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Coluna Vitor Vogas

Coronel com delegado: Ramalho a um passo do governo Pazolini

De quase adversários eleitorais em 2024, os dois passaram a ser aliados. Nesta tarde, prefeito convidará o coronel, propenso a dizer sim, para uma secretaria municipal. Coluna analisa as implicações desse movimento no cenário político e eleitoral do ES

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Coronel Ramalho e Lorenzo Pazolini

Coronel Ramalho e Lorenzo Pazolini

O ex-secretário estadual de Segurança Pública Alexandre Ramalho (PL) está muito perto de ingressar no secretariado de Lorenzo Pazolini (Republicanos) na Prefeitura de Vitória. Ramalho tem grandes chances de assumir a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a convite do prefeito. Os dois têm uma conversa marcada para as 14 horas desta quarta-feira (26), no gabinete de Pazolini. Na ocasião, o convite será feito ao coronel, bastante inclinado a aceitar. O anúncio da nomeação pode ser feito ainda nesta quarta.

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Desde a primeira administração de Pazolini, a Secretaria de Meio Ambiente é chefiada pelo geógrafo Tarcísio José Föeger, secretário de perfil mais técnico. Föeger é servidor efetivo da Secretaria de Meio Ambiente.

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“Acredito que [o motivo da reunião] seja realmente algum convite para compor a equipe”, diz Ramalho. “Estou aberto a avaliar uma composição para a equipe e para a cidade de Vitória, se for algo que a gente entenda que possa contribuir para a cidade e para a gestão dele. Se for mesmo para o Meio Ambiente, quero ouvir qual é a expectativa do prefeito e avaliar se faz sentido. Vejo como uma nova possibilidade de prestar serviço numa área diferente. É como eu sempre disse: a segurança pública está relacionada a muitas outras áreas”, adianta Ramalho, sinalizando a propensão a dizer sim.

Antes disso, ele comunicará sua decisão ao PL e ao senador Magno Malta, presidente estadual da sigla, por fidelidade e respeito à hierarquia partidária.

Se concretizada, a absorção do político de direita na Prefeitura de Vitória significará mais um passo da estratégia implementada pelo partido de Pazolini, o Republicanos, sob a condução do secretário de Governo de Vitória, Erick Musso, com vistas às eleições estaduais de 2026. O partido planeja lançar o prefeito ao cargo de governador do Espírito Santo. Para isso, desde já, está procurando agrupar as mais diversas forças da direita conservadora capixaba ao redor de Pazolini.

O mais recente exemplo foi a nomeação da ex-deputada federal Soraya Manato (PP) como nova secretária municipal de Assistência Social, no lugar da cientista social Cintya Silva Schulz – sem partido e também com perfil muito mais técnico. O gesto foi feito em direção ao marido de Soraya, Carlos Manato (PL). Médica ginecologista como o marido e lançada por ele na política, Soraya foi deputada federal por um mandato, de 2019 a 2022. Em 2022, pelo PTB, não conseguiu se reeleger na Câmara Federal.

O movimento foi feito para atender, pessoalmente, Manato – em um acordo que o próprio verbalizou aqui no último dia 19. Ainda filiado ao PL, o ex-deputado federal está sem mandato desde janeiro de 2019 e distanciou-se do senador Magno Malta, desde que perdeu para Renato Casagrande (PSB) a última eleição para o Governo do Estado, em 2022.

Manato tem por prioridade lançar de novo Soraya à Câmara dos Deputados em 2026, por legenda a ser definida. Para tanto, a Secretaria de Assistência Social de Vitória pode servir de vitrine para ela. Além disso, o ex-deputado tem interesse em se candidatar ao Senado no próximo ano. Sabendo que no PL isso será impossível, ele se deslocou e se acomodou no grupo político que está se organizando ao redor de Pazolini.

