Coluna Vitor Vogas
Gilson Daniel: “Capitã será candidata em Vitória mesmo sem coligação”
Presidente estadual do Podemos afirma que partido não tem o menor compromisso de apoiar o candidato da coligação de centro formada na Capital
No último dia do prazo para filiação de potenciais candidatos nas próximas eleições municipais (6 de abril), a vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane, entrou no Podemos. Poucos dias depois, ladeada pelo presidente estadual do partido, Gilson Daniel, e com o aval da direção nacional, anunciou sua pré-candidatura à Prefeitura de Vitória. Como opinamos aqui, é uma pré-candidatura que nasce com baixa probabilidade de se concretizar. E, mesmo que se viabilize e seja efetivamente registrada, terá chances muito remotas de chegar ao 2º turno.
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Contrariando essa análise, a própria Capitã Estéfane, em entrevista ao telejornal EStúdio 360, confirmou que quer mesmo ser prefeita e que não está nos seus planos ser candidata a vereadora nem a vice-prefeita. Agora, é a vez de Gilson Daniel dobrar a aposta.
Fiador da filiação e da pré-candidatura da capitã da reserva da PMES, ele discorda do nosso prognóstico e afirma, em entrevista à coluna, estar disposto a bancar a candidatura de Estéfane até o fim, mesmo que isso signifique se isolar na disputa em Vitória, concorrendo com uma chapa puro-sangue, sem nenhum partido aliado. O presidente estadual do Podemos acredita que ela tem condições reais de se viabilizar e crescer no decorrer da campanha.
“A Capitã Estéfane é a nossa candidata. É candidatíssima. Eu não tenho dúvida de que ela vai registrar candidatura no dia 15 de agosto. Ela é uma política da Capital que se colocou à disposição da população como vice-prefeita, não teve muita oportunidade no governo do Pazolini, mas se mostrou uma pessoa muito ligada à cidade, vinda de uma comunidade da periferia [São Pedro], uma comunidade importante de Vitória. Acredito muito na candidatura dela. Ela vai se colocar bem nessa disputa.”
O ex-prefeito de Viana diz acreditar que Estéfane possa surpreender os favoritos e até chegar ao 2º turno. Para reforçar seu argumento, ele cita dois exemplos de candidatos que começaram a campanha como azarões e venceram eleições muito improváveis em duas cidades da Grande Vitória: ele próprio em Viana, em 2012, e Arnaldinho Borgo em Vila Velha, em 2020. O segundo foi bancado politicamente por Gilson Daniel, que já era presidente estadual do Podemos e deu a legenda para o então vereador canela-verde disputar a prefeitura em uma coligação pequenina.
“Se acredito que Capitã Estéfane tem chances de chegar ao 2º turno? Por que não? Se acreditei na minha eleição em Viana em 2012, que era muito mais difícil de ganhar do que a dela… Se acreditei na eleição do Arnaldinho em Vila Velha em 2020, que também era uma eleição improvável. Eu não tenho dúvida de que a gente pode construir uma candidatura para a Capitã Estéfane se colocar. As condições para chegar e se registrar ela já tem. Ela tem um partido que a apoia e garante legenda para ela.”
Mesmo de maneira isolada e sem coligação?
“Claro!”, responde o dirigente do Podemos, sem titubear. “Se ela topar, claro. Podemos vir sozinhos em Vitória, numa chapa puro-sangue. É claro que podemos! Já estamos discutindo isso. Vamos conversar com todo mundo, ainda temos muito tempo para conversar, mas não tenho dificuldade nenhuma de o Podemos ser puro-sangue. Se vai ser em várias cidades, não tem dificuldades em ser na Capital, não”, enfatiza o ex-presidente da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes).
“Não temos compromisso com a coligação de centro”
Pelas mãos de Gilson Daniel, o Podemos é um dos muito partidos que compõem a base do governo Casagrande desde a administração passada (2019-2022). Antes de se eleger deputado federal, o próprio Gilson foi secretário estadual de Governo e de Planejamento. Em 2022, o partido se coligou com o PSB e apoiou a reeleição de Renato Casagrande. O próprio Gilson foi para as ruas fazer intensa campanha pela reeleição do governador. Na conversa com a coluna, o deputado reafirma sua lealdade política a Casagrande. E, de fato, o Podemos estará com o PSB e/ou com candidatos apoiados pelo Palácio Anchieta na maior parte dos municípios.
Mas, até por sua abrangência, uma eleição municipal tem as suas peculiaridades. Em Vitória, se mantido o atual cenário, o Podemos e o PSB não estarão juntos no 1º turno. Enquanto Gilson Daniel fortalece a pré-candidatura de Estéfane em um movimento solo, ganha corpo, em outra trincheira, uma coalizão de partidos também aliados do governo Casagrande, os quais pretendem se reunir numa coligação de centro. Além do PSB de Casagrande, fazem parte de tal movimento o MDB, o PSD, o União Brasil e a Federação PSDB/Cidadania.
