Coluna Vitor Vogas
Gilson Daniel presidirá o partido resultante da fusão PSDB + Podemos
Deputado federal opina que fusão dos dois partidos fortalecerá a candidatura de Ricardo Ferraço e o projeto liderado por Casagrande no ES. Entenda aqui a iminente fusão, questão de vida ou morte para o PSDB

Gilson Daniel é deputado federal e presidente do Podemos no ES
O deputado federal Gilson Daniel será, segundo ele mesmo, o primeiro presidente do partido que resultará da fusão entre o Podemos e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Se depender da vontade de todos os envolvidos, a fusão realmente sairá do papel. Na manhã de terça-feira (29), após meses de negociações, a Executiva Nacional do PSDB deu um passo importantíssimo nesse sentido, autorizando oficialmente as discussões sobre a fusão entre os partidos – na prática, aprovando a fusão com o Podemos, em votação unânime.
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“Vai ser uma fusão. A decisão do PSDB foi o primeiro passo para o namoro virar casamento. O segundo passo será a alteração estatutária do PSDB, que ficará com o estatuto idêntico ao do Podemos. Nossa presidente nacional, Renata Abreu, ficará como presidente nacional por quatro anos. E 80% do Fundo Eleitoral do novo partido será voltado exclusivamente para as chapas de deputados federais nos estados em 2026. Essas são as condições”, relata Gilson Daniel.
A fusão ainda precisará ser aprovada pelos dois partidos, em convenções nacionais separadas. A do PSDB está marcada para 5 de junho. No mesmo mês, o Podemos deve realizar a sua. A expectativa é que, nas instâncias partidárias, tudo esteja sacramentado até julho. Então, como último passo legal, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) precisará homologar o novo partido, chamado provisoriamente de “PSDB+Podemos”.
Gilson Daniel já é, há alguns anos, o presidente do Podemos no Espírito Santo, avalizado pela presidente nacional, Renata Abreu, deputada federal por São Paulo. De acordo com o parlamentar, ele ficará na presidência do partido que resultará da fusão com o PSDB em razão dos critérios adotados para a definição dos presidentes nos estados: a atual bancada de federais.
Em cada unidade federada, quem tem mais representantes na Câmara dos Deputados ficará com o comando local. Na bancada do Espírito Santo, o PSDB não tem deputados. Já o Podemos tem dois: Victor Linhalis e o próprio Gilson. Por esse critério, não cabe discussão.
“No Espírito Santo não muda nada. Eu continuo presidente”, resume Gilson.
Quanto ao atual presidente do PSDB no Espírito Santo, o deputado estadual Vandinho Leite, Gilson afirma que estará reservado para ele um lugar de destaque na direção estadual e que Vandinho o ajudará a preparar o novo partido para as eleições de 2026:
“Automaticamente, o PSDB vai compor a nova Executiva Estadual. Vandinho é um amigo. Vou dialogar com ele. Somos aliados políticos e vamos organizar esse movimento juntos. Ele deve assumir uma vice-presidência. Com certeza vai me ajudar a fazer as chapas de estaduais e federais, porque ele é muito bom nisso”, elogia o deputado do Podemos.
No Espírito Santo, Podemos e PSDB fazem parte do governo Casagrande (sem lugar no primeiro escalão). O Podemos já declarou apoio à pré-candidatura do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) ao Palácio Anchieta em 2026, com direito a manifestação pública de Gilson. O PSDB também está bem integrado ao movimento eleitoral capitaneado por Casagrande, com alguns grandes aliados do governo, como o próprio Vandinho, o também deputado estadual Mazinho dos Anjos e o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas.
“Essa fusão fortalece muito a pré-candidatura do Ricardo Ferraço e o movimento liderado pelo governador Renato Casagrande”, assevera Gilson. “O PSDB já tem uma proximidade com Ricardo. Vandinho vai me ajudar nesse movimento.”
