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Coluna Vitor Vogas

Coser quer Capitã Estéfane como vice. Por que sim? Por que não?

Análise: por que ter a atual vice-prefeita de Pazolini como companheira de chapa é o sonho de consumo de João Coser e do PT? E por que manter a candidatura da capitã a prefeita é o melhor dos mundos para o presidente do Podemos, Gilson Daniel?

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João Coser e Capitã Estéfane

João Coser e Capitã Estéfane

O PT e o deputado João Coser não desistiram do seu maior sonho de consumo nestas eleições municipais: atrair o Podemos para sua coligação e ter a atual vice-prefeita, Capitã Estéfane, concorrendo ao mesmo cargo, mas ao lado dele, na chapa liderada pelo PT. Hoje, na disputa em Vitória, Coser só tem o apoio do PDT, além dos outros dois partidos que formam a Federação Brasil da Esperança com o PT: PV e PCdoB. Mas as tratativas com o Podemos seguem em curso.

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Conduzindo as negociações, estão o próprio Coser e seu chefe de gabinete, José Roberto Dudé, além de dirigentes estaduais do PT. O secretário adjunto de Finanças e Planejamento do partido no Espírito Santo, Jakson Andrade Silva, confirma a informação: “Até as convenções, vamos intensificar as conversas com os partidos que achamos possível. Isso inclui o Podemos”.

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A Capitã Estéfane, vale lembrar, é pré-candidata a prefeita de Vitória pelo Podemos, partido ao qual se filiou no começo de abril, a convite do presidente estadual da sigla, o deputado federal Gilson Daniel. O convite de filiação já veio com a garantia de legenda para ela concorrer à prefeitura. Em entrevistas concedidas à coluna e ao telejornal EStúdio 360, Estéfane reafirmou sua pré-candidatura e disse não ter interesse, a priori, em disputar de novo o cargo de vice-prefeita. Gilson Daniel sustenta o mesmo.

A assessoria do Podemos no Espírito Santo, por nota, declarou ontem (18) que “o Podemos respeita todas as candidaturas, mas hoje tem uma pré-candidatura colocada, que é a Estéfane”. O Podemos diz seguir conversando com outros partidos visando levá-los a apoiar Estéfane, e não o contrário.

Mas Coser e o PT não perderam as esperanças. Como dito, politicamente falando, atrair o Podemos seria o mais belo negócio para o candidato e seu partido. Por quê?

Ora, a eventual adesão do Podemos significaria a chegada de mais um partido da base do governo Casagrande, fortaleceria a coligação de Coser em termos de recursos e tempo de TV e ainda permitira ao petista exibir um partido de centro-direita ao lado dele – o que não seria nada mau para ajudá-lo a se blindar contra a histeria ideológica.

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Entretanto, no caso do Podemos, não há dúvida de que o principal é o bombom que vem dentro do ovo de chocolate, o “brinde” que acompanha o sanduíche com refri e batas fritas. Desde abril, o Podemos é o partido de Estéfane. E Estéfane é mais que um bônus. É a candidata a vice ideal para João Coser. Por quê?

Por quatro fatores.

POR QUE ESTÉFANE É A VICE IDEAL PARA JOÃO COSER?

1) O discurso perfeito

Em primeiro lugar, Estéfane foi a vice eleita ao lado de Pazolini – contra o mesmo Coser – em 2020. Ainda é, oficialmente, a segunda na hierarquia administrativa de Vitória. O que poderia ser melhor, para o discurso de campanha do petista, do que dizer que a vice-prefeita de Pazolini agora o apoia? Banquete para os marqueteiros.

“Sabem aquela moça que se elegeu com Pazolini em 2020, foi humilhada em público por ele, rompeu politicamente com ele e foi esquecida na prefeitura? Pois é, agora está comigo. Até ela reconhece que hoje sou o melhor para Vitória.” As palavras seriam dispensadas. A simples presença da capitã ao lado de Coser na campanha já daria essa mensagem.

2) A pauta da segurança

Em segundo lugar, não se pode esquecer: Estéfane é capitã da reserva da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES). A pauta do combate à violência está estampada em sua testa, em seu nome de urna e em sua farda de gala. Todos sabem que o tema da segurança pública, não devidamente abordado (ou negligenciado mesmo) pela esquerda no país nas últimas décadas, é sempre um ponto vulnerável para representantes desse campo em geral. Estéfane ajudaria Coser a calçar bem, com coturno, esse calcanhar de Aquiles.

