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Coluna Vitor Vogas

Os três alertas para a solidez do plano de Ricardo Ferraço ao governo

Ou “uma trinca de trincas”: os três riscos para a unidade do plano de candidatura de Ricardo Ferraço ao Palácio de Anchieta com o apoio de Casagrande

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Ricardo Ferraço, como governador em exercício, visita obras do Governo do ES em Cachoeiro Foto: Mateus Fonseca/Secom

Ricardo Ferraço, como governador em exercício, visita obras do Governo do ES em Cachoeiro (25/03/2025). Foto: Mateus Fonseca/Secom

Durante as férias do governador Renato Casagrande (PSB), o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) é o governador em exercício. Como tal, na tarde desta quinta-feira (27), ele sancionará a lei estadual que cria uma linha de crédito para a construção de barragens.

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Barragem é uma boa metáfora para a análise política que propomos aqui nesta quinta. Para cumprir sua finalidade, ela precisa ser impermeável. Não pode ter vazamentos. Qualquer trinca pode virar rachaduras, as quais, se não contidas, podem levar ao desmoronamento da estrutura.

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Nas últimas duas semanas, começaram-se a observar, a olho nu, algumas trincas na barragem erguida para sustentar o projeto eleitoral, bancado por Casagrande, de lançamento de Ricardo à sua sucessão na eleição estadual do ano que vem. Três trincas, para ser preciso: as pretensões de Euclério Sampaio (MDB), a desfiliação de Arnaldinho Borgo do Podemos e a reviravolta no PP e no União Brasil.

Não é nada desesperador – nem aqui pretendemos soar fatalistas. Mas são pontos que requerem atenção, que acendem o sinal de alerta. Trincas, enfim, como dissemos. Prudente é não ignorá-las.

Independentemente de predicativos pessoais, Ricardo terá suas chances de êxito eleitoral muito aumentadas se ele e Casagrande conseguirem preservar, em torno de si, a imensa coalizão partidária que dá sustentação política ao governo atual.

Se quase todos os partidos reunidos hoje em torno de Casagrande transferirem seu apoio para Ricardo e toparem compor sua coligação, o vice-governador terá muito maior probabilidade de vencer o pleito. Aliás, antes mesmo de se falar em chances de vitória eleitoral, terá muito maiores chances de conseguir se firmar como o candidato do Palácio Anchieta e passar de “plano A” a “plano único”.

Isso vale não só para os partidos, mas também para os atores políticos agrupados em torno de Casagrande. O sucesso do “Plano Ricardo” passa, em grande medida, pela adesão e pelo apoio eleitoral por parte dos principais aliados do governo. Estamos falando aqui de Josias da Vitória (PP), Gilson Daniel (Podemos) e, principalmente, Sérgio Vidigal (PDT), Euclério Sampaio (MDB) e Arnaldinho Borgo (sem partido).

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É por esse motivo que, ao colocar a pedra fundamental do seu projeto, em entrevista concedida a nós em janeiro, Ricardo tratou de afirmar, reiteradamente, que está “pronto e preparado” para franquear o seu apoio a qualquer um dos nomes da lista acima, assim como está “pronto e preparado” para receber o apoio de todos eles.

Pela mesma razão, desde a referida entrevista, o “plano A” de Casagrande tem ressaltado a importância de se preservar a unidade das forças políticas que apoiam o atual governo, destacando que o Espírito Santo tem uma “cultura política de construção de grandes alianças” que tem se provado exitosa e profícua para o Estado ao longo das últimas décadas.

Aí voltamos à trinca de trincas, que representam, no nosso sentir, ameaças à solidez dessa barragem.

Trinca 1: as pretensões de Euclério Sampaio

A primeira delas é a movimentação explícita, mais escancarada a cada dia, do prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, para ser ele mesmo candidato ao Palácio Anchieta (no lugar de Ricardo Ferraço).

É fato: Euclério quer ser candidato a governador. E já nem se dá ao trabalho de disfarçar o desejo pessoal. Está convencido de que é competitivo o bastante. A interlocutores, tem externado que só não será candidato se Casagrande, nos próximos meses, bater o pé e decidir que o cara será mesmo Ricardo. Nesse caso (e só nesse caso), Euclério manterá o seu apoio já declarado a Ricardo, por lealdade a Casagrande e para manter a sua palavra.

A aposta íntima de Euclério, não publicizada por ele, é a mesma partilhada por alguns aliados de Casagrande, os quais tampouco a declaram em voz alta: o prefeito de Cariacica acredita que Ricardo talvez não se viabilize. Pelo sim, pelo não, já botou o seu bloco na rua, para se manter em condições de efetivar a sua candidatura lá na frente caso a de Ricardo não vingue.

Euclério está convencido de que, entre os possíveis candidatos pelo grupo de Casagrande, ele é o único que realmente tira de Lorenzo Pazolini (Republicanos) votos dos militares (dezenas de milhares de pessoas, entre servidores e familiares) e dos segmentos evangélicos (muito mais). Também acredita ser o potencial adversário que mais assusta o prefeito de Vitória.

