Coluna Vitor Vogas
Nésio Fernandes participará das próximas eleições no ES. Saiba como
Secretário estadual de Saúde durante quase todo o governo passado de Renato Casagrande (PSB), de 2019 a 2022, o médico sanitarista será candidato por seu partido, o PCdoB

Nésio Fernandes faz foto com apoiadora do PT. Foto: reprodução Facebook
Secretário estadual de Saúde durante quase todo o governo passado de Renato Casagrande (PSB), de 2019 a 2022, o médico sanitarista Nésio Fernandes afirma: “Participarei das eleições de 2026 no Espírito Santo”.
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Desde antes de dirigir a Secretaria de Saúde, o catarinense, radicado no Espírito Santo, é filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), agremiação política que integra a Federação Brasil da Esperança (Fe Brasil) com o PT e o PV. Em 2026, Nésio será candidato por essa federação de esquerda.
Se o deputado federal Helder Salomão (PT), pré-lançado a governador no último sábado (13), for mesmo candidato ao Palácio Anchieta, Nésio será candidato a deputado federal – um dos 11 integrantes da chapa da Fe Brasil no Espírito Santo, a qual também terá, entre outros, os petistas Jack Rocha e João Coser.
Agora, se Helder, por algum motivo – decisão pessoal ou coletiva –, acabar se candidatando a mais um mandato na Câmara dos Deputados, Nésio diz que tem “disposição e disponibilidade” para ser o pré-candidato de PT, PV e PCdoB a governador do Espírito Santo, representando a mesma federação nessa disputa majoritária. Mas sublinha: somente “se for um movimento harmonioso, num cenário de construção coletiva e de consenso”. “Não farei disputas internas por essa posição.”
Nésio já foi candidato uma vez, sem sucesso nas urnas. Concorreu a deputado estadual pelo PCdoB, em 2018, no estado de Tocantins, onde trabalhou antes de vir para o Espírito Santo, a convite do governador Renato Casagrande (PSB), durante a transição de governos, no fim daquele ano. Após passar quase quatro anos à frente da Sesa, ele participou da equipe de transição do governo Lula (PT), no fim de 2022, em Brasília. De janeiro de 2023 a fevereiro de 2024, foi secretário nacional de Atenção Primária à Saúde. Atualmente, trabalha na própria empresa de consultoria em gestão para empresas privadas.
“Sou um quadro do sanitarismo brasileiro. Estabeleci vínculos profundos com o estado do Espírito Santo. Exerço aqui a minha cidadania, o meu direito a voto. Nunca me desvinculei da agenda do Espírito Santo, desde que vim para cá. E entendo que este momento da minha vida é adequado para eu participar do processo eleitoral aqui do Estado. A posição em que eu vou jogar será definida nos debates das próximas semanas. O certo é que eu estarei jogando no campo no ano que vem”, assegura o ex-secretário estadual de Saúde, aliado de primeira hora de Casagrande.
Para Nésio, a pré-candidatura de Helder a governador, fortemente impulsionada no último sábado, durante a posse do novo Diretório Estadual do PT, “é preciosa para a federação e pode se consolidar”. Segundo o ex-secretário, o deputado petista e ex-prefeito de Cariacica reúne características para ser candidato a governador.
“A federação tem, na figura do Helder Salomão, um quadro extremamente preparado. O Helder é um dos quadros mais leves da esquerda capixaba, do ponto de vista eleitoral. É muito gentil, não se envolve em polarizações desnecessárias, fez um governo muito bem avaliado… Não por acaso, foi o puxador de votos da nossa chapa para a Câmara em 2022”, elogia Nésio. Na última eleição geral, Helder foi o candidato a deputado federal mais votado do Espírito Santo, com mais de 120 mil votos.
