Coluna Vitor Vogas
Assumção volta a ser Assumção e usa mãe de Pazolini para provocá-lo
Dos desentendimentos mais pueris entre crianças até aqueles mais graves entre adultos, existe uma lei universal: não vale envolver a mãe do outro
Dos desentendimentos mais pueris entre crianças até aqueles mais graves entre adultos, existe uma regra tácita, de alcance universal, no código de ética não escrito que rege a resolução de conflitos entre os seres humanos: não vale envolver a mãe do outro. Desde meninos, em suas brincadeiras e brigas sem maiores consequências, os futuros homens sabem disso.
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Na última sexta-feira (20), no debate A Gazeta/CBN entre os candidatos a prefeito de Vitória, o deputado estadual Assumção (PL), ao que parece, quebrou essa lei universal, em seus ataques ao candidato à reeleição, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Do ponto de vista da campanha do atual prefeito, não há a menor dúvida de que o “limite sagrado” foi ultrapassado pelo candidato do PL – ainda que a grande maioria do público nem sequer tenha se apercebido disso.
Para fustigar Pazolini, o candidato bolsonarista, em diálogo com outros candidatos, referiu-se ao atual prefeito por alguns termos pejorativos. O repertório inclui “Vazolini” e “Enzo” (uma forma de dizer que Pazolini não passaria de uma criança). Mas, na primeira metade do debate, a palavra mais usada por Assumção em referência ao prefeito foi “Margarida”.
Trata-se de um nome próprio feminino, o que obviamente, por si só, já seria um tratamento desrespeitoso – infantil, mas desrespeitoso. Mas por que Margarida? Por que não Bete? Teresa? Loren ou Lorenzina?
Em primeira análise, a referência mais óbvia é à expressão “Apareceu a Margarida”. Pazolini faltara ao debate anterior, o primeiro entre os candidatos a prefeito de Vitória, promovido pela TV Capixaba/Band na última segunda-feira (16). Durante o mesmo debate, o atual mandatário foi massacrado pelos cinco adversários, todos presentes, pelo fato de ter se ausentado. O mais intenso nas críticas foi justamente Assumção, que, na transmissão da Band, chamou-o por termos como “fujão” e “histrião” (um palhaço, um bufão).
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Quatro dias depois, como Pazolini decidiu dar as caras no debate da outra emissora, a “Margarida” repetida por Assumção poderia ser compreendida como “Desta vez, apareceu a Margarida”.
Mas não foi somente isso.
Em um nível mais profundo e sub-reptício, há um detalhe fundamental que aumenta em muito a gravidade da agressão: Margarida é nada menos que o nome da mãe de Lorenzo Pazolini.
Todos no meio político capixaba sabem disso. Em datas como o Dia das Mães, ela é regularmente homenageada pelo prefeito em suas redes sociais, e volta e meia aparece em colunas sociais ao lado de sua nora, Paula Pazolini. “Todos no meio político capixaba” inclui Assumção, que na certa não usou esse nome, logo esse, inadvertida ou desavisadamente. A escolha não teve nada de fortuita, não foi fruto do acaso ou de uma coincidência. Em que pesem algumas infantilidades, o jogo ali é de gente grande: não há lugar para inocentes nem amadores.
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Aliados de Pazolini estão convencidos de que Assumção, de maneira covarde e deliberada, levou a senhora Margarida Pazolini para o centro do debate no estúdio da Rede Gazeta como uma estratégia para não somente fustigar, mas tentar desestabilizar Pazolini emocionalmente. Assim, sub-repticiamente, a ofensa foi muito mais grave do que poderia aparentar em uma camada superficial.
“Assumção passou do limite ao usar o nome da mãe de Pazolini. Mãe é negócio sagrado. Não pode ser desrespeitada”, afirma um interlocutor do atual prefeito, com trânsito livre na campanha, traduzindo o sentimento geral de revolta suscitado no QG da situação.
De todo modo, se o objetivo de Assumção era abalar o emocional de Pazolini, a estratégia pareceu não ter surtido o efeito desejado. O prefeito não acusou o golpe e, como uma esfinge, manteve-se impassível, com semblante e tom de voz serenos ao longo de todo o debate.
Na verdade, nas duas horas e meia de contenda, o único momento em que Pazolini alçou a voz foi num embate com João Coser (PT), não com Assumção, quando o ex-prefeito o acusou de infringir a Lei das Licitações e apontou a existência de “indícios de corrupção” em sua administração.
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Especificamente, o petista lhe questionou por que ele contratou um total de meio bilhão de reais, sem licitação, para a prestação de serviços continuados ao município. “Não me meça por sua régua, candidato”, devolveu-lhe Pazolini, resgatando “escândalos” que marcaram a administração de João Coser.
De resto, o prefeito se mostrou inabalável, frio como um homem de gelo, mesmo sob as provocações de Assumção. Jogando com o regulamento do debate sob o braço, reagiu juridicamente: pediu cinco direitos de resposta, tendo dois deles concedidos pela organização do debate.
Na última quinta-feira, Coser veiculou uma propaganda eleitoral com Lula pedindo votos para ele, e anunciando a chegada da “primavera”, no sentido político: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera”.
Na sexta, ofensivamente, Assumção transformou Margarida em personagem de debate. Ontem, começou oficialmente a estação das flores no Brasil. A julgar pela escalada das hostilidades na campanha em Vitória, as duas derradeiras semanas até o 1º turno prometem não ter nada de clima idílico, muito menos de Jardim do Éden – salvo, é claro, se nos ativermos ao episódio da serpente.
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