fbpx

Coluna Vitor Vogas

Assumção muda estratégia e volta a apostar em um discurso radical

Era uma vez o Assumção Paz e Amor: deputado muda direção da campanha, resgata o “Capitão” e pisa fundo na polarização e na radicalização ideológica

Publicado

em

Magno Malta, Capitão Assumção e Jair Bolsonaro durante sessão solene na Assembleia Legislativa do ES (10/11/2023). Foto: Lucas S. Costa/Ales

Magno Malta, Capitão Assumção e Jair Bolsonaro durante sessão solene na Assembleia Legislativa do ES (10/11/2023). Foto: Lucas S. Costa/Ales

Falando em “Margarida”, o verdadeiro Capitão Assumção (PL) demorou a aparecer, mas finalmente surgiu na disputa pela Prefeitura de Vitória.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Até poucos dias atrás, como observamos aqui desde o início da campanha, o candidato do PL vinha se apresentando aos eleitores em uma versão bem mais leve, suavizada pela sua primeira equipe de marketing eleitoral. Isso se refletiu, por exemplo, em seu plano de governo, racional e bem mais equilibrado que o protocolado por ele na eleição passada para prefeito, em 2020.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Em entrevistas, ele também vinha se mostrando bem mais contido que o personagem habitual. Na decisão mais sintomática, eliminou, em seu nome de urna, a patente que sempre o acompanhou na vida política: dessa vez, veio só como Assumção.

Ocorre que isso ensejou uma situação visivelmente incoerente: um gritante distanciamento entre a imagem com que o candidato se apresentou nesta campanha e o histórico do próprio candidato, o que ele representa e o que ele defende.

Assumção é o candidato do PL, de Bolsonaro e do bolsonarismo. Tem de fato um relacionamento pessoal com o ex-presidente, desde que foram colegas na Câmara dos Deputados (2009-2011) e, em alguns posicionamentos, consegue ser ainda mais radical.

O personagem, enfim, ficou inautêntico.

O eleitorado de Assumção, parte do conjunto maior de eleitores de Bolsonaro, gosta dele e vota nele exatamente por ele ser quem é: aquele deputado histriônico, virulento, cuja marca são os discursos agressivos da tribuna da Assembleia, repletos de ofensas e deboche contra seus adversários políticos; o deputado que não economiza em termos chulos e grosserias para tingir seus alvos. Mas esse deputado até agora não havia se mostrado na eleição à Prefeitura de Vitória.

> Asfalto quente: o tão esperado confronto entre Pazolini e João Coser

A esta altura, é possível afirmar: a mudança não deu nem um pouco certo. Com a estratégia de suavização de imagem, propostas e discurso, Assumção não engrenou nas pesquisas, enquanto viu deslanchar o prefeito Lorenzo Pazolini. Na eleição à Prefeitura de Vitória, dos cinco candidatos na disputa (vamos descontar Du, do Avante), Pazolini é o único de direita, além de Assumção, mas não está na extrema-direita, como o capitão. É mais moderado que Assumção.

Na última pesquisa Quaest, divulgada pela Rede Gazeta na quarta-feira passada (18), Pazolini alcançou 53% das intenções estimuladas de voto, enquanto Assumção ficou em 4º lugar, com apenas 5%.

Boa parte dos eleitores propensos a votar em Pazolini podem estar priorizando fatores bem mais pragmáticos que ideológicos: aprovam a sua administração e por isso avaliam que ele merece um segundo mandato. Mas há também, certamente, os eleitores de direita que levam em conta a ideologia como um fator importante na tomada de decisão. É ai que mora o grande problema de Assumção.

A pesquisa mostra claramente que, entre os eleitores de direita, a grande maioria está preferindo votar no representante de uma direita mais moderada. E, mesmo entre os eleitores mais bolsonaristas, a maior parte, hoje, está inclinada a votar em Pazolini, seja por uma questão de “voto útil” – por ver no candidato do Republicanos a melhor chance de derrotar logo a esquerda no 1º turno –, seja porque, simplesmente, não se empolgou com Assumção e deixou de reconhecer nele um autêntico representante do bolsonarismo.

