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Coluna Vitor Vogas

Cota do Podemos: Gilson Daniel passa a influenciar secretaria de Estado

Deputado já emplacou dois subsecretários, enquanto secretária Cyntia Grillo deve se filiar ao Podemos para fazer sua estreia nas urnas, como candidata a deputada estadual. Tudo fruto de acordo do deputado com Casagrande. Detalhamos aqui

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Cyntia Grillo entre Renato Casagrande e Gilson Daniel

Cyntia Grillo entre Renato Casagrande e Gilson Daniel

Uma secretária de Estado, com perfil muito técnico, determinada a fazer a sua estreia nas urnas. O Podemos, do deputado federal Gilson Daniel, finalmente contemplado e influindo em uma secretaria de peso, com muitas entregas à população, no governo de Renato Casagrande (PSB). Um quadro importante do PT, ex-prefeito da maior cidade do sul do Estado, deslocado por Casagrande, a fim de abrir espaço para o Podemos. E o próprio Gilson Daniel, presidente estadual do partido, começando a dar as cartas e a emplacar indicações no segundo escalão da secretaria em questão. Eis o resumo da apuração da coluna, que passo a expor a seguir.

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A secretária, no caso, é Cyntia Figueira Grillo. A pasta é a de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades), comandada por ela desde abril de 2020, no governo passado de Casagrande. Cyntia nunca disputou eleições. Isso está muito perto de mudar. Ela mesma, em conversa com a coluna, preferiu manter discurso cauteloso. Disse que “o martelo ainda não está batido”. Gilson Daniel adotou a mesma cautela. Mas várias fontes da coluna, inclusive no primeiro escalão do governo e até dentro da própria Setades, convergem e confirmam o mesmo: a resolução já está tomada. Cyntia quer ser (e será) candidata a deputada estadual. Mais especificamente, será candidata pelo Podemos de Gilson Daniel.

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Esse é um dos pontos de um acordo de gabinete firmado há cerca de um mês entre o governador e o deputado federal. Portanto, a futura filiação da secretária ao Podemos e sua candidatura a deputada estadual pela mesma sigla são resultado direto de entendimento político entre Casagrande e Gilson Daniel. A secretária fortalecerá a chapa do Podemos, partido aliado do governo, na eleição para a Assembleia Legislativa. Se o quisesse, poderia ser até candidata a deputada federal – o que na certa agradaria mais ainda a Gilson Daniel, como a qualquer outro dirigente –, porém ela prefere se candidatar a estadual, e ele respeitará a vontade da secretária. Mas não é só isso.

Como fruto do mesmo acordo, a Setades já passou a ser tratada, internamente, como a “cota” do Podemos – mais precisamente, de Gilson Daniel – no governo Casagrande, e não só porque a própria secretária já tem na mão o bilhete para entrar no partido.

Deste ponto em diante, a Setades é a secretaria sobre a qual o deputado exercerá influência política direta. “Ele passa a conduzir politicamente a Setades”, resume uma fonte gabaritada do governo. Tal “condução” já passou a se manifestar, na prática, com o preenchimento de espaços estratégicos por Gilson Daniel. Em cerca de um mês, o deputado e presidente do Podemos no Espírito Santo emplacou a indicação de dois subsecretários na pasta, ambos filiados ao partido. A Setades tem cinco subsecretarias.

O primeiro indicado por Gilson, há menos de um mês, foi André Pessoa dos Santos, novo subsecretário estadual de Trabalho, Emprego e Geração de Renda. Sua nomeação saiu no Diário Oficial do Estado no dia 2 de junho. Para isso, Casagrande precisou remanejar ninguém menos que Carlos Casteglione, até então ocupante desse cargo no segundo escalão da Setades.

Prefeito de Cachoeiro por dois mandatos, de 2009 a 2016, o ex-deputado estadual preenche, no governo, a cota de uma das duas correntes que dirigem o PT no Espírito Santo desde meados de 2017 (numa aliança só rompida há pouco tempo): a Alternativa Socialista (AS), do deputado estadual João Coser. A outra corrente é a CNB, da presidente estadual do PT, Jack Rocha, representada no primeiro escalão do governo pelo secretário estadual de Esportes, José Carlos Nunes.

Pois bem, foi exatamente para a Sesport que Casagrande deslocou Casteglione. Há cerca de um mês, o governador comunicou a João Coser e, em seguida, ao próprio Casteglione que precisaria do cargo ocupado por este na Setades para contemplar o Podemos e cumprir seu acordo político com Gilson Daniel. Assim, desde o dia 2 de junho, o ex-prefeito de Cachoeiro é subsecretário de Estado de Relações Institucionais na Sesport, reduto do PT no governo, trabalhando diretamente sob o comando de Nunes. O caminho, então, foi aberto, e Gilson indicou seu correligionário, André Pessoa dos Santos, para ser sub de Trabalho na Setades.

