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Coluna Vitor Vogas

A federação que mais pode “bagunçar” o tabuleiro eleitoral no ES

Se o casamento nacional entre esses dois grandes partidos se confirmar, terá o poder de gerar mudanças de rotas, estratégias e planos de candidatura, com possíveis desfiliações e trocas de sigla por parte de potenciais candidatos

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Marcos Pereira (à esquerda) e Baleia Rossi discutem federação entre Republicanos e MDB

Marcos Pereira (à esquerda) e Baleia Rossi discutem federação entre Republicanos e MDB

Com o sarrafo lá em cima – uma cláusula de barreira bem exigente nas eleições de 2026 –, temos assistido a um fenômeno na política nacional, com repercussão em todos os estados. Praticamente todos os partidos mais importantes do país têm avaliado e negociado a composição de fusões ou federações com outras siglas – simplificadamente, uma união de forças.

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Alguns, menores, buscam essa saída por receio de não superar a cláusula de desempenho e, com isso, perder verbas públicas e relevância política a partir de 2027. Outros, de médio ou grande porte, o fazem para não “ficar para trás”, reagindo a movimentos similares por parte de partidos “concorrentes”. No mercado político brasileiro, deflagrou-se uma corrida visando à formação de “oligopólios partidários”.

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No dia 29 de abril, dois anúncios importantes foram feitos nesse “pregão”. Pela manhã, o PSDB autorizou formalmente a fusão com o Podemos. À tarde, União Brasil e Progressistas (PP) anunciaram oficialmente a federação a ser formada pelas duas siglas, batizada de União Progressista. Os dois movimentos terão implicações no tabuleiro político armado no Espírito Santo para as eleições gerais de 2026.

No entanto, potencialmente, nenhum desses movimentos se compara ao que pode está por vir. Na terça-feira (6), o MDB e o Republicanos avançaram substancialmente no diálogo que pode culminar com a formação de uma federação entre as duas agremiações.

Os presidentes nacionais das duas siglas, Baleia Rossi (MDB) e Marcos Pereira (Republicanos), ambos deputados federais por São Paulo, tiveram uma segunda reunião para tratar da possível federação, na sala do Republicanos na Câmara. Os dirigentes transmitiram otimismo. Em post no Instagram compartilhado por Baleia Rossi, Marcos Pereira escreveu:

“Voltei a me reunir com o colega Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, para dar continuidade às conversas sobre uma possível federação entre o Republicanos e o partido que ele lidera. Este é o nosso segundo encontro, não por acaso, mas porque compartilhamos propostas importantes para o Brasil e uma visão comum de compromisso com a boa política”.

A intensificação das tratativas pode ser lida como uma reação dos dois grandes partidos ao anúncio da “superfederação” do União Brasil com o PP, que já nascerá com a maior bancada da Câmara dos Deputados. A primeira conversa entre Pereira e Baleia se deu em princípios de abril. O flerte começou bem mais tímido. Mas foi impulsionado a partir da consolidação do União Progressista.

O que isso tem a ver com o Espírito Santo? Tudo.

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Se as conversas entre MDB e Republicanos de fato evoluírem para um casamento formal, nenhuma junção de dois partidos poderá “bagunçar” mais o tabuleiro eleitoral capixaba, tal como hoje está montado. Basta avaliarmos o seguinte:

Muitos nomes são especulados, mas hoje, de verdade, quem pode ser considerado o principal “possível candidato” da situação, representando o grupo liderado pelo governador Renato Casagrande (PSB)? Fácil: o vice-governador Ricardo Ferraço. E quem é Ricardo Ferraço senão o presidente estadual do MDB e principal líder do partido no Espírito Santo?

Na outra ponta, quem nós encontramos? Quem pode ser considerado o principal “possível candidato” da oposição, alternativamente ao grande grupo hoje instalado no Palácio Anchieta? O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini. E quem é Lorenzo Pazolini senão a principal aposta do Republicanos no Espírito Santo, tratado pelo próprio partido como pré-candidato a governador, além de ser o único prefeito de capital filiado à legenda?

Tudo aqui é um exercício conjectural, antecipação de cenários possíveis, até porque ninguém sabe se essa federação realmente se consumará. Em tese, porém, se isso de fato ocorrer, a federação formada em âmbito nacional – com reprodução obrigatória nos estados – terá o poder de gerar mudanças de rotas, estratégias e planos de candidatura, com possíveis desfiliações e trocas de partido por parte de potenciais candidatos no Espírito Santo.

O primeiro e mais importante ponto a considerar é que, em se consumando tal federação, se Ricardo e Pazolini permanecerem onde estão, só um deles poderá ser candidato a governador. Sempre em tese, se tal hipótese se confirmar e os dois quiserem mesmo ser candidatos ao Palácio Anchieta, a federação ficará pequena demais para as pretensões de ambos. Um deles terá de ceder e mudar de legenda até abril do ano que vem, para viabilizar a candidatura.

Vale lembrar que uma federação partidária é uma sociedade com duração mínima de quatro anos, um casamento de papel passado que, se firmado este ano, só poderá ser desfeito em 2029. Lembremos ainda que, numa federação – meio-termo entre a plena independência e a fusão –, cada um dos partidos integrantes preserva relativa autonomia, mantendo legalmente seu nome, seus diretórios e seu estatuto perante a Justiça Eleitoral.

