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Coluna Inovação

O século 21 avançando e nós no 19

Avaliação do PISA 2024 mostra que a criatividade é o maior desafio da educação brasileira diante das transformações no mercado de trabalho

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Criatividade. Foto: Reprodução

Criatividade. Foto: Reprodução

A IA avança por um lado para substituir empregos intelectuais enquanto os robôs avançam pelo outro lado para acabar com os empregos que exigem atividade física. O que sobra para os humanos? Empregos que envolvam criatividade. E como estamos nesse quesito? Muito mal.

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Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2024 focaram na criatividade e foram “desanimadores” para o Brasil, que ficou na 44ª posição entre 56 países participantes, com 23 pontos, dez abaixo da média da OCDE. Nos primeiros lugares ficaram Singapura, Coreia do Sul e Canadá. Apenas 10,3% dos estudantes brasileiros atingiram os níveis mais elevados de desempenho criativo, enquanto 54,3% não alcançaram o nível básico, mostrando dificuldades em expressar ideias, desenvolver projetos e propor soluções. A avaliação focou em criatividade, com os alunos tendo que, por exemplo, criar diálogos para uma história em quadrinhos ou títulos para uma pintura. Isso significa que eles têm dificuldade em pensar fora da caixa, desenvolver histórias ou planejar projetos.

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A realidade da educação no Brasil é lamentável. Quando olhamos para a área STEM(Ciência, tecnologia, engenharia e matemática, da sigla em inglês), os números são decepcionantes. Entre os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo dos que possuem maior renda, o Brasil é o que tem menos alunos em engenharia, matemática, ciência e tecnologia e dos que mais têm alunos em administração e direito, mostra a edição de 2025 do “Education at a glance” da instituição, que compara indicadores de 30 países, entre membros e parceiros, como o Brasil.

Apenas 12% dos estudantes do ensino médio demonstram interesse em cursos da área. Na China, cerca de 50% dos formandos universitários estão em cursos de STEM. Nos Estados Unidos, o índice gira em torno de 33%, Já a Índia forma cerca de 30% dos seus graduandos nas áreas de STEM. E o Brasil? Apenas 13% dos formandos estão nas áreas de STEM. Um dos motivos é a evasão, ou seja, dos alunos que ingressaram em 2017, apenas três em cada dez haviam se formado até 2024. A deficiência em matemática é notória e afugenta muitos de entrar na engenharia, por exemplo, ou desistem ao encarar as aulas de cálculo. O que adianta a criação de inúmeros campi de universidades federais, como patrocina o governo, se a evasão é desse tamanho?

O problema principal é no fundamental. Aos 10 anos, só 37% das crianças sabem fazer operações matemáticas simples. Aos 14 anos, apenas 15% têm nível adequado e conseguem resolver uma equação de 1º grau.

Na nova rodada do PISA a ser divulgada em 2026, a OCDE pretende avaliar não apenas o conhecimento adquirido dos estudantes, mas também sua linha de raciocínio, motivação e regulação emocional. Analisará também as práticas de investigação computacional e científica, relacionadas à capacidade de utilizar ferramentas digitais para explorar sistemas, representar ideias e resolver problemas com lógica computacional. Alguém tem alguma esperança que vamos nos sair melhor?

Os problemas atuais da geopolítica nos ensinam que enquanto formos dependentes da importação de chips, de insumos farmacêuticos e até de reagentes básicos, seremos uma nação vulnerável, periférica e eternamente desigual. O baixo nível de desemprego atual engana os conformados e desinformados polianas, iludidos pelas estatísticas de redução da pobreza, sem atentar que os empregos ocupados são de baixíssimo nível. Sem gente com formação STEM, não teremos engenheiros capazes de lidar com alta tecnologia e não teremos indústrias capazes de competir pelo futuro.

É urgente uma ênfase na educação STEM, sem querer desprezar as áreas de humanidades, com preparação e um programa especial para treinamento e remuneração especial para professores de matemática, principalmente. Faz 25 anos que o mundo entrou no século 21 e não saímos do 19 ainda.

Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração pelo IBGC, Membro da Academia Brasileira da Qualidade-ABQ, Membro do Conselho de Curadores do Ibef/ES e membro do Conselho de Política Industrial e Inovação da Findes. Foi Presidente da Dataprev, Diretor da Finep e do Sebrae/ES, Conselheiro do Serpro e Banestes. Tem extensa atuação como empresário, executivo e consultor em inovação, estratégia, gestão e qualidade, além de investidor e mentor de startups, principalmente deeptechs. Tem participação em programas de rádio e TV sobre inovação. É atualmente Presidente do Cdmec-Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal-Mecânico.

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