Poderá também ajudá-lo a atacar Pazolini por esse flanco, já que o tema da violência urbana, devido ao número de homicídios e confrontos nos morros de Vitória, também se tornou um tema delicado para a atual administração. De Camila Valadão (PSol) a Coronel Wagner (sem partido), adversários do prefeito já têm criticado o isolamento e a falta de integração da gestão de Pazolini com o Governo do Estado e as forças estaduais de segurança.

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3) Perfis complementares

Em terceiro lugar, é muito comum que, na escolha do vice, o titular da chapa privilegie o critério da “complementariedade”: os opostos que se atraem e, imageticamente, se completam. O escolhido reúne características diversas das suas e, assim, alcança outros segmentos, fala para um eleitorado diferente, ampliando o alcance da chapa.

Muito bem: por esse critério, Estéfane não poderia ser uma vice mais talhada para Coser, por ser exatamente o oposto dele em todos os quesitos. Ele é um homem branco, idoso, vindo do interior e de família italiana, morador de Jardim da Penha (região continental), católico e de esquerda; ela, uma mulher negra, jovem, criada na Grande São Pedro (ilha de Vitória), evangélica da Assembleia de Deus e de direita. Em todas as casinhas, os marqueteiros dão check.

Por fim, Estéfane é, sabidamente, uma fiel da direita conservadora. Mas ela também já provou não ser dada a “preconceitos ideológicos”, estar longe de ser uma radical e dialogar bem com representantes de outras vertentes políticas, inclusive da esquerda. Muito cá entre nós, ela se dá bem com a vereadora Karla Coser (PT) e nutre simpatia pessoal por Coser. Os dois apoiam Renato Casagrande e subiram juntos, literalmente, em seu palanque, em comício realizado em Vitória no 2º turno contra Manato (PL) em 2022.

4) Bom entendimento

É bem verdade também, convenhamos, que o próprio Coser é muito mais identificado com a esquerda por conta do partido dele… Pessoalmente, ele há muito tempo está bem mais para um social-democrata, um político de centro-esquerda, flertando com um centro democrático e, principalmente, pragmático, haja vista a sua histórica proximidade com Paulo Hartung, em cujo último governo (2015-2018) foi secretário estadual de Desenvolvimento Urbano.

Mesmo dentro do PT, onde é criticado por alas mais à esquerda, Coser é considerado a “esquerda menos esquerda dentro da esquerda” (a mais próxima do centro).

Por tudo isso, o casamento até teria fortes chances de dar certo, não fosse um grande obstáculo, que atende por Gilson Daniel. O presidente estadual do Podemos, pai da pré-candidatura de Estéfane, não quer dar a mão da vice-prefeita, de mão beijada, para o pretendente petista.

Por quê?

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POR QUE GILSON DANIEL NÃO QUER A ALIANÇA COM O PT?

Em primeiro lugar, há o fator ideológico. Em entrevista à coluna, publicada no dia 23 de maio, o próprio Gilson já disse: “Temos uma dificuldade ideológica”. O partido de Lula é o maior partido de esquerda da América. O deputado do Podemos votou em Jair Bolsonaro. Não é preciso dizer mais.

Em segundo lugar, Gilson, como já assinalado aqui, é hoje considerado, no meio político capixaba, um dos principais candidatos a protagonista da política estadual e a herdeiro do espólio de Casagrande a partir de 2027. Com o pós-Casagrande em aberto, ele é um dos aliados do governador que pode tentar chegar ao Palácio Anchieta em 2026. Para isso, precisa crescer ainda mais do que já vem crescendo.

Nos últimos anos, tendo como veículo o Podemos, o ex-prefeito de Viana já está em franca ascensão, assim como seu partido no Estado. Sob sua liderança, o Podemos é hoje uma das siglas com mais prefeitos filiados no Espírito Santo. Será uma das que mais lançará candidatos a prefeito (mais de 30) em agosto. E ficará, possivelmente, entre as três ou quatro que elegerão mais prefeitos e vereadores em outubro.

Estéfane não entra nessa conta dos possíveis eleitos. Se ela for mesmo candidata a prefeita, sejamos francos, não terá a mínima chance de vitória, com um partido em total isolamento e disputando contra alguns “cachorros grandes”. Mas sua pré-candidatura cumpre outro papel para Gilson: visibilidade.

Com uma candidata própria, o Podemos terá uma vitrine privilegiada, que só a propaganda eleitoral de rádio e TV dos candidatos em Vitória proporciona. Como mulher, a candidatura de Estéfane deve receber um quinhão generoso da Executiva Nacional do Podemos, na partilha do Fundo Eleitoral. Com tais recursos e o palanque eletrônico, poderá, no mínimo, fortalecer a imagem do Podemos.


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