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Coluna Vitor Vogas

Luiz Paulo se anima a entrar na disputa por vaga no Senado

Confira aqui as declarações do ex-prefeito de Vitória sobre a fusão do PSDB com o Podemos e suas consequências para o país e o Espírito Santo

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Luiz Paulo discursa em sua convenção. Foto: Chrystian Henrique/Candela

Luiz Paulo discursa em sua convenção (20/07/2024). Foto: Chrystian Henrique/Candela

O ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) admite: está animado e disposto a buscar viabilizar candidatura a senador pelo Espírito Santo em 2026. Mas avisa: “Não posso começar pelo final. Tenho de começar pelo início”. Comecemos, pois, pelo começo.

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O início de que fala Luiz Paulo é a iminente fusão do seu partido, o PSDB, com o Podemos, em busca de sobrevivência política. Na última terça-feira (29), após meses de negociação, os dirigentes nacionais do PSDB, reunidos em Brasília, aprovaram por unanimidade a concretização da fusão das duas siglas, a qual ainda depende de outros trâmites. Como membro da Executiva Nacional do tucanato, Luiz Paulo participou da decisão e votou a favor da proposta, apoiada por ele de maneira entusiasmada. A reunião foi definida por ele como “histórica”. Já a fusão, na opinião do ex-prefeito, representa “o renascimento do PSDB”:

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“Apoio entusiasmado a ideia desse renascimento do PSDB junto com o Podemos e, eventualmente, depois, com outros partidos do centro democrático. De certo modo, o PSDB hoje renasce.”

Luiz Paulo não nega o óbvio: o PSDB encolheu muito nos últimos anos e, por isso, a fusão com o Podemos responde a uma necessidade prática. Ele também reconhece que os tucanos cometeram alguns erros estratégicos nos últimos anos e que tais erros explicam, em parte, a perda de tamanho. “O partido se reduziu muito. Cometeu alguns erros de estratégia, principalmente em São Paulo.”

O ex-prefeito de Vitória cita o episódio da disputa das prévias na última eleição presidencial, entre João Doria e Eduardo Leite, então governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Doria venceu as prévias, mas nenhum dos dois, no fim, foi candidato à Presidência da República. O ex-prefeito de Vitória também foi contra o lançamento de José Luiz Datena pelo PSDB à Prefeitura de São Paulo nas últimas eleições municipais. Preferia que o partido tivesse apoiado Tabata Amaral (PSB). “Era a melhor opção para o povo de São Paulo.”

Mas o principal motivo da atrofia do PSDB, na avaliação de Luiz Paulo, é o fato de não ter se rendido à polarização entre o lulismo e o bolsonarismo, vigente desde 2018 na política nacional. Na conversa com a coluna, o tucano repetiu uma análise crítica que fez na pré-campanha a prefeito de Vitória em 2024, quando se preparava para concorrer de novo ao cargo exercido por ele de 1997 a 2004: a de que, nos últimos anos, forças do centro liberal e democrático cederam aos apelos do bolsonarismo, enquanto outros representantes do mesmo campo, por motivos diferentes, curvaram-se ao lulopetismo.

“O PSDB é o único partido que não participou dos governos do PT nem do governo do Bolsonaro. E pagou um preço por essa coerência histórica. O partido teve uma sequência de dificuldades de se manter longe da polarização. A maioria das pessoas optou por um lado ou por outro. As pessoas que davam prioridade à agenda econômica fecharam os olhos para o golpismo, para a aliança com a extrema direita internacional, com uma pauta claramente antidemocrática e iliberal, por conta de uma suposta ‘agenda pró-mercado’. Deve estar dando uma certa vergonha agora neles, com o Trump. E outros que apoiam a defesa da democracia se renderam ao PT, que faz um governo Lula 3 completamente descompromissado com a agenda nacional e não tem o menor interesse em lidar com os verdadeiros interesses do país. É uma agenda eleitoral superficial, baseada no populismo e no personalismo”, avalia Luiz Paulo.