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A convicção de Euclério é bastante relativa. Casagrande tem governado sem percalços com a categoria dos policiais e bombeiros militares, aos quais concedeu reajustes acima da média do funcionalismo público estadual – o que pode favorecer Ricardo. Bom lembrar que o próprio Casagrande (homem de centro-esquerda) foi apoiado por convenções da Assembleia de Deus contra o bolsonarista Manato (PL) em 2022. Convenções da mesma igreja apoiaram Weverson Meireles (do esquerdista PDT) contra Pablo Muribeca (do conservador Republicanos, partido de Pazolini) na disputa pela Prefeitura da Serra, em 2024.

Mas, enfim, esse é o ponto de vista de Euclério e é uma das suas motivações.

Não obstante ter passado por duas cirurgias e três internações hospitalares em menos de três meses desde que tomou posse para o atual mandato – a última, de segunda (24) para terça (25), para extração dos rins primitivos –, o prefeito se diz “zeradinho” e com “pique de garoto” após um transplante renal. Sua maratona de atividades condiz com isso.

Para se viabilizar, nas últimas semanas, o prefeito passou a andar mais nas ruas de Cariacica, participar de eventos em outras cidades (como Vitória e Domingos Martins) e receber um sem-número de líderes políticos, empresariais, religiosos e militares, em ritmo alucinante.

Trinca 2: Arnaldinho com o passe livre

A segunda trinca é a decisão, agora oficial, do prefeito Arnaldinho Borgo de se desfiliar do Podemos, sigla que definitivamente ficou pequena demais para ele e Gilson Daniel, presidente do partido no Espírito Santo.

A saída de Arnaldinho, comunicada na semana passada por ele à presidente nacional, Renata Abreu, tem a ver, primordialmente, com desentendimentos proverbiais entre ele e Gilson Daniel – cujas causas reais nem aliados bem próximos sabem explicar ao certo.

Mas a atitude também responde, fundamentalmente, a uma vontade de Arnaldinho de ficar mais à vontade para fazer seus próprios movimentos políticos de agora em diante. Leia-se: buscar outro partido em que possa exercer maior influência e que possa vir a abrigar a sua eventual candidatura a governador do Estado… isso também no caso de a candidatura de Ricardo mascar.

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Sejamos francos aqui: assim como Euclério, Arnaldinho no fundo também gostaria muito de ser candidato a governador já em 2026. Sim, é verdade que ele é jovem e, em tese, pode “escolher esperar”. Tem 41 anos, um a menos que Pazolini.

Mas digamos que Arnaldinho, na crista da onda, deixe de disputar em 2026 e veja, impotente, seu “equivalente em Vitória” não só concorrer como chegar ao Palácio Anchieta. A espera pode ficar bem mais longa. Pode virar uma fila de oito anos, até 2034, pois, uma vez no Palácio, o prefeito de Vitória passaria a ter grandes chances de disputar a reeleição em 2030 e ficar no poder por dois mandatos. Arnaldinho terá então 51 anos. Deixar passar agora essa chance, tendo sido reeleito e consagrado com quase 80% dos votos válidos no segundo maior colégio eleitoral capixaba, é algo que precisa ser muito bem avaliado pelo prefeito de Vila Velha.

Até aqui, Arnaldinho tem se mostrado disciplinado. Na comparação com Euclério, por exemplo, está muito mais comedido. Em declarações oficiais, reitera que seu candidato é o do grupo de Casagrande: hoje, Ricardo Ferraço. Aparece ao lado de Casagrande e do próprio Ricardo em uma série de agendas oficiais em Vila Velha, incluindo um “Treinão do Casão” para uma corrida de rua, da Residência Oficial do governador na Praia da Costa até a nova Ponte da Madalena, na Barra do Jucu.

Não faz nenhum movimento explícito que recenda a pré-campanha, que permita a mínima interpretação de que está “secando” Ricardo e apostando contra ele, ou de que está se preparando, como Euclério, para entrar no vácuo do vice-governador e assumir o seu posto como o candidato do governo Casagrande… exceto por um movimento.

A saída de Arnaldinho do Podemos pode ser interpretada assim.

Com o passe livre no mercado, o prefeito de Vila Velha fica livre para dialogar com dirigentes de outras legendas e para decidir o próprio destino, inclusive sobre eventual candidatura, sem precisar passar pela bênção do desafeto Gilson Daniel.

Mesmo dentro do grupo de Casagrande, há quem acredite sinceramente que o verdadeiro embate, a se desenhar no horizonte e se confirmar na hora certa, será entre Lorenzo e Arnaldinho (algo como o clássico Enzo versus Inho, jovens líderes que denunciam a pouca idade até na terminação dos nomes).

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Seria, nesse caso, não só a medição de forças de dois políticos ascendentes e coetâneos que saíram consagrados das urnas nas respectivas reeleições em 2024, mas também uma disputa muito particular do prefeito da capital do Espírito Santo contra o da sua mais famosa e antiga vizinha, à distância de uma ponte: qual cidade mais se desenvolveu, em todas as áreas, nos últimos anos? (Em muitos casos, como “índices de transparência”, os dois por vezes parecem dizer a mesma coisa) Qual dos dois prefeitos terá feito mais pela própria cidade em cinco anos e quatro meses de governo?