Por outro lado, enquanto durar a federação, as siglas que a compõem, na prática, operam como se fossem um só partido, principalmente no que diz respeito ao processo eleitoral. Para as eleições proporcionais – à Câmara dos Deputados, por exemplo –, devem lançar uma só chapa. Já na eleição ao Governo do Estado, a que mais nos interessa aqui, devem lançar ou apoiar o mesmo candidato.

Portanto, eleitoralmente, MDB e Republicanos seriam obrigados a caminhar juntos, aqui e em toda parte, amarrados por um nó não desatável pelos dirigentes locais. É assim que funciona.

Na mesma linha de conjecturas, um ponto fundamental a se atentar é a quem, isto é, a qual dos dois partidos iria o comando dessa federação no Espírito Santo. Sim, como dito acima, cada integrante do partido preserva “relativa autonomia”, mantendo os respectivos órgãos de direção partidária – diferentemente do que ocorre em uma fusão. Só que “acima” desses órgãos, por assim dizer, passa a haver uma instância decisória maior: o órgão diretivo da federação constituída, com o poder de decidir os seus rumos eleitorais.

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Eis, então, o xis da questão: quem comandaria esse órgão decisório no Espírito Santo? Republicanos ou MDB?

Uma fonte do Republicanos no Espírito Santo afirma, sob anonimato, que será o partido de Pazolini. A informação não é oficial, mas faz sentido, a julgar pelo critério que tem sido observado em casos semelhantes.

No caso do União Progressista, o presidente estadual virá do PP. Será o deputado federal Josias da Vitória, que já preside o seu partido no Espírito Santo. Isso porque, na bancada do Espírito Santo na Câmara Federal, o PP elegeu dois deputados em 2022 (Da Vitória e Evair de Melo), contra nenhum do União Brasil. Dois a zero. Tal foi o critério seguido.

No caso da fusão PSDB+Podemos, o presidente estadual do partido resultante da fusão (ainda sem nome definitivo) virá do Podemos. Será o deputado federal Gilson Daniel, presidente estadual do seu partido. O critério é o mesmo: na bancada capixaba da Câmara, o Podemos fez dois deputados em 2022 (Gilson Daniel e Victor Linhalis), contra nenhum do PSDB. Dois a zero.

A se estender tal critério para eventual federação do Republicanos com o MDB, o primeiro partido elegeu dois federais em 2022 pelo Espírito Santo (Amaro Neto e Messias Donato). Já o MDB, passando então por um momento bem difícil no Estado, não fez nenhum. Aliás, ineditamente, nem sequer lançou chapa naquele pleito.

Ainda falando em teoria, se Ricardo “precisar” sair do MDB para não correr esse risco em relação à própria candidatura, uma opção que se abre para ele é migrar, justamente, para o já mencionado partido de centro-direita a surgir da vindoura fusão do PSDB com o Podemos.

Não custa lembrar que Ricardo na verdade se elegeu vice-governador de Casagrande pelo PSDB em 2022. Só em outubro de 2023, migrou para o MDB, em costura nacional com Baleia Rossi, para assumir a presidência do partido no Espírito Santo. Hoje, tanto o PSDB como o Podemos estão embarcadíssimos no projeto de apoiá-lo para governador no ano que vem.

Em contrapartida, fonte de alta patente do governo Casagrande assevera: Ricardo Ferraço permanecerá no MDB, e é lá que será construída sua pré-candidatura.

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A coluna tentou falar nesta quarta-feira (7), diretamente e via assessoria, com Ricardo Ferraço e Erick Musso, respectivos presidentes do MDB e do Republicanos no Espírito Santo. Não obtivemos retorno de nenhum dos dois.

Monitoremos os próximos passos.

E ainda tem o PSD…

E tem mais: as conversas entre os líderes nacionais de Republicanos e MDB visando a uma possível federação ainda envolvem o Partido Social Democrático (PSD), comandado nacionalmente por Gilberto Kassab.

No fim deste mês, o ex-governador Paulo Hartung se filiará ao PSD, na sede nacional do partido, em São Paulo. Hartung sinaliza aspirações nacionais, mas é sempre cotado como possível candidato a governador ou a senador pelo Espírito Santo.

Caso se confirme uma federação entre Republicanos, PSD e MDB, os impactos no Estado serão ainda mais profundos. Dá para imaginar Paulo Hartung e Pazolini juntos, no mesmo movimento partidário. Mas… Hartung e Ricardo Ferraço? Simplesmente impossível.

Mas isso é assunto para outra análise.

Os números

Se o Republicanos e o MDB se juntarem, a federação passará a ter 88 deputados federais, com uma contribuição “meio a meio”: hoje, cada partido tem 44 deputados. A bancada, assim, dobraria, aproximando-se do PL (92 deputados) e do União Progressista, já nascido com a maior bancada da Câmara: 109 deputados.

O Republicanos tem 4 senadores e o MDB tem 11, totalizando 15 – um a mais que os 14 do União Progressista.

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