fbpx

Coluna Vitor Vogas

Os novos planos do PT para as eleições de 2026 no Espírito Santo

“Vamos trabalhar para que o PT tenha uma candidatura ao Governo do Estado”, anuncia João Coser, na posse do novo Diretório Estadual do partido. Evento virou ensaio do lançamento de Helder Salomão a governador. Leia aqui como foi

Publicado

em

João Coser discursa durante sua posse como presidente estadual do PT-ES (13/09/2025). Foto: Rodrigo Gavini

João Coser discursa durante sua posse como presidente estadual do PT-ES (13/09/2025). Foto: Rodrigo Gavini

O ato de posse do novo Diretório Estadual do PT, no último sábado (13), virou quase um ensaio para o lançamento de Helder Salomão a governador do Espírito Santo (algo como um pré-pré-lançamento de sua eventual candidatura). O deputado federal e ex-prefeito de Cariacica saiu do evento mais pré-candidato a governador do que entrou – ou mais perto de assumir essa tarefa em nome do partido, a qual o coloca diante de um profundo dilema pessoal.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Empossado como novo presidente estadual do PT, o deputado João Coser garantiu para a militância partidária que lotou o auditório do Ifes de Cariacica: “Vamos trabalhar para que o PT tenha uma candidatura ao Governo do Estado”.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Diante da mesma militância entusiasmada, o próprio Helder assentiu: “Eu estou pronto para qualquer tarefa. Nós podemos, sim, ter um projeto majoritário”. Em outro ponto do discurso, o deputado reforçou sua prontidão, mas com uma advertência: “Se nós tivermos uma candidatura pra valer, vocês podem ter certeza que eu posso, sim, representar o Partido dos Trabalhadores na eleição para governador do Espírito Santo. Agora, não brinquemos com isso”.

Sob gritos de “Helder governador”, ele se colocou à disposição para se candidatar ao Palácio Anchieta, desde que esse projeto conte com aval e apoio integral da direção nacional do PT e do próprio presidente Lula, tenha sustentação política e financeira e permita a construção de um palanque forte no Espírito Santo.

Do contrário, avalia Helder, se não passar de uma “aventura”, essa candidatura pode ser um tiro no pé, atrapalhando, em vez de ajudar, o cumprimento das metas prioritárias do PT no Espírito Santo: reeleger o presidente Lula, reeleger o senador Fabiano Contarato, manter dois deputados federais na Câmara e ampliar a bancada do partido na Assembleia Legislativa (hoje, formada por dois deputados estaduais).

Foi essa a reflexão proposta por Helder diante da militância:

“Tem que ser combinado com a direção nacional, porque senão não tem nem dinheiro nem apoio político. E aí sabe o que vai acontecer? Vai ser ruim para o Lula. Porque um palanque esvaziado aqui, cada um cuidando das suas eleições, não vai ajudar o Lula. Não vai ajudar o Contarato. Vai atrapalhá-lo. Se não tem candidatura forte, se não tem apoio político, se não tem estrutura, vai atrapalhar”, ponderou o deputado petista, enfatizando que ser governador nunca foi seu desejo pessoal, mas que topa a tarefa se for um “projeto coletivo e partidário”.

> Helder anuncia que topa vir a governador pelo PT. Com condições

Por sua vez, discursando logo após Helder, João Coser agradeceu ao companheiro e o enalteceu pelo “gesto muito bonito” de dar um passo à frente e se apresentar para a missão.

Após tomar posse, Coser atendeu a imprensa, em seu primeiro ato como presidente estadual do PT-ES, e afirmou que, para ele, Helder saiu dali como o pré-candidato do partido a governador do Espírito Santo: “Foi assim que ele se colocou. Ele se colocou como pré-candidato, desde que sejam criadas as condições. Aí ele coloca todos os desafios que temos para criar as condições. Mas ele sai daqui como pré-candidato”.

Como presidente estadual do PT-ES, Coser é quem conduzirá as articulações do partido no Espírito Santo para as eleições do próximo ano. “Neste momento, a minha tarefa como presidente da nossa próxima Executiva Estadual é construir as condições para que o Helder seja candidato ao Governo do Estado.”

