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Alexandre Brito

Por que ChatGPT não é terapia!

Nem algoritmos nem respostas prontas: a escuta clínica envolve silêncio, desejo e contexto social que só o encontro humano sustenta

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Terapia com psicóloga

Terapia. Foto: FreePik

Cada vez mais as pessoas recorrem ao ChatGPT em busca de apoio diante de questões de saúde mental. É verdade que, ao desabafar, muitos encontram respostas que podem soar interessantes e com certo efeito terapêutico. Porém, o que acontece é apenas o funcionamento de algoritmos de linguagem, não um processo clínico.

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As respostas são geradas a partir de padrões de textos e exemplos previamente aprendidos. Não há continuidade no processo, muito menos responsabilidade clínica sustentada por uma posição ética e técnica.

Na clínica, o que importa não é apenas o que se diz de forma consciente e racional. Nela também ganha lugar o silêncio, o tropeço da palavra, as ambiguidades e lapsos que escapam, revelando algo além da intenção do sujeito. O analista escuta as expressões de desejo, as repetições do gozo, as contradições e as insistências que atravessam o discurso.

Não se trata de uma conversa comum e nem sempre corresponde ao que o se quer ouvir. É um espaço sustentado pela formação e pela ética do profissional, por sua posição singular de escuta. Uma escuta que não entrega respostas prontas, mas acompanha o sujeito em seu percurso, inclusive quando a fala se depara com a falta de sentido, com o estranho, com a angústia.

E, ao mesmo tempo, essa clínica não se isola: cada história de vida está afetada por fluxos coletivos, contextos políticos e sociais que produzem modos de existir e de sofrer. O dito na clínica nunca é apenas individual, mas expressão do fora, do estranhamento, dos agenciamentos do desejo.

É nesse entrelaçamento de singular e coletivo, de palavra e silêncio, de gozo e política, que a terapia acontece. E é exatamente por isso que nenhuma inteligência artificial pode substituir o encontro humano.

Além disso, em situações de crise ou emergência, somente um profissional pode avaliar, encaminhar, acionar políticas públicas, mobilizar outros profissionais e a rede de apoio necessária para cuidar do paciente.

A clínica, portanto, é presença viva: corpo que escuta, acolhe, sustenta, critica e inventa.

É no encontro humano que algo pode, de fato, se transformar.

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Alexandre Brito

Alexandre Vieira Brito é psicólogo e mestre em Psicologia Institucional pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Possui especialização em Filosofia e Psicanálise pela Ufes, bem como em Políticas Públicas e Socioeducação pela Universidade de Brasília (UnB). Possui experiência em saúde mental, formação profissional, políticas públicas e socioeducação. Realiza atendimento clínico desde 2010. Também é professor universitário e palestrante, articulando a psicologia em suas interfaces com outros saberes. Colunista da BandNews FM todas as segundas-feiras 17h40, ao vivo, e participa de entrevistas no Estúdio 360 da TV Capixaba para falar de psicologia e comportamento.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.