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Coluna Vitor Vogas

Euclério se movimenta para se candidatar ao Governo do Estado

Muita gente subestima Euclério Sampaio. Ele, não. Imbuído dessa autoconfiança, o prefeito de Cariacica tem realizado uma intensa movimentação, cada vez mais à luz do dia, com o objetivo de se consolidar como possível candidato do grupo de Casagrande em 2026

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Euclério Sampaio

Euclério Sampaio é prefeito de Cariacica. Foto: Divulgação

Muita gente subestima Euclério Sampaio. Ele, não. Muito pelo contrário: se tem alguém que acredita no potencial de Euclério, é ele mesmo. Imbuído dessa autoconfiança, o prefeito de Cariacica tem realizado uma intensa movimentação, cada vez mais à luz do dia, com o objetivo de se consolidar como possível candidato ao Governo do Estado em 2026. Euclério quer se credenciar, de verdade, como opção para o grupo político liderado pelo governador Renato Casagrande (PSB).

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O pré-candidato do governador e desse grupo, hoje, é Ricardo Ferraço (MDB). Euclério não passará por cima da vontade de Casagrande. Se, daqui a cerca de um ano, o governador firmar o pé que o seu candidato à sucessão é mesmo o vice-governador, o prefeito seguirá a decisão do líder. Mas pode não ser assim, se a pré-candidatura de Ricardo não deslanchar até lá. Agarrado a essa hipótese, Euclério se move intensamente, desde já, para se colocar em condições de disputar. Quer ser uma alternativa real ao nome de Ricardo, levada a sério pelo grupo e pelo mercado político – se a oportunidade surgir.

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Assim como outros – Sérgio Vidigal (PDT) e Arnaldinho Borgo (agora sem partido) –, Euclério tem respeitado a “preferência” de Ricardo, mas está de prontidão, com o chapéu nas mãos, postado debaixo da árvore. Se o fruto cair da copa, ele já estará posicionado, pronto para colhê-lo no ar.

O estímulo a Euclério para ele tentar se viabilizar partiu do próprio Casagrande. E também de Ricardo, aliás. Em entrevistas no fim do ano passado, ao listar seus possíveis candidatos à sucessão, o governador destacou seu vice como um “candidato natural”, mas fez questão de elencar também Vidigal, Arnaldinho e Euclério, dizendo que eles “não podem ser descartados”. Falando à coluna em janeiro, ao lançar sua pré-candidatura, Ricardo citou os mesmos três aliados em igualdade de condições com ele – e ainda acrescentou os deputados Da Vitória (PP) e Gilson Daniel (Podemos) e essa relação.

Devo dizer que, inicialmente, eu mesmo não levei tão a sério a possibilidade de Euclério vir a ser o representante desse grupo na eleição para o Governo do Estado, em detrimento de Ricardo, Arnaldinho e Vidigal.

Como cheguei a escrever aqui, interpretei o gesto de Casagrande, ao incluir Euclério na seleta lista, como uma forma de o governador prestigiar e “trazer ainda mais para dentro” um aliado muito importante, de quem dependerá, em certa medida, o sucesso de seu projeto eleitoral em 2026: mesmo não sendo candidato, Euclério cumprirá um papel muito importante na estratégia de Casagrande, como prefeito bem avaliado de uma cidade do porte de Cariacica.

Ao lado de Arnaldinho em Vila Velha, de Vidigal/Weverson Meireles (PDT) na Serra e de Wanderson Bueno (Podemos) em Viana, ele poderá compor um “cinturão de segurança eleitoral” na Região Metropolitana, isolando Vitória – assim como eles já fizeram no 2º turno da última disputa estadual, em 2022, tendo sido fundamentais para a reeleição de Casagrande contra Manato (PL).

Adicionalmente, no caso de Euclério, em acordo firmado por Casagrande com Marcelo Santos (União), o prefeito pode vir a assumir a presidência estadual do União Brasil, partido importantíssimo que Casagrande e Ricardo querem ter no palanque governista – e prestes a formar federação com o Progressistas (PP). Daí, em primeira leitura, o afago do governador e do vice-governador no prefeito de Cariacica.

A interpretação de Euclério é outra, como provam seus recentes movimentos. Tomando ao pé da letra as falas de Casagrande e Ricardo, o prefeito de Cariacica está levando muito a sério, serissimamente, a possibilidade de ser candidato a governador. E está se articulando para isso.

A movimentação de Euclério começou nos bastidores. Do Carnaval para cá, está mais aberta a cada dia. Inclui uma bateria de reuniões com líderes religiosos, com associações de policiais militares e com os mais diversos agentes da classe política capixaba (de aliados a opositores do governo Casagrande, de vereadores de outros municípios a prefeitos e ex-prefeitos do interior).