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Por outro lado, como recorda Nésio, o próprio Helder apresentou algumas condições para assumir uma pré-candidatura ao Palácio Anchieta em nome da Federação Brasil da Esperança: ele topa trocar a eleição de deputado federal pela disputa majoritária a governador se esse projeto contar com aval e apoio integral da direção nacional do PT e do próprio presidente Lula, se tiver sustentação política e financeira e se for construído um palanque forte no Espírito Santo.
Nésio pondera que Helder pode acabar optando pela renovação do mandato na Câmara (seria o seu quarto seguido). Se esse for mesmo o caso, o próprio ex-secretário disponibiliza o nome.
“O Helder colocou algumas condições para confirmar a pré-candidatura ao governo. Se essas condições não forem preenchidas, ou mesmo se forem preenchidas, ele ainda poderá escolher ser candidato a governador ou não. Nesse caso, eu também coloco meu nome à disposição da federação para, num ambiente de harmonia interna, sem disputas internas, também me posicionar como pré-candidato a governador do Estado.”

Nésio Fernandes e Helder Salomão. Foto: reprodução Facebook
De modo muito franco, Helder se apresentou diante da militância, no último sábado, como alguém que vive um grande dilema pessoal entre ser ou não ser candidato a governador. Mais do que questões pessoais, há um cálculo estratégico a ser feito. Novamente, ele é a principal aposta para ser o puxador de votos da chapa da Fe Brasil à Câmara Federal. A meta da federação é eleger dois deputados federais no Espírito Santo, repetindo 2022.
Ora, se Helder desfalcar a chapa para disputar o governo, as chances de alcance dessa meta ficam ameaçadas. Não será impossível, mas, na certa, bem mais difícil, como o próprio Helder ponderou diante dos apoiadores.
Também por isso, Nésio agora dá um passinho à frente:
“Se a federação considerar que é necessário reforçar a chapa de federal e preservar a recondução do Helder para a Câmara, também guardo disposição e disponibilidade para ser o pré-candidato da federação a governador. Eu estou dizendo: vou participar da eleição do ano que vem, seja na posição de candidato a deputado federal, seja num espaço majoritário, como pré-candidato da federação a governador do Estado.”
Segundo Nésio, sua decisão sobre candidatura deverá ser tomada dentro dos próximos 60 dias.
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Nésio defende “frente ampla” e diálogo com Ricardo e Arnaldinho
Ao contrário do que pode parecer em primeira leitura, Nésio Fernandes não defende que a Federação Brasil da Esperança tenha um candidato a governador a todo custo. Ao contrário, ele entende que as pré-candidaturas majoritárias (ao Senado, com Fabiano Contarato, e ao Governo do Estado) cumprem o papel estratégico de fortalecer a posição da federação na mesa de negociações eleitorais com representantes de outros campos, inclusive com as forças que gravitam em torno de Renato Casagrande.
A Casagrande, aliás, é devotada a lealdade incondicional de Nésio. O ex-secretário de Saúde avalia que as forças de esquerda concentradas na Fe Brasil devem estabelecer mais pontes e abrir frentes de diálogo com aliados do governador, inclusive o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) e o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), citados nominalmente por ele. Ambos são postulantes à sucessão de Casagrande, dentro do movimento político-eleitoral liderado pelo governador.

Nésio Fernandes e Renato Casagrande. Foto: reprodução Facebook
Para Nésio, não se pode perder de vista o que realmente é mais estratégico: derrotar a “extrema-direita golpista” no Espírito Santo, como ele a classifica. Para isso, considera o ex-secretário, é fundamental a formação de uma frente ampla democrática, repetindo uma “tradição consolidada no Espírito Santo” – e reproduzida, sempre com êxito nas urnas, tanto por Casagrande como por seu antecessor no governo, Paulo Hartung.
