Coluna Vitor Vogas
GR de Governador Renato: a ginástica política e rítmica feita por Casagrande
No ritmo do esporte que não para de crescer no país, analisamos os desafios enfrentados por Casagrande rumo às Eleições 2026 e como ele tem, bem ou mal, se virado com os cinco aparelhos

Renato Casagrande com ginastas Geovanna Santos e Sofia Madeira. Foto: Hélio Filho/Secom
Arco, bola, corda, fita e maças: esses são os cinco aparelhos usados na ginástica rítmica – ou simplesmente GR, como é conhecida a modalidade em que o Brasil começa a se destacar no cenário internacional. No fim de agosto, a seleção brasileira conquistou duas medalhas de prata no Mundial disputado em casa, no Rio de Janeiro. Duas atletas do time brasileiro são capixabas: Geovanna Santos, de Pinheiros, chegou à final do individual geral, enquanto Sofia Madeira, de Vitória, faz parte do conjunto que levou as duas pratas – no geral e na “série mista” (com arcos e bolas).
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Na última quarta-feira (3), o governador Renato Casagrande (PSB) recebeu ambas no Palácio Anchieta e rendeu homenagens às ginastas do Espírito Santo. Enquanto isso, ele próprio, no dia a dia, segue a realizar uma intensa ginástica política, como capitão da sua equipe rumo às Eleições 2026. Por isso, no ritmo da GR, analisamos abaixo os desafios faceados por Casagrande e como ele tem, bem ou mal, se virado com os cinco aparelhos, começando pelo…
ARCO
O governador lidera um arco de alianças expressivo, formado pelos partidos que apoiaram a sua reeleição em 2022 e que apoiam o seu atual governo. Dele fazem parte agremiações que vão da esquerda (PT e Rede) à centro-direita (PP, União Brasil, Podemos), passando pelo centro (MDB, PSDB/Cidadania) e pela centro-esquerda (PSB, PDT)…
O maior desafio do governador, para conseguir se eleger senador e fazer seu próprio sucessor (preferencialmente, para ele, Ricardo Ferraço), é sustentar esse arco de alianças, hoje girando no ar. Não pode cair no chão, sair dos limites da quadra nem rolar para as mãos de adversários…

Foto: Ricardo Bufolin/CBG
O próprio Ricardo Ferraço já se lançou ao Governo do Estado, em entrevista a este espaço em janeiro, ressaltando a importância de se manter “a cultura política de construção de amplas alianças no Espírito Santo”, o que também é sempre ressaltado, nas declarações de Casagrande, como “algo que deu certo para o Espírito Santo”.
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BOLA
Dessa ampla aliança partidária erigida em torno de Casagrande, um partido grande e importante que tem boas chances de “quicar para fora” é o mesmo que governa o Brasil: o Partido dos Trabalhadores (PT). Os dois mais prováveis candidatos do governo à sucessão de Casagrande são, nesta ordem, Ricardo Ferraço e o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo.
É muito difícil, praticamente impossível, imaginar qualquer um dos dois sendo candidato a governador com o PT na coligação. Tanto Ricardo como Arnaldinho não dão a menor bola para o partido de Lula – e Casagrande, verdade seja dita, também não tem dado essa bola toda para esse aliado à esquerda…

Foto: X/FIG
Ricardo e Arnaldinho são políticos declaradamente conservadores, situados do centro para a direita da quadra. Difícil também imaginá-los apoiando a reeleição de Lula, posição que se chocaria com as respectivas imagens e discursos… De igual modo, o PT jamais apoiará, no Espírito Santo, Ricardo, Arnaldinho ou qualquer outro candidato a governador que não esteja comprometido com a reeleição de Lula. O próprio João Coser, eleito presidente do PT-ES, já indicou isso aqui, em entrevista.
Portanto, há uma mútua incompatibilidade.
Para completar, Arnaldinho está prestes a se filiar ao Progressistas (PP), que acaba de anunciar o desembarque oficial do governo Lula… Já Ricardo é presidente estadual do MDB, partido que não só apoia o governo Lula como deve estar na proa da sua coligação à reeleição…
É uma bola que está quicando quadrada diante de Ricardo… se for mesmo candidato, ele terá de arredondar essa questão que na certa será usada contra ele por adversários, no conjunto da direita.
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CORDA*
Como dito no tópico acima… Arnaldinho ou Ricardo: hoje, em teoria, ambos podem ser o representante do governo Casagrande na disputa pelo Palácio Anchieta, até porque o próprio governador está dando corda para os dois aliados. Está tendo o cuidado de não “podar” por antecipação as pretensões de ninguém.
Há meses, Casagrande reitera que Ricardo tem a prioridade, sua preferência etc., para cumprir esse papel. Ao mesmo tempo, jamais desautorizou as movimentações do prefeito de Vila Velha; ao contrário, legitima-as.