O segundo “gol” de Gilson estava previsto para ser anotado nesta terça-feira (1º), com a publicação, no Diário Oficial, da nomeação de um segundo quadro do Podemos no segundo escalão da mesma secretaria: Bruno Quintino Fernandes assume a Subsecretaria de Estado para Assuntos Administrativos da Setades, no lugar de Alvaro Araujo Valentim. Ele foi subsecretário de Estudos, Negócios, Planejamento e Infraestrutura Turística da Secretaria de Estado de Turismo (Setur) até fevereiro, durante a gestão de Philipe Lemos (que também flertou muito com o Podemos). Perdeu o cargo quando Philipe foi substituído por Victor Coelho (PSB) à frente da Setur.

O apoio de Gilson Daniel a Ricardo Ferraço

Por que Casagrande cedeu tanto espaço político, agora, para Gilson Daniel em seu governo? Simples: reciprocidade.

Não apenas o deputado e seu partido têm sido aliados consistentes de Casagrande desde o governo passado (2019/2022) como, de abril para cá, o deputado mergulhou de cabeça na pré-campanha de Ricardo Ferraço (MDB), o preferido de Casagrande, para ser governador do Estado, com um empenho que só encontra paralelo em Marcelo Santos (União) – desde antes de Gilson – e em Euclério Sampaio (MDB) – depois de Gilson.

Além disso, fazia tempo que Gilson vinha reclamando que o Podemos não estava devidamente representado no governo, que o partido não tinha representante no 1º escalão, que o espaço concedido à legenda não era proporcional à sua importância na aliança…

No princípio do ano, quando Casagrande promoveu algumas mudanças pontuais no secretariado justamente para contemplar aliados, chegou-se a especular o retorno do próprio deputado para a equipe de governo. Os dois de fato chegaram a conversar sobre isso, mas a hipótese esbarrou de cara em um muro daqueles intransponíveis: eventual licença de Gilson do mandato na Câmara dos Deputados significaria a ascensão de Alexandre Ramalho, agora inimigo do governo, como 1º suplente da chapa do Podemos/ES no pleito de 2022.

O governador deu a Gilson a chance de indicar outro quadro, mas eles não chegaram então a um entendimento. No começo de fevereiro, em entrevista aqui, o deputado anunciou que o Podemos não indicaria ninguém para o primeiro escalão, mas que seguiria apoiando o governo, independentemente de presença no secretariado. Não deu certeza, todavia, quanto a estar no palanque governista em 2026.

Isso durou pouco.

No dia 11 de abril, em um almoço promovido, simbolicamente, em Viana (cidade governada por ele durante oito anos), com a presença de prefeitos filiados à legenda, Gilson anunciou o apoio dele mesmo e do Podemos à pré-candidatura de Ricardo Ferraço. Leia-se: sua lealdade a Casagrande e seu compromisso com o projeto eleitoral do governador e do vice-governador.

Daí em diante, consolidou-se a imperiosa “necessidade política” de “retribuir” a Gilson, da maneira mais tradicional: cargos, espaço, influência direta sobre uma secretaria que, se bem conduzida politicamente, pode ser uma galinha eleitoral dos ovos de ouro (o que vale, inclusive, para a secretária Cyntia Grillo): a Setades toca todos os programas sociais e políticas públicas que beneficiam diretamente a população em maior vulnerabilidade social do Espírito Santo, nas áreas da assistência social, da segurança alimentar e nutricional, da geração de trabalho e renda e da transferência direta de renda.

Quem é Cyntia Grillo?

Cyntia Grillo é uma técnica raiz da área da assistência social. No cenário capixaba, começou a aparecer e a chamar a atenção de governantes como secretária municipal da área na administração do então prefeito de Venda Nova do Imigrante, Dalton Perim (de volta ao cargo neste ano). Dalton, então, estava no MDB. Cyntia tinha conexões também com o então deputado estadual Rodrigo Coelho, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCES).

Em 2017, ainda no último governo Paulo Hartung, então no MDB, ela foi levada a assumir uma gerência na Setades: a de Benefícios e Transferência de Renda. Em 2019, já no segundo governo Casagrande, assumiu a Subsecretaria do Trabalho.

Em 2020, com a saída de Bruno Lamas (PSB) para concorrer a prefeito da Serra, Cyntia foi convidada por Casagrande para chefiar a Setades. Desde então, consolidou-se e angariou reconhecimento, inclusive por parte de prefeitos, como uma secretária de perfil técnico, resolutiva e competente.