Na última terça-feira (21), uma reunião dos respectivos dirigentes cimentou essa coligação, que se unirá no apoio a um destes dois pré-candidatos a prefeito: ou será o deputado estadual Fabrício Gandini (PSD), ou o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), com favoritismo para o segundo.
O Podemos, segundo Gilson Daniel, está fora desse movimento. Até o lançamento da pré-candidatura de Estéfane (movimento não combinado com os partidos listados acima), integrantes dessa frente em formação incluíam o Podemos como uma das siglas que poderiam compor tal coligação.
Gilson Daniel, entretanto, afirma categoricamente que o Podemos não está nem nunca esteve nessa frente e que jamais firmou nenhum compromisso verbal de caminhar com tais partidos em Vitória.
“Dialogo com todos esses partidos pelo Estado todo, inclusive Vitória, até porque em muitos locais estamos juntos. Mas em Vitória, especificamente, nunca tive esse tipo de conversa. Eu nunca estive com Luiz Paulo, por exemplo, pessoalmente. Não tenho nada contra o Luiz Paulo, pelo contrário, até gosto dele, não tenho dificuldade alguma com ele. Digo o mesmo em relação ao Tyago Hoffmann, ao Gandini… São todos meus amigos. Mas o Podemos nunca fez com eles compromisso de estar com eles nessa frente. Eu não estou participando dessas reuniões. Você viu alguém do Podemos nessas reuniões que a imprensa tem noticiado?”, questiona o deputado.
Gilson Daniel pondera que, se essa coligação quiser absorver o Podemos, a Capitã Estéfane poderá ser a candidata a prefeita do grupo (no lugar de Luiz Paulo ou Gandini). “Não estou dizendo que não possamos estar juntos. A capitã pode até ser a candidata do grupo, se eles acharem que podem conversar com o Podemos, mas o Podemos tem candidatura colocada, e essa candidatura tem que ser respeitada.”
No entanto, após a reunião da última terça, o deputado estadual Mazinho dos Anjos (PSDB), escolhido como porta-voz do grupo, afirmou exatamente o contrário: agora, se o Podemos quiser se juntar a essa coalizão, terá de abrir mão da candidatura de Estéfane e aceitar o candidato escolhido pelos partidos já unidos (Luiz Paulo ou Gandini).
Nada que incomode Gilson Daniel. Tornando a elevar a aposta, ele afirma que a atual vice-prefeita pode inclusive disputar a eleição contra Luiz Paulo, Gandini ou quem quer que se lance por essa coligação de centro: “Podemos. Por que não?”
Quanto à especulação de que o Podemos pode se juntar a essa coligação mais à frente, indicando a Capitã Estéfane como vice de Gandini ou Luiz Paulo, o dirigente afasta a possibilidade: “Não trabalhamos com essa hipótese”.
Podemos com João Coser?
Ainda no campo da especulação, há quem alente a expectativa de conseguir levar o Podemos (e, de quebra, o PDT) para a coligação encabeçada pelo deputado estadual João Coser (PT). Nesse caso, Estéfane poderia ser indicada para ser a vice de Coser. Gilson Daniel responde que isso é praticamente impossível:
“Acredito que não. Essa hipótese é mais distante do que uma composição com aquele bloco de centro. Estamos muito mais próximos daquele bloco. Temos uma dificuldade ideológica”, afirma ele, definindo o Podemos, sem hesitar, como sigla de centro-direita.
Podemos com Casagrande
Como reafirma Gilson Daniel, o Podemos faz parte do movimento político-eleitoral liderado pelo governador Renato Casagrande. Por isso, não dará nenhum passo sem diálogo com o Palácio Anchieta e fora desse movimento. Significa o seguinte: onde o Podemos tiver candidatura majoritária – como em Vitória –, o partido pode compor com o PSB ou disputar com o PSB. Onde não tiver, apoiará algum candidato aliado do Palácio Anchieta.
Mas há exceções. Em Aracruz, o Palácio Anchieta tende a apoiar a reeleição do prefeito Doutor Coutinho (PP). O Podemos não tem candidato próprio na cidade. Mas apoia a candidatura do delegado Leandro Sperandio (Republicanos), podendo até indicar o candidato a vice dele.
Já em Cachoeiro de Itapemirim, o PSB de Casagrande e do prefeito Victor Coelho apoia a candidatura da secretária de Manutenção e Serviços, Lorena Silveira (PSB). Até o dia 10 de maio, o Podemos tinha candidato próprio: o deputado estadual Allan Ferreira. Este, porém, retirou a pré-candidatura para apoiar o advogado Diego Libardi (Republicanos).
A candidata do Palácio Anchieta, é claro, é a do PSB, Lorena Silveira. Nesse caso, sem ter candidato próprio, o Podemos vai apoiar um adversário da candidata do Palácio? Não seria quebrar a própria regra?