Profundamente evangélico e frequentador da Igreja Quadrangular, o ex-deputado estadual tem recebido representantes das convenções da Assembleia de Deus no Espírito Santo. Uma das maiores denominações evangélicas do país, a Assembleia de Deus, por meio de suas convenções – que atuam como braços políticos –, tem tido participação cada vez maior e mais direta em processos eleitorais, marcando posição e declarando apoio a candidatos aos cargos diretivos – aqueles que, no entendimento de seus líderes, estejam em consonância com suas crenças, valores e princípios.

Sabendo da imensa influência dos pastores sobre seus rebanhos nos cultos, candidatos aos montes, da esquerda à direita, têm corrido atrás de declarações de apoio dessas convenções. Prova da influência delas nos processos eleitorais foi a novela da ameaça de retirada do apoio da Cadeeso a Weverson Meireles no 2º turno na Serra no ano passado, com toda a polêmica envolvida.

No último dia 13, Euclério recebeu representantes de nada menos que 12 convenções da Assembleia de Deus. “Conversamos sobre o futuro do Espírito Santo”, registrou o prefeito, na legenda do post. Essa, por sinal, tem sido uma constante nas publicações de Euclério: a conversa é “sobre o Espírito Santo”. Não só sobre Cariacica. E ele também agora tem um slogan, repetido ao fim de cada postagem: “Quem ama cuida”.

Ainda na “conexão evangélica”, toda quarta-feira, às 6 horas da manhã, o prefeito abre seu gabinete na sede da Prefeitura de Cariacica para a celebração de cultos evangélicos com pastores – na visão deste colunista, de maneira indevida, por ignorar a necessária separação republicana entre Estado e Igreja, governo e religião, mas não vou aqui entrar neste mérito. A questão é: ele tem forte capilaridade no meio evangélico. E aposta nesse ativo.

Em paralelo, policial civil aposentado, Euclério abriu o diálogo com associações de representação de classe dos policiais militares e bombeiros no Espírito Santo. Quatro delas (as de menor patente) se agrupam no movimento intitulado Projeto Político Militar (PPM), o qual, nos últimos pleitos, tem lançado ou apoiado candidatos aos principais cargos eletivos em disputa, visando ampliar a inserção de suas pautas no debate público e de seus representantes nos espaços de poder. Euclério também busca o apoio de tais entidades. No último dia 14, reuniu-se com seus líderes no Estado.

Ao mesmo tempo, o prefeito tem ampliado sensivelmente seu leque de relações políticas. Só neste mês de março, reuniu-se com o vereador de centro-esquerda Pedro Trés (PSB) – de Cariacica? Não, de Vitória –; com o deputado estadual bolsonarista Capitão Assumção (PL), ex-colega dele na Assembleia e opositor de Casagrande; com o prefeito de Marilândia, Gutim (PSB); com o ex-prefeito de Ibatiba Luciano Pingo e com o atual prefeito de Nova Venécia, Lubiana Barrigueira (PSB), respectivamente atual e futuro presidente da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes); com o ex-prefeito de Anchieta Fabrício Petri (PSB); com o ex-prefeito de Domingos Martins Wanzete Krüger; com o ex-prefeito de Laranja da Terra Josafá Storch; com o ex-presidente da Câmara de Vila Velha Bruno Lorenzutti (Podemos); com a secretária estadual de Assistência Social, Cyntia Grillo, entre outros.

Nenhum deles tem reduto político em Cariacica.

Além disso, Euclério aposta na excelente relação cultivada por ele com parlamentares influentes do Espírito Santo, na Assembleia Legislativa ou na bancada capixaba em Brasília.

Na Assembleia, o presidente da Casa é ninguém menos que um dos mais antigos e maiores parceiros políticos de Euclério: o cariaciquense Marcelo Santos, seu apoiador nas últimas duas eleições para a prefeitura e avalista de sua possível migração para o União, para presidir a sigla no Estado. Outro soldado dele é seu sobrinho e ex-assessor parlamentar Deninho Silva (União), com reduto na Grande Goiabeiras.

Na Câmara dos Deputados, Euclério é muito próximo de, pelo menos, três congressistas capixabas. Ex-prefeito da vizinha Viana, Gilson Daniel, presidente estadual do Podemos, é um aliado e fez campanha para ele na última eleição municipal.

Messias Donato (Republicanos) é uma criação política de Euclério. Foi eleito deputado federal em 2022 inteiramente graças ao apoio do prefeito e aos votos dados a ele pelos apoiadores de Euclério em Cariacica. É um eterno devedor de Euclério.