Ao longo dos últimos anos, na “virada de governos” de Casagrande (2022/2023) e a cada nova temporada de “minirreforma” do secretariado, o nome dela sempre figurava em listas de secretários “ameaçados”, não por falta de resultados, mas porque, como dito, a Setades é muito visada por políticos em geral, por ser uma secretaria fim e por conta do seu público-alvo.

Mas os próprios prefeitos, por exemplo, resistiam muito à ideia de substituição da secretária e de eventual “guinada política” em uma secretaria que vem dando resultados, sobretudo, para os municípios, graças aos repasses direto fundo a fundo, instituídos no governo Casagrande, do caixa do Tesouro Estadual para os caixas das prefeituras, visando ao fortalecimento da estrutura municipal da rede de assistência social.

Ao mesmo tempo que o nome de Cyntia sempre foi muito especulado para “cair” (mas ela sempre se segurou), também sempre foi muito cotado para entrar em disputas eleitorais (mas ela sempre se furtou… até este momento).

Relatos de interlocutores da secretária dão conta de que (1) ela está de fato animada a disputar a eleição para deputada estadual; (2) ela tem admitido a colegas esse seu interesse pessoal; (3) ciente de seu perfil, de novo, muito técnico, bem como de seu baixíssimo recall político (está há cinco anos na Setades, mas é bem pouco conhecida por quem não é do setor), ela tem começado a circular mais e a mudar a sua comunicação, inclusive nas redes sociais.

Está postando mais, falando mais, viajando mais, participando mais de reuniões e eventos políticos. Exemplo recente foi a presença dela no grande evento organizado por Euclério Sampaio em Cariacica, no dia 9 de junho, em apoio a Ricardo Ferraço. Eu mesmo não esperava vê-la naquele palanque.

Abaixo, passo a reproduzir o que dizem a própria Cyntia Grillo e o próprio Gilson Daniel sobre as informações acima.

Cyntia Grillo: “Vou seguir a orientação do governador”

Cyntia Grillo admite que pode ser candidata a deputada estadual. Diz que ainda não há definição quanto a ela se filiar ao Podemos, mas que está à disposição do governador e seguirá sua orientação.

“Nada disso tem martelo batido. Existe um apelo da base da assistência social por essa candidatura e obviamente existe o interesse de uma estrutura de governo que a gente compõe. Mas isso ainda está em construção. Existe, sim, uma discussão entre os dois [Casagrande e Gilson Daniel] para que eu possa compor o Podemos. Mas isso também não está com martelo batido. Isso vai passar pelas mãos do governador. A minha liderança é Renato Casagrande. Sou fiel a ele e orientada por ele. Vou seguir a orientação do governador. Se, no final, a gente se decidir por uma candidatura minha, a escolha será mesmo para estadual. Não quero, neste momento, disputar para federal porque entendo que isso está muito distante da minha realidade. Gostaria de estar num processo em que eu tenha condições de competitividade.”

Segundo Cyntia, ela ainda tem muitas entregas a fazer à frente da Setades. “É isso que me viabilizaria para uma possível candidatura. O processo eleitoral é consequência do trabalho que vimos fazendo. Mas não estamos longe de uma definição.”

Sobre a entrada de subsecretários do Podemos na pasta chefiada por ela, em acordo de Casagrande com Gilson Daniel, ela confirma: “Já há algum tempo o Podemos vem reivindicando espaço no governo. Esse já era um acordo previsto pelo governador e pelo deputado. E eles definiram que esse espaço da participação do Podemos será a Setades”.

Gilson Daniel: “Estamos muito próximos da Cyntia”

Gilson Daniel também mantém a cautela, mas admite estar “muito próximo da Cyntia”:

“Tenho conversado com o governador e com a Cyntia. E temos algumas indefinições ainda, até porque muitas pessoas no governo ainda não decidiram seu caminho. A Cyntia é uma amiga, é uma pessoa que deve participar do processo eleitoral para representar o setor da assistência social. Ela faz um grande trabalho na Setades. Tem muitas entregas na assistência. Ainda não tem martelo batido sobre a filiação dela ao Podemos, ainda não posso te confirmar isso, até porque há mais pessoas no governo que temos interesse que venham [para as chapas do Podemos]. Estamos aguardando a definição do governador, mas estamos muito próximos da Cyntia”.

Também segundo o deputado federal, a secretária será candidata a deputada estadual:

“Ela será candidata a estadual. Pelas últimas conversas que tive com ela, o interesse dela é representar a assistência social na Assembleia. A eleição para federal fica mais distante e é uma disputa mais bruta”.

Só para não perder o gracejo…

Não contavam com a astúcia de Gilson Daniel. Chapulín, em espanhol, significa gafanhoto… um “parente próximo” do grilo.