fbpx

Coluna Vitor Vogas

Quem é o novo vereador do PT na Câmara de Vitória

“Chego à Câmara me considerando um vereador petista. É isso. Farei oposição, mas não necessariamente como a Karla faz”, diz parlamentar

Publicado

em

Raniery Ferreira (PT) agora é vereador de Vitória

Raniery Ferreira (PT) agora é vereador de Vitória

Raniery Nunes Ferreira, ou, simplesmente, Raniery. Se você não é do Partido dos Trabalhadores (PT) nem da Grande Goiabeiras, esta pode ser a primeira vez que se depara com esse nome. Mas, até o comecinho do próximo ano, ele estará no painel de votações da Câmara de Vitória. Pelos próximos seis meses, como 1º suplente do PT nas eleições de 2024, o ex-líder comunitário do bairro Maria Ortiz substituirá a vereadora Karla Coser, que dará à luz neste mês e acaba de tirar licença-maternidade. Raniery tomou posse na terça-feira (1º). É portanto, oficialmente, o novo vereador do PT na capital do Espírito Santo.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

E é bom que logo se esclareça: não será uma simples troca de seis por meia-dúzia (ou de 13 por 10 + 3): que ninguém espere aquele estilo combativo, de uma oposição aguerrida à administração Pazolini, representada no plenário pela filha do deputado João Coser. Como o próprio Raniery faz questão de ressaltar, oposição, sim (ele assim se considera), mas “oposição propositiva”. Ele diz que não chega à Câmara com a predisposição de “brigar por brigar”. Será, sem sombra de dúvida, postura bem mais leve que a de Karla – um respiro de um semestre para o prefeito; um afrouxamento no nó de sua gravata.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

“Chego à Câmara me considerando um vereador petista. É isso. Farei oposição, mas não necessariamente como a Karla faz. Farei uma oposição propositiva, dialogando, entendendo o que está sendo apresentado pelo Executivo. Não vim aqui necessariamente brigar com o prefeito. Não é isso. Os projetos que a gente entende que ferem os nossos princípios partidários e que vão de encontro aos trabalhadores, às minorias e aos menos favorecidos, obviamente vamos votar contra. Não tem conversa. Agora, um projeto que beneficie a cidade, não tem por que não votar a favor. Nós vamos votar a favor”, pontua ele.

De imediato, Raniery também faz questão de fazer outro esclarecimento – aliás, um desmentido.

O suplente do PT chega à Câmara de Vitória em pleno auge do Processo de Eleição Direta (PED), a acalorada disputa interna de seu próprio partido pela presidência estadual e pela direção da sigla nos municípios pelos próximos quatro anos. Ele mesmo, aliás, é candidato à presidência do PT em Vitória, para suceder seu pai, o atual presidente municipal, Zé Carlinhos Ferreira. Para presidir a Executiva Estadual, como membro da CNB, Raniery apoia a recondução da deputada federal Jack Rocha (integrante da mesma corrente).

Em meio a esse caldeirão, em entrevista à coluna, o deputado João Coser, adversário de Jack Rocha, no PED, afirmou que Raniery, em sua campanha a vereador de Vitória em 2024, teria apoiado a reeleição de Pazolini para prefeito, em vez de apoiá-lo (Coser foi candidato a prefeito pelo PT). Na entrevista, Coser citou isso como um exemplo do alegado pouco empenho de Jack Rocha e seu grupo interno em candidaturas majoritárias do PT nas últimas disputas municipais no Espírito Santo.

Raniery nega peremptoriamente as afirmações de Coser. Classifica-as como uma mentira produzida no presente contexto de disputa interna exacerbada pelo comando do PT-ES. Afirma que, em 2024, pediu votos para Coser e ninguém mais:

“Isso é mentira. A vida toda eu votei no João Carlos Coser. E, no último pleito, de 2024, eu votei e pedi votos para ele. Havia algumas pessoas em Goiabeiras que votavam no Raniery e no Pazolini. Eu não poderia dizer ‘Já que você não vota no João, também não vote em mim’. Eu simplesmente agradecia o apoio e ponto. Não existe uma foto minha com adesivo de Pazolini no peito. Não existe um vídeo. Não apoiei o Pazolini. Apoiei João Coser e pedi votos para ele. No meu lançamento de campanha, convidei João Coser, que esteve presente. E, nesse mesmo lançamento, falei a plenos pulmões: ‘Vote no Raniery e vote no João’. Ponto”.

O novo vereador confirma ter sido apoiado pelo deputado estadual Denninho Silva (União) – este, sim, um apoiador declarado e cabo eleitoral de Pazolini em 2024. Mas separa as coisas: “O Denninho pediu votos para nós. Colocou pessoas dele no nosso projeto. Apoiou outros candidatos também. Eu jamais recusaria a ajuda do Denninho”.

Para Raniery, Coser disse o que disse por conta do PED, comparado por ele a uma “guerra”: “Existe uma máxima que diz que, numa guerra, a primeira vítima é a verdade. Dentro desse PED, não é diferente. As pessoas acabam dizendo algumas inverdades como essa para poderem ter algum tipo de benefício eleitoral. Não tem outra justificativa”.

Quem é Raniery Ferreira

Nascido em janeiro de 1987, Raniery tem 38 anos e chega à Câmara para exercer o seu primeiro mandato eletivo. Nascido em Vitória, cresceu no Morro do Romão, onde viveu até os 12 anos. Estudou em escolas públicas. Começou a militar na política muito jovem, ainda no fim do ensino fundamental, como presidente do grêmio estudantil da Escola Municipal de Ensino Fundamental Marechal Mascarenhas de Moraes, da Prefeitura de Vitória, em Maria Ortiz.

