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Coluna Vitor Vogas

Análise: a reação e o poder de Da Vitória no jogo eleitoral do ES

Analisamos aqui o enorme poder de pressão e negociação adquirido pelo presidente estadual da federação União Progressista sobre o Palácio Anchieta (Casagrande e Ricardo), a partir do encaminhamento da filiação de Arnaldinho Borgo ao PP

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Josias da Vitória (PP), Arnaldinho Borgo (Podemos) e Evair de Melo (PP)

Josias da Vitória (PP), Arnaldinho Borgo (sem partido) e Evair de Melo (PP)

O encaminhamento da filiação de Arnaldinho Borgo ao Progressistas (PP) recoloca o prefeito de Vila Velha no jogo eleitoral do Espírito Santo, como analisamos aqui, mas fortalece, acima de tudo, a posição do deputado federal Josias da Vitória.

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Coordenador da bancada do Espírito Santo no Congresso há sete anos, presidente estadual do PP e futuro presidente estadual da federação União Progressista (PP com União Brasil), Da Vitória adquire um trunfo e tanto na mesa de negociação de arranjos eleitorais com o grupo político encabeçado pelo governador Renato Casagrande (PSB) – e com qualquer outro grupo, incluindo o do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos).

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Arnaldinho, como se sabe, é pré-candidato declarado a governador do Espírito Santo e luta para viabilizar a candidatura. Quer ser o representante do Palácio Anchieta na disputa.

Da Vitória já havia afirmado, e reiterou aqui na última quarta-feira (27), que está com Casagrande e a construir com ele o processo eleitoral do ano que vem. Esse tipo de afirmação leva a crer que, no que depender de Da Vitória (e depende dele mais do que ninguém), a federação União Progressista fará parte da mesma coligação majoritária, para o Governo do Estado e o Senado, articulada por Casagrande. O próprio governador quer concorrer a uma das duas vagas no Senado e quer lançar o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) para governador.

Ao mesmo tempo, Da Vitória mantém o PP na administração de Lorenzo Pazolini em Vitória e excelente diálogo com o grupo político do prefeito, representado nas articulações eleitorais pelo presidente estadual do Republicanos, Erick Musso.

Apesar de todos os indicativos de Da Vitória, ninguém, muito menos no Palácio Anchieta, tem a menor garantia de que o imponente União Progressista estará mesmo no palanque eleitoral governista em 2026. Em teoria, se for rifado, desdenhado ou ignorado, Da Vitória pode muito bem levar sua superfederação, com seus recursos e tempo de propaganda capazes de redefinir os rumos da eleição, para o provável palanque a ser encabeçado por Pazolini. E agora, com Arnaldinho na jogada, o deputado ainda pode levar junto o prefeito de Vila Velha para esse movimento adversário do governo Casagrande.

Esse é o tamanho do poder de barganha adquirido por Da Vitória na mesa, se concretizada a filiação de Arnaldinho. Se antes ele já precisava ser ouvido por Casagrande e ninguém poderia se dar ao luxo de fazer pouco do União Progressista, agora isso ganha peso de verdade ainda maior.

Pelo que pudemos apurar, nos dias que antecederam o encontro decisivo de Arnaldinho com Da Vitória, o deputado vinha muito incomodado, aborrecido mesmo, com a postura meio blasé, quase desdenhosa, do Palácio Anchieta em relação ao União Progressista. Segundo comentários de bastidores, sua avaliação era a de que Casagrande e seu núcleo político não vinham dispensando tratamento condizente com o tamanho da maior das federações, nem atenção correspondente à sua importância em qualquer coligação.

Da Vitória já afirmou e reafirmou seu interesse em se candidatar a um cargo majoritário: sente-se em condições de encarar o desafio de postular tanto uma vaga no Senado como até o cargo de governador. Esta, sejamos francos, está bem mais distante para ele, dada a fila de concorrentes à sua frente que se mostram mais competitivos para chegar ao Palácio Anchieta. Mas aquela é plenamente alcançável: deputado estadual por três mandatos e federal por dois, Da Vitória nunca esteve em tão boa posição política e partidária para pleitear um mandato no Senado da República.

A conjuntura lhe é favorável. Como já avaliamos aqui, um companheiro de chapa com perfil mais de direita é bastante oportuno a Casagrande, completando sua chapa ao Senado e fazendo dobradinha com ele.

Ao mesmo tempo – e este é outro ponto que confere a Da Vitória um grande poder de barganha –, se ele por acaso levar o União Progressista para a coligação majoritária de Pazolini, não terá a menor dificuldade em se encaixar ali como o primeiro candidato a senador. Tapete vermelho estendido é o que ele encontraria desse lado.

Essa eventual coligação, formada pela federação União Progressista com o Republicanos e o PSD, teria Pazolini candidato a governador, Da Vitória candidato a senador e um segundo nome para o Senado que poderia ser Evair de Melo (PP) ou até Sérgio Meneguelli (PSD). Por todos os ângulos de análise, isso seria um enorme perigo para o Palácio Anchieta; talvez a maior ameaça para os planos eleitorais de Casagrande.

