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Coluna Vitor Vogas

Guarapari: tudo sobre a eleição mais emocionante da Grande Vitória

Na cidade turística com mais de 120 mil habitantes, a disputa entre Zé Preto (PP) e Rodrigo Borges (Republicanos) chega à reta final com desfecho totalmente imprevisível. Saiba como está o cenário local na análise completa da coluna

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Zé Preto (PP) x Rodrigo Borges (Republicanos)

Sob governo ou influência do prefeito Edson Magalhães há praticamente duas décadas, Guarapari é palco de uma das eleições para prefeito mais equilibradas do Espírito Santo, com reta final eletrizante e chegada imprevisível no próximo domingo (6). A disputa está polarizada entre o deputado estadual Zé Preto (PP) e o vereador Rodrigo Borges (Republicanos).

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Se fosse uma corrida de cavalos, como aqueles criados por Zé Preto, poderíamos dizer que a chegada será “por uma cabeça” – ou por una cabeza, como no tango de Carlos Gardel, cantarolado por alguém em Bueno Aires (não a capital argentina, mas o distrito turístico e gastronômico de Guarapari).

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Com 124,6 mil habitantes, a cidade da Região Metropolitana não pode ter 2º turno. O próximo prefeito, sucessor de Magalhães, será conhecido no domingo. A única certeza, a dois dias da votação, é o fim do ciclo de poder do atual prefeito: nem Zé Preto nem Rodrigo Borges pertencem ao grupo político de Magalhães. Os dois, notadamente Rodrigo, são candidatos de oposição.

A última pesquisa da Futura Inteligência para a Rede Vitória, publicada no dia 25 de setembro, apresentou empate técnico entre os dois candidatos, com ligeira vantagem numérica para Rodrigo: o candidato do Republicanos registrou 32,8% das intenções de voto no cenário estimulado, ante 29,2% do candidato do PP. O número de indecisos ainda era relativamente alto: 16,1%.

Num plano mais macropolítico, da correlação de forças estaduais, a disputa pela Prefeitura de Guarapari também pode ser compreendida como uma medição de forças entre o Palácio Anchieta, isto é, o grupo político liderado pelo governador Renato Casagrande (PSB), e um dos grupos políticos ascendentes no Espírito Santo que não gravita em torno da liderança do governador e tem aspirações próprias para as próximas eleições estaduais, em 2026: o Republicanos, de Erick Musso.

Zé Preto é o candidato do Palácio Anchieta, que entrou em peso na sua campanha. O próprio governador declarou apoio ao deputado da sua base, com direito a um vídeo gravado e mandado nesta semana para a campanha, pedindo votos para ele.

Rodrigo, por sua vez, é o candidato do Republicanos, partido conservador de direita que não faz parte da base de Casagrande e pode crescer bastante no Espírito Santo nesta eleição estadual. Ao lado de Vitória e Linhares (onde tem os atuais prefeitos, Pazolini e Bruno Marianelli) e da Serra (com Pablo Muribeca), Guarapari é prioridade para o partido presidido no Espírito Santo pelo ex-presidente da Assembleia.

Chegar à prefeitura da “Cidade Saúde” é parte do plano de ocupação de territórios estratégicos para chegar ao Governo do Estado daqui a dois anos (possivelmente, com a candidatura de Pazolini).

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Zé Preto, o candidato do governo Casagrande

Hoje com 50 anos, Ademir José Gomes Pereira, o Zé Preto, fez fama e patrimônio como criador de cavalos de raça no distrito rural de Taquara do Reino, onde é proprietário de um haras (embora só tenha declarado dois carros usados à Justiça Eleitoral). Recentemente, para se ter uma ideia, ele vendeu 50% de uma égua por R$ 650 mil, segundo um colaborador da sua campanha.

Em 2016, ele chegou à Câmara de Guarapari. Em 2020, reelegeu-se, como o candidato a vereador mais votado da cidade. Dois anos depois, filiado ao Partido Liberal (PL), chegou à Assembleia Legislativa. Foi um dos cinco deputados estaduais eleitos pela sigla bolsonarista, de oposição a Casagrande. Mas durou pouco no partido.