Diante dessa crise de identidade, Assumção mudou radicalmente a orientação da sua campanha, começando por mudar a direção do marketing. Dirigida pelo marqueteiro Pedro Roque Rodrigues, a agência Caco, que estava com ele nas primeiras semanas, foi dispensada.

A mudança radical sobressai em algumas das mais recentes peças de sua propaganda eleitoral (inserções na TV, posts na internet).

Uma das mais recentes peças merece destaque e análise detida, por sintetizar a radicalização do discurso e o resgate do “velho Assumção”: investimento pesado na polarização ideológica com a esquerda, “monopolização” da direita, desqualificação de oponentes, um tom bem debochado (sobretudo contra Coser e Pazolini) e algumas mentiras flagrantes.

> Análise – Todos contra Pazolini: como foi o debate da Rede Gazeta em Vitória

Apesar dos muitos senões e correções que o vídeo enseja, é preciso reconhecer que é bem bolado e atinge em cheio o público-alvo de Assumção: seus eleitores em potencial, até agora “inertes”. Quando se termina de ver a inserção de um minuto, a vontade que se tem é a de dizer: “Ah, tá, agora eu reconheço Assumção. Onde é que ele estava esse tempo todo?!?”

Na tarde de ontem, no Instagram de Assumção, o post em questão já havia alcançado quase 10 mil curtidas em um dia.

O vídeo em questão: Pazolini rasgado

Em um vídeo de um minuto, um ator, com acento carioca e tom muito debochado – lembrando muito o do próprio Assumção da tribuna da Assembleia – fala com o público, olhando para a câmera, sentado a uma mesa. Sobre esta, há cinco “cartas”, isto é, fotografias dos cinco candidatos pra valer à Prefeitura de Vitória.

Uma a uma, ele pega a foto de cada candidato e o critica, nesta ordem: Coser, Camila Valadão, Luiz Paulo e Pazolini. No ápice, rasga a carta do prefeito, tratando-o como “melancia” (ou seja, falsa direita, “esquerda dissimulada”, “vermelho por dentro”). Pega, então, a foto de Assumção e passa a enaltecê-lo como único representante da direita e de Bolsonaro (tomados por sinônimos) na eleição a prefeito de Vitória.

O ator começa falando de João Coser: “Em Vitória, pra prefeito, tá assim: João Coser é PT, e só isso já basta, né? Sim, tem gente que tem coragem de permanecer no PT ainda hoje. O Coser foi aquele que prometeu metrô de superfície, lembra? Era metrô de superfície, porque, debaixo da terra, a única coisa que ele luta pra manter depois de oito anos são os vários escândalos nos quais ele está envolvido”.

Em seguida, desdenha de Camila: “Que indelicadeza a minha! Eu deveria ter começado pelas damas. Camila Valadão é do PSol, número 50, tipo de ‘cinquenta tons de fracasso’. É o partido do Boulos, que bate em carteira de trabalho e invade propriedade. Modelo de governo pra eles é Venezuela. Mas Vitória nunca será uma Venezuela. Essa carta nem deveria estar aqui”.

> Análise – A falta e o asfalto: a mais que presente ausência de Pazolini no debate da Band

Por Luiz Paulo, ele passa rapidamente: “Bom, esse aqui eu não preciso falar nada, já teve a sua oportunidade”.

Concentra-se, então, em Pazolini:

“E, agora, a pior parte: Lorenzo Pazolini, do Republicanos. Esse faz papel de menino bonzinho, só que está no partido aliado do Lula e por isso não apoiou Bolsonaro. A sua gestão ensina a agenda esquerdista para criança nas escolas, até porque a sua secretária de Educação ‘faz o L’, assim como a maioria da sua equipe, que é composta por petistas, não é? Prometeu que ia cuidar da segurança direto do seu gabinete, mas as ruas foram tomadas por trombadinhas e usuários de drogas. E a sua resposta foi fazer parquinho e asfaltar, porque asfaltar é bonito e disfarça os outros problemas que Vitória não aguenta mais”.