Gilson Daniel diz ainda não ter “digerido a desistência” de Allan Ferreira. “Nosso candidato era o Allan. Ele anunciou apoio a Diego Libardi. Ainda vamos conversar com ele, para entender esse movimento.”
A deserção de Ramalho: “Não foi amigável”
Até fevereiro, Gilson Daniel ainda tinha a esperança de convencer o coronel Alexandre Ramalho a se lançar candidato a prefeito de Vitória pelo Podemos. Naquele mês, o ex-secretário estadual de Segurança Pública decidiu sair do partido. No mês seguinte, filiou-se ao Partido Liberal (PL) para ser candidato a prefeito de Vila Velha, contra o atual prefeito e candidato do Podemos, Arnaldinho Borgo.
Dando a sua versão dos fatos, Gilson relata que a separação não foi amigável. “Não foi amigável, porque ele avisou sobre a saída pela imprensa. Comunicou que ia sair, mandou uma carta abrindo mão da suplência. Eu tentei demovê-lo da ideia, mas sem sucesso. À época, eu queria que ele fosse candidato em Vitória. Cheguei a dar a direção do partido em Vitória para ele.”
O deputado diz, porém, não guardar mágoa, até porque, como frisa, “a água na política vai e volta”.
“O Ramalho fez a opção política dele. Ele buscou o caminho para ele, até porque ele tinha uma perspectiva de ter uma oportunidade de deputado federal, e ele buscou uma alternativa política para ele, que eu respeito. É claro que ninguém gosta de perder uma liderança como o Ramalho e muito menos perder para disputar contra um candidato do próprio Podemos. Para a gente é ruim. Mas, na política, a água vai e volta. Vou ficar chateado, aborrecido? Cada um tem a sua opção.”
Definições em outros municípios
Na Serra, sob o comando do deputado estadual Alexandre Xambinho, o Podemos apoia a pré-candidatura de Weverson Meireles (PDT), lançado pelo prefeito Sérgio Vidigal (PDT). O partido está no secretariado de Vidigal.
Em Cariacica, o Podemos apoia a reeleição do prefeito Euclério Sampaio (MDB), sem pleitear a ocupação da vice. “Euclério foi muito legal conosco, ajudando o Podemos a montar a chapa de vereadores lá. Não temos essa construção com ele para vice. Deixamos ele muito à vontade”, diz Gilson.
Em Guarapari, o pré-candidato do Podemos a prefeito é o ex-vereador Gedson Merízio.
Para a Prefeitura de Linhares, o partido aposta no deputado estadual Lucas Scaramussa, tendo com ele o PSB e o MDB, entre outras legendas.
Em Colatina, o Podemos (ex-partido de Guerino Balestrassi) apoia a reeleição do atual prefeito. Segundo Gilson, o partido tem acordo com Guerino para a indicação do vice. Na cidade, as articulações são conduzidas pelo deputado federal colatinense Victor Linhalis.
E em 2026? Qual é o plano de Gilson?
No Espírito Santo, o Podemos terá candidato a prefeito em cerca de 35 municípios, quase metade dos 78 existentes no Estado. Hoje, o partido está à frente de nove prefeituras. Confiante, Gilson projeta que o partido fará mais de 15 prefeitos em outubro. Se a previsão se confirmar, o Podemos ficará seguramente entre os três maiores partidos do Espírito Santo em número de cidades governadas. Consequentemente, como líder do partido no Estado, Gilson em tese pode se fortalecer a ponto de poder aspirar até a uma candidatura majoritária (governador) em 2026.
Questionado sobre isso, contudo, ele prefere manter o discurso “pés no chão” e reiterar sua lealdade a Casagrande.
“Sou candidato à reeleição a deputado federal. É minha candidatura natural. Eu participo de um grupo político no Estado. E esse movimento tem o seu coordenador, que é o atual governador. Então estou alinhado a esse movimento. Não faço um movimento solo. Eu naturalmente sou candidato à reeleição.”
Hoje, o deputado não cogita levar o Podemos a se desgarrar desse movimento liderado pelo governador nos próximos dois anos. “É uma pergunta difícil, porque ainda tem muito tempo até 2026. Mas, em toda a minha trajetória, se você observar, nós nunca saímos da parceria com o governador. Nossa relação com ele não é só política. É uma reação de amizade, de companheirismo e de lealdade.”
O presidente estadual do Podemos avalia que as eleições municipais serão importantes para o grupo de Casagrande tendo em vista a próxima disputa estadual, pois consolidará alguns dos principais partidos da base:
“Não sou um cara ambicioso na política. Não tenho medo de disputar nenhuma eleição, para qualquer cargo. Mas estou num grupo político, então na minha cabeça não passa nenhum movimento fora desse movimento político liderado pelo governador. Acho que a eleição de 2024 é importante porque consolida os partidos que estão na base do governador: o Podemos, o PSB, o MDB, o União Brasil”.
Em tempo…
Reparem que ele não citou o PP de Josias da Vitória…
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