Mal chegado à Assembleia – na verdade, antes mesmo de ser empossado –, Zé Preto passou para a base de Casagrande, por ocasião da eleição da atual Mesa Diretora, no início do ano passado. A posição desagradou ao comando do PL, presidido no Estado pelo senador Magno Malta, e a relação começou a azedar. Sem legenda assegurada no PL, ele conseguiu a liberação de Magno e do TRE-ES para trocar de sigla sem perder o mandato. No começo deste ano, migrou para o PP, que prontamente abrigou sua competitiva candidatura.

Basta olhar para o palanque de Zé Preto para não duvidar de que ele é mesmo o candidato do governo Casagrande. Sua coligação está cheia de partidos governistas, como o PSB do governador, o MDB de Ricardo Ferraço e o Podemos do seu candidato a vice-prefeito, o ex-vereador Gedson Merízio. Gedson era do PSB, foi subsecretario de Turismo no governo Casagrande e é amigo do governador há muitos anos.

Um dos principais apoiadores e parceiros políticos de Zé Preto, desde antes da campanha, é o deputado estadual Tyago Hoffmann (PSB), vice-líder do governo na Assembleia. Além disso, pelo menos quatro secretários de Estado subiram no palanque do deputado: o de Agricultura, Enio Bergoli, o de Turismo, Philipe Lemos (PDT), o de Mobilidade e Infraestrutura, Fabio Damasceno (PSB), e a de Governo, Emanuela Pedroso (Podemos) – esta, por sinal, extremamente ativa no processo eleitoral em várias cidades, quase como uma porta-bandeira do Palácio Anchieta.

Zé Preto entre Ricardo Ferraço e Casagrande

Zé Preto entre Ricardo Ferraço e Casagrande

E, vejam só, ninguém menos que a ex-senadora Rose de Freitas (MDB) – “mergulhada” havia cerca de um ano e também notória aliada de Casagrande – fez uma surpreendente aparição nesta semana: vencendo um lendário medo de altura atribuído a ela, subiu no trio elétrico de Zé Preto e fez um discurso emotivo em defesa de sua eleição.

Dos dez deputados federais do Espírito Santo, pelo menos quatro também pisaram no palanque de Zé Preto: os dois do PP (Da Vitória, presidente estadual da legenda, e Evair de Melo, antigo aliado do candidato) e os dois do Podemos (Gilson Daniel, presidente estadual da sigla, e Victor Linhalis).

Dos colegas de plenário, pelo menos oito também marcaram presença na campanha de Zé Preto. Participaram de atos de campanha o presidente da Assembleia, Marcelo Santos (União), e os deputados Janete de Sá (PSB), “puxadora” de uma carreata, Mazinho dos Anjos (PSDB), Xambinho (Podemos) e Raquel Lessa (PP), além do já citado Tyago Hoffmann.

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Dois deputados do Republicanos, partido de Rodrigo Borges, mandaram vídeo de apoio: Hudson Leal e Sérgio Meneguelli.

Dos 17 vereadores de Guarapari, Zé Preto tem o apoio de 14 ou 15, incluindo o presidente da Casa, Wendel Lima, que também preside o MDB no município.

Quem não pisou na campanha dele foi o vice-governador Ricardo Ferraço, apesar de ser o presidente estadual do MDB, integrante da coligação. É que o atual prefeito, Magalhães, é afilhado e aliado histórico do pai de Ricardo, o deputado estadual Theodorico Ferraço (PP). A situação era delicada para ele.

De maneira mais discreta, o deputado também conta com o apoio da Maçonaria e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Guarapari.

Amaro Neto, o maior cabo de Rodrigo

Não que isso por si decida uma eleição, mas não cabe a menor dúvida de que, entre Zé Preto e Rodrigo, em volume e influência política, o palanque mais “pesado” é o do primeiro. Mas o vereador do Republicanos também tem os seus apoiadores de peso.

Além do próprio Erick Musso, que entrou de cabeça na campanha – mas precisa dividir sua atenção com outras praças –, Rodrigo ganhou o reforço do deputado federal Messias Donato (também do Republicanos) e um vídeo de apoio da ex-deputada federal Lauriete. A senadora pelo Distrito Federal Damares Alves, também filiada ao Republicanos, também gravou para ele.

Mas o destaque maior é o outro federal do Republicanos: o apresentador de TV Amaro Neto virou uma espécie de “padrinho” da campanha. Está lá, ao lado de Rodrigo, em inúmeras atividades de rua. É seu maior cabo eleitoral na cidade.

