Coluna Vitor Vogas
União Progressista: bater de asas em Brasília e efeito borboleta no ES
E mais: Da Vitória, o Prudente. Deputado tem se destacado como ilha de cautela e paciência em meio a mar agitado da ansiedade eleitoral

Deputado Josias da Vitória (PP). Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados
Em meio ao mar de ansiedade e açodamento que inundou politicamente o Espírito Santo, um político com muito poder nas mãos tem se destacado pela paciência demonstrada e por estar jogando como poucos com o fator tempo, consubstanciado no calendário eleitoral. Estou falando do deputado federal Josias da Vitória. Ele tem sido uma ilha de “frieza” nesse mar de ansiedade, ou, se preferirem, um iceberg flutuando nesse mar. A prudência tem presidido seus movimentos.
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No lugar certo na hora certa, Da Vitória já é, desde abril de 2023, o presidente do Progressistas (PP) no Espírito Santo. Agora, acumulando os cargos, está também na iminência de se tornar o presidente estadual da federação União Progressista, casamento do PP com o União Brasil. É como se o partido, que já era grande, de repente dobrasse de tamanho (na bancada na Câmara dos Deputados, na distribuição do Fundo Eleitoral, na divisão do tempo de TV e rádio…).
Como se pode imaginar, o apoio do União Progressista, com seus valiosos recursos e minutos, é cobiçado por todos que têm grandes pretensões eleitorais, como disputar o Governo do Estado. Todos os lados sonham em ter a chamada “superfederação” como parte de sua coligação partidária. Consequentemente, na posição em que se encontra, Da Vitória tem sido alvo de muito assédio e pressão.
O Palácio Anchieta, por exemplo, anseia por uma declaração pública de apoio de Da Vitória a Ricardo Ferraço (MDB) e pela assunção de um compromisso público de que o União Progressista estará no palanque do grupo político liderado pelo governador Renato Casagrande (PSB). Sinais nesse sentido já foram dados por Da Vitória, mas não propriamente um anúncio nem um compromisso público. Diferentemente de outros aliados de Casagrande – como Euclério Sampaio (MDB), Marcelo Santos (União) e Gilson Daniel (Podemos) –, Da Vitória não está na pré-campanha de Ricardo a governador.
Coordenador da bancada capixaba no Congresso há sete anos, o presidente estadual do PP sonha em ser candidato a senador no ano que vem, ou até a governador. No primeiro caso, em conversas reservadas com Casagrande e Ricardo no Palácio Anchieta, os três já trataram especificamente da possibilidade de ele ficar com a segunda vaga de candidato ao Senado numa chapa que tenha Ricardo como candidato a governador e Casagrande como primeiro candidato a senador.
Mas Da Vitória ainda nem sequer declarou de público, categoricamente, que é pré-candidato a senador. Esse adiamento das definições de Da Vitória – sobre os próprios planos eleitorais e os rumos do União Progressista – tem gerado incômodo no governo Casagrande. Como já apontado aqui, esse foi um dos fatores que impulsionou o lançamento da pré-candidatura de Euclério Sampaio ao Senado, preenchendo esse vácuo. Não deixa de ser uma estratégia para obrigar Da Vitória a se posicionar de uma vez por todas, antes que perca a vez e o lugar nessa configuração.
Nada que abale Da Vitória nem que acelere seus passos. Ele segue impassível, preferindo jogar com o tempo. Não fez e, ao que tudo indica, tão cedo não fará nenhum anúncio categórico, não tomará nenhuma resolução da qual possa se arrepender lá na frente, sendo obrigado a voltar atrás e passar por homem sem palavra, ou volúvel e incoerente.
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Por um lado, enquanto conversa muito bem com Casagrande e Ricardo, Da Vitória também mantém excelente diálogo com o grupo que prepara a candidatura do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), a governador do Estado. Sabe que, no “lado de lá”, nessa chapa adversária do Palácio Anchieta, também consegue se encaixar tranquilamente não como o segundo, mas como o primeiro candidato ao Senado.
Esse elo de Da Vitória com o movimento adversário é outro aspecto que gera incômodo no Palácio Anchieta. Mas, do ponto de vista de Da Vitória… para que precipitar as coisas e escolher um lado agora, se as definições de candidaturas só começarão a ser tomadas para valer em abril do ano que vem?
A influência da conjuntura nacional
Por outro lado, Da Vitória prolonga a indefinição (ou adia sua definição) porque mantém os dois olhos muito atentos às oscilações da conjuntura nacional. Sabe que uma asa batida em Brasília gera um “efeito borboleta” que pode ter profundo impacto no Espírito Santo, alterando todo o clima político local.
Por exemplo:
Tanto o PP como o União Brasil ocupam ministérios e outros cargos no governo Lula (PT). Na terça-feira (2), primeiro dia do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no STF pela trama golpista, os dois partidos decidiram oficializar seu desembarque do governo e exigir dos seus filiados a entrega imediata dos cargos. Governadores do União Brasil já vinham cobrando a atitude, entre eles o de Goiás, Ronaldo Caiado, pré-candidato à Presidência da República.
Os dois partidos são de direita, têm ligações com o bolsonarismo e não deverão estar no palanque de Lula à reeleição em 2026. O presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, senador pelo Piauí, faz oposição ao atual governo e foi chefe da Casa Civil no governo de Bolsonaro.
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Considerando esse quadro, suponhamos que, no ano que vem, na antessala do processo eleitoral, a direção nacional da federação União Progressista baixe uma resolução para os comandos estaduais, proibindo-os de se coligar com partidos aliados do governo Lula e de apoiar candidatos a governador pertencentes a tais partidos.
É o caso de Ricardo e de Casagrande. O vice-governador é o presidente estadual do MDB, que apoia o governo Lula e deve estar na sua coligação à Presidência. O PSB de Casagrande, nem se fala… Tem o vice-presidente Geraldo Alckmin. Com certeza estará na coligação de Lula à reeleição.
Isto é só uma conjectura, mas, se um cenário hipotético como esse se tornar realidade, Da Vitória simplesmente não poderá levar o União Progressista para a coligação de Ricardo e Casagrande.
Ele sabe que algo assim não é de todo impossível, daí também toda a cautela com que tem se conduzido.
A ponte entre Pazolini e Casagrande
Outro ponto a se levar em consideração é que Da Vitória está sinceramente empenhado em servir como um elo entre o bloco de Casagrande e o de Pazolini. Acredita de verdade que não é impossível uma grande união de forças, com todos no fim aglutinados no mesmo movimento eleitoral. E, aproveitando seu bom trânsito com os dois lados, quer ser a ponte pessoal que vai viabilizar tal encaixe.
Por ora, parece muito difícil, pois tanto Ricardo Ferraço como Pazolini estão determinados a disputar o governo e não arredam o pé das respectivas pré-candidaturas.
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