Foto: AFP/GETTY. Evgenia Kanaeva
Aliás, isso vale não só para o Palácio Anchieta. Casagrande a esta altura está dando corda para todos os aliados que queiram se candidatar a qualquer cargo. No Senado, por exemplo, disse aprovar as aspirações de Euclério Sampaio (MDB), Luiz Paulo (PSDB) e Josias da Vitória (PP), mesmo sabendo obviamente que, se ele for candidato ao Senado, só um dos seus muitos aliados interessados no cargo poderá de fato completar a chapa.
Ele mesmo, por sinal, trabalha para que a coligação governista só tenha dois candidatos ao Senado – sem candidatura avulsa. A conta, portanto, não fecha. Mesmo assim, Casagrande dá corda a todos…
Tem a ver com o primeiro tópico: ele não quer perder seu amplo arco de alianças. Quer manter todos bem amarrados a si com sua corda de GR. Para isso, não pode melindrar aliados… A hora e furar balões (ou bolas) não é esta.
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FITA
O dicionário define assim a expressão “fazer fita”: 1. ato de fingir; fingimento, simulação; 2. comportamento ou reação exagerada e sem motivação racional, geralmente originada por um capricho ou uma contrariedade; birra, cena.
Francamente, nenhuma das duas acepções casa bem com Casagrande. Ele não é muito de “fita”, o aparelho mais difícil da GR.
Claro, todo agente político pratica, em menor ou maior grau, a “arte da dissimulação”, no sentido de esconder o jogo estrategicamente, não abrir todos os seus planos a fim de não os colocar a perder. Mas, no caso do governador, ele pode ser considerado um político até muito previsível, como já argumentamos aqui. Muito dificilmente indica que vai para um lado só para depois seguir por outro, ou toma uma decisão diferente da que ele próprio sinalizara anteriormente.

Foto: Ricardo Bufolin/CBG
Quanto ao segundo significado, ele não é visto fazendo cena em público, dando show, chilique, esse tipo de coisa…
Em uma outra acepção, é possível afirmar que o seu governo está “bem na fita”, em matéria de aprovação popular. Isso, é certo, tomando por parâmetro pesquisas quantitativas de avaliação do seu governo feitas por institutos renomados. Em 2022, apesar da eleição difícil contra Manato, todas as pesquisas já mostravam um Casagrande bem avaliado. Nas eleições municipais do ano passado, inúmeras foram as sondagens que confirmaram a sua boa avaliação em todas as maiores cidades.
A última da Paraná Pesquisas, publicada no mês de agosto, apresentou seu governo com 80% de aprovação.
Para se eleger senador e fazer seu sucessor, tem que manter essa fita girando no alto.
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MAÇAS
Não, não está escrito com erro. “Maça”, assim, com ç, pode ser uma arma banca medieval ou um objeto em formato parecido ao de uma garrafa, usado por artistas circenses para a prática de malabares. Um par de instrumentos similares é usado pelas atletas na GR, em apresentações individuais ou de “conjuntos mistos” (maças e arcos).

Foto de Ricardo Bufolin/CBG
É esse, em resumo, o grande desafio posto diante do governador: até agosto do ano que vem, mês de início oficial da campanha, ele terá de fazer malabarismos políticos para manter a unidade de seu grupo, escolher e apostar no ginasta certo para liderar sua equipe, conter os ímpetos de terceiros que não forem contemplados e ver uma apresentação perfeita de seu conjunto na quadra eleitoral, sem grandes faltas nem falhas, com todos bem entrosados e em perfeita sincronia.
Tudo como Sofia e Geovanna: sem deixar a maça cair.
* A corda não integra atualmente o programa de competições oficias profissionais de GR.
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