolini.
Foi a partir desse encontro que Guerino passou a ser cotado como potencial candidato a vice-governador. No mesmo dia, o próprio Evair mandou a este colunista uma mensagem chamando a atenção para isso.
Como reza um velho ditado no meio político, candidato a vice se escolhe até na porta do cartório eleitoral. Não raro, é a última decisão tomada no processo de construção da chapa, pois depende de uma série de fatores imponderáveis. Tirando a parte do “cartório” (pois tudo hoje é feito remotamente), o dito segue atual e verdadeiro. Que o diga o próprio Guerino: Em 2022, seu próprio candidato a vice-governador, o empresário do café Marcus Magalhães (PSD), foi escolhido e registrado, literalmente, na última hora do prazo, após tratativas frustradas para emplacar outros nomes.
Feita essa ressalva, é preciso observar que um nome como o de Guerino, em primeira análise, faz absoluto sentido para completar a chapa de Pazolini, se levarmos em conta a lógica que costuma presidir à escolha de candidatos a vice: a da complementaridade.
Manda o manual da estratégia política que o vice tenha um perfil, ao mesmo tempo, coerente com o do titular, do ponto de vista político-ideológico, mas diferente com relação a outros atributos (características pessoais, gênero, idade, origem, reduto eleitoral etc.), a fim de suprir pontos fracos do titular e aportar para ele alguns votos que, inicialmente, não teria.
Esse é justamente o papel que Guerino pode cumprir para Pazolini. Quanto à coerência ideológica, o ex-prefeito de Linhares, recorrendo a uma simplificação, pode ser considerado um “conservador”, tanto quanto o atual prefeito de Vitória. Mas as semelhanças param aí.
Obedecendo à lógica da complementaridade, Guerino pode ser, para Pazolini, um complemento em vários aspectos. O primeiro deles, que grita, é a idade. O prefeito de Vitória tem 43 anos; Guerino tem 69, dando à chapa um equilíbrio etário.
O segundo, que grita ainda mais alto, tem a ver com a experiência na vida pública. Pazolini será candidato a governador com menos de oito anos de mandatos acumulados (sendo dois na Assembleia Legislativa e pouco mais de cinco na Prefeitura de Vitória). A título de comparação, Paulo Hartung tinha 20 anos de vida pública quando se tornou governador do Espírito Santo, em 2022. Casagrande acumulava os mesmos 20 anos quando chegou ao Palácio Anchieta, em 2010.
Não que a experiência seja necessariamente um fator determinante na escolha do eleitor, mas é preciso lembrar que o provável adversário maior de Pazolini nas urnas será Ricardo Ferraço (MDB). Só de vida pública, o atual vice-governador tem praticamente a idade do prefeito de Vitória. A quem eventualmente questionar Pazolini, na campanha, pela pouca experiência, ele poderá exibir seu vice: “Olha só, tenho cá comigo o Guerino, que governou por quase 20 anos a segunda maior cidade do interior do Espírito Santo e a que mais cresceu nesse período…”
Interior: ponto fraco de Pazolini
Agora, no “perfil complementar” de Guerino, o principal não é nem a idade nem a experiência. É o reduto.
É notório que o recall de Pazolini é muito maior na Região Metropolitana do que no interior, justamente onde Ricardo nada de braçada – e onde estão, val lembrar, metade dos votos em disputa no Espírito Santo. É um ponto fraco da campanha do prefeito de Vitória, e é preciso compensá-lo o quanto antes. Como?
Uma primeira medida evidente é se fazer mais presente, circular mais pelo interior. Não por outro motivo, desde o início do ano, Pazolini tem se engajado em uma maratona de visitas a cidades de norte a sul do Estado – sempre ladeado por Erick Musso e, quase sempre, também por Evair.
Não foi por amor ao tomate que eles foram à Festa do Tomate em Venda Nova do Imigrante, em janeiro; nem por paixão por moqueca que prestigiaram o festival da iguaria em Guarapari, em maio, para citar dois de dezenas de exemplos. Está em curso uma estratégia de “interiorização” de Pazolini.
Outra maneira é agregar o maior número de aliados fortes com reduto em cidades interioranas. Aqui o próprio Evair tem cumprido um papel estratégico, já que, notoriamente, tem muito boa inserção junto a produtores agropecuários, desde os tempos de Incaper. Tem feito para Pazolini essa ponte com o agro e aberto para ele os “caminhos do campo”.
Agora, pergunto: que outro aliado estratégico pode ser melhor do que alguém que governou, com sucesso e boas avaliações, a segunda maior cidade do interior do Espírito Santo (com 183,7 habitantes), a maior das regiões Norte e Noroeste e aquela, sem sombra de dúvida, que experimentou o maior crescimento econômico e industrial ao longo das últimas três décadas? Guerino pode dar a Pazolini essa entrada que falta à sua pré-campanha no interior.
Juventude e cabelos brancos. Renovação e experiência. Capital e interior.
