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Manato à procura de um partido para ser candidato a senador
As dificuldades encontradas pelo dono de pousada para se hospedar em novo abrigo político no campo conservador. Ele faz um mea-culpa público relacionado à própria esposa

Carlos Manato. Foto: Reprodução/Instagram
O médico e empresário Carlos Humberto Mannato foi, inesperadamente, um dos principais personagens da política capixaba nos últimos dez anos. Após quatro mandatos consecutivos (2003/2018), sem especial vistosidade, na Câmara dos Deputados, chegou em segundo lugar, duas vezes seguidas, na eleição para governador do Espírito Santo. Em 2018, pelo PSL, por pouco não chegou ao 2º turno. Em 2022, pelo Partido Liberal (PL), por pouco não frustrou a reeleição de Renato Casagrande (PSB). Entre esses dois pleitos, foi ele, seguramente, a principal referência de uma direita mais bolsonarista no Espírito Santo.
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Após um ano sabático em 2023, Manato voltou a fazer política no ano passado, manifestando interesse em disputar, desta vez, uma vaga no Senado pelo Espírito Santo. Duas delas estarão em disputa no ano que vem. Para isso, antes de tudo, Manato precisa resolver urgentemente uma necessidade prática: encontrar um partido político, no “campo conservador”, que tope acolher a sua candidatura a senador. Mas não está sendo fácil. Agora dono de uma pousada em Pedra Azul, o ex-deputado não está conseguindo encontrar um novo abrigo político. Tem esbarrado em muitas portas fechadas… e aquelas em que há uma fresta aberta dão acesso a quartos já ocupados (ou reservados).
Com a onda de fusões, federações e incorporações, os partidos políticos têm escasseado. Os menores, em sua grande maioria, estão muito mais interessados em tentar sobreviver à cláusula de barreira (elegendo um número mínimo de deputados federais no país); os maiores, na maior parte dos casos, já têm seus próprios pré-candidatos a senador ou outras prioridades nas eleições majoritárias no Espírito Santo. Ainda assim, Manato garante: não desistiu de se candidatar à Câmara Alta e não desistirá tão cedo.
“Sou pré-candidato e não vou desistir. Estou conversando com todo mundo, vendo qual a alternativa de cada um, onde posso me encaixar de forma segura… Estou andando, não parei de andar, só não tenho divulgado.”
E tem andado mesmo. Intensificando os movimentos, só na última segunda-feira (29), Manato reuniu-se com os presidentes de três partidos de direita no Espírito Santo. Nesta ordem: Iuri Aguiar, do Novo, Bruno Lourenço, do PRD, e Josias da Vitória, do Progressistas (PP). Nos três casos, analisou a conjuntura, ouviu os planos de cada dirigente e, naturalmente, sondou as possibilidades de “encaixe” de sua pré-candidatura.
Tecnicamente, Manato continua filiado ao PL. Mas sua saída do partido já está definida há muito tempo. Logo após a campanha de 2022, ele e o senador Magno Malta, presidente estadual do PL, tiveram um sério desentendimento – que passa por dívidas relativas a sua campanha a governador. Além disso, ficando no PL, a chance de Manato se candidatar a senador é zero: Magno já resolveu que a legenda irá para a própria filha, Maguinha Malta.
“Você sabe que minha situação no PL é muito delicada. Tenho tentado trabalhar com a bandeira branca para unir o conservadorismo no Espírito Santo. É o que o Ciro Nogueira defende nacionalmente: todo mundo junto numa grande união conservadora. O meu grande objetivo é construir uma convergência. Mas, dentro do PL, a conversa é muito difícil, não existe diálogo, tanto que o Callegari saiu”, exemplifica Manato.
De fato, o deputado estadual Wellington Callegari desfiliou-se há pouco tempo do PL, com a anuência de Magno, e decidiu entrar no minúsculo Democracia Cristã (DC). Ele também é pré-candidato a senador pela direita bolsonarista. No PL, não conseguiria ser candidato.
Voltando a Manato, seu giro de conversas partidárias na segunda-feira serviu para ele mostrar que segue ativo no jogo eleitoral, mas não lhe resultou propriamente em nenhuma abertura concreta.
O Novo é um espaço ambicionado pelo ex-deputado, onde ele vê que se encaixaria… Mas o presidente estadual da sigla, Iuri Aguiar, não abre mão de lançar a candidatura ao Senado do vereador de Vitória Leonardo Monjardim, a quem já empenhou sua palavra. Questionado por Manato, o dirigente do Novo lhe disse estar determinado a lançar Monjardim mesmo que seja de forma avulsa (só pelo Novo, sem coligação). Isso reduziria ainda mais as chances de uma candidatura já muito difícil, mas é a decisão do Novo. Manato disse respeitá-la.
