Coluna Vitor Vogas
Deputado de partido de Pazolini defende aliança com Arnaldinho… e critica Ricardo
Alcântaro Filho advoga por união eleitoral dos prefeitos de Vitória e Vila Velha e aponta uso indevido da máquina pública por parte de Ricardo Ferraço

Alcântaro Filho é deputado estadual pelo Republicanos
O deputado Alcântaro Filho é um dos cinco membros da bancada do Republicanos, a maior da Assembleia Legislativa. Trata-se do partido do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, pré-candidato a governador do Espírito Santo, assim tratado pela própria agremiação. Surpreendendo, Alcântaro defende abertamente uma ideia “diferente”, que hoje (ainda) soa improvável, mas que tem ganhado adeptos, sobretudo dentro do Republicanos: uma aliança eleitoral, para 2026, entre Pazolini e outro pré-candidato a governador, o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido).
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“Em relação a Arnaldinho e a Pazolini, a minha vontade, o meu desejo, de fato, é que os dois possam caminhar, tentar caminhar juntos numa frente de renovação. Eu não sei qual dos dois vai ser candidato. Mas acredito que é possível a união dos dois. O que eu tenho ouvido é que é possível. E eu acredito nisso”, declarou o deputado e ex-vereador de Aracruz.
A diferença fundamental entre os dois prefeitos, além da margem da Baía de Vitória, é o fato de Pazolini ser adversário do governo Casagrande e seu grupo político, enquanto Arnaldinho é grande aliado do governador. Essa hipótese de aliança, se confirmada, representaria uma guinada do prefeito de Vila Velha no tabuleiro político-eleitoral capixaba e, provavelmente, um divórcio não amigável com Casagrande. Mas, no front de Alcântaro e companhia, a percepção é a de que um movimento eleitoral que agregasse os dois prefeitos poderia ter efeitos devastadores para o Palácio Anchieta e para a possível candidatura do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB).
Alcântaro, aliás, critica muito o vice-governador, acusando-o de ter antecipado por demais o processo eleitoral e até de vir praticando “desvio de finalidade”. Na sessão plenária da última quarta-feira (2), participando virtualmente, o deputado conservador fez menção direta a Ricardo Ferraço, após um pronunciamento duro, em plenário, do presidente da Casa, Marcelo Santos (União), no qual este “alertou” sobre o uso da máquina estadual por secretários de Estado que são pré-candidatos a deputado estadual ou federal. Alcântaro estendeu a crítica, nominalmente, ao vice-governador.
“O que eu tenho dito é que algumas pessoas anteciparam demais o processo eleitoral, e isso tem prejudicado, inclusive, as ações públicas, sobretudo as do Governo do Estado. Eu fiz uma crítica direta ao vice-governador do plenário. A Assembleia Legislativa deve fiscalizar não só os secretários, mas também o vice-governador”, disse o deputado à coluna. E disparou:
“O que está sendo feito de uso da máquina pública em relação, em favor, tentando emplacar, empurrar o Ricardo, que não está pontuando bem nas pesquisas… isso deve ser fiscalizado pela Assembleia. Eu tenho conhecimento de relatos de prefeitos que estão sendo pressionados a manifestar apoio ao Ricardo. Então a gente vai cobrar isso também. Eu defendo a renovação e, mais do que isso, eu defendo que haja licitude no processo eleitoral, que, no meu ponto de vista, foi muito antecipado pelo próprio Ricardo. Tem um ditado que diz que cachorro que é mordido por cobra tem medo de linguiça. Não sei se é por causa de traumas antigos de eleições passadas dele, mas ele antecipou demais esse processo e tem usado a máquina pública, a meu ver, de forma desproporcional e desarrazoada. Temos que fiscalizar isso”.
Os possíveis “traumas antigos de eleições passadas dele”, mencionados por Alcântaro, são alusão ao fato de que, em 2010, na condição (como hoje) de vice-governador, Ricardo passara os anos anteriores sendo tratado pelo então governador, Paulo Hartung, como seu sucessor natural, mas, na hora H, Hartung decidiu apoiar Casagrande, em desfavor de Ricardo. Este foi candidato a senador e é, até hoje, o candidato mais votado, a qualquer cargo eletivo, na história do Espírito Santo.
