Coluna Vitor Vogas
Denninho: no time Euclério & Ricardo Ferraço ou no time Pazolini?
Reunião promovida por aliado de Euclério com Pazolini e Erick Musso, em seu reduto eleitoral, reacende especulações quanto ao lado dele no jogo eleitoral

Entrega da reforma do campo society da Praça do Hi-Fi, em Goiabeiras, em abril de 2025. Foto: PMV
O deputado estadual Denninho Silva (União) é aliado do governo Casagrande (PSB) e pertence à sua base na Assembleia Legislativa. Sobrinho e ex-assessor parlamentar de Euclério Sampaio (MDB), declara-se, acima de tudo, leal ao prefeito de Cariacica. Ao mesmo tempo, nunca escondeu sua proximidade política com o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Com a ajuda do prefeito, na eleição de 2022, subiu de vereador a deputado estadual. No 2º turno das eleições municipais de 2020, mesmo estando no Cidadania, apoiou, como vereador, a chegada de Pazolini à Prefeitura de Vitória. No ano passado, já na condição de deputado, apoiou desde o início a reeleição do prefeito.
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Denninho é, pois, na atual conjuntura política do Espírito Santo, um caso raro, raríssimo, de político que busca se equilibrar, sobre uma linha tênue, entre dois lados inconciliáveis: o do governador do Estado e o do prefeito de Vitória. Do ponto de vista eleitoral, será preciso fazer uma escolha.
Euclério é, ele mesmo, um dos maiores aliados de Casagrande, que tem no vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) a principal aposta para sua sucessão em 2026. Mais que isso: após ensaiar uma pré-candidatura própria e logo desistir do plano, Euclério se estabeleceu como o mais ostensivo apoiador da pré-candidatura de Ricardo na Grande Vitória. O engajamento do tio de Denninho na pré-campanha do vice-governador se consubstanciou em evento promovido por ele, no dia 9 de junho, em Cariacica, com a presença de milhares de pessoas. Euclério virou o ponta-direita do Ricardo Futebol Clube.
Quanto a Pazolini, dispensa comentários: é hoje, simplesmente, o principal pré-candidato a governador não alinhado ao grupo político assentado no Palácio Anchieta. É assim, potencialmente, o maior adversário eleitoral de Ricardo Ferraço nas urnas e a maior ameaça à manutenção do grupo de Casagrande no poder.
Tudo isso somado leva à inevitável pergunta: em que time, afinal, Denninho está a jogar? A camisa de qual deles vestirá? A dúvida já existente foi inflamada por um acontecimento protagonizado pelo próprio deputado na noite de terça-feira (5).
Na Associação de Moradores de Maria Ortiz, comandada por aliados dele, o deputado promoveu uma reunião de representantes da comunidade com o próprio Pazolini e com o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso. Importante: além de dirigir o partido do prefeito no Estado, Erick é ninguém menos que o principal articulador da pré-candidatura de Pazolini. Desde o fim de junho, não tem mais cargo na Prefeitura de Vitória. A priori, não tem mais por que participar de discussões de pautas administrativas.
Pazolini postou foto da reunião em seus stories, com Denninho, Erick e os moradores ao fundo. Sob anonimato, dois participantes da reunião disseram à coluna que, na conversa, falou-se das eleições estaduais de 2026. Mais especificamente, de acordo com relatos colhidos pela coluna, o deputado teria falado em eventual apoio dele a Pazolini para governador e a Erick para deputado federal, no momento oportuno.
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Denninho nega veementemente essa versão.
A versão de Denninho e a reação de Euclério
Questionado pela coluna, o deputado afirmou que, na reunião, os participantes trataram exclusivamente de pautas ligadas à Prefeitura de Vitória que interessam aos moradores dos bairros da Grande Goiabeiras: equipamentos públicos que ou já estão em construção ou que serão construídos pela administração de Pazolini, em benefício das comunidades que integram aquela regional, como uma creche no bairro Jabour (com inauguração prevista para 8 de setembro) e uma nova unidade de saúde no Bairro República, em terreno doado pelo Governo do Estado.
Segundo Denninho, justamente devido à aproximação do processo eleitoral, moradores receiam que obras de interesse das comunidades possam ser interrompidas ou desaceleradas.
“Noventa por cento do meu mandato é em Vitória. Foi uma reunião para tratar de assuntos do bairro. Não foi para tratar de política. Até porque já deixei claro nos canais de imprensa que eu sigo o que Euclério seguir. Eu só vou me posicionar sobre alguma coisa quando Euclério determinar. Falamos sobre obras, até para distensionar esse negócio de eleições. Algumas pessoas estavam preocupadas em relação às entregas que vão acontecer, justamente por causa do pleito do ano que vem. E deixei claro na reunião que não estou discutindo política, estou discutindo obras. Foi uma prestação de contas para os moradores.”
Mas o próprio Euclério – que, aliás, já se posicionou – não reagiu nada bem ao movimento de Denninho. Sem disfarçar sua insatisfação, contou que, após ver o post, chegou a bloquear o sobrinho no Whatsapp. Mas disse que, apesar de tudo, acredita na lealdade do deputado:
“Apesar de eu ter me aborrecido muito pela postura de Denninho, eu sei que ele não me trairia. Mudo de nome se isso acontecer. Tenho certeza de que ele caminhará comigo, com meu candidato a governador, meus candidatos a senador, a deputado federal e a estadual. Onde eu pisar, o Denninho pisa”.
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Em resposta à coluna, Denninho voltou a fazer um voto público de lealdade incondicional a Euclério. “Para mim já está consolidado: o Denninho é fiel ao Euclério há 27 anos. Só me posiciono diante da fala do Euclério. Sempre foi assim. Tenho 27 anos de fidelidade ao Euclério e seguirei fiel a ele.”
Perguntamos então ao deputado se ele, hoje, é Time Ricardo (o candidato de Euclério) ou Time Pazolini. “Sou time Euclério Sampaio. O que ele decidir, eu tô com ele”, respondeu o deputado.
Como o próprio Denninho confirma, isso significa que ele necessariamente apoiará o candidato a governador indicado e apoiado por Euclério.
“Estarei onde o projeto de Euclério estiver. Se Euclério disser pra mim ‘Meu candidato é o Joãozinho da Farmácia’, vou apoiar o Joãozinho da Farmácia”, encerrou o deputado.
Sobre a presença de Erick na reunião, o parlamentar atenuou: “Erick é um grande amigo, tenho com ele uma amizade de irmão. Nós dois nos conhecemos há mais de 20 anos, desde que éramos assessores na Assembleia, eu com Euclério e ele com o avô dele, Heraldo Musso. Erick passou lá, me deu um abraço e foi embora”.
Denninho tem benefícios tanto no governo Casagrande como na administração de Pazolini. No Palácio Anchieta, seus movimentos são vistos com desconfiança. Ao mesmo tempo, a cúpula do governo também duvida que Pazolini confie inteiramente nele.
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