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Coluna Vitor Vogas

Frente eleitoral de direita no radar para fortalecer Pazolini

Objetivo é unir Republicanos, PL, PSD e União Progressista. Saiba como cada qual se encaixa nesse plano arquitetado por estrategistas do prefeito de Vitória para potencializar sua candidatura a governador

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Estrategistas políticos de Lorenzo Pazolini têm um plano. Nada garante que será concretizado, mas é o grande objetivo estratégico perseguido por eles: construir, em torno de Pazolini, uma grande frente eleitoral de direita no Espírito Santo, de modo a fortalecer a candidatura do prefeito de Vitória a governador e potencializar suas chances de vitória sobre quem quer que venha a ser o candidato do governo Casagrande.

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No cenário ideal que se projeta, essa frente seria formada por quatro grandes forças partidárias, unidas na mesma coligação majoritária no Espírito Santo: o Republicanos de Pazolini (direita conservadora), o PSD (centro-direita), o PL (bolsonarista) e, ainda, a federação de centro-direita União Progressista, composta pelo União Brasil com o PP. São todos partidos com grandes bancadas na Câmara dos Deputados. Se esses quatro vetores convergirem na mesma coligação, Pazolini poderá reunir cerca de 3 minutos e meio a cada bloco de 10 minutos no horário eleitoral gratuito de rádio e TV.

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Tal é o cenário perfeito, idealizado pelos estrategistas do prefeito – entre os quais se destaca o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso. Uma coligação com os quatro vértices será perseguida por eles até o momento do registro das candidaturas, em agosto do ano que vem.

Nos estados, em cada chapa majoritária, haverá quatro vagas a preencher: candidato a governador, candidato a vice-governador e dois candidatos ao Senado. A ideia dos articuladores de Pazolini é, estrategicamente, reservar uma dessas quatro vagas para cada um dos vértices dessa almejada “frente de direita”. A de governador, naturalmente, ficará com o Republicanos, na pessoa de Pazolini. As outras três serão ofertadas e distribuídas para os potenciais parceiros: PSD, PL e União Progressista.

Num dos desenhos esboçados pelo staff de Pazolini, ele poderia ter Guerino Zanon (PSD) como vice, Maguinha Malta (PL) como uma candidata ao Senado e Evair de Melo (União Progressista) como o outro. Esse é um dos esboços. Há outros potenciais candidatos envolvidos.

A base do projeto, isto é, os dois pilares iniciais para composição dessa “frente de direita” são o Republicanos e o PSD. Os dois partidos estão muito entrosados no Espírito Santo – e também em outras partes do país, como no mais que estratégico estado de São Paulo.

As outras duas forças partidárias precisam ser convencidas e atraídas. É o que passamos a detalhar melhor abaixo.

O PSD: entrosamento

Nas eleições municipais de 2024, o Partido Social Democrático (PSD) apoiou Pazolini em Vitória, enquanto o Republicanos foi muito importante para a vitória, em Colatina, de Renzo Vasconcelos, presidente estadual do PSD.

O ex-governador Paulo Hartung, que tem feito reiterados acenos a Pazolini, filiou-se ao PSD em maio. Quem também pode se filiar, na janela de março do ano que vem, é o deputado estadual Sérgio Meneguelli. Pré-candidato a senador, o deputado mantém excelente relação com Renzo, apoiado por ele em Colatina, e também com Hartung.

Além disso, o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon, também filiado ao PSD, passou a ser fortemente cotado como possível candidato a vice-governador de Pazolini, num movimento que passa por Hartung e, principalmente, por Erick Musso e Evair de Melo (PP), também aliado do prefeito de Vitória.

O PL: realinhamento com Magno

Com o PL do senador Magno Malta, o Republicanos tem feito um esforço de reaproximação estratégica desde o início deste ano. Após o isolacionismo de Magno e a troca pública de farpas entre ele e Erick Musso durante as eleições municipais do ano passado, o senador mudou o discurso e as prioridades com o foco em 2026. No começo deste ano, voltou a se reunir com Erick. Em declaração oficial à coluna, passou a falar em “diálogo maduro” e em uma possível união das forças de direita. Logo depois, lançou a pré-candidatura ao Senado de uma de suas filhas, a publicitária Maguinha Malta, também do PL.