Ator rasga foto de Pazolini na propaganda de Assumção

Ator rasga foto de Pazolini na propaganda de Assumção

Volta-se, enfim, para Assumção, chamado por ele, atenção, de Capitão Assumção:

“Está cansado de criminoso? O Capitão Assumção também. Capitão Assumção é Bolsonaro, em Vitória. Criticam ele porque ele é direita demais. Ele é muito radical. Como ser mansinho, com criminosos tomando conta das ruas e das praças da cidade, furtando condomínios e comerciantes? Quem é conservador de verdade vota 22, porque, com melancia, não tem perdão.”

Nesse momento, o ator rasga a foto de Pazolini. E arremata: “Direita e Bolsonaro em Vitória é Capitão Assumção”.

> Análise – Quem ganhou e quem perdeu com a ausência de Pazolini no debate da Band

Alguns pontos do texto são delírio ou má-fé

Em primeiro lugar, o que emerge da publicidade é o discurso sectário, mantido por Magno Malta, de que só há uma “direita” possível, a de Bolsonaro, logo o bolsonarismo é sinônimo de direita, e tudo o que não é bolsonarismo corresponde a “esquerda”.

Por esse raciocínio, qualquer político que se diga de direita, mas que não seja fiel seguidor de Bolsonaro nem reze por sua cartilha, seria na verdade “de esquerda”. Haveria tão somente os políticos que apoiam Bolsonaro e os políticos de esquerda, sem nada entre eles. Esse é, pois, o maior delírio do discurso: chamar de “melancia” a um político como Pazolini, que de esquerda não tem nada.

Nas palavras dedicadas a Coser, fala-se genericamente em “escândalos”, sem se especificar do que se trata. Quais escândalos? Aqui, obviamente, a estratégia é a de associar o PT à corrupção, apenas lançando suspeitas no ar, sem arcar com o ônus de se provar o que se diz.

O discurso sobre Camila é completamente autoritário e antidemocrático: “Essa carta nem deveria estar aqui”. Por que não? Só porque representa outra linha de pensamento? Ela tem tanto direito de se candidatar quanto Assumção. Que ambos disputem ideias e votos, sem deslegitimar a participação do outro. Aliás, negar a existência e a legitimidade política dos adversários de esquerda é o suprassumo do bolsonarismo.

Já as críticas a Pazolini têm alguns momentos delirantes ou de pura e simples má-fé. A secretária de Educação de Vitória, Juliana Rohsner, colaborou na elaboração do plano de governo de Célia Tavares (PT) como candidata a prefeita de Cariacica em 2020, mas não é filiada ao PT. A Prefeitura de Vitória tem 19 secretários. A propaganda de Assumção diz, do nada, que a maioria deles são petistas. Seria importante que discriminasse quem são os 10 secretários de Pazolini filiados ao PT. Aliás, seria muito oportuno que citasse pelo menos um.

> O Cordel do Debate da Band entre os candidatos a prefeito de Vitória

Por fim, dizer, sem mais nem menos, que a Prefeitura de Vitória “ensina a agenda esquerdista para criança nas escolas” é uma irresponsabilidade. O que seria “a agenda esquerdista” nas escolas? Obtuso, o discurso reedita aquele do Escola sem Partido, programa que constava na plataforma de campanha de Assumção em 2020, mas, vale frisar, foi retirado pelo próprio do seu plano de governo para esta eleição.

Aliás, na área da educação, o plano de governo de Assumção para Vitória se parece muito com o do próprio Pazolini…

Assumção sofre derrotas na Justiça Eleitoral

No último fim de semana, segundo a assessoria de Pazolini, Assumção sofreu quatro derrotas consecutivas na Justiça Eleitoral, por ataques contra o atual prefeito, em ações movidas por sua coligação.

A Justiça Eleitoral determinou a imediata remoção do vídeo, sob pena de multa, em que Assumção divulgou, em suas redes sociais, notícias falsas sobre a coleta de lixo de Vitória, afirmando que o custo do contrato seria de quase R$ 3 bilhões.

Em outras três diferentes ações, foi comprovado uso ilegal da ferramenta de impulsionamento pago para atacar Pazolini. A Justiça Eleitoral concedeu liminar para a remoção dos impulsionamentos nas plataformas digitais, impondo multas diárias em caso de descumprimento.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui