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Coluna Vitor Vogas

A difícil operação para que Serginho Vidigal possa ser candidato a federal

No PSB, dirigentes lhe abriram as portas e sonham em tê-lo na chapa do partido, mas candidatos que já estão na chapa resistem e travaram a filiação. Entenda aqui a preocupação

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Serginho Vidigal

Serginho Vidigal

Filho mais novo de Sérgio Vidigal, fruto do casamento do ex-prefeito com a ex-deputada Sueli Vidigal, o médico Serginho Vidigal está muito propenso a estrear na política, seguir as pegadas dos pais e ser candidato a deputado federal no ano que vem. Ele mesmo já admitiu à coluna o interesse na disputa. É considerado carismático e vocacionado. Mais que isso: é o herdeiro natural dos votos do casal Vidigal, particularmente, é claro, na Serra.

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Somando-se a isso o fato de que o maior colégio eleitoral do Estado, com mais de 300 mil eleitores, não tem hoje nenhum outro grande pré-candidato assumido à Câmara dos Deputados, Serginho desponta, no meio político capixaba, como possível “poca-urna” no pleito do ano que vem. Há quem aposte que, só com a influência dos pais, ele consiga tranquilamente bater a marca dos 100 mil votos.

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Previsões como essa nem sempre se confirmam, mas é lógico que, com tal potencial, Serginho desperta a cobiça de dirigentes partidários, que disputam no momento o seu passe.

O ex-prefeito Sérgio Vidigal gostaria de reter o filho no PDT, apostando nele como puxador de votos e construindo uma boa chapa em torno dele, para conseguir eleger um federal – no caso, o próprio Serginho.

A missão é muito complicada em função do sistema de eleição de deputados estaduais e federais, no qual as vagas em disputa são distribuídas proporcionalmente à votação total de cada chapa. Nesse sistema, chamado justamente por isso de “proporcional”, os membros de uma mesma chapa se ajudam, ao mesmo tempo em que competem entre si; são companheiros e concorrentes a uma vez.

Os candidatos integrantes de uma chapa se ajudam porque os votos de todos eles se somam para que o partido consiga atingir o quociente eleitoral (garantia de uma vaga) e, se possível, ultrapassá-lo com sobras, para fazer duas cadeiras ou mais; quanto maior a votação total da chapa (e aí também entra o voto na legenda), mais chances tem aquele partido de fazer mais deputados.

Ao mesmo tempo, os companheiros de uma chapa competem entre si porque, supondo que a chapa faça apenas uma vaga, esta ficará com o seu membro que tiver obtido a maior votação individual. Se a chapa do partido fizer duas, estas ficarão com os dois membros da chapa mais votados… E assim sucessivamente.

Por que é muito difícil a tarefa de Vidigal de montar uma chapa no PDT em torno de Serginho? Porque isso demanda o esforço de convencer muita gente a ir para o sacrifício. Não há como dizê-lo de outro modo. Quem se dispuser a entrar nessa chapa saberá de antemão que disputará a eleição sem a menor chance de vitória nas urnas, apenas como “votação auxiliar” para ajudar Serginho a se eleger.

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No Espírito Santo, dirigentes estimam que o quociente eleitoral (número mágico para fazer um federal), em 2026, deve ficar entre 200 mil e 210 mil votos. Cada chapa de federal (formada por um único partido ou uma única federação) terá direito a onze candidatos, sendo no mínimo quatro mulheres. Estima-se que, sozinho, Serginho seja capaz de superar a marca dos 100 mil. Mas muito dificilmente chegará perto dos 210 mil votos. Seria uma proeza sem igual. Assim, para alcançar o “número mágico”, o PDT precisa juntar outros dez candidatos, Espírito Santo afora, minimamente competitivos, que agreguem os seus votos para a chapa.

A questão é: quem vai topar o sacrifício, sabendo que:

(1) O PDT, se conseguir registrar chapa, fará no máximo um deputado federal;

(2) Se de fato fizer um federal, todo mundo sabe quem será;

(3) Os outros dez candidatos do PDT só servirão de “escada” para Serginho Vidigal.

É isso, pragmaticamente, o que dificulta a candidatura de Serginho pelo PDT do pai.

No PSB, resistência

Qual é a principal alternativa que se apresenta para ele e para o pai? Resposta fácil: o PSB do governador Renato Casagrande (PSB).

Em primeiro lugar, há a afinidade ideológica, tão grande que, há alguns meses, os dois partidos de centro-esquerda chegaram a estreitar conversas nacionais sobre uma possível federarão. Estas, porém, esbarraram em problemas regionais, notadamente no Ceará, e agora a ideia praticamente morreu.