Tá quase tudo dominado
Se pensarmos no mapa político-eleitoral do Espírito Santo como um jogo de tabuleiro tipo War, a missão de Pazolini nasce complicadíssima fora da Grande Vitória, porque “tá tudo (ou quase tudo) dominado” pelas forças governistas, leais a Renato Casagrande (PSB) e comprometidas com a pré-candidatura de Ricardo Ferraço.
Para não descermos até as menores cidades, basta nos atermos àquelas com mais de 100 mil habitantes. No sul, Pazolini esbarrará em um território quase impenetrável para ele. A cidade polo, Cachoeiro, além de terra natal de Ricardo, é governada por ninguém menos que o pai do vice-governador, Theodorico Ferraço (PP).
Dá para erguer as armas e procurar alguma luta no norte. Acima do Rio Doce, temos Linhares, São Mateus e Colatina. Esta última ainda pode representar um respiro para Pazolini, já que é governada por um aliado, o prefeito Renzo Vasconcelos, presidente estadual do PSD.
São Mateus é governada por um aliado do Palácio Anchieta, o prefeito Marcus da Cozivip, filiado ao Podemos. O partido é presidido no Espírito Santo pelo deputado federal Gilson Daniel. Gilson já jurou fidelidade a Ricardo. O mesmo fizeram todos os prefeitos do Podemos, incluindo o de São Mateus.
E quanto a Linhares? Até na cidade de Guerino a campanha de Pazolini já nasce com dificuldades, pois o atual prefeito, Lucas Scaramussa, é outro aliado do Palácio Anchieta e de Ricardo. Também é filiado ao Podemos e está na mesma situação de Marcus da Cozivip.
Isso sem contar que os prefeitos de cidades com seus cerca de 50 mil habitantes, como Nova Venécia e Barra de São Francisco, também são aliados de Ricardo. O da segunda, Enivaldo dos Anjos (PSB), é muito influente na região e já se comprometeu a coordenar politicamente a campanha de Ricardo por aquelas bandas, cumprindo no norte o que Theodorico deverá cumprir no sul.
Com a influência que ainda tem, Guerino talvez possa compensar um pouco tamanho desequilíbrio regional, minimizando as perdas em Linhares e adjacências. Talvez a sua influência já não seja tão grande como era há poucos anos… Mas na certa ainda é considerável.
Reveses seguidos
Guerino vem de dois reveses seguidos nas urnas, um sofrido diretamente e outro de modo indireto. Em 2022, após renunciar ao quinto mandato de prefeito para concorrer a governador, ele foi mal votado pelos capixabas. Teve 7% dos votos válidos (146.177 no total), em uma campanha marcada por carência de aliados e total isolamento partidário. Hartung o incentivou a disputar, mas não entrou na campanha. No 2º turno, Guerino apoiou Manato (PL), que perdeu para Casagrande.
Aí, sem mandato, Guerino apoiou, em 2024, a reeleição de seu discípulo e antigo aliado, Bruno Marianelli. Este foi eleito seu vice-prefeito em 2020 e assumiu a prefeitura em seu lugar, com sua renúncia para disputar o governo, em abril de 2022. Foi um teste de capacidade de transferência de votos para Guerino.
Mesmo no cargo de prefeito e apoiado por Guerino, Marianelli perdeu a reeleição para Lucas Scaramussa.
Importante frisar que Marianelli se elegeu vice-prefeito em 2020 e disputou a reeleição em 2024 pelo partido de Pazolini e Erick Musso, o Republicanos. Se o candidato de Guerino tivesse vencido o último pleito em Linhares, nossa conversa aqui seria outra: com um aliado e correligionário à frente da Prefeitura de Linhares, o desafio de Pazolini de colher votos em Linhares e arredores por certo seria bem mais fácil.
Mas Guerino está longe de estar morto. Para muitos, segue sendo o “eterno prefeito” de Linhares, uma espécie de “coronel” da região, como o é Theodorico no sul, Enivaldo no noroeste, e como ainda é muito comum encontrarmos pelo interior deste país. O prestígio de alguém que ficou por quase 20 anos no cargo, com mandatos bem avaliados, não morre da noite para o dia.
Fator partidário: a aliança com o PSD e uma “frente de direita”
Há, por fim, o fator partidário. Guerino segue filiado ao Partido Social Democrático (PSD), o mesmo ao qual Paulo Hartung filiou-se em maio. Trata-se de um partido chave na política de alianças estratégicas traçada por Erick Musso para a campanha de Pazolini.
A meta é constituir uma grande frente de direita no Espírito Santo, partindo do Republicanos e do PSD. A presença de Guerino como vice de Pazolini sedimentaria essa aliança. Eles querem atrair para essa frente, também, a Federação União Progressista (formada pelo União Brasil com o PP) e o Partido Liberal (PL), presidido no Espírito Santo pelo senador Magno Malta.
Guerino, por sinal, também mantém excelente relação política com Magno. E o próprio Pazolini, por intermédio de Erick, tem se reaproximado do senador e outrora aliado. Mas isto é assunto para uma próxima análise.