No Partido Renovação Democrática (PRD), a conversa foi com um velho conhecido de Manato: o presidente estadual da legenda é o empresário Bruno Lourenço, que foi seu candidato a vice-governador (pelo PTB) em 2022. O PRD é a resultante da fusão do PTB com o Patriota, no início do ano passado. Para as próximas eleições, o partido fará uma federação com outra sigla de pequeno porte: o Solidariedade.
O PRD poderia albergar a candidatura de Manato ao Senado, até considerando sua excelente relação com Lourenço? Poderia, não fosse por um fator: nas disputas majoritárias no Espírito Santo, o partido já está comprometido, nacionalmente, em apoiar a pré-candidatura de Arnaldinho Borgo a governador. É preciso ainda acompanhar como isso vai se desenrolar, se Arnaldinho de fato será candidato… Mas o prefeito de Vila Velha é, antes de mais nada, aliado de Renato Casagrande (PSB) e membro do grupo político do governador. Manato está do lado oposto. O compromisso prévio do PRD com Arnaldinho dificulta a presença de Manato ali.
Já no PP, a conversa foi com Da Vitória, presidente estadual da federação formada pelo partido com o União Brasil. Os dois fizeram uma análise de conjuntura. Mas ali o jogo é ainda mais complicado para Manato. No Espírito Santo, essa federação já está superlotada de potenciais candidatos majoritários: os deputados Evair de Melo e o próprio Da Vitória, ambos do PP, podem se candidatar ao Senado. E o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, foi convidado para entrar no União Brasil. Ele é pré-candidatíssimo ao Senado. Segundo Manato, se Euclério entrar, não haverá espaço para ele.
Mas as complicações vão além da possível entrada de Euclério. A conversa de Manato com a coluna se deu horas antes de um fato importante ocorrido nesta terça-feira (30): a decisão do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, de se filiar ao PP, após ter recebido do presidente nacional da sigla, Ciro Nogueira, sinal verde pra construir no PP sua pré-candidatura a governador. Arnaldinho, como mencionado acima, é aliadíssimo do governador Renato Casagrande… Sua entrada no PP reforça a posição da Federação União Progressista em um campo político oposto ao de Manato.
O mea-culpa e Manato sobre Soraya
Entretanto, desta vez, acima de próprias pretensões eleitorais, Manato estabeleceu outra prioridade absoluta: fazer com que sua esposa, Soraya Manato, retorne à Câmara dos Deputados.
Alguns partidos, mais interessados em superar a cláusula de barreira, podem aceitar filiar e lançar Manato ao Senado, desde que ele leve Soraya para a mesma agremiação, só para reforçar a chapa de federais da sigla. Seria uma maneira de levar Soraya para o sacrifício, já que ela não teria a mínima chance de vitória eleitoral. Apenas ajudaria a chapa da sigla em questão, com seus votos, a superar a cláusula de desempenho.
Manato assegura: não fará isso com Soraya, de jeito nenhum. O ex-deputado faz aqui, publicamente, um mea-culpa relacionado à esposa. Em 2022, com mandato na Câmara, ela tinha boas chances de reeleição e convite para se candidatar pelo PL (onde Manato já estava). Pelo partido de Bolsonaro, com a boa votação que teve, ela poderia ter pegado uma vaga. Mas Manato a levou para ser candidata no PTB, partido sobre o qual tinha grande influência na época. A chapa do PTB não atingiu a votação total mínima para fazer um deputado federal no Espírito Santo e, mesmo bem votada individualmente, Soraya não ficou com um dos dez assentos do Estado na Câmara.
“Já pequei uma vez com Soraya. Não vou usá-la como moeda de troca. Se for para fazê-la de moeda de troca, eu saio fora. Se alguém me disser ‘pra você se sentar aqui, tem que botar a Soraya aqui’, eu não vou me sentar. Devo isto a ela: um lugar seguro para ela se eleger.”
“Eu quero uma coisa, ela quer outra. Eu tenho que me viabilizar e ela tem que se viabilizar. Poderemos inclusive estar em movimentos diferentes. Meu objetivo maior é a volta de Soraya para a Câmara dos Deputados”, afiança Manato.
Desde o início do ano, Soraya é secretária de Assistência Social de Vitória, na administração de Lorenzo Pazolini (Republicanos). Desde 2022, ela está filiada ao Progressistas (PP). Segundo Manato, a esposa hoje está entre ser candidata a federal pelo PP ou pelo Republicanos.
O próprio Manato também conversa com o Republicanos sobre sua possível filiação. Mas esse é outro partido de direita que dificilmente abrigaria a candidatura dele a senador. O foco total da legenda está em eleger Pazolini governador. Manato já declarou apoio ao prefeito de Vitória, por ocasião da chegada de Soraya ao secretariado de Pazolini.
“Só não converso com o PL, porque não tem chance de conversar”, finaliza Manato.