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Manato acredita que esse grupo poderá absorver sua almejada candidatura ao Senado (por sigla também a definir). Em contrapartida, ele já declara apoio à possível candidatura de Pazolini ao Governo do Estado: “Com certeza! Vou apoiá-lo, sim. Estou entrando no projeto porque acredito nele. Já disse a eles que estou no grupo, que vou estar junto, que vou trabalhar por isso, quero ser parceiro desse projeto e ajudar a construí-lo”, disse o ex-deputado, já falando como cabo eleitoral de Pazolini.

Já a provável nomeação de Ramalho, além de selar uma parceria com o próprio, simboliza o estreitamento da relação política do grupo de Pazolini com o PL de Magno e a entrada oficial do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro na administração de Pazolini. Após manterem rusgas nas eleições municipais do ano passado, o Republicanos e o PL têm se aproximado muito no Espírito Santo.

No fim de fevereiro, pouco antes do Carnaval, os presidentes de ambas as siglas, Erick Musso e Magno, se encontraram pessoalmente em Brasília, no gabinete do segundo no Senado. “Zeraram 2024” e concordaram em, daqui para a frente, buscar construir estratégias conjuntas visando ao fortalecimento mútuo na disputa eleitoral do ano que vem no Espírito Santo. O objetivo último é a formação de uma frente eleitoral conservadora de direita no Espírito Santo.

Deixando claro que não tem se envolvido diretamente em tais tratativas, Ramalho diz aprovar a aproximação:

“Particularmente, considero que isso é bom. Mas esse projeto está sendo conduzido diretamente por Magno. Prefiro deixar essas questões políticas para ele. Politicamente, não tenho participado de nada. Minha conversa de hoje é do Pazolini com o Ramalho. Não é conversa política”, afirma o oficial.

Os planos eleitorais de Ramalho

Coronel da reserva da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES), Ramalho foi comandante-geral da corporação e, de abril de 2020 a janeiro de 2024, foi secretário estadual de Segurança Pública, sob a liderança do governador Renato Casagrande – com um intervalo para disputar a eleição a deputado federal em 2022, pelo Podemos, sem sucesso nas urnas.

Nos primeiros meses do ano passado, o coronel entregou o cargo, saiu do Podemos e filiou-se ao PL para disputar a Prefeitura de Vila Velha. Ao longo desse processo, rompeu com o governo Casagrande. Assumindo a bandeira do bolsonarismo, fez uma campanha marcada por críticas ao Governo Estadual, ao PSB de Casagrande e à esquerda de modo geral. Associou o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (agora sem partido), à esquerda, por sua aliança com Casagrande e o PSB.

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Desde que deixou o comando da Sesp, Ramalho não voltou a assumir função pública. Está “livre no mercado”. Dois assessores dele, que trabalharam em sua campanha em Vila Velha, foram nomeados em janeiro para cargos comissionados na Prefeitura de Vitória – em primeiro indício da aproximação com Pazolini e Erick Musso.

Em 2026, assim como Soraya, Ramalho pode ser novamente candidato a deputado federal. Outra hipótese é ele concorrer a deputado estadual. Ele mesmo admite as duas opções, priorizando uma nova tentativa de chegar à Câmara Federal: “Meu desejo sempre foi a discussão da legislação penal”.

Ramalho só exclui tentar chegar ao Senado. Em 2022, ele tentou viabilizar candidatura à Câmara Alta, mas não conseguiu espaço para isso dentro do Podemos e da coligação liderada por Casagrande – seu então aliado. “Descarto. Não tem espaço para mim hoje.”

O coronel afirma que sua vontade é permanecer no PL para pleitear uma vaga de deputado estadual ou federal. “Vamos ver o que vai acontecer a partir dessa conversa com Pazolini e o que o partido diz.”

Ele expressa a consciência da importância de entrar num projeto formado por um grupo político forte, seja qual for a sua postulação.