Por todo o exposto, seria mais que natural que o Palácio Anchieta tratasse o União Progressista (na pessoa de Da Vitória) a pão de ló e caviar. Seria mais que esperado que Casagrande e Ricardo Ferraço emitissem todos os sinais de que não apenas fazem questão de ter o União Progressista consigo como priorizam a candidatura de Da Vitória ao Senado, ao lado de Casagrande.

Mas, na visão de integrantes do União Progressista, não era isso que vinha acontecendo.

Ao contrário, a semana retrasada foi marcada pela notícia, dada aqui em primeira mão, de que Sérgio Vidigal (PDT), um dos principais aliados de Casagrande e Ricardo, foi pessoalmente ao encontro do ex-governador Paulo Hartung (PSD) para nada mais, nada menos, que incentivá-lo a disputar a eleição para senador. Segundo o ex-prefeito da Serra, o Espírito Santo precisa de dois bons candidatos ao Senado – Casagrande e Hartung, no seu entendimento. O encontro entre eles se deu no dia 18 de agosto.

Como se fosse pouco, a semana passada foi aberta com a notícia de que o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, decidiu também lançar-se a senador, entrando ostensivamente na briga para fazer a dobradinha com Casagrande (no lugar de Da Vitória, no caso). Além de correligionário de Ricardo Ferraço no MDB, Euclério é aliado incondicional de Casagrande e tem se notabilizado como o maior apoiador da pré-candidatura de Ricardo a governador, na Grande Vitória.

Vidigal disse que foi ao encontro de Hartung em “missão pessoal”, sem consultar Casagrande e Ricardo. Euclério, ao se lançar, afirmou que ainda falaria sobre o tema com o governador e o vice. Sobretudo no segundo caso, é muito difícil conceber que o aliado teria agido sozinho, sem o consentimento, ou, no mínimo, o conhecimento da dupla instalada no Governo do Estado.

O movimento de Euclério inclusive foi interpretado aqui como, entre outras nuances, uma maneira de pressionar Da Vitória a enfim tomar partido e assumir publicamente que quer ser candidato a senador na coligação encabeçada por Ricardo. Ele ainda não disse isso com todas as letras, nem assumiu o compromisso público de que, sob sua liderança, o União Progressista estará desse lado da disputa. No Palácio Anchieta, essa hesitação de Da Vitória tem gerado também forte incômodo.

Aí veio o movimento de Vidigal, seguido pelo de Euclério.

Da Vitória reagiu assim, puxando Arnaldinho para sua federação e gritando “truco” na mesa. O deputado chegou a dizer que, entrando mesmo no PP, Arnaldinho poderá ser candidato ao cargo que quiser, tanto a governador como até, vejam só, a senador.

“Ah é? É assim que querem jogar? Vamos ver se continuarão fazendo pouco do União Progressista agora…” Da Vitória, é claro, não disse isto, mas seu gesto pode ser assim interpretado.

Se Da Vitória levar o União Progressista para o palanque de Pazolini, acomodar a si mesmo como candidato a senador, assentar Evair como candidato a vice-governador ou o segundo candidato a senador e ainda levar de arrasto Arnaldinho para esse movimento alternativo, o Palácio Anchieta não se verá somente diante de uma ameaça para seus planos… Verá o risco real de perder as eleições estaduais, a partir do desmoronamento da unidade, até aqui mantida, da coalização liderada por Casagrande. Pode ser o começo do fim.

Tal é o poder de barganha concentrado agora nas mãos de Da Vitória em se concretizando a ida de Arnaldinho para o PP.

Naturalmente, o próprio Arnaldinho também pode sair ganhando pelo mesmo prisma, uma vez que também verá crescer o próprio poder de pressão e de negociação com Casagrande e Ricardo. Por mais que, há cerca de um mês, ele tenha reiterado que os três estarão juntos nas eleições de 2026 – abafando desconfianças de que poderia passar para o “outro lado” –, Arnaldinho tem consciência da posição limítrofe ocupada hoje pelo PP no tabuleiro eleitoral capixaba; sabe que, se completar o passo, entrará num partido que apoia o governo Casagrande, mas que também está na administração de Pazolini e mantém um pé no movimento eleitoral do prefeito de Vitória…

Arnaldinho nem precisará fazer nada. A partir do seu ingresso no PP, passará a estar sempre no ar, tacitamente, a ameaça de o prefeito de Vila Velha cruzar a ponte e firmar uma aliança com o outro lado. E o Palácio Anchieta, talvez, terá de cuidar ainda melhor do seu aliado estratégico em Vila Velha, mantendo-o ainda mais contente…

Em se confirmando tal filiação, Arnaldinho é outro que, definitivamente, não poderá ser ignorado, muito menos desdenhado em tudo o que doravante for decidido no Palácio sobre o processo eleitoral.

O Palácio não pode se descuidar dos seus aliados que mais têm a oferecer (tanto para eles como para outrem…). Aqueles que mais podem ajudá-los a ganhar são também os que mais podem levá-los a perder.