Segundo ele, ideologicamente, o partido resultante da fusão será um partido de centro democrático. Politicamente, o objetivo é justamente oferecer aos brasileiros, nas próximas eleições, uma alternativa à extrema direita e à esquerda encarnada pelo PT: “O eixo principal desse movimento de fusão é oferecer ao país uma opção longe dos populismos e dos extremos: PT e PL, Lula e Bolsonaro”.

Já no âmbito estadual, o filho de Mariazinha Vellozo Lucas sustenta que, a partir do casamento com o Podemos, o partido oriundo da fusão não só pode como deve procurar exercer protagonismo na política capixaba, começando pela próxima disputa eleitoral.

“Estou muito animado com essa perspectiva. Acho que temos de ter protagonismo no processo eleitoral. Temos de nos posicionar. Temos de lançar candidaturas. Tenho ótima relação com os prefeitos do Podemos aqui, como o Lucas Scaramussa, de Linhares, e o Marcus da Cozevip, de São Mateus. Fiquei sentido com a saída de Arnaldinho [desfiliado do Podemos em março]. Estou disposto a ajudar nessa construção”, adianta Luiz Paulo, que preside o PSDB na capital do Espírito Santo.

É nesse contexto que o tucano histórico se diz realmente disposto a apresentar seu nome para as próximas eleições estaduais. “Sou candidato a construir o projeto 2026 e jogar na posição em que sou mais útil ao nosso projeto. Estou disposto a jogar onde o partido me escalar. Não vou construir candidatura com base em projeto pessoal.”

Ele confirma que uma dessas posições pode ser a de candidato a senador pelo partido a surgir da fusão (provisoriamente chamado de “PSDB+Podemos”) e que tem mesmo disposição para entrar nessa disputa, já repleta, hoje, de pré-candidatos.

O ponto é exatamente esse. Apesar da prodigalidade de potenciais candidatos no Espírito Santo para preencher as duas vagas de senador que estarão em aberto, Luiz Paulo só se sente representado por um deles.

Como aliado do governador Renato Casagrande (PSB), o ex-prefeito apoia a pré-candidatura do próprio para senador e, complementarmente, a do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) para o Governo do Estado. Quanto à segunda vaga para o Senado, ele a vê inteiramente em aberto. Não enxerga o seu campo e as suas crenças representados por nenhum dos outros nomes hoje apontados como possíveis candidatos a senador, incluindo os dois cujos mandatos chegarão ao fim: Fabiano Contarato (PT) e Marcos do Val (ainda no Podemos, aliás).

“A preço de hoje, eu, como eleitor, não teria como votar na segunda vaga de senador. Eu votaria em Ricardo Ferraço para governador e em Renato Casagrande para senador. Hoje, eu anularia meu segundo voto para senador, porque não vejo ninguém que represente as coisas que eu penso para merecer meu entusiasmo. Quanto aos dois que terminam o mandato, tem um que é do PT, está no projeto de reeleição de Lula, e outro que não fez um mandato digno de ser reconduzido”, opina Luiz Paulo, que vibra com a iminente fusão:

“Até pouco tempo atrás, as pessoas davam o PSDB como um partido que ia acabar. Agora não só não vai acabar como, com o Podemos, terá discussão sobre o processo eleitoral de 2026”.

A envergadura das asas do tucano

Creio que cabem duas ponderações.

A primeira é que Luiz Paulo exerceu dois mandatos de prefeito de Vitória, de 1997 a 2004, e um de deputado federal, de 2007 a 2010. Desde então, perdeu todas as eleições que disputou: para governador em 2010, para prefeito de Vitória em 2012, para deputado federal em 2014 e em 2018 (esta, em breve passagem pelo Cidadania).