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Em segundo lugar, há a proximidade política no Espírito Santo. No cenário local, PDT e PSB são parceiros de longa data, assim como seus respectivos maiores líderes, Vidigal e Casagrande.

Em terceiro lugar, dirigentes do PSB no Espírito Santo sonham em ter Serginho nos seus quadros e na sua chapa de candidatos a deputado federal. Já o convidaram, e o convite está vivíssimo. Seria, por assim dizer, um caminho natural para Serginho.

Entretanto, a possível ida do filho de Vidigal para o PSB esbarra no momento em um empecilho: a resistência por parte de outros pré-candidatos do PSB à Câmara dos Deputados, que veem em Serginho uma ameaça à eleição deles mesmos. Hoje, 5 de setembro de 2025, há certa discordância entre os dirigentes do PSB (que querem eleger o maior número de candidatos, sem ver cara nem coração) e os integrantes da chapa do PSB (que, sim, querem o bem do partido, mas desejam acima de tudo garantir a própria eleição).

Não há propriamente um conflito, mas uma discordância entre as partes. A preocupação de pré-candidatos do PSB com a possível chegada de Serginho já foi manifestada por eles aos dirigentes do partido, em recente reunião da Executiva Estadual. Entre eles, estão pré-candidatos bem estabelecidos, como o deputado federal Paulo Foletto, que tentará a reeleição, o secretário estadual de Saúde, Tyago Hoffmann, e o presidente do DER-ES, Eustáquio de Freitas.

Além deles, a chapa do PSB já conta com a secretária estadual de Governo, Emanuela Pedroso, com Lorena Vasques, que foi candidata a prefeita de Cachoeiro de Itapemirim no ano passado, e com o ex-reitor do Ifes Jadir Pella.

“Fizemos uma conversa interna, e alguns companheiros manifestaram essa preocupação”, reconhece o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini. “Precisamos de mais gente para montar a chapa. Serginho é um nome. Tem outros nomes. Mas é evidente que vamos ouvir e respeitar a possibilidade dos nossos candidatos naturais do PSB”, ameniza.

A preocupação desses “candidatos naturais do PSB” com eventual presença de Serginho na chapa tem a ver com o raciocínio exposto acima (o método de distribuição das 10 vagas do Espírito Santo na Câmara), mas a conta é um pouco diferente.

Para uma chapa eleger um deputado federal, como dito, a votação total da chapa deverá ficar entre 200 mil e 210 mil votos. Já para fazer dois federais, estima-se que a chapa precisará atingir algo em torno de 260 mil ou 270 mil votos. Para lograr a proeza de eleger três federais, a chapa precisará superar os 340 mil votos.

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Sem Serginho na chapa, só com os nomes expostos acima, o PSB seguramente fará um deputado federal, com chances reais de chegar a dois. Quem serão esses dois? Brigará entre si quem já está ali.

Agora, supondo que Serginho entre na chapa, eis a pergunta do milhão: isso permite ou não, ao PSB, eleger seguramente três deputados federais?

Para a maioria dos dirigentes do partido, a resposta é sim. É a posição do presidente estadual, Alberto Gavini. Para ele, Serginho não “ameaça” a eleição de ninguém que já está ali, porque, sem ele, a chapa fará no máximo dois federais; com ele, a chapa eleva muito as próprias chances de passar dos 340 mil votos totais e eleger três. Ou seja, ele não tira a vaga de ninguém; só praticamente assegura um assento extra para o PSB.

Pré-candidatos “naturais” do PSB não pensam bem assim. Acreditam que, com a entrada de Serginho, é possível que o partido alcance as mesmas duas vagas, isto é, eleja dois federais de todo modo, mas um deles passará a ser o filho de Sérgio Vidigal, tirando-lhes uma das vagas que seria disputada por quem já estava ali no grupo. Nesse caso, Serginho ganharia, mas os postulantes do PSB que “chegaram na sua frente” sairiam perdendo, a partir do momento que topassem abrir espaço para ele na mesma chapa.

“Há uma expectativa de que o Serginho terá uma votação alta e possivelmente ele poderia ocupar uma vaga. O PSB tem a proposta de fazer de dois a três federais. E a vinda dele pode nos ajudar nessa tarefa. Com Serginho sendo bem votado, isso amplia a capacidade de o partido eleger até mais de dois, quem sabe. Dependerá da distribuição das sobras”, defende Gavini.

Mas essa é a perspectiva otimista. Não há consenso internamente.

Por isso, no momento, a ideia de filiação de Serginho ao PDT está travada.

Até abril, quando terminará o prazo de filiações de pré-candidatos, a porta do PSB poderá se abrir de vez para ele – até porque já foi-lhe destrancada pelos dirigentes. Mas, no momento, está bloqueada por Foletto, Freitas, Tyago Hoffmann e companhia.

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