De acordo com o deputado federal, essa fusão vai gerar um novo movimento de centro-direita no Brasil. “É um movimento para não estar nos extremos e apresentar uma alternativa ao país.”
No Espírito Santo, o partido a surgir da fusão do Podemos com o PSDB nascerá com dois deputados federais (Gilson e Victor Linhalis) e quatro deputados estaduais: Vandinho e Mazinho, do PSDB; Xambinho e Allan Ferreira, do Podemos. A nova agremiação totalizará 15 prefeitos, sendo a segunda nesse quesito no Espírito Santo, atrás somente do PSB. Pelas contas de Gilson, o partido somará cerca de 180 vereadores no Estado. Isso contando o Cidadania, que ainda está numa federação com o PSDB, mas já decidiu sair do acordo em 2026.
A nova legenda manterá o número de urna do Podemos (20). Quanto ao nome, segundo Gilson, será escolhido por meio de um “concurso interno”.
Juntos, os dois partidos elegeram 25 deputados federais no país em 2022. Se a fusão entrasse em vigor hoje, o novo partido teria 28, o equivalente à sétima maior bancada na Câmara dos Deputados. Também teria sete senadores, estabelecendo-se como a quarta maior força dentro do Senado. Vale lembrar que, em casos como este, de fusão partidária, deputados estaduais e federais ficam autorizados pela Justiça Eleitoral a trocar de sigla a qualquer tempo, e não apenas na janela partidária (em março do próximo ano), sem risco de perda do mandato por infidelidade.
Em 2026, o “PSDB+Podemos” deverá ter direito à 6ª maior fatia de recursos públicos para financiamento de campanha, via Fundo Eleitoral. Vale lembrar que tanto os recursos do Fundo Eleitoral como o do Fundo Partidário, assim como o tempo de propaganda de rádio e TV, são divididos entre os partidos em função do número de deputados federais eleitos por cada um.
A distribuição dos recursos em 2026 levará em conta a soma do resultado eleitoral obtido pelas siglas em 2022 e não será influenciado por eventual saída de deputados a partir da homologação da fusão.
O degringolar do PSDB
Conveniente para ambas as partes, a fusão é, acima de tudo, uma questão de sobrevivência para o PSDB. De 2018 para cá, o partido que governou o Brasil por oito anos (1995/2002) com FHC, que governou o estado de São Paulo por quase três décadas e que polarizou a política nacional com o PT por duas décadas (1994/2014) mergulhou em vertiginosa decadência, a ponto de hoje correr o risco real de sumir do mapa partidário brasileiro.
Em parte por uma sucessão de erros internos e uma disputa fratricida entre seus principais líderes, em parte porque foi esmagado e ficou sem resposta à neopolarização entre o PT e a extrema-direita, o PSDB, em 2022, amargou um resultado pífio nas eleições gerais, de longe o pior de sua existência. João Doria e Eduardo Leite disputaram prévias (vencidas pelo primeiro) e renunciaram aos respectivos mandatos, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, mas nenhum deles concorreu ao Palácio do Planalto e, pela primeira vez desde sua fundação, em 1988, o partido não teve candidato à Presidência da República. Na Câmara, os social-democratas fizeram a menor bancada de sua história.
A verdade insofismável é que o PSDB encolheu demais. Apequenou-se demais. As eleições gerais de 2026 serão decisivas para o partido. Se não superar a exigente cláusula de barreira*, o PSDB ficará ainda mais sufocado financeiramente. E, aí, será o fim inevitável. A fusão com o Podemos não era a saída ideal, mas, pragmaticamente, foi a saída possível. Dá aos tucanos uma esperança de sobrevida no cenário político brasileiro.
* Eleição de pelo menos 13 deputados federais distribuídos em pelo menos nove estados ou alcance de 2,5% dos votos válidos para o cargo no Brasil inteiro, distribuídos em pelo menos nove estados, com, no mínimo, 1,5% dos votos válidos em cada um.