Sendo assim, na avaliação de Nésio, PT, PV e PCdoB podem lançar um pré-candidato próprio a governador para ganhar força nas negociações e compor uma frente ampla (com outros aliados de Casagrande) já no 1º turno; ou manter a candidatura, concorrer no 1º turno (contra outros aliados de Casagrande) e, no 2º turno, formar a dita frente ampla, a fim de derrotar a extrema-direita. Para o ex-secretário, a primeira opção é a ideal: frente ampla já no 1º turno. Assim condenso o raciocínio de Nésio, exposto por ele desta forma:
“Eu entendo que o ideal para nós é construir no Espírito Santo uma frente ampla e estabelecer diálogos com Arnaldinho, com Ricardo Ferraço, com todo esse campo que orbita em torno da frente que é liderada pelo governador Renato Casagrande. Esse é o cenário ideal. E, para poder influenciar esse cenário ideal, nós precisamos ter candidaturas próprias, para podermos sentar na mesa e construir caminhos. Podemos nos sentar na mesa para disputar o 1º turno e construir uma frente ampla no 2º turno. No entanto, o ideal é uma frente ampla já no 1º turno”.
Ele prossegue: “Existe uma posição minha que é de lealdade à liderança do Renato Casagrande e à ‘tradição frentista’ que ele representa neste momento no Espírito Santo. Eu entendo que atrapalha o processo político majoritário no Estado qualquer movimento persistente que não respeite a estratégia que deu certo até agora”.
Para Nésio, os progressistas representados por PT, PV e PCdoB precisam realizar “um exercício de paciência e de muita sagacidade”. “A federação tem uma situação muito delicada em que precisa estabelecer mais pontes, mais vínculos com todos os campos políticos do estado.”
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ES vira estado estratégico na disputa ao Senado
Nésio defende uma aproximação com o eixo liderado por Casagrande pensando, acima de tudo, na disputa para o Senado, considerada crucial para os rumos políticos do país, e da democracia brasileira, nos próximos anos. Condenado pelo STF na semana passada, Bolsonaro não esconde que está priorizando a eleição de senadores. A estratégia é fazer pelo menos um bolsonarista em cada unidade federada. O objetivo final é, na próxima legislatura, a partir de 2027, ter no Senado aliados suficientes para cassar ministros do Supremo.
Para barrar essa ofensiva sobre o Senado por parte das “forças golpistas”, como as chama Nésio, a estratégia reversa é, naturalmente, impedir a chegada de bolsonaristas à Câmara Alta. Como? Elegendo o maior número de senadores do campo progressista, comprometidos com a preservação das instituições e dos valores democráticos – ou não alinhados ao “golpismo”.
Nesse contexto, o Espírito Santo adquire importância política capital, embora pequeno geográfica, demográfica e economicamente. No Senado, a representação dos estados é paritária. Cada uma das 27 unidades federadas tem os mesmos três senadores. Cada uma elegerá dois senadores no ano que vem.
Assim como a deputada federal Jack Rocha, Nésio avalia que o Espírito Santo é um dos poucos estados que têm grandes chances – possivelmente, o único das regiões Sul e Sudeste – de eleger dois senadores do campo democrático e progressista que, uma vez no Senado, não farão o jogo do bolsonarismo: Casagrande e Contarato.
“Na avaliação do PCdoB, o Espírito Santo tem chances de ser um dos estados do Brasil onde nenhum senador do bloco mais à extrema-direita e golpista possa ser eleito. A estratégia nacional de impedir que a extrema-direita eleja um senador por estado terá talvez no Espírito Santo um dos cenários mais favoráveis. Isso porque aqui existe uma pulverização de candidaturas do campo da direita, o que fragmenta o eleitorado de direita. Existe um eleitor tradicional do campo mais democrático a antiextremista. E nós entendemos que a eleição precisa ser tratada do ponto de vista estratégico muito cirúrgico”, formula Nésio (que não é cirurgião, mas especialista em atenção primária).
“Aqui no Estado, o ideal será preservar as características de um estado que consolida frentes amplas e que possa ter no Renato Casagrande e no Fabiano Contarato os dois senadores eleitos pelo Espírito Santo”, finaliza o ex-secretário de Saúde.
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