Por fim, Da Vitória, presidente estadual do PP – e da federação do PP com o União, se esta sair do papel –, é, assim como Marcelo Santos, um parceiro histórico de Euclério.

Foi Da Vitória, aliás, quem explicitou que Euclério tem “muita vontade” de disputar a eleição para governador, em entrevista à coluna publicada aqui na última sexta-feira (21). Ao escancarar as portas para Euclério realmente se filiar ao União, Da Vitória garantiu que, caso se concretize a “superfederação” com o PP, o prefeito terá “todas as facilidades” para ser candidato a governador por ela.

Se essa federação de fato se concretizar, o fundado receio de Euclério é com a perda de autonomia do União. O presidente da federação no Estado será Da Vitória, que terá a última palavra sobre candidaturas e alianças majoritárias no Espírito Santo. Nesse caso, mesmo indo para o União e assumindo a presidência estadual da sigla, Euclério não terá o apito final sobre a própria eventual candidatura.

Da Vitória tratou de lhe cortar o receio e só faltou lhe estender um tapete vermelho:

“O Euclério tem muita vontade de disputar uma eleição majoritária ao governo. Hoje ele é uma das lideranças com mandato mais importantes do Espírito Santo. Para ser candidato [a governador], ele terá que cumprir a legislação eleitoral e renunciar ao cargo de prefeito em abril do ano que vem. Se ele realmente decidir disputar essa eleição, a gente tem todas as facilidades para que ele possa mesmo ser candidato pela federação”.

Com Deninho e Messias Donato, Euclério também já tem até “invadido” outros municípios, fazendo agendas em Vitória e pelo interior.

No dia 6 de março, ele foi com Messias a Domingos Martins para uma reunião com o prefeito Edu do Restaurante (PL) e com vereadores da cidade, na Câmara Municipal. No dia seguinte, participou de uma grande reunião organizada por Deninho na Grande Goiabeiras, com vereadores e líderes comunitários de Vitória.

Deninho: “Euclério me disse que quer ser candidato a governador”

Deninho abre o jogo à coluna:

“Euclério está animadíssimo. Estive com ele no último sábado e ele me disse que quer ser candidato a governador. Eu sou leal a Euclério há 25 anos. Se o projeto dele for mesmo esse, estarei com ele. Ele é um dos maiores líderes do Espírito Santo hoje. E é o novo”, afirma o deputado e sobrinho de Euclério – na certa se referindo ao fato de que o tio, com mais de duas décadas na política, nunca concorreu ao governo.

A mudança de comportamento

Também não se pode ignorar o fato de que Euclério, recentemente, tem mudado de duas maneiras seu comportamento político. Numa frente, tem radicalizado o discurso na direção da direita – flertando com a extrema-direita –, algo que não se havia visto nele, como prefeito, até agora. Em outra, tem fustigado um pouco Pazolini (Republicanos), tido como potencial oponente do Palácio Anchieta e de seu candidato na eleição de 2026 – o qual pode vir a ser o próprio Euclério, por este ângulo de análise.

As cutucadas em Pazolini se viram no discurso de inauguração do Mercado Municipal de Cariacica, em Itacibá, no último dia 10. Assumindo discurso pré-eleitoral, Euclério afirmou, ao lado de Casagrande, que aquele era o primeiro mercado público inaugurado realmente funcionando na Grande Vitória – o da Capixaba, no Centro de Vitória, oficialmente inaugurado por Pazolini em julho do ano passado, até hoje não tem lojas ocupadas. Também falou que o projeto liderado por Casagrande, com investimentos em todas as cidades, não pode ser interrompido nem colocado em risco.

Quatro dias depois, Euclério surpreendeu meio mundo ao informar a Pazolini, por ofício, o fim do convênio de cessão da servidora de Cariacica Juliana Rohsner Toniati à Prefeitura de Vitória. Ela vem a ser ninguém menos que a secretária municipal de Educação, há mais de quatro anos – e convenhamos: todo mundo sabe disso. Euclério alegou que não atentou para o fato ao pedir a servidora de volta. Após a reação geral de perplexidade e pedidos de pessoas ligadas à gestão de Pazolini, o prefeito de Cariacica voltou atrás. Mas o episódio deixou a marca da “hostilidade civilizada”.

Quanto à radicalização ideológica, viu-se, por exemplo, no episódio em que Euclério, sem mais nem menos, pulou da cadeira e bateu de frente com a escola de samba da própria cidade, a Independente de Boa Vista, a qual viria a se sagrar campeã do Carnaval de Vitória no mesmo dia. Por conta de uma ala em alusão ao MST num desfile em homenagem ao fotógrafo Sebastião Salgado, o prefeito divulgou nota de repúdio e chegou ao extremo de anunciar, autocraticamente, o corte de verbas da prefeitura para a Boa Vista. Depois, voltou atrás.