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Zé Preto: tirar Guarapari do isolamento

São dois os principais motes da campanha de Zé Preto.

O primeiro é “acabar com o isolamento político de Guarapari”. O entendimento de seu grupo é o de que, sob a administração de Magalhães – um cara meio ensimesmado, adversário de Casagrande, mas que também não era exatamente um aliado de Paulo Hartung –, Guarapari perdeu todas as conexões políticas com Vitória e com Brasília.

Não há relacionamento da prefeitura com o governo estadual e o federal, nem com as bancadas estaduais e federais… Isso significa perda de investimentos. “Parece que o governador é persona non grata em Guarapari”, resume um aliado do candidato do PP.

Assim, ancorado na sua ampla coligação e no selo de “candidato do Palácio”, Zé Preto tem prometido recuperar o diálogo com as os governos e as bancadas, em busca de mais investimentos.

O segundo grande mote é prover Guarapari com um melhor estrutura de saúde pública e botar para funcionar plenamente, em tempo integral, o hospital municipal inaugurado por Magalhães, apelidado de Cidade Saúde (o nome oficial é Hospital Doutor Luiz Buaiz).

A ideia do candidato é estadualizar o hospital, em parceria com o governo Casagrande.

Rodrigo Borges: a maior voz de oposição a Magalhães

A primeira grande marca da campanha de Rodrigo é algo que, de fato, ninguém pode lhe tirar. Após uma primeira tentativa frustrada em 2016, ele chegou à Câmara de Guarapari, já no Republicanos, na eleição de 2020. Ao longo do seu primeiro e único mandato, estabeleceu-se como a grande voz de oposição, se não a única, à atual administração de Edson Magalhães.

Da tribuna da Câmara Municipal, ele exerceu quatro anos de mandato combativo, com cobranças implacáveis ao prefeito – aliás, não só da tribuna. Uma iniciativa marcante foi a criação do adesivo “Coloca dinheiro na saúde, prefeito”, campanha que se espalhou pelas ruas da cidade.

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Quanto a Zé Preto, não foi uma voz de oposição em seus dois últimos anos na Câmara (2021-2022), coincidentes com os dois primeiros do atual mandato de Magalhães. Segundo a campanha de Rodrigo, enquanto vereador, Zé Preto era da base do prefeito.

Por isso, a campanha de Rodrigo reivindica que ele, na realidade, é o único candidato que pode legitimamente se dizer de oposição, por ter sido opositor do prefeito nos últimos quatro anos, de maneira constante e autêntica, enquanto a oposição de Zé Preto seria apenas circunstancial e eleitoreira.

“A população reconhece muito o Rodrigo como um vereador combatente, que teve a coragem de ir contra a máquina da prefeitura. Ele fez uma oposição muto dura a tudo o que hoje se encontra no município”, observa um colaborador da campanha do republicano.

Apesar de o Podemos, partido de Arnaldinho Borgo, estar com Zé Preto e ter o vice dele, auxiliares de Rodrigo veem semelhanças entre sua campanha e a de Arnaldinho a prefeito de Vila Velha, em 2020. Na oportunidade, Arnaldinho estava a encerrar um mandato em que tinha se destacado como voz solitária mas potente à gestão do prefeito Max Filho (PSDB), na Câmara de Vila Velha – assim como Rodrigo, agora, em relação a Magalhães. Daí o paralelo.

Outro mote da campanha de Rodrigo é o da renovação política. Seu slogan é “Renovar para cuidar de Guarapari”. Embora Zé Preto também nunca tenha sido prefeito e não faça parte do grupo de Magalhães, o candidato do Republicanos se apresenta como o legítimo representante da renovação – até porque, de novo: o adversário já foi da base parlamentar do atual prefeito, não faz tanto tempo assim.

A campanha de Rodrigo acusa Zé Preto de instabilidade e de certo oportunismo. “Disputou vaga na Assembleia pelo PL em 2022, surfou a onda bolsonarista, apoiou Manato para governador e, no dia seguinte, se tornou base do Casagrande”, aponta um interlocutor do vereador.

Num ponto, porém, os dois concordam: Guarapari atualmente está abandonada, sem investimento externo e desconectada das demais esferas administrativas.