No ano passado, em nova tentativa de voltar à Prefeitura de Vitória, ele chegou em 3º lugar, com 12,46% dos votos válidos, e viu Lorenzo Pazolini (Republicanos) se reeleger. Logo após a eleição, em entrevista à coluna, o tucano declarou sua intenção de seguir fazendo política e de disputar novamente um mandato eletivo em 2026. Naquele momento, porém, disse que se enxergava concorrendo a deputado estadual. E justificou:

“A preço de hoje, ou ‘trazendo a valor presente’, como gostam de dizer os economistas, o meu tamanho é para disputar para deputado estadual. Mas, em 2026, eu não sei o que vai ser. Meu nome está à disposição do meu grupo político, liderado por Renato Casagrande e Ricardo Ferraço”.

De deputado estadual para senador, o salto é enorme. Mesmo na segunda vaga, para alguém se eleger ao cargo no Espírito Santo, pode-se estimar que são necessários, por baixo, uns 750 mil votos.

Um movimento como esse terá de ser muito bem medido e calculado, para não se revelar um salto maior que as pernas, ou um voo maior que as asas do tucano… se é que ainda cabe falar em “tucano”, ou chamar alguém assim.

Eis a deixa para o nosso ponto seguinte.

Recomeço ou triste fim?

Luiz Paulo e quaisquer outros tucanos históricos têm todo o direito de tratar a fusão como quiserem e a festejarem. Mas não se pode deixar de observar que tratá-la como um glorioso “renascimento” é tratar da maneira mais positiva possível, talvez exageradamente positiva, o que é, a bem da verdade, um momento muito difícil para o PSDB e os autênticos social-democratas.

Dependendo do ponto de vista, o que Luiz Paulo chama de “renascimento” pode ser entendido como um fim (e dos mais melancólicos); morte pura e simples do partido original de FHC, Mário Covas e Franco Montoro. A celebração de “uma nova vida” (ou de uma sobrevivida) poderia dar lugar ao luto fechado.

O PSDB, como tal, com seu nome, seu símbolo, sua autonomia e sua autossuficiência, deixará de existir. O que se originará da fusão será uma outra coisa: outro partido, com outra identidade, outra personalidade jurídica, outro estatuto e um monte de membros (aqueles vindos do Podemos) que, em sua grande maioria, nunca foram nem quiseram ser tucanos. Não será mais o PSDB.

A influência – para não dizer ascendência – do Podemos não pode ser desconsiderada. Na partilha do DNA para formação da nova sigla, o partido da deputada Renata Abreu (SP) deve entrar com pelo menos metade da carga genética, se não com uma parte ainda maior. E vale dizer que os inquilinos do Podemos são os que vão ocupar a maior parte da nova casa. No Congresso, eles chegam com mais parlamentares, entre deputados federais e senadores.

No Espírito Santo, por exemplo, o partido resultante da fusão será dirigido pelo deputado federal Gilson Daniel, do Podemos. Um fato simples ilustra o esvaimento da identidade do PSDB uma vez fundido ao Podemos: Luiz Paulo se orgulha em dizer que o PSDB jamais participou do governo Lula. O Podemos, por sua vez, já indicou ocupantes de cargos no segundo escalão do atual governo.

A verdade nua e crua é que um dos dois partidos mais importantes da nossa Nova República desde 1988 se atrofiou a ponto de precisar apelar para a fusão como última e urgente saída (decerto não idealizada por nenhum tucano) para não deixar de existir completamente; precisou se fundir com outra legenda como último recurso para não morrer de “morte morrida”, de modo ainda mais melancólico, daqui a dois anos, por inanição financeira, como parecia irreversível ante o risco de se sair ainda pior nas urnas e não superar a cláusula de barreira em 2026. Passou, enfim, a depender de terceiros. Deixou de ser autossuficiente para “seguir existindo”, ainda que pela metade.

Por força das circunstâncias, a fusão será com o Podemos, com quem as tratativas evoluíram, mas, nos últimos meses, o PSDB manteve conversas com MDB, PSD, Republicanos, Solidariedade e PDT.

Enfim, tratar a fusão como o renascimento do tucano, qual a fênix mitológica ressurgindo das cinzas, soa como dourar a ouro uma pílula amarga.