Coluna Vitor Vogas
Presidente da Assembleia denuncia uso eleitoral da máquina por secretários
A tensão pré-eleitoral, com incrível antecipação, chegou de uma vez por todas ao plenário da Ales. “Faço um alerta aos secretários de Estado: não confundam as suas pastas com comitê eleitoral!”, disparou Marcelo Santos. Leia aqui os detalhes

Marcelo Santos preside sessão da Assembleia. Crédito: Lucas S. Costa/Ales
A tensão pré-eleitoral, com incrível antecipação, chegou de uma vez por todas ao plenário da Assembleia Legislativa (Ales). Na sessão plenária realizada na manhã desta quarta-feira (2), o presidente da Casa, Marcelo Santos (União), que conduzia os trabalhos, fez uma denúncia grave: segundo o presidente, aliado do governo Casagrande, secretários estaduais que têm pretensões eleitorais viriam coagindo cidadãos a apoiar as respectivas candidaturas em troca da prestação dos serviços públicos sob a alçada deles. Sem citar nomes, Marcelo afirmou que alguns secretários de Estado estão usando o poder e a estrutura das respectivas pastas com fins eleitoreiros, subvertendo a máquina pública estadual e colocando-a a serviço das próprias candidaturas.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
Usando até o adjetivo “vergonhoso”, o próprio presidente da Ales definiu a sua denúncia como um “alerta”:
“Faço um alerta aos secretários de Estado: não confundam as suas pastas com comitê eleitoral, porque a Assembleia Legislativa não vai permitir que isso aconteça e muito menos essa coação que é feita com cidadãos que procuram a prestação de serviços do Estado e só é entregue se ele declarar apoio a um secretário de Estado que coloca o seu nome à disposição para uma disputa eleitoral que é só o ano que vem”.
Como demonstramos aqui no domingo (30), pelo menos dez secretários do Governo do Estado podem ser considerados pré-candidatos nas próximas eleições legislativas, sendo cinco a deputado estadual e os outros cinco a deputado federal. A conta cresce se incluirmos a secretária de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Cyntia Grillo, possível candidata a deputada estadual pelo Podemos. E isso só no primeiro escalão, sem contar chefes e autarquias e órgãos estaduais.
Já no Legislativo Estadual, de acordo com o levantamento da coluna publicado no fim de março, dos 30 atuais deputados, 24 são pré-candidatos à reeleição, enquanto quatro pretendem concorrer a um dos dez assentos do Espírito Santo na Câmara dos Deputados. Na última categoria está o próprio Marcelo Santos, pré-candidato declarado a deputado federal desde novembro de 2022. Outros dois, Sérgio Meneguelli (Republicanos) e Wellington Callegari (PL), aspiram ao Senado.
O presidente fez uma fala duríssima dirigida a secretários (e concorrentes) que, segundo ele, viriam colocando a máquina estadual a serviço das próprias candidaturas:
“O que tem ocorrido com alguns secretários de Estado que estão colocando o nome para a disputa eleitoral é que eles estão confundindo a secretaria de Estado com palanque eleitoral. Isso não é bom para o governado Renato Casagrande. Isso não é bom para a população do Espírito Santo”, advertiu o chefe do Poder Legislativo, prosseguindo assim:
“Tem secretário que, ao dialogar com dito prefeito ou com um presidente de Câmara ou com um cidadão comum, pergunta primeiro qual é a opção de voto dele para deputado estadual, para deputado federal. E, se por acaso esse cidadão disser que opta pelo deputado Vandinho, por exemplo, o cidadão jamais será atendido, porque ele vai ficar com cara feia e vai usar a política eleitoral para não atender o cidadão”.
Tal postura contraria as determinações do próprio governador, segundo Marcelo, que intensificou o “alerta”:
“Tenho plena convicção de que o governador Renato Casagrande não concorda com isso, mas é um alerta que faço aos secretários de Estado que têm a pretensão de disputar uma eleição: primeiro cumpram o seu papel, ao qual foram designados pelo governador, para cumprir a missão de secretário de Estado, de promover o desenvolvimento econômico e social do Espírito Santo na pasta que você ocupar. Não confunda eleição com gestão!”
Marcelo encerrou com a promessa de que a Assembleia passará a fiscalizar com maior rigor o comportamento dos secretários que são pré-candidatos e a eventual prática de “crime eleitoral” (palavras usadas por ele):
“Esta Casa é que tem papel constitucional de fiscalizar. Por enquanto nós estamos fazendo ouvido de mercador e ficando com os olhos fechados. Mas vamos começar a abrir os olhos e ficar mais antenados para que não ocorra nenhum crime eleitoral, porque o que está acontecendo com algumas pastas é vergonhoso, e os depoimentos que tenho recebido na presidência da Assembleia, nas mais diversas áreas, não é bacana [sic]. E não é assim que o governador Renato Casagrande dita as regras”.
O discurso surpresa do presidente foi parabenizado e secundado por cinco colegas: Alcântaro Filho (Republicanos), José Esmeraldo (PDT), Coronel Weliton (PRD), Capitão Assumção (PL) e Lucas Polese (PL). O último é pré-candidato a deputado federal, enquanto os demais vão para a reeleição.
Esmeraldo até fez uma ressalva à fala de Marcelo: “Tinha que ser mais objetivo. Devia dar o nome”. Ele mesmo não chegou a citar nomes – ameaçou fazê-lo em breve –, mas especificou espaços: o Detran-ES, cujo diretor-presidente é Givaldo Vieira, e a Secretaria de Estado da Saúde, cujo secretário é, desde janeiro, o deputado estadual licenciado Tyago Hoffmann. Eles são, respectivamente, pré-candidatos a deputado estadual e a deputado federal. Ambos são do PSB.
“Papelão vergonhoso”
Danilo Bahiense também ameaçou dar nome aos bois:
“Lamentavelmente, eu tenho recebido muitas reclamações de pessoas que procuram determinados órgãos do governo e também determinados órgãos federais, em cima de deputados federais nossos, e a primeira pergunta que fazem a elas é se vão apoiar determinado candidato. Se não forem apoiar, certamente não auxiliam as pessoas. Hoje foi um alerta. Mas, daqui a alguns dias, vamos dar nome a essas pessoas”.
Segundo o deputado do PL, “secretários que são candidatíssimos no ano que vem estão fazendo agora esse papelão vergonhoso”.
O líder do bloco parlamentar independente, formado por PL, Republicanos e PRD, Coronel Weliton (PRD), afirmou que seus integrantes estão sendo prejudicados: “Utilizam-se da máquina pública para fazer campanha eleitoral antecipada, o que é crime. Nosso bloco parlamentar independente está sendo prejudicado pelo comportamento de alguns secretários. […] Estão ali para servir e não para serem servidos e se beneficiarem do cargo”.
Assumção falou em “covardia” e parabenizou Marcelo Santos pela “denúncia gravíssima”:
“Essas pessoas esquecem que estão ali para servir o povo e estão de olho em votos para 2026. Isso é um absurdo. […] Algumas pessoas estão em seus cargos privilegiados porque foram contempladas pela suposta competência que o governo deu a elas, mas estão utilizando seus cargos em busca de votos. Isso é uma covardia contra o povo capixaba e também contra o governador, que [não] os escolheu para isso”.
