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Coluna Vitor Vogas

Ao vivo, Pazolini não se compromete a concluir segundo mandato

Por outro lado, prefeito não admite que pensa em se candidatar ao Governo do Estado em 2026. Deixou o futuro aberto (o que já é eloquente o bastante)

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Lorenzo Pazolini em campanha para prefeito de Vitória. Reprodução Facebook

Lorenzo Pazolini em campanha para prefeito de Vitória. Reprodução Facebook

O prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), mais uma vez, evitou assumir publicamente o compromisso de concluir eventual segundo mandato na Prefeitura de Vitória, caso seja reeleito para o cargo. Se quiser ser candidato a governador em 2026, Pazolini terá de renunciar ao cargo até abril daquele ano, tendo cumprido apenas um terço do segundo mandato de prefeito. Nesse caso, precisará transmitir o cargo, em definitivo, à vice-prefeita eleita ao seu lado, a empresária Cris Samorini (PP).

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No dia 2 de agosto, indagado sobre a possibilidade de interromper um segundo mandato para se candidatar a governador, Pazolini afirmou: “Nós não temos sequer domínio sobre o amanhã. Nós não sabemos o que vai acontecer amanhã. […] É muito difícil planejar o futuro sob tantas incertezas”. A declaração, registrada aqui, foi dada em uma breve entrevista coletiva, logo após a convenção do seu partido em Vitória, na qual sua candidatura à reeleição foi homologada.

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Agora, Pazolini falou a uma audiência bem maior, em entrevista ao telejornal Gazeta Meio Dia, da TV Gazeta, afiliada da Rede Globo. Nos minutos finais da entrevista ao vivo, a jornalista Rafaela Marquezini fez ao prefeito a pergunta que todo jornalista de política gostaria de lhe fazer e que, de fato, precisava ser feita: “O senhor consegue se comprometer a terminar o seu mandato como prefeito de Vitória ou pode ser que o senhor mude de ideia no meio do caminho e saia para o Governo do Estado?”

Pazolini não se comprometeu.

“A vida nos apresenta diversas oportunidades. Eu me tornei, com o voto dos capixabas, muita alegria e de fato muita honra e agradecimento, o segundo deputado mais votado deste estado [em 2018], tenho me filiado no período final e feito uma campanha bem reduzida e bem simples. Da mesma forma, para prefeito da Capital [em 2020]. Então eu não posso prever o que vai acontecer amanhã. O que eu prometo é continuar trabalhando. Trabalhei nestes três anos e meio, quatro anos, ininterruptamente, todos os dias da semana, sábados, domingos, feriados, desde muito cedo, até muito à noite, visando atender à população. Vencemos a pandemia, vencemos um período difícil, e o meu compromisso é continuar trabalhando até o último dia em que eu estiver à frente da Prefeitura de Vitória. Esse compromisso eu assumo, porque eu já faço e vou continuar fazendo.”

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O grifo é nosso. Sintomaticamente, o “último dia” ficou em aberto. Marquezini, então, traduziu a sensação gerada pelas palavras do prefeito, a mesma que o público em casa deve ter sentido ao ouvir a resposta do prefeito, interpretada assim pela apresentadora:

“Bom, eu entendi que o senhor pode, sim, sair para o governo, senão o senhor teria feito esse compromisso aqui, ao vivo. Certamente, o telespectador, o seu eleitor vai pensar a mesma coisa. O senhor não se comprometeu”.

“O meu compromisso sempre é o trabalho”, esquivou-se Pazolini. Meu exercício do mandato parlamentar e do meu mandato como prefeito de Vitória sempre foi pautado em pouquíssimas promessas. Nós não baseamos nossa vida em promessas. Prefiro apresentar trabalho, realizações, feitos e resultados.”

Em seguida, a jornalista foi ainda mais incisiva na cobrança de uma resposta objetiva do prefeito (que não veio): “Mas tem vontade de ser governador?”

“Eu tenho vontade de ser o prefeito de Vitória e continuar à frente da Capital”, respondeu sem responder Pazolini, já treinado na “arte de escorregar” e sem especificar até quando pretende “continuar à frente da Capital”.

Diante de tais palavras, a candidata a vice, Cris Samorini, já entregue ao preparador físico na lateral do campo, deve até ter intensificado o trabalho de aquecimento.