Qualquer negociação com o PL no Espírito Santo (leia-se com Magno) passa, obrigatoriamente, pela candidatura de Maguinha. O apoio à filha é condição inegociável para o senador. Vale dizer que, para ter o PL reforçando a coligação de Pazolini, o Republicanos e o próprio prefeito de Vitória terão de aceitar absorver a filha de Magno na mesma chapa. Para ter o apoio do PL na disputa pelo Palácio Anchieta, Pazolini terá de apoiar a candidatura de Maguinha para o Senado. Essas discussões estão em curso, enquanto alguns acenos públicos já têm sido feitos.

Nos últimos meses, o próprio Erick Musso já esteve ao lado de Magno e outros políticos do PL, no alto de trios elétricos, em pelo menos quatro manifestações em defesa de Bolsonaro, a favor da anistia etc. Pazolini não chegou a tanto, mas já fez um aceno importante: em abril, em postagem no Instagram, defendeu a anistia para envolvidos no 8 de janeiro, criticando, nas entrelinhas, os julgadores (no caso, o STF). Música para os ouvidos dos bolsonaristas.

Em 25 de julho, num ato isolado, mas simbólico o bastante, Pazolini e Erick circularam em público com Magno e Maguinha em uma feira agropecuária no município de São Gabriel da Palha – num dos muitos atos de pré-campanha do prefeito de Vitória. Situações assim não se repetiram desde então. Mas temos a informação segura de que Pazolini e Magno já se encontraram e dialogaram reservadamente, em busca de entendimentos.

O fator Tarcísio

No caso do flerte do Republicanos com o PL, há um fator crucial, que é o peso da eleição presidencial nos palanques locais, ou seja, a influência da conjuntura nacional na estadual.

Não somente os apoiadores do ex-presidente, mas o Brasil inteiro aguarda quem Bolsonaro vai indicar como seu candidato, já que está inelegível – vale lembrar: por decisão do TSE tomada no ano passado. Ademais, recém-condenado pela Primeira Turma do STF, ficará duplamente inelegível quando a pena transitar em julgado e tem grandes chances de, nas eleições de 2026, já ter começado a cumprir a pena de prisão em regime fechado.

Se Bolsonaro escolher alguém com o mesmo sobrenome, a conversa será outra. Mas, se indicar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, este passará a ser “o candidato oficial do bolsonarismo”, apoiado também pelo PL. A aliança, então, tenderá a ser “verticalizada” para os estados, “descendo” para os palanques locais. Nesse caso, sua reprodução no Espírito Santo será praticamente natural, facilitando demais a junção do PL ao Republicanos naquela “frente de direita”.

Pazolini, logicamente, apoiaria a candidatura à Presidência de seu correligionário Tarcísio, representante de um bolsonarismo mais light, enquanto atrairia, por gravidade, o apoio dos eleitores bolsonaristas mais fiéis ao ex-presidente da República e padrinho político de Tarcísio.

Por fim, se Tarcísio for o candidato de Bolsonaro e do bolsonarismo, isso pode ter reflexos até na posição nacional do PSD, com rebatimentos nos estados. Hoje, o partido de Kassab apresenta dois presidenciáveis: o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o do Paraná, Ratinho Júnior. Mas, em São Paulo, o PSD apoia Tarcísio, está no seu governo, e o próprio Kassab faz parte do seu secretariado. Hoje fechado com Kassab, Paulo Hartung vive elogiando Tarcísio, que, por sua vez, o trata publicamente como um guru.

Enfim, se Tarcísio for candidato à Presidência, a aliança do PSD com o Republicanos no Espírito Santo, já bem encaminhada, tende a ficar ainda mais forte.

União Progressista: a situação mais complexa

Com a Federação União Progressista, há uma boa abertura: o PP apoiou a reeleição de Pazolini no ano passado e está na sua administração em Vitória, assim como o novo presidente estadual do União Brasil, Marcelo Santos. Erick Musso conversa muito bem com ambos. Mas ali o buraco é mais embaixo, porque os dois partidos também estão no governo Casagrande (PSB), inclusive com secretarias de Estado, e seus respectivos presidentes são aliados do governador.

Desde o primeiro semestre, Marcelo está na pré-campanha de Ricardo Ferraço (MDB) para governador, enquanto Da Vitória, presidente estadual dessa federação, tem dito repetidamente que tem com Casagrande o compromisso de “construírem juntos” as eleições majoritárias no Espírito Santo.