Justamente para isso, já no próximo dia 24, ele irá com Helder a Brasília para tratar do assunto pessoalmente com o novo presidente nacional do PT, Edinho Silva, e, se possível, também com a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e com o próprio presidente Lula.

“Queremos ouvir do presidente Lula se a candidatura ao governo aqui contribui para o seu projeto eleitoral. Isso é importante, porque sempre quem decide as candidaturas aos governos dos estados é a direção nacional com o presidente, porque o mais importante para o nosso projeto é a eleição do presidente da República, o Senado Federal e a chapa federal. Estamos com essa lista de prioridades. O Governo do Estado vem nesse contexto. Se for importante para o projeto nacional termos uma candidatura aqui, para nós será fundamental. Temos o desejo de ter uma candidatura própria do Partido dos Trabalhadores. Neste momento, o nome do Helder é o mais qualificado, o mais testado nas urnas, já no seu sétimo mandato. Então, passamos a ter uma pré-candidatura bem consolidada.”

Até lá, ainda segundo Coser, Helder seguirá candidato à reeleição na Câmara, apesar de ter se colocado à disposição para concorrer a governador:

“Ele não pode renunciar ainda à disputa de deputado federal, porque não temos da direção nacional a palavra: ‘Vai, toca esse projeto’. Nós só teremos isso talvez no final de setembro, uma palavra mais definitiva da direção nacional. Então, até lá, ele é um desejo, é um projeto colocado. Ele é pré-candidato [a governador] porque ele se colocou como pré-candidato. Vocês ouviram a fala dele”.

Para Coser, Helder hoje é o melhor quadro do PT capixaba para representar o partido na disputa pelo Governo do Espírito Santo. “É a nossa liderança eleitoral.”

> Rede Sustentabilidade também entra no Supremo contra Lei Antigênero

Coser: “PT precisa ampliar seu protagonismo”

Nas eleições internas do PT, realizadas em julho, Coser derrotou a deputada federal Jack Rocha, então presidente estadual do partido e candidata à reeleição. Foi o chamado PED (Processo de Eleição Direta).

Durante a campanha, em entrevistas à coluna, tanto um como outro deram a entender que lançar um candidato próprio a governador não estava entre as prioridades, ou principais objetivos estratégicos, do PT no Espírito Santo. Agora, essa ideia volta com força à mesa dos dirigentes estaduais nas reuniões de planejamento eleitoral. Coser explica a guinada:

“Teve um processo de evolução do PED até agora. Fizemos uma reflexão grande, inclusive com o Helder, com nossos deputados federais e com o Contarato, e chegamos à conclusão de que o PT precisa ampliar seu protagonismo. O Helder fez um gesto muito bonito, colocando a possibilidade de ser candidato ao Governo do Estado desde que tenha uma grande articulação nacional, tanto o presidente Lula e seu governo como o presidente nacional Edinho Silva e a direção nacional do partido, para criar as condições políticas e objetivas de uma campanha. Dadas essas condições, ele se coloca. Isso é muito positivo e de fato é uma coisa nova. É uma coisa que nasce aqui hoje. Foi construída no pós-PED, mas nasce de forma mais clara hoje”.

Ainda segundo Coser, no próprio processo do PED, ele sentiu um desejo muito grande da militância de, dessa vez, ter mesmo candidato a governador – depois da pré-candidatura frustrada de Fabiano Contarato em 2022.

“O sentimento que tenho do PED é que nossos companheiros e companheiras querem uma candidatura do PT. Acham que ela contribuiu para o projeto de reeleição do Lula e contribui inclusive para as nossas campanhas de deputado estadual e federal.”

Para o agora presidente estadual do PT-ES, a candidatura de Helder, se concretizada, não pode ser simbólica. Tem de ter protagonismo.

> Euclério anuncia: “Não tem mais volta. Vou renunciar para ser candidato a senador”

Apoiar quem não apoia Lula? “Fora de questão”, rechaça Coser

Hoje, o PT faz parte do governo Casagrande no Espírito Santo, após ter participado da coligação do PSB e apoiado a releição do governador em 2022. O partido inclusive ocupa o comando da Secretaria de Estado de Esportes e espaços no segundo escalão.