Depois, no ensino médio, estudando em uma unidade de Bairro República, foi tesoureiro da União Estadual dos Estudantes Secundaristas (UEES). Durante essa sua passagem pelo movimento estudantil, filiou-se ao PT – seu único partido, até hoje. Não tinha nem 18 anos. Leva, portanto, mais de 20 anos de militância nas trincheiras petistas.

Ele é filho de um militante histórico do PT: José Carlos Nunes Ferreira, o Zé Carlinhos, atual presidente do partido em Vitória. Seu pai também chegou a ser vereador da Capital brevemente, também assumindo como suplente, em 2011, quando Alexandre Passos tornou-se secretário estadual de Turismo.

Com curso de Economia incompleto, segundo ele, pela Faculdade Estácio de Sá, Raniery já empreendeu em vários negócios. Atualmente, atua no comércio varejista. Em 2013, chegou à presidência da Associação de Moradores de Maria Ortiz, aos 26 anos. Orgulha-se em dizer que, naquele momento, foi o morador mais jovem a chegar à presidência da entidade. Ficou no cargo até 2016, quando renunciou para estrear em eleições municipais.

Naquele mesmo ano, disputou pela primeira vez o cargo de vereador. Era o auge do antipetismo, insuflado pelo movimento “Fora, Dilma!”, pela Operação Lava Jato e pelo impeachment da presidente da República naquele mesmo ano e pelo início do governo de Michel Temer (MDB). Aquelas eleições municipais foram as mais difíceis da história do PT.

“Fui candidato naquela loucura pós-golpe que estava o Brasil. Ser petista era quase considerado um crime. Mas aceitei o desafio. Fui para as ruas. Pedi votos para o PT e para o Raniery”, relembra. Ele teve mais de 1,5 mil votos, mas não chegou lá. Aliás, o PT não elegeu ninguém em Vitória naquele pleito. “Foi um momento muito difícil, mas muito engrandecedor. Quem enfrentou aquela eleição, enfrenta qualquer uma. Foi horrível…”

Curiosamente, até aquele momento, Raniery não era próximo a Denninho Silva, muito pelo contrário. Seu período à frente do movimento comunitário de Maria Ortiz coincidiu com o do hoje deputado como líder comunitário do bairro vizinho de Goiabeiras. Então, como recorda o petista, os dois eram grande rivais – afinal, brigavam pela mesma coisa: uma vaga na Câmara de Vitória. E o pau quebrava (mesmo) nas ruas da Grande Goiabeiras, entre os respectivos apoiadores:

“Era uma guerra! Os nossos cabos eleitorais brigavam nas ruas, mas brigavam de verdade!”

Com Denninho eleito vereador em 2016, os objetivos de ambos passaram a ser diferentes (ou deixaram de ser concorrentes), o que favoreceu uma aproximação estratégica. “A gente decidiu acabar com essa guerra.” Apesar de o atual deputado ter perfil muito mais de direita, Raniery passou a ter nele um grande aliado paroquial e seu maior cabo eleitoral.

“Como estamos na mesma região e hoje disputamos espaços diferentes, temos feito pontualmente algumas parcerias, porque não faz muito sentido a gente ficar se digladiando como já foi em 2016, sendo que a gente quer ocupar espaços diferentes”, explica o petista.

Dessa união surgiu, por exemplo, a vitória na recente eleição da Associação de Moradores de Maria Ortiz. Apoiado por ele e por Denninho, o irmão mais novo de Raniery, Ray Ferreira (também filiado ao PT), bateu o seu próprio recorde, aos 23 anos, como o presidente mais novo da história da entidade. A nova diretoria eleita foi empossada no início de junho.

Antes da sua segunda investida nas urnas, Raniery teve duas outras experiências. Em 2020, preferiu não concorrer pessoalmente. Em vez disso, coordenou a campanha do ex-vereador Alexandre Passos, em sua tentativa frustrada de voltar à Câmara de Vitória. E, por cerca de sete anos, trabalhou na Prefeitura de Viana, passando pelas gestões do hoje deputado federal Gilson Daniel (Podemos) e do atual prefeito, Wanderson Bueno (Podemos). Passou por diversos cargos, começando como gerente municipal de Agricultura e terminando como subsecretário de Turismo.

O convite a Raniery foi feito pelo então vereador de Viana Fábio Dias, que era filiado ao PT, além de ser um amigo de longa data. Depois disso, filiado ao PSB, o próprio Dias se elegeria vice-prefeito de Wanderson Bueno em 2020 e, de novo, em 2024.

Nas últimas eleições municipais, Raniery decidiu novamente encarar as urnas. Teve o apoio, como dito, de Denninho, além de Jack Rocha, companheira política sua desde os tempos de militância na Juventude do PT.

Com 2.100 votos, o filho de Zé Carlinhos ficou na 1ª suplência da chapa do PT. O partido dessa vez elegeu dois vereadores: Karla Coser, reeleita com mais de 7 mil votos e como a campeã dessa disputa, e o Professor Jocelino, representante do Morro da Piedade.

Agora, Raniery chega à Câmara de Vitória para, nesses seis meses de mandato, concentrar-se em quatro causas: reivindicações do movimento sindical (ao qual sua corrente, CNB, é bem ligada), qualificação profissional, projetos sociais e, principalmente, a cultura. Ele é fortemente envolvido com a escola de samba Chegou o que Faltava, que é da sua comunidade e faz parte do Grupo Especial do Carnaval de Vitória.

No PED, Raniery disputa a sucessão do próprio pai na presidência do PT em Vitória contra André Carvalho, o candidato apoiado por João Coser, sua corrente (Alternativa Socialista) e sua chapa. A eleição interna será no próximo domingo, e os eleitores serão os filiados ao PT.