Pode ter sido só uma reação intempestiva e mal calculada, que gerou forte reação da própria comunidade? Pode. Mas também foi, antes de tudo, um aceno do prefeito aos eleitores conservadores de direita e, principalmente, evangélicos. Note-se que, na nota, ele fez questão de afirmar que não comemora o Carnaval. Também tem cálculo eleitoral aí.

O risco, é claro, é aquele inerente a todos que resolvem entrar no jogo da polarização política: o de restringir o próprio teto, criar uma cerca para si mesmo, alargar e limitar ao mesmo tempo seu potencial de crescimento. Na medida em que agrada a uma bolha, você desperta a rejeição de quem está fora dela. Amado por uns, cancelado por outros. Em disputas proporcionais, isso é ótimo: basta o amor de uma bolha para garantir sua eleição. Em majoritárias, pode ser um problema.

Euclério vai mesmo para o União?

Com a iminente formação da “superfederação” com o PP, Euclério ainda vai para o União Brasil? Foi o que perguntei a ele. O prefeito respondeu: “Por enquanto, esse fato não muda a minha decisão de me filiar ao União. Não vou morrer com o barulho do tiro”.

O prefeito avalia que a federação não mudará o que estava decidido quanto à presidência do União no Espírito Santo: mesmo que a federação se confirme, cada partido precisará ter seu presidente no Estado e, se Euclério for mesmo para o União, irá para assumir a presidência estadual. Para ele, isso não se altera.

O toque de Deus”

Muito religioso, Euclério tem confidenciado a interlocutores: será candidato a governador se Deus tocar o coração dele como o tocou para que ele fosse candidato a prefeito de Cariacica em 2020.

Transplante

Do toque cardíaco para a troca renal, é preciso lembrar que Euclério passou por uma delicada cirurgia de transplante de rim no início do ano. Após a necessária licença para se recuperar, voltou com todo o pique político.

A ausência de Ricardo

Algo que não passou despercebido a observadores da cena política em Cariacica foi a ausência de Ricardo Ferraço nas últimas três grandes entregas, sequenciais, realizadas pelo Governo do Estado em Cariacica. Nesta ordem, num intervalo de menos de um mês, tivemos a inauguração do Viaduto Dona Rosa, na Avenida Mário Gurgel, em Campo Grande, a inauguração do Mercado Municipal, em Itacibá, e a da estrada de Roda D’água, zona rural de Cariacica, pelo programa Caminhos do Campo.

Casagrande esteve ao lado de Euclério em todos esses eventos. Ricardo, não. Para efeito de comparação, Ricardo está sempre ao lado de Casagrande e do prefeito Arnaldinho nos eventos similares em Vila Velha.

A presença de Shymenne

Por outro lado, também tem se destacado a assiduidade cada vez maior da vice-prefeita, Shymenne de Castro (PSB), ao lado de Euclério, ou até no lugar dele, não só nos eventos públicos como nas postagens do prefeito – a exemplo do que têm feito Pazolini e Cris Samorini (PP), vice-prefeita de Vitória.

Shymenne agora tem uma “assinatura visual própria” (seu nome estilizado em seus posts, como um logotipo). Assim como Cris Samorini, acumula uma pasta: é a secretária de Governo de Cariacica. E, tal como sua equivalente em Vitória, assumirá o cargo de prefeita, em definitivo, se o chefe decidir renunciar para ser candidato a governador, em abril de 2026.

Caminhoneiro: O Espírito Santo te abraça!”

Para se ter uma ideia do pique de Euclério, só na última sexta-feira (21), além de Pedro Trés (“Conversando sobre o ES”), Euclério recebeu um vereador de São Mateus e um certo Bira Nobre, apresentado como um dos líderes da categoria dos caminhoneiros no Espírito Santo.

O post feito por esse caminhoneiro com o prefeito é o que melhor condensa a disposição de Euclério:

“O Espírito Santo te abraça! Você tá falado nos 78 municípios”, diz-lhe Bira. “Eu e meus amigos caminhoneiros, a gente tem conversado muito, e o povo torce por você, torce pela sua saúde, pra gente avançar. E eu tenho certeza: tem muita estrada pra gente andar, e você tem perna pra isso, meu amigo. […] Quem ama cuida… de Cariacica e do Espírito Santo!”

Madrugador

Por fim, para atestar sua energia para trabalhar, Euclério também passou a publicar no Instagram o momento em que ele mesmo chega e sai do carro para mais um dia de trabalho, antes das 5 horas, na sede da Prefeitura de Cariacica.