O pré-candidato de Casagrande ao Palácio Anchieta em 2026 é, declaradamente, o vice-governador Ricardo Ferraço. Este é o presidente estadual do MDB, que, assim como o PSB de Casagrande, está na coalização que apoia o governo Lula. Tanto o MDB como o PSB tendem a ocupar lugar estratégico na aliança liderada pelo PT em busca da reeleição do presidente da República.

Mas, embora lidere o MDB no Espírito Santo, Ricardo é um político de centro-direita e não tem nenhum compromisso com a reeleição de Lula. Por isso, perguntamos a Coser: se porventura o PT não tiver candidato próprio a governador, o partido pode apoiar um candidato (como Ricardo) que não apoie a reeleição de Lula, ou isso está fora de cogitação?

Coser respondeu sem hesitar: essa hipótese está “fora de questão”.

“Não temos nenhuma disposição de apoiar uma candidatura que não tenha compromisso com o projeto democrático e que não tenha compromisso com a reeleição do Lula. O Lula é condição zero para os nossos acordos. Nós teremos alguém que, com dignidade, vai defender o que fizemos pelo Brasil. Temos muito orgulho do que fizemos. Não tem paralelo nos últimos anos. Então não tem por que dar apoio a uma candidatura que não se orgulhe de defender o projeto democrático e popular do governo Lula.”

Chapa do PT-ES para a Câmara dos Deputados

Em suas ponderações perante a militância, Helder lembrou que, se for candidato a governador, terá de desfalcar a chapa de candidatos à Câmara Federal da federação formada pelo PT com o PV e o PCdoB, o que pode ameaçar a meta nessa disputa, que é manter dois deputados federais.

“Vai colocar em risco a possibilidade de a gente fazer dois federais. Precisamos pensar nisso, gente. Não é uma engenharia fácil. Se o Helder sobe para governador, como é que fica a chapa de federal?”, questionou o próprio, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa.

Coser reconhece que eventual saída de Helder representará um desfalque importante na chapa, pois o partido tem nele o maior puxador de votos. Mas, se isso realmente ocorrer, algumas mudanças serão feitas no planejamento eleitoral. A deputada estadual Iriny Lopes, inicialmente candidata à reeleição, subirá para a chapa de federais para ajudar a suprir a ausência de Helder.

> César Colnago volta para a Vice-Governadoria… como assessor de Ricardo

Coser admite que, com isso, ficará mais difícil, mas não impossível, o cumprimento da meta de eleição de dois federais. Como outros dirigentes partidários, ele calcula que, para tanto, a chapa do partido terá de atingir um mínimo de 250 mil votos totais. “A gente avalia que dá para fazer a defesa pelo menos da segunda vaga.”

O próprio Coser é um dos pré-candidatos certos a deputado federal dessa federação de esquerda. Se Helder não estiver na mesma chapa, possivelmente aumentarão suas próprias chances de beliscar uma das vagas. Coser afirma, porém, que não é isso que o leva a defender que Helder seja candidato ao governo.

Meta para a Assembleia

Além de querer voltar a vencer a eleição para presidente no Espírito Santo, reeleger Contarato e voltar a fazer dois federais, o PT planeja dobrar sua atual bancada na Assembleia Legislativa. Em 2022, a sigla elegeu dois deputados estaduais: Coser e Iriny. Ficou perto de emplacar um terceiro: Julinho da Fetaes só não entrou porque não atingiu 20% do quociente eleitoral.

Em 2026, o partido quer eleger quatro estaduais, conforme anunciou o próprio Coser. Ele considera possível. Uma das candidatas da chapa será sua filha, a vereadora de Vitória Karla Coser.

Caravana pelo Estado

“Então eu acho, João, que nós temos que nos mexer. Começar a andar este estado e discutir um projeto para o Espírito Santo, independentemente do que vai acontecer nessa evolução”, disse Helder a Coser, diante da plateia no Ifes de Cariacica.

Seu desejo foi uma ordem. Coser informou que eles passarão a percorrer os municípios capixabas e, nos próximos meses, pretendem promover cinco encontros regionais de planejamento eleitoral, visando discutir um projeto de governo para o Espírito Santo.

> Vereador do PT em Vila Velha se lança a deputado federal