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Coluna João Gualberto

Bolsonaro em 2026

Apesar da popularidade, Bolsonaro enfraquece sua chance de retorno ao poder com decisões equivocadas e falta de leitura do cenário político

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Ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Eu sempre insisto na ideia de que o grande papel político de Bolsonaro foi cumprido em 2018, quando ele conseguiu reunir a direita brasileira, elegendo-se presidente da república e produzindo, com a eleição, inúmeros aliados. Seu governo, no entanto, não foi bem sucedido, cometendo erros primários. Em decorrência de sua má gestão acabou por se tornar o primeiro presidente brasileiro que não conseguiu se reeleger. Havia sinais claros de que a forma como a pandemia foi enfrentada criou grandes problemas para o governo, mas ele insistiu em tratar de forma debochada e inadequada as graves consequências da Covid – isso para dizer apenas o mais óbvio.

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Perdeu a eleição por pequena margem de votos. Mais uma vez não entendeu os sinais que vinham das ruas, e investiu em manobras escusas para minar os resultados eleitorais. São imensas as evidências de que ele incentivou esquemas para continuar no poder. Desde os discursos veementes – na verdade quase beirando a histeria – contra o judiciário, até os elogios claros à ditadura brasileira e mesmo aos abomináveis atos de exceção dos militares em seus períodos de governo, como o AI5, levantando na parcela da população que o apoia o desejo por um governo de inspiração militar.

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O momento mais tenso dessas manobras foi o incentivo que deu aos acampamentos que tentavam impedir a posse de Lula e acabaram por preparar os atos violentos do 8 de janeiro de 2023. Ao acompanhar pela mídia os depoimentos dos militares e civis envolvidos naquela teia de comportamentos claramente golpistas, percebe-se que faz todo o sentido imaginar que o ex-presidente Bolsonaro estava imerso naquele universo.

Uma coisa foi elogiar o único torturador oficialmente reconhecido das forças da ordem no Brasil, durante a sessão do impeachment de Dilma Roussef, chamando a atenção para esse personagem abominável, ainda bastante desconhecido do eleitorado brasileiro. Outra muito diferente foi manter esse mesmo discurso, que afastou seus apoiadores menos radicais. Governo tem que ter entrega, nenhum governo se mantém somente pela ideologia. Os sinais do cansaço estavam evidentes.

Como lembrou o grande analista das mídias sociais Sérgio Denicoli, em um de seus textos em O Estado de São Paulo, a guerra cultural está em baixa, as pessoas agora estão focadas nas contas. “Se Bolsonaro tivesse reconhecido a vitória de Lula, seria provavelmente presidente de novo. Não soube ler os sinais”. De fato, por não ler os sinais de forma adequada perdeu a eleição. Posteriormente, por não compreender os seus erros, mais uma vez jogou fora a oportunidade de se eleger em 2026.

O fato de não sair vencedor nas eleições em 2022, apesar da popularidade, do estilo carismático e de ter na mão a máquina do governo jogou também pela janela as chances de voltar ao poder em 2026, ao não aceitar a vitória do opositor. Digo isso porque são evidentes os enormes equívocos políticos do governo do PT, mas, mesmo assim, os permanentes erros de Bolsonaro podem derrotar a direita mais uma vez.

Resta claro, pelas pesquisas de opinião, que o presidente Lula faz um governo afastado das demandas atuais da sociedade. É um dirigente analógico e distante das novas formas de comunicação que a sociedade exige. Insiste nos discursos para claques de centenas de pessoas arrebanhadas por prefeitos, pelos métodos tradicionais, enquanto seus adversários nadam de braçada nas redes sociais, com milhões de seguidores.

Fenômenos de comunicação como Nikolas Ferreira não são compreendidos pela nossa velha esquerda. Na guerra pela comunicação, a direita usa canhões e a esquerda ainda usa suas velhas espingardas. O resultado é um governo nacional capenga em termos de popularidade, como temos hoje. Somente mais um erro de Bolsonaro produziria uma vitória de Lula: seria tentar impor como candidato a presidente alguém de sua família, como a sua mulher, Michele, ou um de seus quatro filhos que estão na política partidária. O preferido entre os irmãos parece ser o deputado federal Eduardo Bolsonaro – outro equivocado -, atualmente residindo nos Estados Unidos.

O fracionamento da direita pode colocar Lula no segundo turno contra um candidato fraco eleitoralmente, facilitando sua vitória. Ou seja, Bolsonaro levou a direita à derrota em 2022 por falta de compreensão de seu papel, depois enterrou sua chance de voltar ao poder por incentivar um golpe de estado totalmente fora de lugar. Agora, caso não apoie um candidato forte, poderá levar seu campo político a uma nova derrota.

Bolsonaro ainda é muito forte politicamente, mas não o suficiente para eleger um membro de sua família. Se não estiver atento aos sinais que o eleitorado manda a toda hora, vai sair da política pela porta dos fundos.

João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

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