“Tive quase 20% dos votos para prefeito de Vila Velha. Não podemos perder essa questão de tentar algo na política. Mas aprendi que, na política, não dá para encarar sozinho. Precisamos ter um grupo forte. Não se entra nisso com boa vontade, com o coração e com idealismo”, pondera o provável futuro secretário de Meio Ambiente de Vitória.

Em primeira análise, a Secretaria de Meio Ambiente de Vitória não condiz tão diretamente com o perfil de Ramalho, cuja atuação sempre se deu em cargos ligados à segurança. Por outro lado, pode ser precisamente uma oportunidade para ele diversificar seu campo de atuação e seu eleitorado.

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Aumento do abismo para Casagrande

Tanto Soraya como Ramalho se mostram grandes adeptos do bolsonarismo – Soraya, desde que surgiu na política; Ramalho, desde o ano passado. A incorporação de ambos ao secretariado de Pazolini também acentua a distância entre a sua gestão em Vitória e o governo Casagrande no Estado.

O marido de Soraya foi o principal opositor e adversário eleitoral de Casagrande nas últimas duas disputas ao Palácio Anchieta, em 2018 e 2022, tendo perdido ambas para o pessebista. Particularmente, o 2º turno de 2022 foi marcado por ataques de parte a parte, e alguns golpes abaixo da cintura desferidos pela campanha de Manato. Para citar um exemplo, no auge do 2º turno, em uma propaganda eleitoral do candidato, uma das filhas de Magno Malta afirmou que Casagrande não tinha medo de perder a eleição, “mas de ser preso”.

Já Ramalho talvez tenha sido, entre todos os candidatos a prefeito de todas as cidades capixabas, o que fez ataques mais frontais ao Governo do Estado no pleito de 2024. Em Vitória, por exemplo, como grande favorito nas pesquisas, Pazolini se esquivou de polêmicas relacionadas ao governo Casagrande e limitou-se a defender-se de ataques de adversários diretos (revidando-os em alguns debates). E mesmo Capitão Assumção, o candidato do PL, poupou o governo Casagrande, centrando munição em Pazolini.

Resumindo: com Ramalho e Soraya em seu secretariado, Pazolini leva dois grandes opositores de Casagrande para o alto escalão do seu governo em Vitória.

Só por um ano…

Assim como Soraya, se Ramalho virar mesmo secretário, deverá ficar no cargo só por cerca de um ano. Para disputar as eleições 2026, terá de se desincompatibilizar.

O “isolamento” na segurança

Uma das críticas mais frequentes dos adversários de Pazolini contra ele diz respeito ao alegado “individualismo” e “isolacionismo” do prefeito, como estilo de fazer política e gestão pública. O isolamento se daria, notadamente, na área da segurança pública. Essa crítica aflorou bastante, por exemplo, durante as últimas eleições municipais.

Oponentes de Pazolini diziam que o prefeito se recusava a integrar ações da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, chefiada desde 2022 pelo policial rodoviário federal Amarilio Luiz Boni, com o trabalho das forças estaduais de segurança e da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) – o que o prefeito sempre negou.

Segundo os críticos, isso ajudaria a explicar por que, em 2024, o número de homicídios cresceu em Vitória, enquanto caiu no resto do Espírito Santo. Naquele ano, o chefe da Sesp era Ramalho.

Polêmicas à parte, agora não tem jeito: Ramalho e Pazolini estarão integrados, na gestão e na política estadual.

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Poderiam ter sido adversários nas urnas

Até o começo de 2024, Ramalho foi muito seriamente cotado para ser um dos candidatos do governo Casagrande à Prefeitura de Vitória, fazendo frente a Pazolini e tirando-lhe votos de eleitores de direita. Era esse o plano do Palácio Anchieta para o então secretário estadual de Segurança, pelo Podemos.

Ramalho preferiu, porém, ser candidato em Vila Velha pelo PL, desvinculando-se do governo Casagrande.