Na plataforma de campanha de Rodrigo, o ponto central também é a saúde. Ele assumiu o compromisso de elevar o gasto com saúde pública para 30% da receita municipal (é um percentual bem alto e uma promessa bem difícil de cumprir).

Na educação, promete a climatização das escolas (no balneário faz calor, hein!) e a abertura de creche em tempo integral. Promete, ainda, um programa de regularização fundiária, o desenvolvimento do turismo na cidade e um diálogo mais franco com o setor produtivo.

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A família Borges

Hoje com 45 anos, Rodrigo Borges é advogado e servidor concursado da Prefeitura de Guarapari desde 2007. Chegou a ser também assessor parlamentar de Carlos Von (hoje no PL) na Assembleia Legislativa.

É filho do falecido Huguinho Borges e sobrinho do ex-deputado estadual e conselheiro aposentado do TCES Sérgio Borges (presidente do MDB em Vitória, sigla que está com Zé Preto). Antes de se divorciar de Huguinho Borges, a ex-senadora Rose de Freitas, apoiadora de Zé Preto, foi madrasta de Rodrigo.

Apesar de ser do Republicanos – partido enraizado em igrejas evangélicas –, ele não fez um “mandato religioso” na Câmara nem tem essa “pegada”.

A curva favorece um dos dois

De fato existe um empate técnico e de fato o desfecho é imprevisível, mas não se pode deixar de registrar o seguinte: quando se analisa o filme, não o retrato do momento, Rodrigo é quem vem em curva crescente, ao passo que Zé Preto perdeu terreno desde o início da campanha.

O deputado do PP entrou na corrida como favorito absoluto, liderando pesquisas com certa folga. Após o início oficial da campanha, em 16 de agosto, as coisas começaram a mudar. Na penúltima sondagem da Futura, divulgada em 28 de agosto, Zé Preto estava numericamente na frente, com 34,9%. Em cerca de um mês, caiu para 29,2%.

Rodrigo tinha 30,8% no fim de agosto, Em cerca de um mês, subiu para 32,8%.

Derrapadas do favorito

Resumidamente, o maior adversário de Zé Preto pode ter sido ele mesmo. No decorrer da campanha, o candidato cometeu alguns erros que podem ter lhe custado muito – o quanto, exatamente, saberemos no domingo.

Em primeiro lugar, falemos claramente (até porque não é nenhum mistério, basta ouvir um pronunciamento dele na Assembleia): por falta de melhor definição, o deputado é bem “rude”, no sentido de “inculto”. Falta-lhe polimento. Falta, antes de mais nada, tratar melhor a língua portuguesa.

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Para se eleger prefeito, ninguém precisa ser um erudito, um acadêmico etc. Muito menos ser um cultor da norma culta da língua. Aliás, nem mesmo para ser presidente, como provaram as últimas eleições para o Planalto. Nem Lula nem Bolsonaro são acadêmicos. Lula evoluiu muito nesse aspecto ao longo das décadas, mas está longe de ser um primor no uso da língua. Bolsonaro idem.

Por outro lado, é óbvio que boa oratória e conhecimento geral são muito bem-vindos a quem deseja governar uma cidade com mais de 100 mil moradores, na Região Metropolitana.

Mas não se trata só de domínio da língua, e sim de mentalidade. Durante a campanha, Zé Preto deu declarações que revelaram preconceito, desrespeito a minorias e a populações em vulnerabilidade social.

No fim de agosto, em entrevista a um podcast do jornalista Ricardo Conde, da TV Guarapari, o candidato fez uma fala preconceituosa em relação a crianças do espectro autista (“o autismo é uma das fatalidades que mais cresce no nosso município”) e afirmou que “Guarapari está infestado de morador de rua”.

Em um debate televisivo, diante de uma pergunta do Delegado Danilo Bahiense (PL), mostrou falta de conhecimento elementar sobre o orçamento municipal.

Carlos Von na dele

Tendo recuperado os direitos políticos, mas obrigado a cumprir uma série de cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes (incluindo tornozeleira eletrônica), o ex-deputado Carlos Von (PL) não declarou apoio a nenhum candidato a prefeito de Guarapari. Ele bateu na trave nas últimas três eleições municipais, sempre como opositor ao grupo de Magalhães.


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