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Alcântaro, logicamente, não apoia nem pretende apoiar Ricardo para governador. “Eu tenho me manifestado em favor da renovação política. Assim, o que praticamente dou como certo é que não devo apoiar o Ricardo, por não representar aquilo em que eu acredito, pelo menos até este momento.”
Consciente de sua pequena influência no processo, o parlamentar de Aracruz – pré-candidato à reeleição – afirma que fará o que estiver ao seu alcance para ajudar a promover a “renovação política” no Espírito Santo e até uma aproximação entre Pazolini e Arnaldinho.
“Tenho plena compreensão do pequeno papel que posso exercer neste momento em relação a isso. Mas o que eu puder trabalhar no sentido de que nós tenhamos renovação política no Estado, sobretudo, no governo, e alinhada aos valores e princípios que a gente defende, eu farei. A partir de agora, uma das nossas principais missões é fiscalizar, de fato, eventual desvio de finalidade do uso da máquina do Estado”, reitera.
A relação com o governo Casagrande
Evangélico (convertido após os 20 anos), Alcântaro representa, na atual legislatura da Assembleia, uma espécie de “bancada da Bíblia”: uma ala altamente conservadora em matérias relacionadas a costumes e cuja atuação parlamentar é fortemente orientada por convicções e crenças religiosas (os assim chamados “valores cristãos”). Frequentemente, o deputado sobe à tribuna portando uma Bíblia Sagrada.
Na relação com o governo Casagrande, sua relação pode ser considerada “híbrida” (ou ambígua mesmo). Ele é quase um deputado da base. “Quase” porque constantemente vota com a base, a favor do Poder Executivo, tem reivindicações atendidas, participa de entregas governamentais em Aracruz e é prestigiado pelo governo em seu reduto político. Mas vota contra o governo justamente naquelas matérias mais sensíveis a suas crenças religiosas e princípios conservadores.
“Tenho um bom diálogo com o governo. Deixei muito claro para o governador que reconheço os investimentos que o Estado tem feito, sobretudo na minha região, na região de Aracruz, que são investimentos importantes. Deixei muito claro para o governador que quero ter a porta do diálogo aberta, mas, nas pautas de princípios e costumes, eu defendo uma posição divergente da dele, e estarei cobrando aquilo que entendo que não está sendo correto. Então, eu tenho uma posição de diálogo com o governo, de diálogo aberto, mas também tenho divergências importantes”, explica o deputado.
Com outros nove deputados, Alcântaro compõe o chamado bloco parlamentar independente, formado pelas bancadas de três partidos: Republicanos, PL e PRD. Desse bloco, opositores full-time mesmo são poucos.
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A bancada do Republicanos: tem de tudo
Mesmo entre os do Republicanos, as posições diferem muito. A bancada está longe de mostrar coesão.
Pablo Muribeca, filiado em 2024, é aliadíssimo de Lorenzo Pazolini. Teve seu apoio pessoal, em atos de campanha, para prefeito da Serra, com direito a críticas severas do então prefeito, Sérgio Vidigal (PDT), e até tiroteio na rua em meio a uma carreata. Ultimamente – enquanto Alcântaro defende a união de Pazolini com Arnaldinho –, Muribeca tem atacado o prefeito de Vila Velha em discursos no plenário.
Por seu turno, Sérgio Meneguelli tem aquele estilo lobo solitário e, antes mesmo de iniciar o mandato, já dizia querer sair do partido.
Bispo Alves, pastor da Igreja Universal, mantém boa relação com o governo Casagrande.
Hudson Leal, após estremecimentos no começo da legislatura, reaproximou-se muito do governo. Acima de tudo, apesar de ser do mesmo partido, não apoia Pazolini de jeito nenhum. A quem lhe pergunta reservadamente, responde que, onde estiver o prefeito de Vitória, ele estará no lado oposto.
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