Mas, no caso do União Progressista – como outras forças políticas de centro-direita e direita –, a conjuntura estadual pode ser profundamente influenciada pela configuração da eleição presidencial.

O PSB de Casagrande certamente estará na coligação de Lula para a Presidência. É muito possível que o MDB de Ricardo Ferraço também esteja.

Enquanto isso, em recente decisão conjunta, PP e União Brasil desembarcaram oficialmente do governo Lula. O anúncio foi feito pelos respectivos presidentes nacionais, Ciro Nogueira e Antônio de Rueda. Exigiram de todos os filiados a entrega dos cargos no Governo Federal. Os dois partidos não estarão na coligação encabeçada pelo PT em busca da reeleição de Lula.

O União Brasil (logo, a federação) tem pré-candidato próprio à Presidência: o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, governante de direita. Se Caiado não for candidato ao Palácio do Planalto, é provável que a Federação União Progressista leve seu apoio para um dos outros presidenciáveis de direita apresentados no momento.

Se esse alinhamento nacional se confirmar na eleição para o Palácio do Planalto, poderá se refletir também no Espírito Santo. Da Vitória poderá ser, digamos, impelido a levar o União Progressista para a dita “frente de direita”.

Se bem que, em entrevista publicada aqui na última sexta-feira (26), após reunião com Casagrande, Ricardo Ferraço e Marcelo Santos no Palácio Anchieta, o próprio Da Vitória lembrou que, em 2022, obteve da direção nacional do PP uma liberação especial para compor com o PSB e apoiar a reeleição de Casagrande, muito embora o PP estivesse na coligação de Bolsonaro para a Presidência. A “liberação” poderá se repetir, levando-se em conta as especificidades locais.

Em todo caso, Erick Musso não desistirá, até o último momento de ter essa federação na coligação de Pazolini.

Meneguelli: o risco de ser rifado de novo

O movimento de “indicação” de Guerino Zanon para ser vice de Pazolini tem as impressões digitais, principalmente, de Evair de Melo. Os dois são muito próximos, há bastante tempo. É um movimento estratégico de Evair, inteligente, para neutralizar potenciais concorrentes na mesma frente.

Como referido acima, só há quatro lugares por chapa majoritária. No plano ideal dos principais colaboradores de Pazolini (Evair entre eles), cada vaga deverá ser preenchida por um partido ou federação, a fim de atrair aliados. Uma mesma sigla não poderá ocupar mais de uma.

A preço de hoje, Evair é candidato à releição na Câmara. Afirma que não é e não será candidato a vice-governador. Mas é cotado para se candidatar a senador.

Ora, nesse mesmo conjunto de partidos, além de Maguinha Malta (PL), há pelo menos outros dois potenciais candidatos ao Senado, ambos pela mesma sigla. O primeiro (cotado, mas não declarado) é Paulo Hartung, pelo PSD. O segundo, com interesse expresso, é Sérgio Meneguelli. Este está no Republicanos, mas, para ser candidato ao Senado, terá de mudar de partido e está decidido mesmo a sair… Sua opção prioritária é, justamente, o PSD, como ele mesmo já disse – com o endosso de Hartung

Ora, a partir do momento que Evair “desloca” o aliado Guerino para a vice de Pazolini, a “cota” do PSD nessa composição fica automaticamente preenchida. Nesse caso, não haverá mais lugar para um candidato do PSD ao Senado nessa mesma coligação. Nem Hartung nem Meneguelli…

Desse modo, se migrar para o PSD entre março e abril do ano que vem na crença de que lá terá legenda, Meneguelli pode acabar caindo em nova armadilha… E, pela segunda vez seguida, não conseguir disputar lugar no Senado por falta de legenda, como se deu no Republicanos em 2022, em nova articulação com algum grau de envolvimento de Erick Musso e Magno.

E a federação do Republicanos com o MDB?

A ideia de uma federação do Republicanos com o MDB chegou a borbulhar entre maio e junho, mas, de julho para cá, perdeu muita força, dos dois lados. Conselheiros de Pazolini agora praticamente a tiraram do radar. Ricardo Ferraço disse à coluna que, a preço de hoje, é bem pouco provável.