Enquanto Pazolini teria a própria juventude para exibir ao eleitor, apresentando-se como “sangue novo” e “oxigenação política”, Casagrande poderia contrapor a juventude de Arnaldinho, um candidato tão “fresco” quanto Pazolini para chamar de seu. O governador poderia, enfim, responder com a mesma moeda ao discurso do adversário: o mesmo vento renovador que sopra de uma margem da Baía de Vitória também pode soprar do outro lado da ponte.

Vale dizer que, em matéria de engajamento, Pazolini e Arnaldinho têm índices muito bons e muito parecidos nas redes sociais – além de usarem estratégias similares.

Em Vila Velha, Arnaldinho também tem boa inserção em nichos da comunidade evangélica. Toda manhã, ele posta no Instagram a leitura comentada de um trecho da Bíblia – enquanto Ricardo tem postado áudios dele mesmo lendo e comentando passagens, e Euclério abre seu gabinete toda quarta de manhã para a celebração de cultos.

Além disso, Arnaldinho tem um pé nas Forças Armadas: é tenente da reserva do Exército. E, na reeleição em 2024, foi apoiado por ninguém menos que o Projeto Político Militar (PPM), mesmo contra o Coronel Ramalho (PL). Isso também coloca um asterisco sobre a visão de Euclério de que só ele tira votos evangélicos e militares de Pazolini.

Trinca 3: a superfederação no horizonte

Até o fim de janeiro, a situação para Casagrande e Ricardo era a seguinte:

Queriam ter o apoio do União Brasil garantido em 2026. Após uma ida dos dois com Marcelo Santos (União) a Brasília e uma foto dos três com o presidente nacional da sigla, Antônio de Rueda, o presidente da Assembleia Legislativa voltou falando que o apoio do União foi assegurado em nível estadual e nacional. A presidência do partido no Espírito Santo passaria de Felipe Rigoni para Euclério Sampaio, numa costura de Casagrande com Marcelo.

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Agora, o União está prestes a formar uma federação com o PP. Esta vai mesmo sair do papel e, no Espírito Santo, ficará sob a presidência do deputado federal Da Vitória.

Sob o comando de Da Vitória, o PP está no governo Casagrande – mas também na administração de Pazolini em Vitória. O próprio deputado é aliado de ambos.

Em conversa com a coluna, Da Vitória afirmou que seguirá construindo as definições eleitorais de 2026 dialogando e convergindo com Casagrande.

Bem, não é que aquela antecipação de apoio do União anunciada em janeiro tenha sido totalmente apagada… mas a coisa agora muda de figura. Afinal, o União, federado com o PP, terá um novo chefe no Espírito Santo. E, quando lhe perguntamos se o compromisso do União com o projeto de Casagrande e Ricardo segue valendo, Da Vitória responde categoricamente:

“Você não viu nenhum entrevista minha dizendo que estarei no palanque A, B ou C. Tenho muita cautela, até para que possamos declinar um apoio e cumprir esse apoio”.

Isso gera maior instabilidade na barragem. Aumenta o grau de incerteza para o projeto Ricardo.

Certo é que essa federação PP/União ganha muito mais cacife nas mesas de negociação Brasil agora, inclusive aqui, para a definição dos palanques majoritários. No Espírito Santo, em nome da federação, Da Vitória poderá pleitear, no mínimo, espaço para um nome próprio como candidato a vice-governador de alguém.

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Isso se a superfederação não quiser lançar candidatura própria ao Governo do Estado. Da Vitória pelo jeito o quer, e já exteriorizou isso: “Essa federação será uma potência para quem queira construir candidatura majoritária dentro dela”.

Um possível candidato a governador, para o qual ele já estendeu tapete vermelho, é Euclério Sampaio. “Fiz um exercício bom com o Euclério, que também tem pretensão majoritária. E a pretensão de Euclério cabe perfeitamente aqui na federação”, disse Da Vitória.

Outro possível candidato, ao qual a federação em tese poderia dar legenda, é Arnaldinho Borgo, se ele vier a se filiar ao PP ou ao União Brasil.

Considerações finais

O grupo de Pazolini acredita que muita gente no grupo de Casagrande não acredita na candidatura de Ricardo.

Dito de outro modo: a maior aposta no grupo de Pazolini é que muita gente no grupo de Casagrande aposta contra o vice-governador.

Enquanto isso, gente no entorno de Casagrande avalia que Euclério está certíssimo em fazer o que está fazendo, pois todas as potenciais alternativas ao nome de Ricardo devem mesmo ficar no aquecimento para se manterem vivas no jogo, justamente para o caso de o Plano Ricardo não dar certo.

“Vidigal está tímido demais! Foi para a Secretaria de Desenvolvimento e não está fazendo política. Já Arnaldinho precisa parar de correr só em Vila Velha, da Casa do Governador à Barra do Jucu (risos), e começar a percorrer mais o Estado. Até porque o outro lado [Pazolini] já está se movimentando”, avalia um interlocutor de Casagrande.