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Análise

É evidente que, numa eleição municipal, deve ser priorizado o debate sobre temas pertinentes ao dia a dia da cidade e à vida da população, seus problemas e as propostas dos candidatos para solucioná-los. Mas, do ponto de vista político e administrativo, essa emerge, precisamente, como a questão mais importante da eleição municipal em Vitória – quiçá em todo o Espírito Santo.

Pazolini é favoritíssimo para vencer a eleição na Capital. Hoje, tem chances reais de resolver a disputa no 1º turno, daqui a dois domingos, conforme indica a maioria das pesquisas eleitorais mais recentes. A Quaest/Rede Gazeta, divulgada na última quarta-feira (18), traz o atual prefeito com algo próximo a 60% dos votos válidos.

Se Pazolini confirmar o favoritismo, mais ainda se o fizer em 1º turno, acumulará capital político que o credenciará, sim, para se candidatar ao Palácio Anchieta daqui a dois anos. Como já analisamos aqui, o pós-Casagrande está completamente em aberto. O governador não tem um “sucessor natural”.

Sob a condução de Erick Musso, o Republicanos de Pazolini, que deve sair fortalecido destas eleições municipais, tem altas aspirações de crescimento político no Espírito Santo. O projeto passa, naturalmente, por chegar ao Governo do Estado em 2026, e a grande aposta do partido para cumprir esse papel é Pazolini. Não por acaso, foi tão intensa a disputa interna pela ocupação do lugar ao lado do prefeito na chapa, vencida pelo PP e por Cris Samorini.

O prefeito não seria o primeiro nem o último a fazer isso. Para citar um exemplo relativamente recente e de ampla repercussão, eleito prefeito de São Paulo pelo PSDB em 2016, João Doria deixou o cargo para se candidatar, com sucesso, ao governo do mesmo estado em 2018 – e olha que, no caso dele, cumpriu apenas um terço do primeiro mandato na prefeitura.

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Se quiser ir por esse caminho, Pazolini terá todo o direito e legitimidade de fazê-lo. No mundo ideal, em observância máxima ao princípio da transparência, seria importante que admitisse que isso está no radar.

Mas é claro que, em plena reta final de campanha, ele não fará isso. Admitir a mera possibilidade de interromper um segundo governo com um terço de mandato cumprido seria dar um tiro no pé e fornecer de bandeja a adversários munição para usar contra ele. Afinal, que eleitor vai votar em um candidato sabendo de antemão que ele pretende interromper o mandato?

Diante de tal informação, até alguns dos eleitores com voto consolidado em Pazolini poderiam ser levados a reavaliar a decisão.

De todo modo, como corretamente interpretou no ar a apresentadora da TV Gazeta, a recusa neste caso fala por si, isto é, o simples fato de ele insistir em não se comprometer com a conclusão do seu mandato, em dezembro de 2028, sinaliza fortemente que está, sim, em seus planos, uma candidatura ao governo em 2026 – quando nada, está em seu radar essa possibilidade.

Na medida em que não afirma “não serei candidato em 2026”, Pazolini não coloca essa “trava ética” para si mesmo. Uma declaração como essa ficaria gravada para a posteridade. Em meados de 2026, se ele decidir mesmo concorrer, não passará recibo de mentiroso. Ninguém poderá acusá-lo de ter descumprido uma promessa.

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É postura diferente, por exemplo, de seu “similar” no município vizinho de Vila Velha. Ainda mais favorito para vencer a eleição em 1º turno, o prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) já assumiu, pelo menos duas vezes, o compromisso público de cumprir até o fim eventual segundo mandato. “Não serei candidato em 2026”, afirmou, categoricamente, no dia 20 de julho, logo após a convenção municipal do Podemos em que sua candidatura foi referendada.

Na última segunda-feira (16), em entrevista ao programa EStúdio 360, ao vivo, o prefeito renovou essa promessa. Insistindo no tema, perguntei a Arnaldinho se há alguma chance de, no ano que vem ou no começo de 2026, ele vir a mudar de ideia, alegando que ouviu um “chamado da população”, um “clamor popular”, que precisará se candidatar “para evitar um retrocesso para o Espírito” ou algo que o valha.

Arnaldinho voltou a dizer o mesmo, de maneira firme.

É um compromisso importante, ao mesmo tempo em que é, para ele, uma promessa politicamente perigosa. Seu cumprimento deverá ser cobrado, sob pena de passar por enganação e discurso eleitoreiro.

É o risco que, pelo visto, Pazolini não quer correr de jeito nenhum.


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