Coluna Vitor Vogas
Remake político: Sergio Meneguelli quer ser senador. “Confia em mim”?
Deputado deseja reviver o enredo de 2022, mas desta vez com um final feliz para ele. Em 2022, ex-prefeito de Colatina protagonizou uma novela que lhe terminou mal, com requintes de intriga e traição. Agora, PSD abre as portas para receber sua candidatura ao Senado. Saiba o que diz o presidente do partido no ES

Sergio Meneguelli discursa na Assembleia – Foto: Ellen Campanharo/Ales
O deputado estadual Sergio Meneguelli quer ser candidato a senador em 2026. É o que ele mesmo afirma em conversa com a coluna. Sobre sua situação partidária, ele desconversa. Mas duas coisas são certas.
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A primeira é que o deputado e ex-prefeito de Colatina quer sair de seu atual partido, o Republicanos, onde ele mesmo já declarou sentir-se como “um estranho no ninho”.
A segunda é que, de fato, para cumprir seu anseio, o deputado fará bem em buscar outra legenda. Ficando no Republicanos, dificilmente conseguirá se candidatar ao Senado. O enredo de 2022 poderá se repetir: um remake como o de “Vale Tudo” (expressão, aliás, muito apropriada à selva de pedra política).
Nas últimas eleições gerais, Serginho, como é mais conhecido, vivia possivelmente o auge de sua popularidade. Já filiado ao Republicanos – e já sem prazo legal para mudar de sigla naquele pleito –, era considerado um nome certo na disputa pela única vaga no Senado em jogo em 2022. Mas acabou fritado pelos dirigentes do próprio partido, em uma novela que não acabou bem para ele.
No primeiro capítulo, Serginho desagradou à cúpula nacional do Republicanos, ao conceder a este espaço uma entrevista muito mal recebida pelos dirigentes nacionais do partido, vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus. Na entrevista, ele posicionou-se contra, por exemplo, a existência de uma “bancada da Bíblia” no Congresso, além de ter dado opiniões que vão de encontro às posições altamente conservadoras da cúpula do partido, dominada por pastores e bispos.
No segundo capítulo, Serginho levou um chapéu da direção local do Republicanos. O presidente estadual do partido e então chefe do Poder Legislativo Estadual, Erick Musso, era pré-candidato a governador. Mas, em julho de 2022, poucos dias antes do período da convenção do Republicanos, mudou radicalmente o próprio script, anunciando que ele mesmo seria o candidato do partido ao Senado pelo Espírito Santo – ou seja, deu para ele mesmo a legenda que iria para o ex-prefeito de Colatina, num dos maiores plot twists daquele processo eleitoral.
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Restou a Serginho se contentar em disputar uma vaga menor, na Assembleia, descendo de protagonista a “coadjuvante de luxo”. Ele não só realmente fez isso como alcançou a marca de deputado estadual mais votado da história deste estado, com mais de 130 mil votos – o que só provou o quanto teria sido competitivo para o Senado naquele ano. Na eleição para o Senado, Erick, diretor da novela, chegou em terceiro, e a vaga ficou com Magno Malta (PL).
Agora, com algumas adaptações, o enredo pode se repetir. Não porque Erick Musso queira ser candidato a senador novamente. Dessa vez, ele prepara candidatura à Câmara dos Deputados. Mas, sob a direção do mesmo Erick, a prioridade do Republicanos no Estado, como não é segredo para ninguém, é lançar o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, para governador – embora haja quem acredite que este possa ser até candidato ao Senado. Em todo caso, Pazolini é o nome do Republicanos para a disputa majoritária. O protagonista da sigla já está escalado.
Aqui a candidatura de Serginho ao Senado, ficando ele no Republicanos, esbarra em uma questão muito prática. Não caberão os dois. Tanto governador como senador são cargos majoritários (ganha quem levar mais votos no estado inteiro). As duas campanhas são caríssimas. E a vaga de candidato a senador, na mesma coligação, costuma ser usada para atrair apoios para o candidato a governador e ampliar sua aliança eleitoral. Na prática, é muito difícil um mesmo partido, no mesmo estado, ter candidato a governador e também a senador.
No caso concreto, se Pazolini for mesmo candidato a governador, como quer a direção do Republicanos, o partido deverá apoiar o candidato a senador de outro partido, dentro da mesma aliança. Mais um motivo para Serginho sair, na próxima janela partidária para deputados estaduais trocarem de sigla sem risco de cassação, em março do ano que vem – a não ser que consiga um acordo, antes, com os dirigentes do Republicanos.
Nesse contexto, o destino que hoje se apresenta como o mais atraente para Serginho é o Partido Social Democrático (PSD). O deputado afirma ter sido convidado para se filiar ao PSD e, segundo ele, o convite lhe chegou com garantias de legenda para ser candidato a senador no próximo ano – quando haverá duas cadeiras em disputa em cada unidade federada.
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O presidente estadual do PSD é o prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos. Ele confirma as informações do deputado:
“O deputado estadual Sergio Meneguelli tem portas abertas no PSD capixaba. Sua experiência e expertise o qualificam a concorrer a qualquer cargo eletivo, o que deve ser decidido nos próximos dias. Ganha Colatina, que pode ter um nome forte na bancada federal. Ganha o Espírito Santo, que pode contar com a habilidade política de Meneguelli. As conversas continuam e se afunilam, sempre para o bem de Colatina e do nosso Estado.”
Cumpre lembrar que Renzo tem uma dívida política com Serginho. No ano passado, a entrada pessoal do deputado e ex-prefeito em sua campanha na reta final da corrida foi, inegavelmente, decisiva para sua virada e sua vitória sobre o então prefeito, Guerino Balestrassi (MDB).
Após semanas fazendo mistério, Serginho declarou seu apoio a Renzo na última semana da campanha, num momento em que pesquisas eleitorais apontavam um empate técnico e uma das chegadas mais imprevisíveis no Espírito Santo. Nos últimos dias, então, o ex-prefeito foi para as ruas ao lado de Renzo, subiu em carros de som com ele, protagonizou polêmicas com Guerino e, principalmente, com a então primeira-dama e chefe de gabinete do prefeito, Mara Oliveira.
O peso pessoal de Serginho no desfecho da corrida em Colatina também serviu para provar algo: sim, ele vem realizando um mandato apagado na Assembleia; sim, ele pode não estar mais vivendo o apogeu de sua glória e sua fama; sim, ele talvez tenha perdido a melhor chance de sua vida para chegar ao Senado; sim, resumindo tudo isso, ele hoje está menor do que já esteve… Mas está longe de estar morto.
Comprovadamente, conserva alta popularidade em seu reduto eleitoral e também nas redes sociais – nas quais seus posts geram grande engajamento e chegam muito além de Colatina e imediações.
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Nas eleições municipais de 2024, o Republicanos esteve com o PSD de Renzo, apoiando este, para a Prefeitura de Colatina. As duas siglas também estiveram juntas em Vitória, com o PSD de Renzo apoiando a reeleição de Pazolini.
Em tese, se os dois partidos fizerem parte de uma mesma coligação majoritária no Espírito Santo, pode haver espaço, sim, para uma candidatura do Republicanos (Pazolini) a governador, com Serginho se encaixando, pelo PSD, como um dos dois candidatos dessa coligação ao Senado. Mas isso dependerá, é claro, de outros fatores, começando por quem mais estará integrado a tal coligação. A provável federação do PP com o União Brasil estará ali, por exemplo? Se estiver, há de querer lugar(es) na chapa majoritária.
O outro fator – talvez o mais importante – tem nome e sobrenome. É possivelmente o que coloca o maior asterisco sobre as probabilidades de concretização de uma candidatura de Serginho ao Senado pelo PSD: o ex-governador Paulo Hartung, prestes a ingressar no mesmo partido a partir de uma costura nacional, direta com Gilberto Kassab. Sua filiação oficial à sigla se dará no fim de maio, em São Paulo.
Como já avaliamos aqui, o projeto eleitoral de Hartung pode ser nacional. Mas não se pode eliminar eventual candidatura dele ao Senado, pelo mesmo PSD.
Tal hipótese gera incerteza sobre o projeto de Serginho também no caso de ele migrar para o PSD. Pode ser que, indo para o PSD, ele também não tenha legenda garantida para concorrer ao Senado.
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